'A única saída é o aeroporto': por que jovens profissionais abandonameuro win apostamassa a Argentina:euro win aposta

Legenda do áudio, Em áudio: Por que jovens profissionais abandonameuro win apostamassa a Argentina

Quando a Argentina conseguiu recuperareuro win apostaeconomia, alguns anos depois, e se estabilizou politicamente, alguns dos emigrantes começaram a voltar. Foi o casoeuro win apostaAnat, que se mudou novamente para a Argentinaeuro win aposta2011, já com 29 anoseuro win apostaidade, e hoje, passados mais dez anos, vive nas redondezas da capital Buenos Aires com seu marido e filho.

Embora seu país esteja mergulhadoeuro win apostauma nova crise econômica, com uma inflação anualeuro win apostamaiseuro win aposta50% e uma das moedas mais desvalorizadas do mundo, ela garante que não se arrependeeuro win apostater voltado e afirma que, enquanto continuar a ter trabalho, pensaeuro win apostapermanecer na Argentina.

Mas ela destacou para a BBC News Mundo (o serviçoeuro win apostaespanhol da BBC) que, nos últimos tempos, vem observando uma tendência que traz muitas lembranças do que ela viveu duas décadas atrás. "Tenho vários amigos e conhecidos que estão indo embora", ela conta. "Alguns já foram, outros planejam ir neste ano."

Anat não tem dúvidaseuro win apostaque o país está atravessando outra grande onda migratória — um fenômeno que boa parte da imprensa local vem chamandoeuro win aposta"êxodo".

Pessoas com malaseuro win apostafilaeuro win apostaaeroporto

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Estatísticas indicam que o êxodo atual dos argentinos pode ser maior que o verificado na criseeuro win aposta2001

Quantos são os emigrantes?

A BBC News Mundo consultou a Direção Nacionaleuro win apostaMigrações (DNM) da Argentina sobre qual seria os números mais recenteseuro win apostaemigrantes, mas um porta-voz do organismo explicou que não poderia fornecer essa informação.

Ele destacou que o motivo é "proteger os dados pessoais" dos viajantes, depoiseuro win apostasupostas manipulações no bancoeuro win apostadados migratórios durante o governo anterior, algo ainda sob investigação.

Mas o siteeuro win apostanotícias A24 publicou,euro win apostaoutubroeuro win aposta2021, estatísticas obtidas da DNM após um pedidoeuro win apostaacesso a informações públicas, que indicam que, entre setembroeuro win aposta2020 e junhoeuro win aposta2021, quase 60 mil pessoas emigraram do país — o que equivale a cercaeuro win aposta200 emigrantes por dia.

Esse número é o total das pessoas que preencheram "mudança" como motivoeuro win apostaviagem naeuro win apostadeclaração juramentada, anteseuro win apostasaírem do país. Mas especialistas indicam que o númeroeuro win apostamigrantes poderá ser muito maior, já que nem todos que planejam mudar-seeuro win apostaforma definitiva declaram essa situação nos seus documentoseuro win apostaviagem.

"Não são só os que declaram mudança que se vão. Existem outros que declaram viajar para turismo ou estudos, mas que podem também ser emigrantes", alertou ao site A24 o diretor do Institutoeuro win apostaPolíticaseuro win apostaMigrações e Asilo (IPMA) da Argentina, Lelio Mármora.

Maiseuro win aposta445 mil argentinos viajaram para "turismo" naqueles 10 meses e quase 15 mil saíram do país para "estudo". Outros 180 mil declararam "residência" como motivo daeuro win apostaviagem, enquanto maiseuro win aposta142 mil afirmaram que viajavam a "trabalho" no mesmo período.

A Espanha é o destinoeuro win apostaum quarto dos viajantes que reconheceram estar se mudando do país, segundo as informações fornecidas pela DNM ao site A24. Os outros destinos mais populares foram países vizinhos — Paraguai, Brasil, Chile e Uruguai — e outros 5% mudaram-se para os Estados Unidos.

O êxodo atual é maior que oeuro win aposta2001?

Passageiro olhando para listaeuro win apostavooseuro win apostapaineleuro win apostaaeroporto na Argentina.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Países vizinhos estão entre os que mais recebem emigrantes argentinos, além dos Estados Unidos e, principalmente, a Espanha

Não é fácil fazer comparações entre o êxodo atual e a emigraçãoeuro win aposta2001 porque, naquela época, não existiam as declarações juramentadas indicando o motivo da viagem. Além disso, a população argentina, duas décadas atrás, era menor.

