Coronavírus nos EUA: a 'tempestade perfeita' detonada pela pandemia na maior reserva indígena dos EUA:cashback betsul
Ela, como muitos ali, precisa se locomover quase 30 km várias vezes por semana a fimcashback betsulencontrar uma fontecashback betsulágua potável.
"Agora nos dizem que devemos ficarcashback betsulcasa. Mas eu tenho que sair, mesmo que eu não queira."
Ela não enfrenta essas dificuldades sozinha. Quase 40% dos navajos que vivem na reserva não têm acesso a água potável.
Energia elétrica, internet e ruas pavimentadas são quase luxo por ali.
E como se não bastasse, a Nação Navajo é a região com mais casoscashback betsulcoronavírus per capita nos Estados Unidos.
Até 18cashback betsulmaio, maiscashback betsul4.000 indígenas haviam contraído o vírus, e cercacashback betsul170 haviam morridocashback betsuldecorrência da covid-19.
"Há muitos aqui que perderam pai, mãe e irmãoscashback betsulpoucas semanas. O golpe tem sido forte, muito forte", lamenta Hoskie.
Se fosse um Estado, seria o mais pobre
Se a Nação Navajo fosse um país, teria quase o tamanhocashback betsulPortugal. É a maior reserva indígenacashback betsulárea ocupada nos EUA, ao longocashback betsultrês Estados (Arizona, Utah e Novo México), mas é apenas uma fração da área que ocupava até o governo dos EUA tomá-la.
Hoje, vivem ali cercacashback betsul170 mil pessoas, descendentescashback betsulum dos povos originários do oeste americano.
Ainda que vivam atualmentecashback betsulmineração, hotelaria e cassinos, como muitas outras reservas indígenas, os navajos também sofrem com um elevado índicecashback betsulpobreza, abusocashback betsuldrogas, violência sexual, baixos níveiscashback betsuleducação, desemprego, serviçoscashback betsulsaúde esvaziados e habitações precárias.
Se a Nação Navajo fosse um Estado americano, segundo vários estudos, seria o mais pobre do país.
Dados do Departamentocashback betsulHabitação e Desenvolvimento Urbano aponta que maiscashback betsulum terço das residências ali estão superlotadas e com escassezcashback betsulágua, energia elétrica, aquecimento, geladeiras e outras necessidades básicas.
A Nação Navajo é também a mais tóxica: abriga 521 minascashback betsulurânio abandonadas, quatro processadores nucleares desativados e maiscashback betsul1.100 lugares contaminados por resíduos radioativos, segundo a Agênciacashback betsulProteção Ambiental dos EUA.
Residências com quatro gerações
Aparentemente, tudo começou com uma celebração religiosa.
Os navajos, que mantêm seus ritos ancestrais, também foram influenciados por congregações evangélicas que lhes prometem uma vida melhor após os inúmeros sofrimentos ao longo da história.
Diversas pessoascashback betsullugares diferentes se reuniramcashback betsulmeadoscashback betsulmarço para um culto na comunidadecashback betsulChilchinbeto, no Arizona.
Alguém que havia contraído o novo coronavírus foi ao encontro e desde então a doença se espalhou por toda a reserva.
"Acredito que a forma como o coronavírus se espalhou tão rápido tem a ver com as próprias condiçõescashback betsulque vivem as comunidades", afirmou à BBC News Mundo a médica brasileira Carolina Batista, que integra uma equipe da organização Médicos Sem Fronteiras que foi à região prestar ajuda.
Segundo ela, há residênciascashback betsulque vivem juntas quatro gerações da mesma família, e se uma pessoa fica doente, acaba contaminando diversos familiares.
