O que estes três cientistas aprenderam com dengue, zika e influenza que pode virar arma contra covid-19:aposta da roleta

Montagem com fotosaposta da roletaDiego Comerci, Susana López e Mauricio Terrones.

Crédito, Diego Comerci/Gaceta UNAM/Nate Follmer-PSU

Legenda da foto, Diego Comerci, Susana López e Mauricio Terrones contam como suas pesquisas com vírus na América Latina ajudam no combate à covid-19

A BBC News Mundo (serviçoaposta da roletaespanhol da BBC) perguntou a três cientistas da América Latina engajados no combate ao coronavírus Sars-Cov-2, que causa a covid-19, como suas experiências acadêmicas com os vírus influenza, zika e dengue os estão ajudando nesse novo desafio.

Susana López e o vírus da zika

Alejandra Arias López posa para fotoaposta da roletadentroaposta da roletacasa

Crédito, Divulgação/Alejandra Arias López

Legenda da foto, Susana López é pesquisadora da Universidade Nacional Autônoma do México

Susana López é pesquisadora do Institutoaposta da roletaBiotecnologia da Universidade Nacional Autônoma do México.

Em 2012, ela ganhou um prêmio que a Unesco e a Fundação L'Oréal concedem a cientistasaposta da roletadestaqueaposta da roletatodo o mundo.

Foi por liderar a "batalha científica contra um problema universal, os rotavírus que atacam quase todas as crianças com menosaposta da roletacinco anosaposta da roletatodo o mundo e causam doenças intestinais graves".

No surto do vírus da zika na região,aposta da roleta2016, um dos aspectos que logo chamouaposta da roletaatenção foi que "havia transmissão vertical entre mãe e filho e que a infecção nos fetos resultavaaposta da roletamalformações como microcefalia". Isto não era visto com outros vírus transmitidos por mosquitos.

Diante disso, "percebemos que uma das coisas que tínhamos a fazer era aprender a diagnosticá-lo. Obtivemos fundos para trazer pesquisadores do Instituto Pasteur do Senegal, para que recebêssemos um cursoaposta da roletatreinamentoaposta da roletadiagnóstico", conta à BBC News Mundo.

Atualmente, e sem deixaraposta da roletalado suas pesquisas com os rotavírus, López eaposta da roletaequipe estão trabalhando no desenvolvimentoaposta da roletatestes sorológicos para detectar anticorpos no sangue e, assim, estabelecer quem tem zika, mesmo que não haja sintomas.

Agora, a equipe também recebeu treinamentos para processar testes para o novo coronavírus e deve começar a aplicá-losaposta da roletamembros da comunidade universitária, começando com pessoasaposta da roletaalto risco.

Em sala, famílias brincam com crianças com microcefalia usando bolas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Com o surto do vírus da zikaaposta da roleta2016, um dos aspectos que logo chamou a atençãoaposta da roletaSusana López foi 'que havia transmissão vertical entre mãe e filho e que a infecção nos fetos resultavaaposta da roletamalformações como microcefalia'

'O que aprendemos'

López diz queaposta da roletaexperiência com o zika mostrou que "a coisa mais útil que podemos fazer como acadêmicos é apoiar instituiçõesaposta da roletasaúde pública dedicadas à epidemiologia".

"Embora sejamos especialistasaposta da roletabiologia molecular e possuamos muitas ferramentas, temos que respeitar as regras da epidemiologia. (Os especialistas nesse campo) São aqueles que validam os testes para que ninguém tenha um falso positivo ou falso negativo".

"Hoje entendo muito bem a rigidez das autoridadesaposta da roletasaúde e do departamentoaposta da roletaepidemiologia do país para que os testes sejam realizados da maneira correta".

"O que aprendemos é que somos mais úteis quando podemos disseminar tecnologia para instituições que também podem implementá-la, potencializando o trabalho."

