Coronavírus no Equador: “Embalamos os corposblack jack pokerstarsminha irmã e meu cunhadoblack jack pokerstarssacos plásticos dentroblack jack pokerstarscasa":black jack pokerstars

Segundo números oficiais, publicados enquanto eu conversava con Bertha, Guayas tinha maisblack jack pokerstars2.400 infectados,dos quais 1.640 foram registrados na capital.

Em 2black jack pokerstarsabril, o presidente Lenín Moreno pediu que o númeroblack jack pokerstarsvítimas fosse mais transparente, devido à grande quantidade de pessoas que morreram pelo vírus, mas não apareciam nas listas oficiais porque não haviam sido testadas.

Bertha não éblack jack pokerstarsGuayaquil, ela se mudou para lá com toda a família quando tinha 14 anos. A seguir, ela conta mais detalhes.

"Nasciblack jack pokerstarsSanta Elena,black jack pokerstarsManglar Alto. Meus pais vieram morarblack jack pokerstarsGuayaquil e nos trouxeram ainda pequenos. Éramos 10 irmãos, eu a segunda mais nova.

De todos eles, minha irmã (a que morreu) e eu ficamos aquiblack jack pokerstarsMapasingue. Ela tinha 67 anos e era como uma mãe para mim. Seu nome era Inés Salinas.

Sou casada e tenho quatro filhos. Ela tinha cinco. Nós duas tivemos netos. Morávamos quaseblack jack pokerstarsfrente uma da outra e nos viamos todos os dias.

Até antes da quarentena, estávamos todos bem.

Quando a quarentena começou, ficamosblack jack pokerstarscasa e, como eu via minha irmã sairblack jack pokerstarscasa há uma semana, perguntei como ela estava à minha sobrinha. Ela disse: 'Minha mãe está se sentindo um pouquinho estranha'.

Eu então fui vê-la, mas ela estava bem. Inés me disse: 'Não, irmã, eu estava um pouco mal, mas já estou me recuperando'. De repente, dois dias depois, ela teve uma recaída e minha sobrinha me disse: 'Tia, minha mãe está doente, ela não conseguia respirar ontem à noite'.

Fui vê-lablack jack pokerstarscasa e ela me disse 'Irmã, me sinto mal, fico muito agitada, fico sem fôlego'.

E meu cunhado também ficou estranho. Ele também não conseguia respirar e sentia algo forte na barriga.

Eu disse a ele 'Que háblack jack pokerstarserrado com você?'

'Não sei, mas acho que vou morrer', ele respondeu."

Bertha me conta tudo issoblack jack pokerstarsMapasingue do Leste, ao norteblack jack pokerstarsGuayaquil, onde um fotógrafo contratado pela BBC foi tirar uma foto da família.

Durante o relato,black jack pokerstarsvoz é serena. Quando ela tem dúvidas, alguém que está ao lado a ajuda a se lembrar do que aconteceu.

Assim, fico sabendo que a família entroublack jack pokerstarscontato com o número 171, disponibilizado pelo governo equatoriano para pessoas com sintomas. Mas foi recomendado que eles ficassemblack jack pokerstarscasa.

Embora tenham procurado um médico particular, ninguém queria vê-los pessoalmente porque os sintomas indicavam que era o covid-19. Ela continua:

"Eles disseram para esperar, porque o sistema estavablack jack pokerstarscolapso. Eles disseram 'Não é que vocês tenham esse problema, toda Guayaquil está com esse problema. Por favor, aguardem.'

E minha irmã não queria ir ao hospital porque viu no noticiário como os hospitais estavam.

'Não quero que me levem porque dizem que as pessoas deixam os doentes morrerem lá. Que colocam a pessoa no hospital e depois ninguém sabe o paradeiro. Não quero ir', disse ela.

Naquela época, uma nora minha levou a tia ao hospital e não ficamos tivemos mais notícias. Cercablack jack pokerstarscinco dias depois, deram a notíciablack jack pokerstarsque ela já estava morta. Também por isso, os filhos não a deixaram ir ao hospital.

Então, nós demos a ela paracetamol, como eles recomendavam, e infusõesblack jack pokerstarsverbena eblack jack pokerstarsgengibre. Também fizemos inalação com vaporesblack jack pokerstarseucalipto

Eu disse a ela que, se ela não conseguia respirar, tinha que ir ao hospital. Mas ela respondeu: "Se tiver que morrer, vou morrer aquiblack jack pokerstarscasa".

Ela e o marido morreram na segunda-feira, 30black jack pokerstarsmarço, por volta das duas da tarde. Ela o conheceu quando tinha 14 anosblack jack pokerstarsidade. O nome dele era Filadelfio Ascencio."

Confira nossa cobertura especial

Neste momento, pela primeira, a vozblack jack pokerstarsBertha fica embargada, como se angustiada e igualmente atônita, pelo fatoblack jack pokerstarsduas pessoas que se conhecem há tanto tempo morrerem quase ao mesmo tempo.