"Os hospitais são escassos e carentescashback betsulrecursos ecashback betsulprofissionais", diz. Segundo ela, muitos não imaginam que ''essas condições, frequentescashback betsulnações pobres da África, da Ásia e da América Latina, também poderiam ser encontradascashback betsulum dos país mais desenvolvidos do mundo".
cashback betsul ' cashback betsul Conheço a maioria dos pacientes desde a infância cashback betsul '
"Me chamo Michelle Tom. Fui jogadoracashback betsulbasquete profissional e agora sou uma das poucas médicascashback betsulorigem navajo que atuam na comunidade.
Trabalhocashback betsulum hospitalcashback betsulWinslow, no Arizona, um pequeno povoado na fronteira sul da Nação Navajo.
Nunca tive dúvidacashback betsulque retornaria à minha comunidade depoiscashback betsulestudar medicina.
Eu poderia ter ido pararcashback betsulalgum hospitalcashback betsuluma grande cidade, com certeza não me faltariam recursos ou melhores condições, mas isso não era uma opção para mim.
Acredito que tenha a ver com a forma como criamos os navajos. Você, como indivíduo, nunca vem primeiro: antes vemcashback betsulfamília ecashback betsulcomunidade.
Nunca imaginei que um ano depoiscashback betsulvoltar me veriacashback betsulalgo assim.
É um momento muito emotivo na minha vida, talvez o mais intenso que eu tereicashback betsultoda minha carreira.
A maioria dos pacientes que chegam doentes com coronavírus ao hospital onde eu trabalho são pessoas que conheço desde criança. Não são estranhos.
Este é o meu lugar, esta gente é a minha família. Os membroscashback betsulnosso clã são todos uma família, porque sentimos que estamos conectados uns com os outros.
E isso só aumenta minha angústia.
Chego todo dia para trabalhar e não temos testes suficientes, só posso testar os que estão muito doentes. Não temos cardiologistas nem outros especialistas necessários para atender esses casos.
Para toda a Nação Navajo, só há 25 leitoscashback betsulcuidados intensivos, por isso muitos pacientes precisam ser transportados pelo ar para outros hospitais a centenascashback betsulquilômetros daqui, e nesta doença esse tempo pode significar vida ou morte.
Tampouco temos equipamentoscashback betsulproteção necessários para mim e meus colegascashback betsulequipe. Passei a conversar com uma ONG para tentar obtê-los.
Desde meadoscashback betsulmarço, eu tive que mudarcashback betsulcasa para não colocarcashback betsulrisco a minha família. Eu crescicashback betsulum lar com nove pessoas, e somos muito unidos.
É uma situaçãocashback betsulmuita impotência também, porque muitas vezes, por mais que se queira ajudar os outros, não estácashback betsulnossas mãos.
80% dos alimentos vendidos na reserva são 'junk food'
Quando Amber Kanazbah Crotty precisava fazer compras, ela viajava quase 65 km até o mercado mais próximocashback betsulsua casa.
A delegada do Conselho da Nação Navajo, uma espéciecashback betsulCongresso do governo interno da reserva, afirmou à BBC News Mundo que essa é uma realidade para milharescashback betsulpessoas ali.
Segundo Kanazbah Crotty, encontrar comida fresca na Nação Navajo é quase uma utopia, e há ali altos índicescashback betsuldoenças na comunidade associadas à má alimentação.
Um levantamento do grupocashback betsulespecialistas navajos Diné Community Advocacy Alliance identificou apenas dez mercados, e 80% dos alimentos vendidos neles podem ser considerados "junk food".
"O alimento mais acessível é ocashback betsulpior qualidade, e isso influencia nossas altas taxascashback betsuldiabetes, obesidade e doenças cardiovasculares, condições que sabemos ter impacto na letalidade do coronavírus", diz Kanazbah Crotty.
"Também temos problemas respiratórios e câncer porque temos minascashback betsulcarvão e urânio, coisas que afetam nosso corpo há anos e enfraquecem nossa resposta ao vírus."
Segundo dados oficiais, quase um quarto dos habitantes da Nação Navajo têm diabetes, cercacashback betsul10% padecemcashback betsulalguma doença cardiovascular e metade da população é obesa.
