O minúsculo país no Pacífico que pode tornar realidade a temida mineração no fundo do mar:
Nauru, um Estado insular no Oceano Pacífico, pediu à Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos (braço da ONU que supervisiona o fundo do oceano) que acelere a regulamentação que servirábaliza para a mineraçãoalto mar.
O governo local ativou uma subcláusula aparentemente obscura na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar que permite que países acionem um "gatilhodois anos" se acharem que negociações estão indo muito devagar.
Nauru, nação12 mil habitantes21 quilômetros quadrados que tem parceria com uma empresamineração, DeepGreen, argumenta que é "um dever dela para com a comunidade internacional" tomar essa iniciativaacionar o gatilho a fimajudar a se alcançar "segurança regulatória".
O país afirma que tem mais a perder com as mudanças climáticas, por isso quer incentivar o acesso às pequenas rochas conhecidas como nódulos que se encontram no fundo do mar.
Isso porque eles são ricoscobalto e outros metais valiosos que podem ser úteis para baterias e sistemasenergia renovável na transição que substituirá combustíveis fósseis.
Por que esse debate importa?
Se o braço da ONU não conseguir estabelecer as regras para a mineraçãodois anos, ele poderá emitir aprovação provisória a Nauru para seguir com seu projeto — e ninguém sabe o que isso pode representar.
"Isso poderia realmente abrir as comportas", afirma Matthew Gianni, da Deep Sea Conservation Coalition, à BBC.
"Se Nauru e a DeepGreen obtiverem uma licença provisória, qualquer empresa ou Estado nacional pode acionar o gatilhodois anos também e, então, todo o processo entrará no caos absoluto. As coisas ficaram muito mais complicadas — não seria um processonegociação coordenado e bem planejado para atingirmos a regulamentação."
O que diz a Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos?
Em entrevista à BBC, o secretário-geral do órgão, Michael Lodge, minimizou as implicações da mudançaNauru, dizendo que ainda há um longo caminho a ser percorrido antes que qualquer atividade mineradora possa ter início.
Ele disse que o conselho da Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos concordou2017concluir a regulamentação para mineração no fundo do mar até 2020. Mas um plano que foi descarrilado pela Covid-19.
Se Nauru eparceira comercial DeepGreen estiverem prontos para solicitar uma licençamineraçãodois anos, haveria uma sérieobstáculos antes que a aprovação pudesse ser dada — incluindo uma avaliaçãoimpacto ambiental e planos para minimizar os danos.
"Mesmo sob os atuais projetosregulamentação", disse Lodge, "qualquer pedidoexploração provavelmente será um processo demorado, com vários pesos e contrapesos".
Isso levaria pelo menos dois ou três anos,modo que, na prática, o inícioqualquer mineração seria por volta2026.
Qual é o futuro da exploração das profundezas do oceano?
Cientistas dizem que estão longealcançar uma compreensão completa dos ecossistemas nas planícies abissais. Mas já sabem que são muito mais vibrantes e complexos do que se pensava décadas atrás.
Estima-se que esses nódulos, habitat para inúmeras formasvida, se formaram ao longovários milhõesanos. Dessa forma, qualquer recuperação posterior à mineração será incrivelmente lenta.
Além disso, o que ainda não se sabe é qual será o efeito das plumassedimentos que serão agitadas pelas máquinas gigantesmineração e provavelmente irão se espalhar por longas distâncias debaixo d'água.
Estudar esses aspectos é uma tarefa difícil e lenta, e é improvável que seja totalmente respondida dentro do períododois anos iniciado por Nauru.
Andrew Friedman, do The Pew Charitable Trusts, está entre os que temem a "aceleração" o processoaprovação.
"O fundo do mar é um ambiente vasto, inexplorado e biologicamente rico, e a Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos deve investir o tempo e os recursos necessários para garantir que os ecossistemas do fundo do mar sejam protegidos antes que qualquer mineração prossiga."
Uma das regiões na miramineradoras eNauru é aClarion-Clipperton (CCZ, na siglainglês), no oceano Pacífico. Ali, a 4 mil metros abaixo da superfície marinha, distância equivalente a cinco vezes o tamanho do Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo, encontram-se vastos depósitosnódulosmanganês, pedras ricasníquel, cobre, cobalto e outros minerais essenciais para a fabricaçãoequipamentos —celulares a baterias para carros elétricos e painéis solares.
Ainda que não existam cálculos exatos, estima-se que a CCZ poderia abrigar 27 milhõestoneladasnódulos, que têm o tamanhouma bolabeisebol. Não se sabe, entretanto, se essa quantidade toda será acessível.
Michael Johnston, da Nautilus Minerals, calcula que, no ritmo do consumohoje, a CCZ terá cobre o suficiente para abastecer o mundo durante os próximos 30 anos.
Por outro lado, biólogos e ambientalistas descobriram que,alguma maneira, todo o ecossistema da CCZ está conectado aos nódulos.
Algumas espéciesesponjas e anêmonas precisam da superfície dura dos nódulos para viver. Vídeos gravados na CCZ também mostram que nos lugares onde há mais nódulos há uma quantidade maiorpeixes, com tamanho e diversidade maiores que espéciesáreas com menos nódulos.
O que vem agora?
Jessica Battle, do World Wide Fund for Nature (WWF), diz que a adoçãouma moratória é fundamental para uma avaliação adequada dos riscos.
"Nós realmente precisamos colocar um freiotudo isso,particular até que haja tempo suficiente para a ciência ajudar a tomar uma decisão informada."
Ela está menos preocupada com as perspectivasuma mineração real começandodois anos — já que as máquinasmineração ainda não estão prontas — e mais com o que pode acontecer na pressa para concluir a regulamentação.
"O que vai prevalecer? O princípio da precaução e cuidado com o meio ambiente? Ou os interesses comerciais?"
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