Covid e aids: 6 semelhanças entre como a humanidade lidou com as duas pandemias:1xbet 4
1. Estresse, medo e incertezas
Nos últimos dias1xbet 4dezembro1xbet 42019, veículos e agências1xbet 4notícias publicaram as primeiras informações sobre os casos1xbet 4uma "pneumonia misteriosa" que começou a acometer algumas pessoas1xbet 4Wuhan, na China.
No início1xbet 4janeiro, veio a confirmação1xbet 4que o quadro estava relacionado a um novo tipo1xbet 4coronavírus, que seria nomeado posteriormente1xbet 4Sars-CoV-2.
Um processo parecido aconteceu com o HIV, o vírus da imunodeficiência humana. Apesar1xbet 4existirem evidências1xbet 4que ele já circulava desde a década1xbet 41930, o problema começou a chamar a atenção entre o final dos anos 1970 e o início dos 1980.
Nessa época, os especialistas perceberam o aumento na frequência1xbet 4sintomas do que viria a ser conhecida como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, ou aids. No período, o quadro foi observado com mais intensidade1xbet 4homens que fazem sexo com homens1xbet 4algumas regiões dos Estados Unidos.
Para o médico Ricardo Sobhie Diaz, professor1xbet 4infectologia da Escola Paulista1xbet 4Medicina da Universidade Federal1xbet 4São Paulo (Unifesp), as duas situações são marcadas pelo aumento do estresse generalizado diante das incertezas.
"Quando começamos a ouvir sobre HIV e aids, havia muito medo, pois não se sabia o que poderia acontecer com as pessoas e qual seria o tamanho da catástrofe que iríamos enfrentar", lembra.
"E nós vemos a mesma coisa agora com a covid-19. Todos nos sentimos um tanto incapazes1xbet 4entender realmente o que acontece, especialmente nos primeiros meses da pandemia", completa.
2. Estigmas e preconceitos
Uma das consequências desse medo generalizado diante do desconhecido é o surgimento1xbet 4teorias da conspiração e movimentos que tentam encontrar algo (ou alguém) para jogar a culpa.
"No início, a aids era descrita pejorativamente como a doença dos cinco H's, pois acreditava-se que ela só afetaria homossexuais, prostitutas (hookers,1xbet 4inglês), haitianos, hemofílicos e usuários1xbet 4heroína", diz a infectologista Karen Morejon, do Hospital das Clínicas da Faculdade1xbet 4Medicina1xbet 4Ribeirão Preto da Universidade1xbet 4São Paulo (USP), no interior paulista.
E esses estigmas e preconceitos eram reforçados pela própria imprensa. Na edição1xbet 4121xbet 4junho1xbet 41983 do jornal Notícias Populares, por exemplo, é possível ler uma manchete preconceituosa sobre a aids. Em letras garrafais, a capa anunciava: "A peste gay já apavora São Paulo".
Com a covid-19, houve um cuidado extra das autoridades, especialmente da Organização Mundial da Saúde (OMS), para que Wuhan, ou a China como um todo, não ficassem estigmatizados, ou virassem referência como o nome da doença ou do vírus.
E há exemplos claros1xbet 4como evitar essa vinculação geográfica1xbet 4uma nova enfermidade é importante. Talvez o maior deles seja a gripe espanhola, que matou milhões1xbet 4pessoas entre 1918 e 1920.
Apesar da alcunha, a doença provavelmente surgiu1xbet 4acampamentos militares dos Estados Unidos. Mas, como ocorria a Primeira Guerra Mundial e a maioria dos países envolvidos controlava a imprensa, quem noticiou sobre a chegada1xbet 4uma infecção desconhecida foram os veículos jornalísticos da Espanha, que mantinha uma posição1xbet 4neutralidade naquele momento.
Passado mais1xbet 4um século, o termo "gripe espanhola" continua a ser usado, apesar da imprecisão histórica.
Mesmo com as precauções1xbet 4relação à pandemia atual, ainda existem muitas teorias da conspiração infundadas que acusam a China1xbet 4ter criado o coronavírus e é comum ler o termo "peste chinesa"1xbet 4muitos desses conteúdos falsos.
