Coronavírus: qual o impacto do isolamento nas sociedades mais 'abertas' do mundo:7s fortune
"Além disso, diante do medo do contágio, tende-se a evitar estranhos - e, nos últimos dias, diversos países impuseram restrições a estrangeiros. Essas restrições7s fortunemovimento também podem diminuir a mobilidade relacional".
Mobilidade relacional ("relational mobility", na expressão original,7s fortuneinglês) é a palavra-chave7s fortuneuma área7s fortuneestudos interdisciplinares (da biologia à sociologia) que analisa tendências7s fortunecomportamento das sociedades sobre relacionamentos amorosos e amizades, por exemplo.
É uma "variável socioecológica", que representa o grau7s fortuneliberdade e7s fortuneoportunidade que as pessoas têm para escolher, iniciar e romper seus relacionamentos interpessoais, a partir7s fortunesuas preferências pessoais. Em termos simples, uma sociedade7s fortunealta mobilidade relacional é mais aberta, passional e sociável, com relações sociais mais fluidas e íntimas; uma sociedade7s fortunebaixa mobilidade relacional, por7s fortunevez, é mais fria, fechada e reservada,7s fortunerelações mais engessadas e distantes.
A ideia também tem a ver com solidão. "Em sociedades7s fortunealta mobilidade relacional, as pessoas se esforçam mais para fortalecer relações consideradas mais importantes, reduzindo o sentimento7s fortunesolidão. Também dissolvem relacionamentos ruins mais facilmente, pois há muitas oportunidades7s fortuneencontrar alternativas atraentes", diz Yamada.
Sociedades abertas e fechadas
Sociedades norte e latino-americanas são mais abertas, enquanto sociedades asiáticas e norte-africanas são mais fechadas, indica o estudo internacional "The Relational Mobility", realizado por 27 pesquisadores7s fortune19 universidades e publicado na revista científica da National Academy of Sciences, dos Estados Unidos,7s fortune2018.
"A mobilidade relacional estabelece as 'regras do jogo' das relações sociais", diz o artigo acadêmico, que analisou dados7s fortune39 países. Foram tabulados mais7s fortune16 mil questionários7s fortune12 perguntas,7s fortune23 idiomas, que incluíram pontos como: no seu círculo social, é comum ver pessoas conversando com alguém que nunca viram antes?, é fácil conhecer pessoas novas?, é possível escolher com quem interagir no dia a dia?
O Japão é o país mais fechado; o México é o mais aberto, seguido por Porto Rico e Brasil, constatou o projeto. Malásia, Hong Kong, Hungria e Alemanha também são exemplos7s fortunepaíses7s fortunebaixa mobilidade relacional. Austrália, França e Estados Unidos,7s fortunealta. De acordo com o estudo, o histórico7s fortuneameaças, traumas do passado como guerras e doenças, é um dos fatores determinantes do nível7s fortunemobilidade relacional.
Segundo Kito e Yamada, diante da pandemia7s fortunecovid-19, a mobilidade deve diminuir no mundo todo. "Se o surto não for controlado logo, muitas sociedades podem enfrentar esse declínio. Uma das razões é a desconfiança, suspeitando que todos ao redor podem estar infectados, o que reprime motivações para conversar com os outros e formar novos laços", diz Kito, uma das autoras do estudo internacional.
Não há modelo ideal. Uma sociedade7s fortunealta mobilidade relacional pode ter efeitos negativos (rompem-se relações mais facilmente) e positivos (tende-se a ter mais apoio social e confiança nos outros). Já uma sociedade7s fortunebaixa mobilidade relacional é mais propensa a ter relações mais duradouras e flexibilidade7s fortuneatitudes individuais7s fortuneprol do grupo (efeitos positivos), mas também menos confiança diante7s fortunedesconhecidos e intimidade junto a amigos e namorados (efeitos negativos).
"São os dois lados da moeda", definem Kito e Yamada.
Se as sociedades estão se fechando mais na atual pandemia, portanto, há consequências negativas e positivas possíveis:7s fortuneum lado, mais desconfiança, como as demonstrações7s fortunepreconceito contra a China, primeiro epicentro7s fortuneSars-Cov-2;7s fortuneoutro, mais7s fortuneflexibilidade7s fortuneatitudes individuais7s fortuneprol do grupo, como a campanha digital #FicaEmCasa, incentivando a autoquarentena para frear infecções no Brasil.