Mas é possível usar como referência um trabalho publicadoeuro win aposta2003 pelo sociólogo Fernando Esteban, que estimou que "118.087 argentinos abandonaram o país" entre 2000 e 2001. A partir desse parâmetro, é possível estimar que, naquela época, a média foieuro win apostacercaeuro win aposta160 emigrantes por dia — o que leva algumas pessoas a advertir que a onda atualeuro win apostaemigração não tem precedentes na Argentina.

Fugaeuro win apostacérebros

Mais importante que os números é o fato destacado por grande parte da imprensaeuro win apostaque o fenômeno migratório atual é protagonizado por jovens profissionais, muitos deles com alta qualificação, o que significa uma perda considerável para a Argentina.

Esse panorama é diferente do ocorridoeuro win aposta2001, quando a emigração era muito mais heterogênea, tanto do pontoeuro win apostavista etário quanto profissional — e até socioeconômico.

Outra diferença é que, duas décadas atrás, muitos foram embora com o pouco que tinham. Um grande númeroeuro win apostapessoas havia perdido a maior parte das suas economias no chamado "corralito" financeiro. Mas, agora, os emigrantes parecem estar viajando muito mais bem preparados, tanto logística quanto economicamente.

E Anat percebeu isso. "O que se vê agora está muito longe do contexto que vivíamoseuro win aposta2001", destaca ela. "As pessoas que estão saindo agora são diferentes. Elas têm tempoeuro win apostaplanejar. Não estão fugindo para poder dareuro win apostacomer aos seus filhos."

De fato, Anat ressalta que todos os seus amigos que já saíram ou planejam sair do país têm (ou tinham) boa posição econômica na Argentina. É o caso, por exemplo, daeuro win apostaamiga Daniela Mansbach, engenheira com 38 anoseuro win apostaidade que se mudou para a Espanhaeuro win apostajulhoeuro win aposta2021, com seu marido e os dois filhos pequenos.

Daniela Mansbach com a família no aeroportoeuro win apostaEzeiza

Crédito, Daniela Mansbach

Legenda da foto, Daniela Mansbach mudou-se com a família para Madri, na Espanha,euro win apostameadoseuro win aposta2021, com a intençãoeuro win apostadar um futuro melhor aos seus filhos.

Embora ela tenha documentos europeus graças àeuro win apostaascendência alemã, Daniela sabe que conseguir trabalho na Espanha não será fácil. "Nós vendemos nossa casa na Argentina e viemos dispostos a vivereuro win apostanossas economias por algum tempo", ela conta à BBC News Mundo,euro win apostaMadri.

Questionada sobre o motivoeuro win apostatodo esse sacrifício se a família tinha uma boa vidaeuro win apostaBuenos Aires, Daniela responde: "Viemos pelos nossos filhos", citando o aumento da pobreza emeuro win apostaterra natal — e o temoreuro win apostaque essa pobreza continue crescendo. "Não queremos viver assim e não queremos que nossos filhos vivam assim no futuro."

"Economicamente, nós estávamos bem por lá", reconhece Daniela. "Tínhamos a vida que queríamos. Eu havia até deixadoeuro win apostatrabalhar durante a pandemia para cuidar da minha filha, que tinha três meses."

Uma menina carrega um sacoeuro win apostalixoeuro win apostaBuenos Aires

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Mais da metade das crianças argentinas são pobres, segundo as estatísticas oficiaiseuro win aposta2021.

Daniela conta que outro fator que os influenciou foi a decisão do governo argentinoeuro win apostafechar as escolas por cercaeuro win apostaum ano e meio durante a pandemiaeuro win apostacoronavírus. Esse fechamento afetou centenaseuro win apostamilhareseuro win apostacriançaseuro win apostafamílias humildes, que não tiveram possibilidadeeuro win apostaprosseguir comeuro win apostaeducaçãoeuro win apostaforma virtual.

"Como eles vão recuperar o tempo que ficaram sem aulas? É uma situação que, no futuro, terá consequências muito sérias para o país", afirma ela.

