'Nem toda mulher que usa véu é oprimida': o que diz Boushra Almutawakel, autora da imagem viralvbetmãe e filhavbetburca:vbet
"Passeivbet1.500 seguidores a 20.000vbetdois dias, é uma loucura", disse elavbetDubai, onde atualmente mora comvbetfamília, à BBC Mundo, serviçovbetnotíciasvbetlíngua espanhola da BBC.
A artista admite, contudo, ter "sentimentos contraditórios"vbetrelação aos acontecimentos dos últimos dias.
Embora feliz com o fatovbetque seu trabalho esteja tendo impacto, ela acha que ele foi mal interpretado e tem sido usado como uma formavbetcriticar o Islã e o uso do véu (ou hijab).
Nesta entrevista, Almutawakel fala sobre a mensagem intencionada porvbetobra e afirma que a "misoginia patriarcal" não é encontrada apenas no mundo árabe e muçulmano, mas "em toda parte".
vbet BBC Mundo - Suas fotografias,vbetespecial a série 'Mãe, Filha e Boneca', foram amplamente compartilhadas nas redes sociais nos últimos dias. Qual a mensagem da obra?
Boushra Almutawakel - É um comentário sobre a misoginia patriarcal. Medo, controle e intolerância. O que será necessário para que esses extremistas aceitem as mulheres; quantas camadas serão necessárias?
A sensação é que a única coisa que os deixará felizes é que as mulheres sejamvbetfato invisíveis.
Eu venho do Iêmen, um país que sempre foi muito conservador. A partir dos anos 80, contudo, cresceu a influência do wahabismo, da Arábia Saudita, e eu pessoalmente senti que as coisas estavam ficando muito extremas.
E, para mim, isso não tem nada a ver com o Islã. Antes, os véus eram coloridos. Cada aldeia tinha seu próprio véu. Em algumas aldeias, as mulheres nem cobrem o rosto.
Não sou contra o hijab. Se fosse assim, teria aberto a série com uma mulhervbetbiquíni. Mas onde está escrito que uma meninavbet5 anos deve cobrir o cabelo?
É como se a cultura fosse muito mais forte do que a religião. Há muitas coisas maravilhosasvbetnossa cultura, mas a parte misógina, a parte extremista,vbetcobrir completamente as mulheres, escondê-las, usá-las como propriedade, não faz parte do Islã.
vbet BBC Mundo - Algumas pessoas têm usado as suas fotos para criticas o Islãvbetforma geral. Como vê isso?
Almutawakel - É definitivamente um uso indevido e uma deturpação, porque a série "Mãe, Filha e Boneca" faz parte do meu trabalho como muçulmana, como árabe, como mulher iemenita usando o hijab.
Quando eu volto para casa (para o Iêmen), eu uso o hijab. Fui alvovbetmuito ódio, principalmentevbetmulheres árabes que me dizem que sou contra o Islã e o hijab.
E esse era o medo que eu tinhavbetexibir meu trabalho no Ocidente — algumas pessoas da direita usaram meu trabalho para mostrar como as mulheres islâmicas estariam sendo oprimidas.
E meu trabalho não é sobre o Islã, é sobre extremismo. É sobre a misoginia patriarcal, que não é encontrada apenas no mundo árabe e muçulmano, estávbettoda parte.
vbet BBC Mundo - Você tem sentimentos contraditóriosvbetrelação à repercussão da obra?
Almutawakel - Sim. Fico feliz que as pessoas estejam vendo meu trabalho, mas estou um pouco chateada, porque é como se as pessoas estivessem usando meu trabalho para reforçar uma mensagem que elas querem passar.
Muçulmanos e árabes pensam que estou do lado do Ocidente, que sou contra o Islã. Mas isso vem do uso incorreto e deturpado da obra.
E não estou falando pelas mulheres afegãs. Elas podem falar por si próprias. Eu acredito que as pessoas devem escutar, e não falarvbetnome dos outros.
E é isso que acontece com o Ocidente. Sei que a intenção é positiva, mas também queremos nos salvar a nós mesmas, e temos voz. O Ocidente não pode continuar a falar por nós.
As mulheres afegãs precisam se manifestar. E tenho certeza que elas vão. Elas têm vozes, são fortes.
vbet BBC Mundo - Qual papel então deveria ter o Ocidentevbetcrises como a que acontece no Afeganistão?