O esquecimento

Quando a virologista me disse que a emergênciaaposta da roletaum novo surto ou doença não mais a surpreendia, ela expôs suas reflexões sobre grandes populações e a interferência humana na natureza.

"Estamos invadindo florestas (...) e isso nos aproximaaposta da roletamuitos animais e insetos com os quais a humanidade normalmente não tinha contato. Dessa forma, muitos vírus que estavamaposta da roletaseus hospedeiros naturais (mosquitos, morcegos e outros animais) infectam as pessoas".

"Nos casosaposta da roletaebola, zika e coronavírus, o que aconteceu é que o vírus começa a se adaptar (ao corpo humano) e a transmissão da infecção viral entre as pessoas começa a ser desencadeada."

E, depoisaposta da roletaficar sabendoaposta da roletaum novo surto, a sociedade e as autoridades reagem: "Um alarmeaposta da roletasaúde é gerado e mergulhamos no laboratório."

Mas, "depoisaposta da roletaalguns meses, a novidade passa".

"As pessoas não visualizam o quão importante é a pesquisa científica até que (o surto) chegueaposta da roletacima. O pior é que a memória é curta. As pessoas perguntam (tardiamente): 'Onde estão os cientistas? Por que não temos mais pessoas trabalhando nisso? Por que eles não projetam as coisas mais rapidamente?'"

"Os governosaposta da roletageral não entendem que a pesquisa científica não surge do nada, que precisamosaposta da roletamuito mais virologistasaposta da roletatoda a América Latina".

López me fala com frustração do "pouco investimento que existe no campo científico".

No entanto, diante do coronavírus, que, inicialmente, não imaginou se tornar um problema global, ela ainda demonstra um otimismo: "É preciso encará-lo sem medo, pois 80% dos casos são leves", diz, enfatizando a necessidadeaposta da roletamanter o isolamento social e seguir as recomendações dos especialistas.

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A dengue e Diego Comerci

Diego Comerci trabalhando dianteaposta da roletamesaaposta da roletalaboratório

Crédito, Divulgação/Diego Comerci

Legenda da foto, O pesquisador argentino Diego Comerci tem se dedicado ao desenvolvimentoaposta da roletatestes rápidos para a dengue

Quando o microbiólogo argentino Diego Comerci se deu conta da velocidade com que o novo coronavírus estava se espalhando pelo mundo ficou estupefato.

"Nunca imaginei que passaria por uma situação dessas", diz ele à BBC News Mundo desde Buenos Aires.

"Embora eu tenha lido e estudado pandemias, surtos e epidemias, porque é um assunto pelo qual eu sempre fui apaixonado, (...) fiquei chocado ao ver o que um micro-organismo estava gerando no mundo inteiro".

"Quando começamos a perceber que se tratava aparentementeaposta da roletauma nova recombinação, um novo vírus que surgiu do grupo dos coronavírus com propensão a saltar entre as espécies, comecei a me preocupar", diz o pesquisador, com doutoradoaposta da roletabiologia molecular.

"Me toquei que teríamos um problema sério na Argentinaaposta da roletasaturação do sistema hospitalar."

"E conhecendo o sistema nacionalaposta da roletadiagnóstico, que é centralizado, logo pensei que isto rapidamente levaria a um gargalo", diz o professor da Universidade Nacionalaposta da roletaSan Martín (UNSAM).

Um teste simples

Assim, com colegas do laboratório que fundou, o Chemtest, Comerci desenvolveu um planoaposta da roletaação para reorientar parte da tecnologia que já desenvolviam para diagnósticoaposta da roletaoutras doenças infecciosas.

E colocaram-se à disposição das autoridades sanitáriasaposta da roletaseu país, que os encarregaramaposta da roletagerar um teste para o coronavírus, se preparando para a demanda por diagnóstico na chegada do pico da epidemia.

Comerci diz que ele eaposta da roletaequipe estão trabalhandoaposta da roletaum teste molecular simples, confiável, barato e rápido, e que leveaposta da roletaconsideração as realidades latino-americanas — "onde não há infraestrutura sofisticada para fazer os testes moleculares usados ​​em outras partes do mundo".