Daniela conta que, no bairro onde moram, nas redondezaseuro win apostaMadri, existem muitas famíliaseuro win apostaargentinos recém-chegados como a sua, com crianças pequenas.

"Você não imagina a quantidadeeuro win apostapessoaseuro win apostanossas relações que chegaram um mês antes ou depoiseuro win apostanós e que também vieram com suas economias, dispostas a gastá-las até que se estabeleçam", afirma ela.

Daniela acrescenta que a maioria tem cidadania europeia e alguns começaram a procurar trabalho na Espanha anteseuro win apostamudar-se. Outros chegaram dispostos a iniciar seus próprios empreendimentos.

Mas todos compartilham do mesmo pessimismo sobre o seu paíseuro win apostaorigem. "Perdemos totalmente a esperançaeuro win apostaque algo possa mudar na Argentina", lamenta ela.

'Não temos futuro'

Muitos dos que decidem sair do país expressam essa mesma desesperança. Mas, no caso dos mais jovens, além da preocupação sobre o futuro, soma-se a exaustão sobre o presente.

"Há muitos anos eu vinha ouvindo que o país estava cada vez pior: a inflação, o dólar que disparou. Meus pais estavam estressados, meus avós estavam estressados", conta Alexis Lewin,euro win aposta26 anos, que vivia com a famíliaeuro win apostaBuenos Aires.

"Todos me diziam que, quando eram mais jovens, as coisas não eram assim. E, alémeuro win apostaouvi-los, eu estava vivendo isso", destaca o jovem, que é formadoeuro win apostaadministraçãoeuro win apostanegócios globais.

Alexis Lewineuro win apostaHaifa, Israel

Crédito, Alexis Lewin

Legenda da foto, Alexis Lewin foi um dos 200 argentinos que emigraram diariamente durante a pandemia

Embora ele tivesse um bom empregoeuro win apostauma empresa conhecida, Alexis afirma que o salário não cobria o aluguel do seu próprio apartamento, nem o custoeuro win apostaviagens para o exterior.

"Eu não via luz no fim do túnel, não via possibilidadeeuro win apostaviver sozinho. Eu e minha companheira tínhamos que nos matar para pagar o aluguel e nem sonhávamoseuro win apostater filhos", contou ele à BBC News Mundo. "Eu me levantava todo dia e perguntava: 'Para quê? Para que continuo aqui se o meu objetivo é aproveitar a vida?'"

"Eu me reunia com meus companheiroseuro win apostaensino médio e da faculdade e todos estávamos na mesma [situação]: adoramos a Argentina, amamos o país, amamos as pessoas e o grupoeuro win apostaamigos que criamos, mas não temos futuro", conta ele.

Foi isso que fez com que Alexis,euro win apostaabrileuro win aposta2021, aproveitasse as facilidades oferecidas pelo Estadoeuro win apostaIsrael para os judeus que desejam mudar-se para lá. E, quando chegou ao aeroporto para embarcar para Tel Aviv,euro win apostaIsrael, encontrou um grande númeroeuro win apostajovens compatriotas na casaeuro win aposta20 anoseuro win apostaidade como ele, dispostos a enfrentar a mesma aventura.

Alexis confessa que emigrar foi muito mais difícil que ele pensava. Ele precisou aprender hebraico e — como acontece com muitos recém-chegadoseuro win apostatodo o mundo — o primeiro trabalho que conseguiu estava longeeuro win apostaser o ideal para alguém com diploma universitário.

"Trabalheieuro win apostaum call center. Foi péssimo", reconhece ele. "Muitos dos meus colegas argentinos trabalharam como garçons ou limpando residências. Também passeavam com cachorros."

Alexis Lewineuro win apostaEzeiza com outros jovens que viajaram para Israel

Crédito, Alexis Lewin

Legenda da foto, No aeroportoeuro win apostaEzeiza,euro win apostaBuenos Aires, Alexis encontrou vários outros jovens que também estavam deixando o país

Mas Alexis destaca que, três meses depoiseuro win apostaconcluir seus estudos do idioma hebraico, ele conseguiu empregoeuro win apostauma empresa israelenseeuro win apostaalta tecnologia. "Tive muita sorte. É um luxo. O salário é muito bom e também as condições", ressalta ele, orgulhoso.

"Israel oferece muitas oportunidades", afirma Alexis. "Na Argentina, tudo era para sobreviver. Era muito frustrante. A única saída era ir para o aeroporto, tomar um avião e ir vivereuro win apostaoutro país."