Além da criseblack jack pokerstarssaúde, com hospitais cheios e unidadesblack jack pokerstarsterapia intensivablack jack pokerstarscolapso, Guayaquil enfrenta uma crise no manejo dos corpos, porque a maioria das empresas funerárias fechou as portas por medoblack jack pokerstarscontágio, sem separar quem havia morrido pelo vírus dos que morreramblack jack pokerstarsoutras causas.

Em um primeiro momento, houve boatosblack jack pokerstarsque se cavaria uma vala comum, mas a idéia não foi a frente. O governo nacional teve que criar uma força-tarefa para recuperar os corpos e se comprometeu a fornecer sepulturas individuais.

A força-tarefa envolve o Ministério da Saúde, a polícia nacional e as forças armadas, mas mesmo esses três órgãos combinados tiveram problemas para lidar com a ondablack jack pokerstarsmortesblack jack pokerstarsuma cidadeblack jack pokerstarsmaisblack jack pokerstarsdois milhões e meioblack jack pokerstarshabitantes.

Os corposblack jack pokerstarsInés e Filadelfio permaneceram maisblack jack pokerstarsquatro diasblack jack pokerstarscasa e a família Salinas, como outrasblack jack pokerstarsGuayaquil, recorreu às mídias sociais. Foi lá que encontrei a foto dos corpos embalados.

Ela continuablack jack pokerstarshistória:

"Eles chegaram na quinta-feira, às 9 horas da noite. Chegaram policiais e peritos e os levaram.

E ainda foram grosseiros, não queriam que ninguém gravasse, que ninguém saísse, (queriam) que todos estivessem dentroblack jack pokerstarscasa. Eles só permitiam que um membro da família estivesse lá, masblack jack pokerstarslonge.

Eles nos disseram que os corpos vão ficar lá, com eles, e que se não tivéssemos como enterrá-los, eles assumiram o controle. Assim, nem saberemos onde eles serão enterrados.

Se quiséssemos uma funerária, teríamos que arrecadar dinheiro. Somos pessoas com baixos recursos e tudo sai por volta 2.000 dólares para cada um, porque você tem pagar os caixões e túmulos, que estão muito caros.

Não sabemos o que fazer: deixá-los lá e não sabermos para onde minha irmã está indo, ou ver se as pessoas da comunidade podem colaborar. Mas tem muita gente doente na comunidade e estamos todos nessa situação difícil no país.

Não temos emprego, estamos trancadosblack jack pokerstarscasa, comemos meia refeição porque a situação é super difícil aqui no Equador".

Guayaquil é uma cidadeblack jack pokerstarsgrandes contrastes, com casas luxuosas na regiãoblack jack pokerstarsSamborondón e pessoas que vivem com menosblack jack pokerstarsdois dólares nos arredores da cidade eblack jack pokerstarsáreas como Durán.

O vírus mata igualmente, mas morre-seblack jack pokerstarsmaneira diferente.

Quando Bertha fala sobre o o preço do caixão,black jack pokerstarsvoz se eleva.

Mas logo o tom éblack jack pokerstarsdesolação diante do possível cenárioblack jack pokerstarsnão saber para onde ir no futuro quando quiser recordar seus mortos.

A perspectivablack jack pokerstarspedir ajuda emblack jack pokerstarsprópria comunidade, comoblack jack pokerstarsocasiões anteriores, é complicada porque a situaçãoblack jack pokerstarsseus vizinhos não é muito melhor.

Ela mesma explica:

"Ainda existem cadáveres aqui.

Um senhor que morreu na terça-feira ainda está lá. Outro homem também morreu mais tarde e ele foi jogado na frenteblack jack pokerstarssua casa e porque também não foram buscá-lo.

Empacotamos Inés e Filadelfio e os deixamos dentroblack jack pokerstarscasa, mas saímos todos. Ninguém ficou.

As famílias deixam seus mortos do ladoblack jack pokerstarsfora porque imaginam que, dentro, eles ficarão contaminados.

Então as pessoas não têm escolha, a não ser levar os mortos para as ruas.

Além disso, muitas pessoas na comunidade estão doentes. O governo disse que vai nos dar um valeblack jack pokerstars60 dólares, mas isso ainda não aconteceu e não sabemos o que fazer porque estamos trancadosblack jack pokerstarscasa.

Todo mundo tem medo porque as pessoas estão morrendo, morrendo e morrendo."

O fotógrafo enviado pela BBC me envia as fotos.

Eu vejo Bertha pela primeira vez. Uma máscara azul cobre todo o rosto e eu mal possa ver suas feições.

Acho que as mudanças no tomblack jack pokerstarsvoz durante a conversa telefônica me disseram mais sobre ela do queblack jack pokerstarsimagem.

As outras fotografias têm jovens que eu nunca saberei se são os filhos dela ou os da irmã.

Junto com um adulto, talvez o maridoblack jack pokerstarsBertha, eles estão se preparando para queimar tudo o que entroublack jack pokerstarscontato com seus mortos.

Até agora, essa queima é a coisa mais próximablack jack pokerstarsum ritualblack jack pokerstarsdespedida para Inés e Filadelfio.

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