3. Riscos e vulnerabilidades
Um erro que ocorreu nas duas pandemias,1xbet 4acordo com os especialistas, foi o foco excessivo nos chamados "grupos1xbet 4risco"
Como mencionado anteriormente, existia uma ideia enviesada nos anos 19801xbet 4que só homossexuais, usuários1xbet 4drogas injetáveis ou pacientes que precisam1xbet 4transfusão sanguínea se infectavam com o HIV.
Já na covid-19, circulou muito a ideia errada1xbet 4que a doença só matava idosos e indivíduos com comorbidades, como os portadores doenças cardiovasculares ou pulmonares.
"E,1xbet 4ambos os casos existe uma diferença enorme entre grupos1xbet 4risco e indivíduos com maior vulnerabilidade", diferencia Diaz.
Ou seja: estatisticamente e na comparação com as outras faixas etárias, pessoas acima1xbet 460 anos são mais suscetíveis à infecção pelo coronavírus e desenvolvem com maior frequência as formas graves da enfermidade, que exigem internação e intubação. Mas isso não significa que os mais jovens estão absolutamente livres da covid-19 ou1xbet 4suas repercussões no organismo.
O mesmo se repete quando pensamos nos primeiros anos da aids: a noção distorcida1xbet 4que homossexuais seriam os únicos afetados fez com que indivíduos com outras orientações sexuais relaxassem e pensassem que não corriam perigo, quando se sabe que a realidade é muito mais complexa.
"O foco nos grupos1xbet 4risco fez com que houvesse uma sensação1xbet 4tranquilidade daqueles que não apresentavam aquelas características, pois eles achavam que não adoeceriam", acrescenta Morejon, que também integra a Sociedade Paulista1xbet 4Infectologia.
4. Desigualdade escancarada
A bióloga americana Claudia Velasquez, diretora do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) no Brasil, chama a atenção para outro ponto1xbet 4comum entre as duas pandemias.
"As desigualdades têm um papel extremamente relevante [nos dois momentos históricos] e, por isso mesmo, é preciso atuar1xbet 4forma conjunta e simultânea", analisa.
"A resposta ao HIV evidencia a lacuna entre ricos e pobres. Onde um bom progresso foi feito, as pessoas que vivem com HIV têm uma vida longa e saudável. Já onde as desigualdades são grandes, foi alcançado um progresso limitado", compara.
Na covid-19, a diferença1xbet 4acesso a insumos, testes, remédios e vacinas também é enorme1xbet 4acordo com cada país.
Essa disparidade fica escancarada no número1xbet 4imunizantes contra o coronavírus aplicados até o final1xbet 4setembro: de acordo com informações disponibilizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), 61,4% dos cidadãos1xbet 4países ricos haviam recebido ao menos a primeira dose. Nos lugares mais pobres do planeta, apenas 3,5% das pessoas foram contempladas nas campanhas1xbet 4vacinação.
Os mesmos números podem ser lidos1xbet 4outra maneira: enquanto 11xbet 4cada 2 indivíduos das nações ricas estão mais protegidos contra a covid-19, somente 11xbet 4cada 28 que moram nos locais mais pobres tiveram essa mesma oportunidade.
5. Avanços nos métodos1xbet 4prevenção
Esse talvez seja o ponto onde as semelhanças mais impressionam. Tanto a aids quanto a covid-19 seguiram uma sequência similar1xbet 4orientações preventivas.
Nos primeiros meses, quando as informações sobre as doenças eram escassas, restava apelar às medidas proibitivas: para evitar o HIV, não faça sexo; para fugir do coronavírus, não saia1xbet 4casa.
Com o passar do tempo, surgiram métodos um pouco mais rebuscados, que servem1xbet 4barreira contra a entrada dos vírus. Falamos aqui das camisinhas e das máscaras.
Na sequência, vêm as intervenções biomédicas. No HIV, foram aprovados remédios para a PrEP (profilaxia pré-exposição) e para a PEP (profilaxia pós-exposição). Quando bem indicadas, essas estratégias ajudam a evitar a infecção pelo vírus.
Já na covid-19, as vacinas testadas e aprovadas1xbet 4tempo recorde permitiram controlar o número1xbet 4casos mais graves, internações e mortes.
