'Meu pai matou minha mãe': como britânica descobriu a verdade sobre segredo familiar:estrela 8 pontas
Foi como se quisesse cuidarestrela 8 pontasmim — mas não fez issoestrela 8 pontasfato, ao deixar que minha mãe morresse.
Ele provocou o incêndioestrela 8 pontasnossa casaestrela 8 pontasShropshire, na Inglaterra,estrela 8 pontasagostoestrela 8 pontas2000. No ano seguinte, foi condenado por triplo assassinato.
Conforme eu crescia, não pensavaestrela 8 pontasmeus pais como pessoas como eu, mas apenas como uma história. Então,estrela 8 pontas2018, quando tive a oportunidadeestrela 8 pontasproduzir um documentário sobre minha história para a BBC, quis pesquisar mais a fundo sobre os motivos por trás daquele incêndio, e descobrir mais sobre minha mãe e sobre mim mesma.
Sinto como se eu fosse uma versão da Lucy com a pele mais escura, mas quando penso nela, imagino uma adolescente. Não a vejo como uma mãe, e não quero chamá-la assim.
Ela tinha 15 anos quando nasci, e meu pai, 25, mas nunca me passou pela cabeça que aquela relação não fosse normal. Se falava sobre eles com amigos da escola, sempre me olhavam com certo estranhamento e diziam 'isso é um pouco esquisito, não?'.
E eu dizia: 'Não, não é isso, eles estavamestrela 8 pontasum relacionamento'. Fora programada para pensar dessa forma, porque assim me ensinou a minha família, e não conseguia entender porque as pessoas comentavam tanto sobre mim.
Meu avô, George, e eu temos uma relação muito próxima, mas tem sido difícil. Ele perdeu a esposa e as duas filhas no incêndio. Depois disso, me criou. No julgamento do meu pai, jurou que cuidariaestrela 8 pontasmim. Mas nós dois temos opiniões e visões completamente diferentes quando o assunto é a relação dos meus pais.
Uma criança
Naquela época, ele e as outras pessoas tinham uma visão distinta sobre a diferençaestrela 8 pontasidade na relação. É difícil para mim entender como as pessoas podiam achar que estava tudo bem ao ver Lucy engravidar, sendo uma criança. Enquanto fazíamos o documentário, meu avô aprendeu muito sobre aquela situação.
Tem sido um desafio, mas acredito que finalmente chegamos a uma espécieestrela 8 pontasacordo sobre o assunto.
Conheci algumas das amigasestrela 8 pontasLucy enquanto fazia o documentário. Lucy era praticamente uma criança quando conheceu meu pai, e suas amigas tinham uma idade similar.
Somente agora, quando as pessoas encaram esse passado, conseguem ver como o relacionamento não era normal. Umaestrela 8 pontassuas amigas me disse que, na época, estava tudo bem, que sair com homens mais velhos era visto como 'cool'. Se elas não eram capazesestrela 8 pontasenxergar o que estava acontecendo, talvez nem Lucy conseguisse fazê-lo.
Em um domingoestrela 8 pontasDia das Mães,estrela 8 pontas11estrela 8 pontasmarçoestrela 8 pontas2018, aconteceu algo que colocouestrela 8 pontasxeque tudo o que haviam me contado sobre meus pais.
Na primeira página do jornal Sunday Mirror estava uma fotoestrela 8 pontasLucy. A princípio, minha família e eu ficamos realmente confusos ao ver o artigo. Eu pressupus que se tratasseestrela 8 pontasuma história velha sobre o incêndio que não havia sido publicada naquela época, por alguma razão.
Lembro que pensei: 'Não deve ser nenhuma informação nova'.
A reportagem do Sunday Mirror revelou que até mil meninas poderiam ter sido aliciadas e abusadasestrela 8 pontasTelford desde os anos 1980.
O jornal mostrou como meu pai havia aliciado Lucy desde os 14 anos para depois abusar dela. Mostrou ainda que outras meninas, também aliciadas, sofriam ameaçasestrela 8 pontasque 'terminariam como Lucy' —estrela 8 pontasoutras palavras, mortas — se contassem a alguém sobre o que acontecia.
De início, fiquei bastante confusa. Quando contam uma história, você passa a entendê-la, a pensar nela como a única versão possívelestrela 8 pontasalgo.
Era o que eu sentia sobre meus pais, antesestrela 8 pontasler aquela matéria. Tudo estava normal porque eles tinham um relacionamento. Ao ver uma história diferente na imprensa, entretanto, pensei 'não, isso não pode ter acontecido, eles estão errados'. Foi difícil aceitar essa nova perspectiva, era algo extremamente pessoal.
Demorei muito tempo para aceitar esses desdobramentos.
Descobertas
Aquela investigação me fez questionar tudo o que pensava saber sobre o meu passado, e tiveestrela 8 pontasbuscar mais respostas. Decidi ler as transcrições do julgamento do meu pai, para ver se encontrava mais indícios.
Foi muito complicado ler os registros da audiência. A diferençaestrela 8 pontasidade entre Lucy e meu pai fora mencionada, mas as pessoas não pareciam reconhecê-la. Não eram apenas dois ou três anos, mas quase dez. Segundo as amigasestrela 8 pontasminha mãe, o meu pai a monitorava e examinava seu corpo para ver se ela estivera com outros homens.
