Como é ser negro no Japão, país onde 98% da população é nativa:bônus de graça
A discriminação racial é uma questão pouco debatida no Japão, mas que esteve no centrobônus de graçadiscussões desencadeadas por eventos específicos nos últimos anos.
Não há estimativas sobre a quantidadebônus de graçanegros no Japão, uma vez que o órgãobônus de graçaestatísticas do país só colhe dados por nacionalidade. Os estrangeiros respondem por apenas 1,7% da população japonesa.
Em 2015, quando a modelo Ariana Miyamoto, filhabônus de graçamãe japonesa e pai afro-americano, conquistou o títulobônus de graçaMiss Universo Japão, a questão ganhou espaço depoisbônus de graçauma chuvabônus de graçacríticas. Embora tenha nascido e crescido no Japão, Ariana sofreu ataquesbônus de graçapessoas que diziam que ela não era "japonesa o suficiente" para representar o país.
Naquele ano, a modelo deu declaraçõesbônus de graçaque a discriminação a deixava ainda mais motivada, e o debate foi além da questão do racismo: colocoubônus de graçaxeque a hegemonia da sociedade japonesa.
Em janeiro do ano passado, outra questão racial levou o tema novamente para a mesabônus de graçadebates. A prestigiada tenista nipo-haitiana Naomi Osaka foi retratadabônus de graçauma animação da empresa Nissin, fabricantebônus de graçamacarrão instantâneo, com a pele branca. A polêmica fez a empresa vir a público pedir desculpas, dizendo que terá "mais sensibilidade no futuro".
A morte do afro-americano George Floyd,bônus de graça46 anos, assassinado durante uma abordagem violentabônus de graçaum policial branco nos Estados Unidos, desencadeou uma ondabônus de graçaprotestos antirracistas no mês passado e gerou um debatebônus de graçaproporções internacionais.
Alguns veículos japoneses aproveitaram a oportunidade para levantar uma importante questão: será que o Japão não tem nada a ver com a luta contra o racismo?
Para Yasuko Takezawa, professora do Institutobônus de graçaPesquisabônus de graçaCiências Humanas da Universidadebônus de graçaQuioto, a questão racial também é um problema na sociedade japonesa.
"A maioria dos japoneses não tem uma experiência direta com pessoas negras. A imagem no país é proveniente da mídia, novelas, filmes, famosos com descendência africana ou comediantes que fazem imitações estereotipadas. É uma imagem que não é corrigida e acaba influenciando a sociedade", explica.
Curiosidade além dos limites
Em janeirobônus de graça2019, o engenheiro mecânico Stephen Estelle,bônus de graça25 anos, saiu dos Estados Unidos para tentar a vida no Japão. Sem falar o idioma, Stephen passou um anobônus de graçaTóquio, onde adquiriu experiência com os japoneses e depois se mudou para o extremo sul do país, para trabalhar no Institutobônus de graçaCiências e Tecnologiabônus de graçaOkinawa.
Stephen conta que teve mais experiências positivas do que negativas e que a interação com os japoneses geralmente ocorre através da curiosidade.
"Sinto que as pessoas ficam mais interessadasbônus de graçaconversar comigo por causa da curiosidade. Elas fazem perguntas, querem saber sobre o meu cabelo e a minha cultura. Eu acho que é algo bom, pois eles estão aprendendo e assim conseguem dissolver os estereótipos", explica.
Acostumado a falar sobre si, Stephen conta que já passou por situações constrangedoras e que nem sempre a curiosidade é positiva. "Há pessoas que passam dos limites e invadem abônus de graçaprivacidade, tentam tocarbônus de graçavocê sem pedir. Conversando com um amigo negro, descobri que temos uma experiência parecida, abônus de graçairbônus de graçaum banheiro público e ter um desconhecido tentando 'espiar' você. Isso é desrespeitoso, além dos limites", critica.
Apesar dos inconvenientes, o afro-americano conta que a experiência no Japão tem sido positiva. "Aqui eu não preciso me preocupar com a violência policial, mas nos Estados Unidos há mais suporte, amigos afro-americanos, a comunidade, a família. Se eu pegar o carro à noite nos Estados Unidos e sairbônus de graçacasa, posso chamar atençãobônus de graçaum policial. Aqui não me preocupo com isso, eu me sinto mais seguro".
A jamaicana Danielle Thomas,bônus de graça28 anos, chegou ao Japãobônus de graça2016 e foi trabalhar como professorabônus de graçainglêsbônus de graçauma escola primáriabônus de graçaIbaraki, província a 82 kmbônus de graçaTóquio.
Acostumada com as crianças japonesas, Danielle conta que passou por algumas experiências "engraçadas", como abônus de graçaum menino que disse para a mãe que a professora tem "a cara marrom" e outro garoto que a chamavabônus de graça"professora marrom".
"Eu adoro trabalhar com as crianças, elas são energéticas e puras. Eu não me ofendo com isso, acho que é bonitinho. Eles são honestos, ficam surpresos comigo e deixam os pais constrangidos", diz.
