Coronavírus: o que está por trás da aparente resistência da África à pandemia:cs roleta
Esses números são mais impressionantes diante do fatocs roletaa África ser o segundo continente mais populoso do mundo, com 1,2 bilhãocs roletahabitantes.
Mas o que está por trás da aparente resistência do continente africano à pandemiacs roletacoronavírus e por que existem tão poucos casos relatadoscs roletacovid-19?
Diversidadecs roletaabordagens
Os países africanos mais afetados, até 11cs roletamaio, são a África do Sul, com 10.015 casos, o Egito com 9.400, o Marrocos com 6.063 e a Argélia com 5.723. Juntos, eles representam quase 50%cs roletatodas as infecções na África.
Alguns especialistas argumentam que a explicação para a suposta exceção que o continente se tornou é que os sistemascs roletasaúde locais não conseguem fazer testes suficientes para detectar mais casoscs roletacovid-19, principalmente devido à faltacs roletarecursos.
Mas outros asseguram que outros fatores também influenciam esta situação. Anne Soy, editora adjunta da BBC na África, explica que há realmente uma situação complexacs roletaum continente com 53 países que confirmaram a presença do vírus e adotaram estratégias diferentes para lidar com ele.
"Há aqueles que tomaram medidas drásticas desde o início e onde o númerocs roletacasos continua a aumentar, no entanto, existem outros que ainda estãocs roletanegação e não estão implementando medidas para impedir a propagação da doença, como a Tanzânia", diz Soy.
O presidente da Tanzânia, John Magufuli, é um dos poucos líderes mundiais que continua a minimizar a gravidade do vírus. Na semana passada, ele questionou a precisão dos testes para covid-19 e demitiu o chefe do laboratório nacionalcs roletasaúde encarregadocs roletarealizá-los, denunciando uma "trapaça".
Magufuli já havia pedido aos tanzanianos que rezassem para que o coronavírus desaparecesse, e seu governo não oferece atualizações diárias sobre o progresso do surto.
Reações rápidas dos países africanos
Apesarcs roletaalgumas exceções, a maioria dos países africanos tomou medidas "mais rapidamente do que o resto do mundo", observa Soy.
"Ruanda foi um dos primeiros a implementar o confinamento quando tinham menoscs roleta20 casos confirmados. Eles fecharam a fronteira e interromperam os voos internacionais", afirmou.
A África do Sul, o país do continente que até agora reportou o maior númerocs roletainfectados, impôs desde 27cs roletamarço um dos mais rígidos regimescs roletaisolamento do mundo, com proibiçãocs roletatodos os voos comerciais e até da vendacs roletabebidas e cigarros.
Mas, principalmente devido à queda na atividade econômica da África do Sul, suas autoridadescs roletasaúde começaram a relaxar algumas medidas na semana passada.
Experiência com epidemias
Embora a pandemiacs roletacoronavírus seja a mais grave crisecs roletasaúdecs roletanossa geração, está longecs roletaser a primeira. Especialmente na África, um continente que enfrentou severas epidemiascs roletamalária, tuberculose, cólera, HIV e ebola.
Todas essas doenças tiraram vidas, mas também forçaram a comunidade científica e médica africana a inovar.
"A população africana está acostumada a reagir rapidamente, a recorrer a voluntários no meio rural. Acho que isso lhes permitiu circular informações sobre medidascs roletaprevenção e aplicá-las a tempo", diz Karl Blanchet, especialistacs roletasaúde global e emergências sanitárias no Centrocs roletaGenebra para Educação e Pesquisacs roletaAção Humanitária (Cerah).
A recente epidemiacs roletaebola que atingiu a África Ocidental, com maior intensidade entre 2014 e 2016, causou estragoscs roletapaíses como Guiné, Libéria e Serra Leoa e deixou maiscs roleta11 mil mortos.
Embora a OMS tenha declarado o fim da emergência sanitária na regiãocs roletamarçocs roleta2016, as autoridades ainda estãocs roletaalertacs roletaalguns dos países mais afetados pelo surto devido ao aparecimentocs roletacasos isolados.
"O ebola era um problema que ainda existia quando a pandemia da covid-19 foi declarada. Isso significa que alguns países africanos já tinham infraestruturacs roletadetecção nos aeroportos. Autoridadescs roletasaúde pública e termômetros sem contato já estavam posicionados nas portascs roletaentrada", explica Soy.