'Boa velhice'

Camila Levin, produtora teatral argentina com 28 anoseuro win apostaidade que também tem passagens compradas para mudar-se para Israeleuro win apostamaio, expressa sentimentos similares.

"Aqui é trabalhar, trabalhar, trabalhar e não chega", afirma ela. "Não estou saindo feliz da vida, dói muito ter que me mudar. Tenho uma história aqui, meus amigos estão aqui. Mas não tenho possibilidade realeuro win apostadesenvolvimento."

Diferentementeeuro win apostaAlexis Lewin, ela não emigrará sozinha. Camila irá com seus pais, ambos psiquiatras, com quem vive no bairro nobreeuro win apostaBelgrano,euro win apostaBuenos Aires. Ela conta: "hoje não consigo pagar um aluguel sozinha e essa é uma das razões por que decidi me mudar".

"Meus pais também querem ir porque sentem que não vão ter uma boa velhice por aqui", destaca ela. "Por mais que amemeuro win apostaprofissão, eles vão querer se aposentar algum dia, como qualquer pessoa, mas aqui terão que morrer trabalhando para poder sobreviver."

Camila Levin

Crédito, Camila Levin

Legenda da foto, Camila Levin emigrará com seus pais, que temem não poder viver comeuro win apostaaposentadoria na Argentina quando deixaremeuro win apostatrabalhar.

Camila menciona outro motivo para querer sair do país, além do econômico: a insegurança. "Em 2019, fui assaltada com um revólvereuro win apostaplena rua, depoiseuro win apostame roubarem o celular", ela conta.

Camila afirma que esse tipoeuro win apostaviolência a preocupa muito mais que o que pode eventualmente enfrentareuro win apostaIsrael, que vive um dos conflitos armados mais prolongados do mundo. "Tenho mais chanceseuro win apostaque me matem nas ruaseuro win apostaBuenos Aires por um celular do que um míssil cair na minha cabeçaeuro win apostaIsrael", opina.

A insegurança é algo que todos os entrevistados mencionaram. Patrícia — que preferiu não informar seu nome verdadeiro porque ainda atende pacientes virtualmente na Argentina — é uma psicólogaeuro win aposta34 anos que viajou para a Europaeuro win apostamaioeuro win aposta2021 "por amor". Seu romance não seguiu adiante, mas ela decidiu tentar a sorteeuro win apostaBarcelona, na Espanha, onde reside atualmente.

"Existem coisas que mudaram muito minha cabeça", conta ela. "Já não dou meia volta quando alguém vem correndo ao meu lado por medoeuro win apostaque irá me assaltar. Na Argentina, isso era muito natural."

Ela, Alexis Lewin e Daniela Mansbach também ressaltam que, fora da Argentina, podem organizar um orçamento, sem precisar levareuro win apostaconta uma inflação galopante. "Aqui, as coisas não aumentam [de preço]", ressalta Patrícia, que estava acostumada a conviver com preços que aumentavam cercaeuro win aposta4% por mês no seu país.

"Temos previsibilidade, você sabe quanto ganha, quanto gasta e isso diminui muito o estresse", concorda Daniela. "[Consigo] ir ao supermercado quando quero e não só nos diaseuro win apostadesconto com meu cartãoeuro win apostacrédito, como na Argentina."

"Aqui, o dinheiro chega [para as despesas]", comenta Alexis, que se sente "tranquilo" por saber que "o queijo custa tanto e o frango, tanto — e que , daqui a dois meses, custará o mesmo".

Todos esses motivos explicam por que diversas pesquisas publicadas na imprensa local demonstram que um grande númeroeuro win apostajovens — mais da metade,euro win apostatodas as consultas — decidiria mudar-se da Argentina, se pudesse. Mas aqueles que se mudaram reconhecem que emigrar não é fácil e que sentem faltaeuro win apostamuitas coisas do seu país.

"Eu não voltaria neste momento, mas existe algo 'romantizado' sobre morar fora... é muito difícil o desapego, não entender coisas por mais que seja o mesmo idioma, uma porçãoeuro win apostacoisas", afirma Patrícia.

"Quando você conta que está na Europa, as pessoas na Argentina dizem 'que lindo!'. Sim, é lindo, mas é difícil", conclui ela.

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