Dilema social
Nos últimos dias, iniciativas solidárias durante o isolamento dominaram as redes sociais mundo afora: ajuda para vizinhos7s fortuneBrasília e Berlim, brincadeiras nas varandas na Espanha, "kits anticoronavirus" na Escócia e música nas janelas7s fortuneTurim e Wuhan, reportou a BBC News Brasil. Na província7s fortuneYamanashi, no centro do Japão, uma estudante7s fortune13 anos costurou máscaras para doar a asilos e orfanatos, mostra outra reportagem.
"É importante lembrar que nós somos uma espécie social. Temos agora muitas possibilidades7s fortunecontato online, por mensagens7s fortunevoz e7s fortunevídeo. Em muitos países, não está tendo tanta distância social, mas distância física", pondera o psicólogo pernambucano Taciano Milfont, diretor do Centre for Applied Cross-Cultural Research da Universidade Victoria7s fortuneWellington, na Nova Zelândia.
Mas ficar isolado num país "aberto" como o Brasil ou num país "fechado" como o Japão é diferente. "Todo mundo é impactado, mas7s fortunemaneiras diferentes. O Brasil é um território imenso, onde as relações tendem a ser muito mais próximas, conforme indicam os dados. Nós, brasileiros, temos o costume7s fortuneabraçar, dar as mãos, tocar nos outros e ficar sem isso pode ser difícil", analisa o acadêmico, único brasileiro entre os autores do estudo, radicado há 16 anos na Nova Zelândia.
"Já o Japão é um conjunto7s fortuneilhas e, como outras culturas insulares, como a neozelandesa, tende a ser mais fechado ao7s fortunefora. Aí não é comum o contato direto, físico, como cumprimentar com beijos, e parte da sociedade já vive só", comenta o autor, que ja passou temporadas7s fortunepesquisa no arquipélago asiático.
Segundo dados do Censo, o número7s fortunejaponeses que vivem sozinhos subiu7s fortune25%,7s fortune1995, para 35%7s fortune2015. "Normas sociais influenciam muito como japoneses agem, se comunicam e se movimentam. 'Nem todo mundo consegue dividir a casa com alguém. É o momento7s fortunerelaxar, tirar a máscara social e ficar7s fortunepijama', brincam amigos acadêmicos japoneses", exemplifica.
Além da mobilidade relacional, os autores consideram uma variável cultural no estudo: o perfil "tight" (rigoroso) e o "loose" (solto), termos teorizados pela psicóloga cultural Michele Gelfand, professora da Universidade7s fortuneMaryland, nos Estados Unidos. Isto é, há culturas mais rígidas e disciplinadas, não gostam7s fortuneincertezas e tendem a seguir mais as regras; e outras mais maleáveis, menos amarradas às regras.
"Japão e Alemanha, por exemplo, são 'tight'. Se uma situação como o atual surto exige medidas e mudanças drásticas, tende-se a respeitar as regras. Se a liderança diz 'isso é sério' [palavras da chanceler alemã Angela Merkel, que anunciou restrições recentemente], é provável que se siga. Se não dá diretriz, abre-se margem para flexibilizar e não cumprir à risca [como vem sendo criticado o premiê japonês Shinzo Abe, diante das aglomerações recentes nas cidades japonesas, onde não foi imposta quarentena]."
Embora estudos7s fortunepsicologia possam ajudar a compreender tendências7s fortunecomportamento nas atuais restrições7s fortunemovimento e nas ações7s fortunecontrole do coronavírus, há questões abertas e outros fatores (como os critérios e o número7s fortunetestes realizados, além do estágio da pandemia7s fortunepaís a país), logo não é possível prever o impacto na disseminação da doença. Até 277s fortunemarço, segundo relatório da OMS, a Alemanha registrou 42,288 casos confirmados e 253 mortes, o Japão, 1.387 casos e 46 mortes.
A pandemia também traz um "dilema social", um conceito da psicologia para as situações7s fortuneque o interesse individual está7s fortuneconflito com a comunidade. "É o impasse entre priorizar o foco egoísta ou se adaptar a uma perspectiva mais altruísta, pensando nos outros. Implica escolhas entre estocar itens do mercado ou não, liberar funcionários ou não, ficar isolado ou não. Isso diz muito sobre quem somos como sociedade", diz Milfont.
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