Ainda que existam jovens entre os afetados, um dos maiores temores na comunidade envolve a saúde dos mais velhos, considerados figuras sagradas e sábias dentro da tradição e sem os recursos culturais necessários para entender o que está acontecendo.
"Temos uma população adulta que fala apenas uma língua, e traduzir o idioma navajo exige tempo e experiência."
Os navajos, que têm uma língua bastante descritiva, chamam a nova doençacashback betsul"Dikos Ntsaaígíí-Náhást'éíts'áadah", que significa literalmente "a grande doença da tosse 19".
"Explicamos que afeta os pulmões, que terão dificuldade para respirar, que dá muita tosse e febre. Temos que explicar muito didaticamente porque, do contrário, eles não entendem o que estamos falando."
Tragédia anunciada
Para Allison Barlow, diretora do Centro Johns Hopkins para a Saúde dos Indígenas Americanos, a situação que se vive na Nação Navajo há décadas atingiu uma "tempestade perfeita", e a crise do coronavírus se tornou um massacre ali.
"O que vemos hoje é resultadocashback betsulum sistema falido e disfuncional que perdura há gerações", afirmou à BBC News Mundo.
Segundo a especialista, a situação nesta e na maioria das tribos indígenas dos EUA é causada pela "faltacashback betsulação do governo federal, que não respeita os termos dos acordos com essas nações".
Após a tomada do território da maioria das tribos indígenas durante a expansão territorial do país (e anoscashback betsulconflitos), os EUA se comprometeram a oferecer tratamento especial para os integrantes dos povos originários.
Como ocorreu com outras comunidades, o governo central firmou há maiscashback betsulum século um acordo com a Nação Navajo no qual se responsabilizava pela ofertacashback betsulserviçoscashback betsulsaúde, educação e bem-estar social, entre outros.
"Mas na prática o governo federal falha no financiamento adequado a esses programas. Não importa quem esteja no comando da Casa Branca, republicanos ou democratas. Os maus-tratos às populações indígenas são uma constante", afirmou Barlow.
"A covid-19 apenas jogou luz sobre esse sistema falidocashback betsulque o governo americano os obriga a viver."
A BBC News Mundo entroucashback betsulcontato com o Escritóriocashback betsulAssuntos Indígenas, a agência do governo dos EUA responsável pelos povos originários, a fimcashback betsulouvir o que o órgão tem a dizer sobre os pontos relatados pelas pessoas ouvidas na reportagem. Mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.
'Tudo tem seu devido lugar neste universo'
Meu nome é Greg Casarroja. Sou do clã Todich'iinii (Água Amarga) e nasci no clã Bit'ahnii (Braços Cruzados). Agora dou aulas na Diné, universidade dos navajoscashback betsulTsaile, no Arizona.
Acredito que aqui na Nação Diné (esse é o nosso nome originário) a pandemiacashback betsulcovid-19 abriu um debate sobre nossos valores tradicionais.
Em nossos ensinamentos antigos, acreditamos que tudo no universo está relacionado a nós e tudo está relacionado um ao outro. Todos e tudo têm seu devido lugar neste universo.
Em nossa cultura, temos um lema: só você pode tomar a iniciativa.
São tempos difíceis, mas a Diné está sendo testado e começamos a perceber mais uma vez que nossa história, cultura, canções e orações estão cheiascashback betsulremédios para enfrentar os monstros que vagam pela Terra.
Nessas circunstâncias difíceis que nossa nação está passando, fazemos oferendas à terra, oferendas aos elementos.
Muitos estão tomando remédios naturais que nossos sábios sabem como preparar, mas também perdemos aqueles que tinham esse conhecimento antigo.
Mas a Diné também tem certezacashback betsulque isso passará.
No fim, sabemos que a Mãe Terra sempre nos oferta e protege e, quando morremos, só retornamos a ela.
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