Coronavírus: qual o impacto do isolamento nas sociedades mais 'abertas' do mundo:cadastro com bonus

Av Paulista durante quarentena

Crédito, Roberto Parizotti/Fotos Publicas

Legenda da foto, "Indivíduoscadastro com bonussociedadescadastro com bonusalta mobilidade relacional estão precisando ajustar a vida cotidiana mais do que sociedadescadastro com bonusbaixa mobilidade relacional. Eles podem se sentir 'encurralados''. Acima, av Paulista praticamente vazia

"Além disso, diante do medo do contágio, tende-se a evitar estranhos - e, nos últimos dias, diversos países impuseram restrições a estrangeiros. Essas restriçõescadastro com bonusmovimento também podem diminuir a mobilidade relacional".

Em todos os países atingidos pela pandemia foi adotado algum tipocadastro com bonusmedida restritiva para conter a doença

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Em todos os países atingidos pela pandemia foi adotado algum tipocadastro com bonusmedida restritiva para conter a doença

Mobilidade relacional ("relational mobility", na expressão original,cadastro com bonusinglês) é a palavra-chavecadastro com bonusuma áreacadastro com bonusestudos interdisciplinares (da biologia à sociologia) que analisa tendênciascadastro com bonuscomportamento das sociedades sobre relacionamentos amorosos e amizades, por exemplo.

É uma "variável socioecológica", que representa o graucadastro com bonusliberdade ecadastro com bonusoportunidade que as pessoas têm para escolher, iniciar e romper seus relacionamentos interpessoais, a partircadastro com bonussuas preferências pessoais. Em termos simples, uma sociedadecadastro com bonusalta mobilidade relacional é mais aberta, passional e sociável, com relações sociais mais fluidas e íntimas; uma sociedadecadastro com bonusbaixa mobilidade relacional, porcadastro com bonusvez, é mais fria, fechada e reservada,cadastro com bonusrelações mais engessadas e distantes.

A ideia também tem a ver com solidão. "Em sociedadescadastro com bonusalta mobilidade relacional, as pessoas se esforçam mais para fortalecer relações consideradas mais importantes, reduzindo o sentimentocadastro com bonussolidão. Também dissolvem relacionamentos ruins mais facilmente, pois há muitas oportunidadescadastro com bonusencontrar alternativas atraentes", diz Yamada.

Sociedades abertas e fechadas

Sociedades norte e latino-americanas são mais abertas, enquanto sociedades asiáticas e norte-africanas são mais fechadas, indica o estudo internacional "The Relational Mobility", realizado por 27 pesquisadorescadastro com bonus19 universidades e publicado na revista científica da National Academy of Sciences, dos Estados Unidos,cadastro com bonus2018.

"A mobilidade relacional estabelece as 'regras do jogo' das relações sociais", diz o artigo acadêmico, que analisou dadoscadastro com bonus39 países. Foram tabulados maiscadastro com bonus16 mil questionárioscadastro com bonus12 perguntas,cadastro com bonus23 idiomas, que incluíram pontos como: no seu círculo social, é comum ver pessoas conversando com alguém que nunca viram antes?, é fácil conhecer pessoas novas?, é possível escolher com quem interagir no dia a dia?

Aeroporto internacionalcadastro com bonusKansai, no Japão

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O Japão é o país mais fechado, segundo pesquisacadastro com bonusmobilidade relacional

O Japão é o país mais fechado; o México é o mais aberto, seguido por Porto Rico e Brasil, constatou o projeto. Malásia, Hong Kong, Hungria e Alemanha também são exemploscadastro com bonuspaísescadastro com bonusbaixa mobilidade relacional. Austrália, França e Estados Unidos,cadastro com bonusalta. De acordo com o estudo, o históricocadastro com bonusameaças, traumas do passado como guerras e doenças, é um dos fatores determinantes do nívelcadastro com bonusmobilidade relacional.

Segundo Kito e Yamada, diante da pandemiacadastro com bonuscovid-19, a mobilidade deve diminuir no mundo todo. "Se o surto não for controlado logo, muitas sociedades podem enfrentar esse declínio. Uma das razões é a desconfiança, suspeitando que todos ao redor podem estar infectados, o que reprime motivações para conversar com os outros e formar novos laços", diz Kito, uma das autoras do estudo internacional.

Não há modelo ideal. Uma sociedadecadastro com bonusalta mobilidade relacional pode ter efeitos negativos (rompem-se relações mais facilmente) e positivos (tende-se a ter mais apoio social e confiança nos outros). Já uma sociedadecadastro com bonusbaixa mobilidade relacional é mais propensa a ter relações mais duradouras e flexibilidadecadastro com bonusatitudes individuaiscadastro com bonusprol do grupo (efeitos positivos), mas também menos confiança diantecadastro com bonusdesconhecidos e intimidade junto a amigos e namorados (efeitos negativos).

"São os dois lados da moeda", definem Kito e Yamada.