Trata-seaposta da roletaum desafio semelhante ao que a Chemtest havia assumido quando buscava um teste rápido para a dengue.

E deu ceeto: o dispositivo com o qual a equipe trabalha é "muito semelhante aos testesaposta da roletagravidez", com uma gotaaposta da roletasangue determinandoaposta da roletacinco minutos se uma pessoa tem dengue. O teste detecta especificamente a presençaaposta da roletaum anticorpo que aparece cedo, a imunoglobina M (IgM).

Em 2014, o Ministério da Defesa argentino solicitou o teste rápidoaposta da roletadengue para seus soldadosaposta da roletamissão da ONU no Haiti. Segundo Comerci, o dispositivo foi amplamente utilizado durante o surto epidêmico no país caribenho.

Três crianças na beiraaposta da roletavalaaposta da roletaterreno baldio no Brasil, no anoitecer

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A proliferação do mosquito da dengue está relacionada a má condiçõesaposta da roletasaneamento, que levam ao acúmuloaposta da roletaágua por exemplo — precariedade encontradaaposta da roletavárias partes da América Latina, como no Brasil

Uma estrelaaposta da roletaascensão: o diagnóstico

De acordo com Comerci, o teste tem a aprovação das autoridades sanitáriasaposta da roletaseu país e já está sendo implementadoaposta da roletaalgumas províncias da Argentina.

"A lição mais importante que a nossa experiência com a dengue nos deixou é que as ferramentas que o sistemaaposta da roletasaúde precisam estão além do que nós, acadêmicos, acreditamos ser o melhor".

"Às vezes, a pessoa fica muito trancada no conhecimento dos laboratórios, no mundo dos especialistas, dos acadêmicos, e perde a perspectiva do que o sistemaaposta da roletasaúde realmente precisa como soluções", diz o professor.

Embora tanto o vírus da dengue e o coronavírus tenham como material genético o RNA, seus diagnósticos são "absolutamente diferentes", explica o microbiólogo.

"O caso do coronavírus é totalmente novo. Na verdade, é um vírus com 90 diasaposta da roletaidade. Não está claro se os testes sorológicos ou imunológicos têm valor e, se tiverem, que valor é esse."

"É por isso que não estamos mirando necessariamente longe, mas no que a emergência pede hoje — que é detectar pessoas portadoras do vírus, sintomáticas ou assintomáticas."

"Não éaposta da roletasurpreender que a OMS, que historicamente não deu muita importância à questão do diagnóstico, esteja dizendo que o ponto central hoje é a identificaçãoaposta da roletapositivos, sintomáticos ou assintomáticos".

"Estou convicto e há evidências científicas mostrando que, no caso do coronavírus, o que estamos vendo é a ponta do iceberg. Abaixo, há uma enorme massaaposta da roletapessoas assintomáticas que transmitem o vírus".

Por esse motivo, reflete o especialista, a áreaaposta da roletadiagnóstico deve ser valorizadaaposta da roletauma vez por todas.

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A influenza e Mauricio Terrones

Mauricio Terrones com óculos protetor e jaleco dentro do laboratório

Crédito, Nate Follmer/Penn State University

Legenda da foto, Terrones é professoraposta da roletaquímica, física e ciência dos materiais

Imagine que você entraaposta da roletauma floresta e, ao caminhar, encontra cada vez mais árvores. Você tenta avançar, mas já existem tantas árvores que é quase impossível dar um passo.

Mais cedo ou mais tarde, você ficará preso e não poderá escapar.

É isso que o premiado cientista mexicano Mauricio Terrones está tentando fazer com os vírus: capturá-los para ajudar a desenvolver vacinas e testes rápidos.

E para isso ele projetou, junto comaposta da roletaequipe da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, uma espécieaposta da roleta"floresta" que é imperceptível ao olho humano.

