Mudanças climáticas: o que faz uma 'chefecalor', cargo criadoMiami para combater 'assassino silencioso':
'Assassino silencioso'
O planeta já aqueceu cerca1,2° C desde o início da era industrial e as temperaturas continuarão a subir, a menos que os governos ao redor do mundo façam cortes drásticos nas emissõesdióxidocarbono (CO²), alertam os cientistas.
E as altas temperaturas têm consequências diretas e letais para as pessoas.
"O calor extremo é um assassino silencioso. É a principal causamorte relacionada a desastres climáticos", diz Jane Gilbert, chefecalor do CondadoMiami-Dade, na Flórida.
De acordo com dados dos CentrosControle e PrevençãoDoenças dos Estados Unidos, entre 2004 e 2018, uma média702 pessoas morreram todos os anoscausas relacionadas ao calor naquele país.
Já um estudo2020 realizado por pesquisadores da UniversidadeBritish Columbia descobriu que milharesmortes podem realmente ser atribuídas ao calor a cada ano nos Estados Unidos.
O relatório estimou que o calor contribuiu para a morte5.600 pessoas anualmente, entre 1997 e 2006,297 condados que compõem três quintos da população dos Estados Unidos.
É por causa dessa crescente preocupação que algumas cidades estão tomando providências e buscando estratégias para cuidarsua população.
Em abril deste ano, o condadoMiami-Dade nomeou Jane Gilbert como a "primeira chefecalor", um cargo único no mundo, segundo ela.
Sua posição se encaixa no City Champions for Heat Action, uma iniciativa que faz parte da Extreme Heat Resilience Alliance, uma aliançacidades contra o calor extremo que terá a companhiaAtenas (Grécia) e Freetown (Serra Leoa).
Mas o que exatamente uma chefecalor faz?
"Estou encarregadatrabalhartodos os departamentos, setores e comunidades dentro do condadoMiami-Dade para desenvolver e implementar uma estratégia para reduzir os impactos do aumento do calor extremo, buscar soluções que reduzam o carbono", conta Jane Gilbert à BBC News Mundo, serviçoespanhol da BBC.
"O calor está aumentando não só na temperatura que sentimos na pele, mas também na umidade, e ambos estão relacionados às mudanças climáticas. E isso acontece à medida que nos tornamos uma cidade mais urbana e colocamos mais calçadas, mais ar condicionado e temos menos árvores", acrescenta.
Entre as medidas concretas para lidar com as ondascalor nas cidades, que Gilbert define como "ilhascalor urbanas", a mais clara e produtiva é o plantioárvores.
"As árvores geram mais benefícios porque absorvem a água da chuva, sequestram carbono e fornecem sombra. É uma vitória tripla", descreve Gilbert.
Criar mais espaços com sombraáreasrecreação infantil, praças e pontosônibus é outra das prioridadesMiami.
A prefeitura também pretende construir espaçosincentivo à caminhada e ao usobicicletas e do transporte público. Esse tipocomportamento, diz Gilbert, reduz a produçãogasesefeito estufa, que aumentam o calor global.
Inundações e nível do mar
O aquecimento global não se traduz apenasaumento da temperatura. Existem outras consequências que afetam diretamente a nossa vida na cidade e podem até colocá-laperigo.
Se a temperatura da Terra subir, as massasar podem conter cada vez mais vapor d'água, o que se traduzchuvas torrenciais. Tempestades como essas levam a inundações devastadoras, como ocorreu na Alemanha e na Bélgica nas últimas semanas — centenaspessoas morreram.
A elevação do nível do mar é outra consequência do aquecimento global que pode ser devastadora para cidades que estão à beira-mar, como Miami e Recife.
Há fortes evidências que sugerem que o número e a gravidade dos furacões ou tempestades tropicais podem estar relacionados ao calor extremo da mudança climática, diz Gilbert.
É por tudo isso, e pelos perigos que o calor representa para a vida, queMiami — apesarnão ser a cidade mais quente dos Estados Unidos — as autoridades consideram fundamental começar a trabalhar para evitar catástrofes.
"No Noroeste do Pacífico havia temperaturas mais altas do que as que tivemosMiami e eles não estavam preparados. 50% da população não tem ar condicionado. Vimos os impactos disso. Tem sido devastador para aquela área", diz Gilbert.
"Temos uma população sem-teto, assim como um setorbaixa renda que não tem ar condicionado ou não o usa tanto porque é muito caro. Também temos o maior númerotrabalhadores ao ar livrequalquer outro município da Flórida", afirma.
"Portanto, nós estamos bastante vulneráveis se tivermos um eventofaltaenergia generalizado e prolongado", disse a servidora.
Há quatro anos, 12 idosos morreramconsequência do forte calor depoisum furacão deixar um asilo sem energia elétrica por alguns dias,Miami.
Idosos, crianças, mulheres grávidas e trabalhadores ao ar livre são os mais vulneráveis aos efeitosuma ondacalor.
É por isso que também é importante agirum nível pessoal.
"Como indivíduos, precisamos planejar o dia. Saber se vai fazer calor. Tente ficar ao ar livremanhã cedo e à noite, e não quando o sol estiver muito forte; certifique-seter acesso a água ou a alguma formase hidratar; e faça pausas na sombra ouáreas com ar condicionado", sugere Gilbert. "O calor extremo pode ser muito perigoso."
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