A curiosidade também é algo presentebônus de graçaseu dia a dia no Japão. "Estou sempre respondendo às mesmas perguntas sobre o meu país e principalmente sobre o meu cabelo. Eu canso, mas não me importo. Na Jamaica, todo mundo era como eu, e quando cheguei ao Japão, eu também fiquei fascinada pelo cabelo dos japoneses. Eu também queria tocar neles, por isso eu entendo", brinca.
Adaptação difícil
A brasileira Lorraina Eduarda Vital Cota Nakamura,bônus de graça28 anos, veiobônus de graçaSão Joaquim da Barra,bônus de graçaSão Paulo, para o Japão há dois anos, depoisbônus de graçavencer o medobônus de graçase mudar para o outro lado do mundo. "Na época, o meu marido (descendentebônus de graçajaponeses) ficou desempregado e então surgiu a ideiabônus de graçair ao Japão. Eu tinha muito medo, acreditava que os japoneses eram preconceituosos e temia pela minha filha, que tinha só seis anos", conta.
Lorraina se instalou com a família na provínciabônus de graçaMie, na região central do Japão. A brasileira conta que começou a trabalharbônus de graçafábricas e se sentiu bem recebida, mas enfrentou uma adaptação difícil, principalmente por causa do idioma.
"Assim que cheguei eu procurei um cursobônus de graçajaponês e comecei a estudar. Aprendi o hiragana (um dos três sistemasbônus de graçaescrita) e depois tive aulas particulares, mas quanto mais eu estudava, menos eu aprendia. Essa língua é muito difícil para mim, tenho me esforçado para vencer essa barreira."
Lorraina se tornou autônoma e abriu um salãobônus de graçabelezabônus de graçacasa, especializadobônus de graçatranças, dreads e alongamentos capilares. A brasileira conta que a filha Helena, hoje com 8 anos, se adaptou bem na escola japonesa, mas passou por um episódiobônus de graçabullying.
"Um colega japonês zombou do cabelo dela e logo fomos na escola resolver a situação. Hojebônus de graçadia eles são amigos e não houve mais nada. Todos os dias, quando ela chega da escola, eu pergunto como foi com os colegas e com a professora, estamos sempre acompanhando", diz.
Com relação ao racismo, Lorraina diz que passou por poucas situações desconfortáveis, como a vezbônus de graçaque estavabônus de graçauma lojabônus de graçausados e se aproximoubônus de graçaalgumas crianças para se olhar no espelho. "A mãe disse 'abunai, abunai' (perigobônus de graçajaponês) e eu não entendi. Pareceu que estava dizendo para as crianças que eu sou perigosa", relembra.
De uma maneira geral, ela conta que a experiência no Japão tem sido positiva. "Geralmente sou bem tratada e tenho gostadobônus de graçamorar aqui pela segurança e a estabilidade. Fora o problema da língua, eu sinto falta do calor humano do Brasil. Aqui as pessoas são afastadas, é cada um por si. Isso poderia me fazer querer voltar ao Brasil, mas o racismo, não", diz.
Sistema japonês
O nigeriano Samuel Lawrance, que está há maisbônus de graça15 anos no Japão e se aprofundou na sociedade e no sistema do país, acredita que há um racismo "passivo-agressivo" na sociedade japonesa, por ser algo que ocorre muitas vezesbônus de graçamaneira discreta.
"Eu trabalheibônus de graçauma empresa japonesa há alguns anos e passei por uma situação bastante desconfortável,bônus de graçaver alguém bem menos capacitado e experiente do que eu se tornando o meu chefe simplesmente por ser japonês. A sensação ébônus de graçaque não importa o quão bom eu seja no que eu faço, não posso crescer por ser estrangeiro ou por ser negro", desabafa.
Samuel trabalha atualmente para uma empresa estrangeira, que implementa tecnologiabônus de graçainteligência artificialbônus de graçacamposbônus de graçagolfe e tênis. Depoisbônus de graçapassar pelo sistema educacional do Japão ebônus de graçase encaixar na sociedade como um trabalhador, o nigeriano acredita que tem a missãobônus de graçaajudar a educar os japoneses com relação aos negros.
"Já ouvi todo o tipobônus de graçapergunta, até se tem ar-condicionado na Nigéria. Eu poderia ficar bravo, mas acredito que a minha missão é educar e apresentar informações corretas para qualquer um que esteja me perguntando. Quero que os japoneses saibam como é o meu país e a minha cultura."
Depoisbônus de graçapassar metade da vida no Japão, o nigeriano acredita que se adaptou por ter entrado no sistema e seguido uma carreira, mas nem por isso pensabônus de graçaficar para sempre no país.
"A diferença entre mim e um trabalhador japonês é que ele tem um passaporte japonês e obviamente não se parece como eu, apenas isso. Eu estou aqui porque os meus serviços estão sendo requisitados. Quando não forem mais, acredito que vou embora", diz.
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