"Construímos uma florestaaposta da roletananotubos alinhados muito próximos uns dos outros, com o objetivoaposta da roletaaprisionar o vírus", explicou à BBC News Mundo.

"Fizemos isso com vírusaposta da roletaaves e vírus que causam doenças respiratórias humanas,aposta da roletainfluenza (gripe). Acreditamos que isso deve funcionar com o vírus da covid-19."

O benefício da captura

O primeiro passo para detectar um vírus é pegá-lo, diz o acadêmico. Identificá-lo primeiro é a chave para agiraposta da roletaum surto.

"Pegamos vírus semelhantes ao coronavírus, masaposta da roletaanimais. Em tamanho, (...) o vírus da gripe tem cercaaposta da roleta100 nanômetros, o coronavírusaposta da roleta125 a 150 nanômetros. Estamos na faixa e isto poderia ajudar com amostras do Sars-CoV-2", indica o acadêmico.

O pequeno dispositivo que os cientistas da universidade americana desenvolveram tem a vantagemaposta da roletanão depender da presençaaposta da roletaanticorpos, o que é essencial para estudar vírus emergentes ou desconhecidos.

"O importante é que o vírus que capturamos seja viável e possa se replicar", explica o físico.

Aqueles que se apresentem como "viáveis", esclarece o professor, permitirão que sejam colocadosaposta da roletacontato com "células para infectá-las e, portanto, para que se repliquemaposta da roletaforma mais eficiente, o que ajudará no desenvolvimentoaposta da roletavacinas".

Ilustração gráficaaposta da roleta'florestaaposta da roletananotubos' a nível microscópico

Crédito, Penn State University

Legenda da foto, Modelo da 'florestaaposta da roletananotubos' na qual Terrones e seus colaboradores querem encurralar os vírus

A tecnologia desenvolvida por Terrones também utiliza a chamada espectroscopia Raman (técnica que estuda os modosaposta da roletabaixa frequênciaaposta da roletamoléculas e proteínas) para ajudar no diagnóstico.

Uma amostra (de saliva, por exemplo) é coletadaaposta da roletaum paciente, dissolvidaaposta da roletalíquidos especiais e passada atravésaposta da roletauma seringa que contém o dispositivo. Em cinco minutos, é indicado se o sinal (o espectro) é positivo ou negativo.

A identificação é possível graças a um bancoaposta da roletadadosaposta da roletaespectros que contém as "impressões digitaisaposta da roletadiferentes vírus".

"Os testes que fizemos com os vírus da influenza respiratória e da parainfluenza (com amostras humanas) tiveram 90%aposta da roletaprecisão", comemora o pesquisador.

Segundo o químico, essa tecnologia poderia ser usada nos aeroportos, por exemplo.

H1N1 à vista

Image microscópicaaposta da roletavírus

Crédito, Penn State University

Legenda da foto, Terrones eaposta da roletaequipe trabalham com vírus como o H5N2, captado nesta imagem com nanotubos

Se o mexicano aprendeu alguma coisa estudando vírus como os que causam influenza aviária ou influenza A-H1N1, é que o maior desafio é prever a evolução dos vírus.

E esse ensinamento assume um papel especial à luz da pandemiaaposta da roletacovid-19.

"Quando os vírus sofrem muita mutação, fazem com que nossos anticorpos e vacinas paremaposta da roletafuncionar", diz.

"Se identificarmos certos padrões antes que a mutação ocorra, podemosaposta da roletaalguma forma ir adiante e atacar o vírus."

E, nesse aspecto, o estudo que o professor e seus colaboradores estão realizando com o H1N1 pode ajudar.

"Estamos investigando o H1N1 para ver como ele está se transformando, porque, por exemplo, quatro cepas foram incluídas nas vacinas sazonais do ano passado."

Entender como acontecem as mutações do H1N1 "pode nos ajudar a prever mutações do coronavírus, que nos pegouaposta da roletasurpresa porque é novo."

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