Como Evo Morales perdeu o apoio do Exército e dos sindicatos na Bolívia:365bet live

A BBC News Brasil conversou com o ex-ministro da Economia do governo365bet liveEvo, Luis Arce, com dois analistas bolivianos, com um executivo365bet liveempresa e uma ex-assessora do primeiro governo365bet liveMorales para entender como essa base365bet liveapoio se esfacelou levando à crise atual.

O ex-ministro opinou que o fato365bet liveos policiais terem virado as costas para o presidente foi "decisivo" para acelerar a crise e365bet liverenúncia. O motim dos policiais, iniciado na sexta-feira e ampliado no sábado, foi realizado365bet livevários pontos do país depois365bet livequase 20 dias365bet liveconfrontos nas ruas entre apoiadores e opositores do governo.

Os confrontos surgiram depois da questionada apuração dos votos da eleição presidencial do dia 20365bet liveoutubro — os resultados finais apontaram vitória365bet liveMorales365bet liveprimeiro turno, a apuração foi considerada fraudulenta pela oposição e a Organização dos Estados Americanos (OEA) recomendou a realização365bet liveum novo pleito.

"Os interesses econômicos pesaram muito. Camacho prometeu365bet livetudo para eles", disse Arce, pelo telefone, referindo-se ao líder opositor Luis Fernando Camacho, que já foi chamado365bet live"Bolsonaro boliviano" por seus discursos365bet livecunho religioso.

De aliados a críticos

No domingo, o comandante das Forças Armadas, Williams Kaliman, pediu a Morales que renunciasse "diante da escalada do conflito" e para "permitir a pacificação do país".

Antes, as Forças Armadas eram frequentemente convidadas por Morales para suas ações365bet livegoverno, mesmo que o tema não estivesse diretamente ligado à farda, como ocorreu quando ele determinou a nacionalização dos setores365bet livepetróleo e365bet livegás no país, pouco depois365bet liveassumir a Presidência.

Para o analista Roberto Laserna, do instituto Ceres,365bet liveCochabamba, a decisão365bet liveMorales365bet live"se perpetuar no poder" com a busca do um quarto mandato gerou decepção inclusive365bet livesetores que o apoiavam.

"Isso convenceu aos mais céticos365bet liveque Evo não poderia continuar. Além disso, a desconfiança no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a apuração da eleição, com (denúncias de) fraudes, levou às manifestações no país", afirmou Laserna. "E, ontem (domingo), o ponto decisivo foi que a COB (Central Operária da Bolívia) se uniu ao pedido365bet liverenúncia365bet liveEvo."

A COB é uma entidade histórica no país, a principal central sindical boliviana, que reúne vários sindicatos e se manteve fiel a Morales desde que ele chegou ao palácio presidencial Quemado.

Uma ex-assessora da área política do governo, que se afastou da administração central há alguns anos, contou que alguns setores sindicais foram fragmentados durante a gestão365bet liveMorales — e essa fragmentação também foi, na365bet liveopinião, enfraquecendo o apoio quase majoritário que o presidente tinha antes.

"A forma365bet liveEvo construir poder incluía a divisão. (...) A gestão365bet liveEvo foi marcada pelo sentimento365bet live'te amo' ou 'te odeio', sem meio termo", opinou.

Um dos exemplos citados pela ex-assessora foi o do projeto365bet liveconstrução da rodovia que ficou conhecida como Tipnis,365bet liveuma área indígena e reserva ecológica, entre Cochabamba e Beni. Para o governo, a estrada serviria para unir o país. Para defensores do Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), não seria assim, o que gerou decepção entre apoiadores locais.

"O apoio que Evo tinha365bet livediferentes setores foi minando por suas próprias medidas, como no caso do Tipnis", afirmou o analista político e econômico Javier Gómez, do centro365bet liveestudos Cedla,365bet liveLa Paz.

Manifestações365bet livejovens

Mas as manifestações que acabaram gerando365bet liverenúncia contaram, principalmente, com a participação dos jovens. Universitários, estudantes do secundário que acabaram convencendo também aos seus pais que deveriam ir para as ruas.

"Estas manifestações são novas na Bolívia e por isso aqui se diz que é a primavera boliviana e isso não tem nada365bet livegolpe, como disse Evo", afirmou Gómez.

Segundo ele, os produtores365bet livecoca — conhecidos como "cocaleros" — e os mineiros que antes apoiavam Morales passaram a se unir às manifestações dos últimos dias.

Para o analista, os mineiros cooperativistas do Departamento (Estado)365bet livePotosí e os cocaleros365bet liveLa Paz aderiram aos protestos por seus próprios motivos, mas simbolizando, na365bet livevisão, que a "insatisfação" não se limitou às classes médias, mas aos setores que até pouco tempo apoiavam Evo.

"Os cocaleros365bet liveLa Paz queriam, havia muito tempo, os mesmos direitos365bet liveprodução e365bet livecomercialização que os produtores do Chaparé,365bet liveCochabamba, mas não foram ouvidos. Os mineiros365bet livePotosí saíram365bet livecaravana para La Paz para protestar e no caminho foram alvos365bet liveemboscadas muito suspeitas. Os ônibus foram queimados e eles foram alvos365bet livetiros e que não eram da polícia", disse Gómez.

Na entrevista à BBC News Brasil, o ex-ministro Luis Arce disse que as situações dos produtores365bet livecoca365bet livecada região eram diferentes entre si e que, no caso dos mineiros, disse, os que aderiram aos protestos eram mais ligados aos empresários do que propriamente aos mineiros.

"Nós fomos alvo365bet liveum golpe que contou com ajuda externa. Além disso, Camacho (o empresário opositor365bet liveEvo e que pediu365bet liverenúncia) é filho365bet liveum colaborador do ex-ditador Hugo Banzer. Os comitês cívicos se uniram e abriram caminho para o que aconteceu", afirmou Arce, referindo-se à saída365bet liveMorales.

Um executivo365bet liveSanta Cruz365bet livela Sierra, cidade que é uma das referências dos chamados "comitês cívicos" (reuniões365bet livecríticos do governo), disse que, acreditando que o Movimento ao Socialismo (MAS),365bet liveMorales, fosse continuar na Presidência, muitos empresários mantinham uma relação "pragmática" com o presidente — informação corroborada pelo ex-ministro Luis Arce.

"Mas quando principalmente os mais jovens começaram a fazer manifestações, depois dos incêndios (que afetaram áreas florestais bolivianas, na mesma época dos incêndios na Amazônia brasileira), os empresários também foram aderindo aos protestos. Foi uma manifestação pacífica que incluiu a greve365bet livequase 20 dias, depois da eleição,365bet livevários pontos do país", disse o executivo.

Para Arce, o governo Morales "não fez nada365bet liveerrado", e sim "ao contrário", ao melhorar a qualidade365bet livevida dos bolivianos, mas ele reconheceu que a renúncia foi uma consequência da perda365bet liveapoio entre os grupos que tradicionalmente o sustentavam.

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