Se as sociedades estão se fechando mais na atual pandemia, portanto, há consequências negativas e positivas possíveis:cadastro com bonusum lado, mais desconfiança, como as demonstraçõescadastro com bonuspreconceito contra a China, primeiro epicentrocadastro com bonusSars-Cov-2;cadastro com bonusoutro, maiscadastro com bonusflexibilidadecadastro com bonusatitudes individuaiscadastro com bonusprol do grupo, como a campanha digital #FicaEmCasa, incentivando a autoquarentena para frear infecções no Brasil.

Dilema social

Nos últimos dias, iniciativas solidárias durante o isolamento dominaram as redes sociais mundo afora: ajuda para vizinhoscadastro com bonusBrasília e Berlim, brincadeiras nas varandas na Espanha, "kits anticoronavirus" na Escócia e música nas janelascadastro com bonusTurim e Wuhan, reportou a BBC News Brasil. Na provínciacadastro com bonusYamanashi, no centro do Japão, uma estudantecadastro com bonus13 anos costurou máscaras para doar a asilos e orfanatos, mostra outra reportagem.

Pessoas cantandocadastro com bonusjanelas na Itália
Legenda da foto, Demonstraçõescadastro com bonussolidariedade nas janelas da Itália

"É importante lembrar que nós somos uma espécie social. Temos agora muitas possibilidadescadastro com bonuscontato online, por mensagenscadastro com bonusvoz ecadastro com bonusvídeo. Em muitos países, não está tendo tanta distância social, mas distância física", pondera o psicólogo pernambucano Taciano Milfont, diretor do Centre for Applied Cross-Cultural Research da Universidade Victoriacadastro com bonusWellington, na Nova Zelândia.

Mas ficar isolado num país "aberto" como o Brasil ou num país "fechado" como o Japão é diferente. "Todo mundo é impactado, mascadastro com bonusmaneiras diferentes. O Brasil é um território imenso, onde as relações tendem a ser muito mais próximas, conforme indicam os dados. Nós, brasileiros, temos o costumecadastro com bonusabraçar, dar as mãos, tocar nos outros e ficar sem isso pode ser difícil", analisa o acadêmico, único brasileiro entre os autores do estudo, radicado há 16 anos na Nova Zelândia.

"Já o Japão é um conjuntocadastro com bonusilhas e, como outras culturas insulares, como a neozelandesa, tende a ser mais fechado aocadastro com bonusfora. Aí não é comum o contato direto, físico, como cumprimentar com beijos, e parte da sociedade já vive só", comenta o autor, que ja passou temporadascadastro com bonuspesquisa no arquipélago asiático.

Mãocadastro com bonuspessoa idosa junto a mãocadastro com bonuspessoa jovem

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, ''Nós, brasileiros, temos o costumecadastro com bonusabraçar, dar as mãos, tocar nos outros e ficar sem isso pode ser difícil"

Segundo dados do Censo, o númerocadastro com bonusjaponeses que vivem sozinhos subiucadastro com bonus25%,cadastro com bonus1995, para 35%cadastro com bonus2015. "Normas sociais influenciam muito como japoneses agem, se comunicam e se movimentam. 'Nem todo mundo consegue dividir a casa com alguém. É o momentocadastro com bonusrelaxar, tirar a máscara social e ficarcadastro com bonuspijama', brincam amigos acadêmicos japoneses", exemplifica.

Além da mobilidade relacional, os autores consideram uma variável cultural no estudo: o perfil "tight" (rigoroso) e o "loose" (solto), termos teorizados pela psicóloga cultural Michele Gelfand, professora da Universidadecadastro com bonusMaryland, nos Estados Unidos. Isto é, há culturas mais rígidas e disciplinadas, não gostamcadastro com bonusincertezas e tendem a seguir mais as regras; e outras mais maleáveis, menos amarradas às regras.

"Japão e Alemanha, por exemplo, são 'tight'. Se uma situação como o atual surto exige medidas e mudanças drásticas, tende-se a respeitar as regras. Se a liderança diz 'isso é sério' [palavras da chanceler alemã Angela Merkel, que anunciou restrições recentemente], é provável que se siga. Se não dá diretriz, abre-se margem para flexibilizar e não cumprir à risca [como vem sendo criticado o premiê japonês Shinzo Abe, diante das aglomerações recentes nas cidades japonesas, onde não foi imposta quarentena]."

Embora estudoscadastro com bonuspsicologia possam ajudar a compreender tendênciascadastro com bonuscomportamento nas atuais restriçõescadastro com bonusmovimento e nas açõescadastro com bonuscontrole do coronavírus, há questões abertas e outros fatores (como os critérios e o númerocadastro com bonustestes realizados, além do estágio da pandemiacadastro com bonuspaís a país), logo não é possível prever o impacto na disseminação da doença. Até 27cadastro com bonusmarço, segundo relatório da OMS, a Alemanha registrou 42,288 casos confirmados e 253 mortes, o Japão, 1.387 casos e 46 mortes.

A pandemia também traz um "dilema social", um conceito da psicologia para as situaçõescadastro com bonusque o interesse individual estácadastro com bonusconflito com a comunidade. "É o impasse entre priorizar o foco egoísta ou se adaptar a uma perspectiva mais altruísta, pensando nos outros. Implica escolhas entre estocar itens do mercado ou não, liberar funcionários ou não, ficar isolado ou não. Isso diz muito sobre quem somos como sociedade", diz Milfont.

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