Ele ligava para ela e falava ao telefone que havia enviado alguém para segui-la, para vigiar todos os seus passos. Havia suspeitasestrela 8 pontasque ela teria relações sexuais com outros homensestrela 8 pontasum cemitério. Não sabemos se era algo relacionado a gangues locais, se ela estava sendo explorada sexualmente, porque isso não foi investigado.
Meu avô e eu já conversamos sobre isso algumas vezes. Sempre questiono como é possível que ele não tenha feito nada a respeito. Por que pensava que esse relacionamento era normal?
Meu avô disse que ele não 'estava muito interessado' no meu pai, mas que Lucy e meu pai discutiam muito. Perguntei se era porque meu pai exigia sexo.
'Ele ia muito para o andarestrela 8 pontascima', meu avô disse. 'Uma vez, escutei alguém gritando 'estupro, estupro!'. Corri para o andarestrela 8 pontascima, arrombei a porta e ele fugiu, saiu da casa. O namorado da vizinha foi atrás dele'.
Perguntei por que ninguém havia informado a polícia.
'Não sei. Ela estava pedindo ajuda? Se ela tivesse dito algo, nós teríamos agido.'
Mas eu respondi: 'Você e Linda a ouviram gritando estupro e não fizeram nada. Foi um abuso, e isso me entristece'.
Também me incomoda que haja toda essa culpa, todas essas perguntas sobre quem foi o responsável. Tiveestrela 8 pontasfazer essas perguntas porque queria entender. Creio que meu avô sente muito arrependimento, muita dor porque houve coisasestrela 8 pontasque ele e minha avó Linda poderiam intervir e não o fizeram.
Mas naquela época, e naquela sociedade, todos sentiam o mesmo. Ninguém tinha o entendimento sobre o assunto. Se meus avós tivessem feito algo, será que as autoridades escutariam?
Também quis saber como meu pai se sentia. Ele se arrependia? O que pensa agora sobre o incêndio? Quando eu tinha 16 anosestrela 8 pontasidade, fui visitá-lo na prisão. Não foi uma decisão difícil. Eu teria ido antes, se pudesse, mas havia uma ordem judicial que me impediaestrela 8 pontasfazê-lo antesestrela 8 pontascompletar 16 anos.
Inicialmente, eu só queria conhecê-lo, ter uma conversa e entender a situação. Também queria encontrá-lo e entender seus hobbies, do que gostava, como ele era como pessoa e descobrir mais sobre suas origens. Queria formar minhas opiniões sobre ele como uma pessoa, não apenas pelo que havia ocorrido.
O que sinto sobre ele é confuso. Não é uma questãoestrela 8 pontaspreto no branco. As respostas que ele me deu... Foi como se nunca estivessem completas, quase como se eu devesse registrar tudo o que ele dizia para ouvir várias vezes depois, para ler nas entrelinhas.
Em certas coisas, ele se abriu eestrela 8 pontasoutras, não. Dependia do que eu perguntasse a ele na hora. Mas fico felizestrela 8 pontaster ido, precisava fazer isso. Gostariaestrela 8 pontasobter mais respostas,estrela 8 pontasque me dissesse mais coisas, mas não o fez.
Aproximação
Acredito que houve uma falha no sistema judicial, já que meu pai não foi julgado pelos crimes sexuais que cometeu contra minha mãe, além dos assassinatos.
Creio que as pessoas devem ser acusadas por cada crime que cometem. Perguntei à polícia por que não foi assim à época, mas os oficiais que trabalham agora não são os mesmos encarregados do caso — então, não puderam me dizer muita coisa.
Tenho que ser honesta e dizer que não me ajudaram muito, quando pedi detalhes sobre o que havia acontecido, mas pressuponho que seria uma violaçãoestrela 8 pontasconfidencialidade se me contassem algo.
Mas fico realmente agradecida porque pude encontrar alguns pertencesestrela 8 pontasLucy. Tenho seus diários. Quando ela estava escrevendo, ninguém podia vê-los. Isso me fez sentir mais próxima dela enquanto pessoa, e definitivamente me deixou mais consciente das coisasestrela 8 pontasque meu pai estava envolvido.
Meu pai agora pode pedir liberdade condicional. Afinal, não se pode apenas adicionar outros crimes à lista para manter alguém na prisão. Acredito que o fatoestrela 8 pontasnunca ter encarado a justiça por abusarestrela 8 pontasminha mãe foi um fracasso do sistema e da sociedade à época.
Tem sido difícilestrela 8 pontasmuitos momentos, mas há muitas coisas positivas que surgiram ao longo do documentário. Agora estou mais próximaestrela 8 pontasLucy e entendo mais sobreestrela 8 pontashistória eestrela 8 pontasidentidade.
Também me aproximeiestrela 8 pontasmeu avô. Isso me deu um entendimento melhor sobre a exploração sexual infantil, e fico satisfeita por fazer com que mais pessoas se informem sobre o assunto.
Por ora, só quero ter um tempo para descansar e cuidarestrela 8 pontasmim, da minha saúde mental. Mas, no futuro, gostariaestrela 8 pontasme envolver com outras iniciativas para promover a conscientização sobre a exploração sexual infantil.
Estouestrela 8 pontasuma posição privilegiada porque não passei por isso pessoalmente, mas o que aconteceu com minha mãe me proporcionou esse entendimento.
Posso ser a voz que Lucy nunca teve.
(A polícia localestrela 8 pontasWest Mercia, na Inglaterra, se recusou a comentar).