Durante os dois processos1xbet 4evolução, os especialistas aprenderam que não costuma dar muito certo depender unicamente dos métodos baseados no comportamento das pessoas, como a abstinência sexual, o isolamento social, a camisinha ou a máscara.
Pela experiência com as pandemias recentes, é justamente a combinação e a adaptação1xbet 4diferentes estratégias que permite obter um bom resultado.
"É fácil dizer para as pessoas usarem camisinha ou máscara, como se todo mundo fosse respeitar essa recomendação 100% das vezes", comenta o infectologista Rico Vasconcelos, pesquisador do Hospital das Clínicas1xbet 4São Paulo.
"Conforme aparecem as intervenções biomédicas, como os remédios ou as vacinas, é que começamos a ver uma queda da incidência tanto das infecções por HIV ou pelo coronavírus", observa.
O cientista social Alexandre Grangeiro, pesquisador da Faculdade1xbet 4Medicina da USP, concorda: "Recomendações muito normativas, que dizem aquilo que as pessoas precisam fazer e não consideram a autonomia1xbet 4cada um, não funcionam", entende.
"Ou a gente adequa os métodos1xbet 4prevenção ao cotidiano ou eles vão falhar", completa o especialista, que foi diretor do Programa Nacional1xbet 4DST/Aids do Ministério da Saúde entre 2003 e 2004.
Já Diaz destaca o papel da comunicação nesse contexto e usa as orientações sobre o uso da camisinha como exemplo.
"Nós erramos feio ao dizer que fazer sexo com camisinha é igual1xbet 4termos1xbet 4prazer. Isso é mentira. A mensagem correta é que existe, sim, um prejuízo na sensibilidade, mas um ganho no aspecto preventivo", analisa.
"Nossa comunicação foi sempre no sentido1xbet 4que, ao se prevenir, você estará fazendo um bem para todo mundo, para a coletividade. E me parece que essa mensagem1xbet 4fazer as coisas pelos outros nunca funcionou direito", acrescenta.
6. Conquistas contra outras doenças
Vale observar aqui que o trabalho dos cientistas para trazer soluções às pandemias1xbet 4aids e covid-19 também permitiu pensar1xbet 4saídas para outros problemas1xbet 4saúde.
"O esforço científico para entender a aids na década1xbet 41980 propiciou o desenvolvimento1xbet 4remédios que impedem a replicação1xbet 4vírus. Muitos deles compõem o coquetel antirretroviral", exemplifica Diaz.
"E esses tratamentos beneficiaram não apenas os portadores1xbet 4HIV, mas também serviram1xbet 4base para a criação1xbet 4terapias contra a hepatite C, o vírus sincicial respiratório e talvez até o coronavírus", conta o infectologista.
Já no contexto atual, algumas das vacinas contra a covid-19 usam tecnologias absolutamente novas. É o caso dos produtos que se baseiam no vetor viral não replicante, como aqueles desenvolvidos por AstraZeneca/Universidade1xbet 4Oxford e Janssen, ou os imunizantes1xbet 4mRNA, criados por Pfizer/BioNTech e Moderna.
Essas mesmas plataformas já são testadas para obter imunizantes contra outras doenças infecciosas e podem até servir como solução para diversos problemas1xbet 4saúde, como o câncer.
"A pandemia1xbet 4covid-19 mostrou que a ciência pode avançar rapidamente, quando existe a vontade política e o envolvimento1xbet 4todas as pessoas", resume Velasquez, da Unaids Brasil.
Morejon pondera que os avanços e as conquistas contra as infecções não foram frutos1xbet 4uma iniciativa isolada1xbet 4um especialista ou um grupo1xbet 4pesquisadores, mas1xbet 4um apoio constante à ciência.
"Só tivemos uma vacina contra a covid-191xbet 4menos1xbet 4um ano porque já existia toda uma pesquisa anterior, que buscava soluções para outros tipos coronavírus que surgiram1xbet 42003 e 2011", aponta a médica.
"E, mesmo na aids, que começou a chamar a atenção nos anos 1980, tínhamos investigações e amostras1xbet 4pacientes guardadas1xbet 4laboratórios desde os anos 1970", lembra.
"Quando há investimento, a ciência prepara o terreno e nos permite lidar com as crises1xbet 4forma muito mais fácil", completa.
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