Almutawakel - O Ocidente não precisa nos salvar. De todo modo, o Ocidente nos destruiu. O Talebã foi criado pelos Estados Unidos para que pudessem lutar contra os soviéticos.
E eles deixaram o Talebã para o povo afegão. Quem precisa deles? Que tipovbetmundo é esse? Eu gostaria que o Ocidente ficasse foravbetnossos países, incluindo o meu. Eles destruíram o Oriente Médiovbettodos os aspectos.
vbet BBC Mundo - A possibilidadevbeta crise no Afeganistão aumentar ainda mais a islamofobia a preocupa?
Almutawakel - Claro que preocupa. E claro que aumenta. Mas a islamofobia existe com ou sem o Talebã, vem desde 11vbetsetembrovbet2001.
Se não existissem os talebãs, buscariam outra coisa para alimentar essa propagando que dissemina que o Islã é o mal. Muito disso infelizmente tem a ver com ignorância, medo e incompreensão.
vbet BBC Mundo - Qual a inteção por trás da série "What if..." ("E se..."), que mostra um homem usando uma burca?
Almutawakel - Não estava tentando provocar. Enquanto estava na faculdade nos Estados Unidos, passei por uma fase religiosa e usei o hijab por um ano.
Lembro-mevbetquando era verão, eu sentada ali, suando, e vi os jovens árabes muçulmanosvbetshorts... pessoalmente, aquilo não fazia sentido para mim. Então eu tirei [o véu].
E pensei: como seria o contrário? Se os homens fossem os únicos a usar o hijab. Era uma pergunta surreal que eu queria traduzir por meiovbetfotos.
Lembro que expus a série no Museu Nacional do Iêmen. E, para minha grande surpresa, muitas mulheres adoraram. Acho que quase todos os homens detestaram.
Lembro-mevbetuma briga com um médico que estudou nos Estados Unidos. Ele me perguntava: o que você está tentando dizer? Que os homens devem ser mulheres? Você está questionando o que Deus disse? Ele levou isso muito a sério.
vbet BBC Mundo - Você viveu por vários anos na França, um dos países que proibiu o uso da burca publicamente. Como foi a experiência?
Almutawakel - É muito contraditório. O lema da França é igualdade, liberdade e fraternidade, mas a realidade é outra.
Os muçulmanos são uma minoria, são marginalizados. E eles focam nas mulheres, as mais marginalizadas, as mais vulneráveis, é como uma formavbetextremismo, mas na outra direção.
Parece horrível para mim, ainda mais horrível porque o Ocidente foi educado na modernidade, com base na liberdade e na liberdadevbetexpressão. Mas não é verdade. Simplesmente não é verdade.
vbet BBC Mundo - Qualvbetopinião sobre o intenso debatevbettorno do véu?
Almutawakel - Não estamos focando nos reais problemas. Sempre se diz às mulheres o que fazer, para usar o hijab ou tirá-lo, ser magra, ser jovem... Deixem-nosvbetpaz!
Veja o que é a indústriavbetmaquiagem e do bem-estar. Os bilhõesvbetdólares que circulam aí. As mulheres passam por cirurgias plásticas e morremvbetfome para ficarem magras. Essa também é uma formavbetopressão.
Muitas das mulheres que se cobrem são médicas, políticas, escritoras, advogadas, artistas. E elas são fortes. Não porque seu rosto ou seu corpo estejam cobertos, mas por seu intelecto.
Algumas pessoas no Ocidente veem uma mulher com véu e imediatamente presumem que ela está oprimida e precisa ser salva. Mas nem todas as mulheres que usam hijab são oprimidas. E não estou falando pelas mulheres afegãs, mas pelas iemenitas e por mim.
vbet BBC Mundo - Você se preocupa com a supressãovbetdireitos das mulheres pelo avanço dos talebãs no Afeganistão?
Almutawakel - Sim, claro, tenho medo como todo mundo. As coisas que aconteceram no passado, mulheres que levam tiros, que são tiradas da escola,vbetseus empregos, que são mortas, é horrível.
Qualquer formavbetfundamentalismo,vbetextremismo, onde não haja espaço para flexibilidade, para discussão, para diálogo, é assustador.
No entanto, acho que estamos vivendo uma época diferente, porque agora temos telefones celulares e redes sociais, e eles não podem fazer as coisas como antes.
Também acredito que desta vez muitas mulheres lutarão mais. Tiveram 20 anosvbetvida melhor e são fortes, ambiciosas e capazes. Eu tenho fé nelas.
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