O surtocs roletaebola também ensinou à África a importânciacs roletadetectar casos rapidamente, tratar os pacientes confirmados e isolar comunidades, diz a jornalista da BBC.
"Por causa daquela epidemia, as pessoas até pararamcs roletaapertar as mãos na África Ocidental e na República Democrática do Congo. Elas se conscientizaramcs roletaque isso é importante", acrescenta.
Um continente menos globalizado
Frederique Jacquerioz, especialista africanocs roletasaúde pública da equipecs roletamedicina tropical e humanitária do Hospital Universitáriocs roletaGenebra, na Suíça, estima que outro fator que pode explicar a resistência da África à pandemia é a baixa circulação existente entre os países do continente e o resto do mundo.
"Os primeiros casos confirmados na África foram jovens, africanos ou europeus, que viajaram, retornaram à África e trouxeram o vírus com eles", diz o médico.
"Em um mundo globalizado, esse foi um dos fatores que alimentou a disseminação do vírus na Europa, onde gruposcs roletajovens passam finscs roletasemanacs roletadiferentes cidades. Talvez na África, nesse sentido, haja menos mobilidade entre os países."
Essa hipótese é apoiada por vários especialistas. Blanchet, da Cerah, dá como exemplo três dos países que até agora foram os mais afetados pelo vírus: África do Sul, Egito e Argélia.
"Eles são os países com maior númerocs roletaligações aéreas com a China. A exceção é a Etiópia, que apesarcs roletanão estar nesse grupo, tem uma conexão direta com o país asiático. Mas ainda não foi afetada pela pandemia. Isso é algo que não pode ser explicado", diz ele.
Existe um fator demográfico?
A pirâmide demográfica africana é outro elemento que pode ter ajudado o númerocs roletamortos na região a não ser maior: a África é o continente com a população mais jovem do mundo.
Blanchet acredita nesta hipótese e destaca que "a idade média na África écs roleta19,7 anos, enquanto na Europa écs roletacercacs roleta40 anos, por exemplo".
Embora Anne Soy reconheça que esse poderia ser um dos fatores, ela alerta que ainda não há estudos científicos para apoiar essa teoria.
"Pode ser uma das vantagens da África, mas, ao mesmo tempo, você também tem uma grande populaçãocs roletacrianças desnutridas, com um sistema imunológico mais fraco, do que no resto da população mundial, o que as torna mais vulneráveis. Isso significa que teríamos que ver mais crianças africanas afetadas do que no restante do planeta?", questiona a jornalista.
Os riscos do continente
Na sexta-feira, a OMS alertou que o coronavírus na África poderia "arder lentamente" por vários anos e matar cercacs roleta190 mil pessoas nos próximos 12 meses.
Esse aviso veio um mês depoiscs roletaa agência estimar que o surto causaria 10 milhõescs roletainfecções no continente dentrocs roletaseis meses.
O mesmo relatóriocs roletasexta-feira prevê que entre 29 milhões e 44 milhõescs roletapessoas poderão ser infectadas no primeiro ano da pandemiacs roletacovid-19 se as medidascs roletacontenção no continente falharem.
Vários analistas enfatizam que o impacto da pandemia realmente dependerá das ações que os governos tomarem.
O diretor da Comissão Econômica das Nações Unidas para a África, Stephen Karingi, disse ao jornal britânico The Guardian que é preciso reconhecer que as autoridades africanas estão "fazendo muito" para conter o surto.
"As projeções eramcs roletaque agora estaríamoscs roletauma situaçãocs roletaguerra, mas devido a medidas tomadas por governos e comunidades, as taxascs roletatransmissão são mais baixas do que as que já vimoscs roletaoutros lugares."
Soy avalia que as restriçõescs roletamovimento retardaram a propagação do vírus, mas as autoridades devem permanecer vigilantes, especialmente nas favelas da África.
"Eles têm alta densidade populacional e serviçoscs roletasaúde muito ruins. Algumas delas sequer têm acesso à água", diz a jornalista.
Soy destaca que a maioriacs roletaseus habitantes teriam problemascs roletapermanecer confinados por um longo tempo, porque são trabalhadores informais que não conseguem comer se não saem para trabalhar.
Apesar da diversidadecs roletaopiniões e debates sobre por que a África resistiu melhor à pandemiacs roletacovid-19 que as outras regiões mais ricascs roletarecursos, a grande maioria dos especialistas concorda que ainda é cedo para falarcs roletauma "exceção africana".
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