'Hasta la victoria, siempre'? A polêmica sobre o que quis dizer Che Guevara comfrase mais famosa:

Mural com a fraseChe Guevara

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A frase mais conhecidaChe Guevara aparececanções, murais, discursos, poemas, faixas, edifícios, obrasarte, camisetas e até tatuagens

É uma das frases mais conhecidas da esquerda mundial e, talvez, até mais popular que o próprio Ernesto "Che" Guevara (1928-1967).

Por maismeio século, ela apareceucanções, murais, discursos, poemas, faixas, edifícios, obrasarte, camisetas e até tatuagens.

Sua origem é amplamente conhecida:3outubro1965, Fidel Castro leupúblico uma carta que Che lhe enviou pouco antesdeixar Havana, capitalCuba.

A carta começa,maneira nostálgica, lembrando a forma como ele conheceu Castro "na casaMaria Antonia" e,tom mais dramático, renunciando a todos os seus laços e posições no governo cubano.

É um preâmbulo para então anunciar que estava partindo para outras "terras do mundo" que solicitavam "seus modestos esforços".

Fidel Castrodiscurso

Crédito, YouTube

Legenda da foto, Críticos do governo cubano dizem que, ao ler a carta, Fidel impediu que Che pudesse retornar a Cuba

A carta prossegue: Che diz que não pede nada parafamília, agradece a Castro por seus "ensinamentos" e "exemplo" e, depoisseis páginas, chega ao desfecho.

"Eu teria muitas coisas para contar a você e ao nosso povo, mas sinto que são desnecessárias, as palavras não podem expressar o que eu gostaria; não vale a pena escrever mais borrões no papel", diz ele, para então encerrar com a célebre frase.

"Até à vitória" — a frase parece ser interrompida, porque o espaço à direita da folha acaba, e continua na linha a seguir, onde a primeira palavra escrita começa com uma letra maiúscula: "Sempre, Pátria ou Morte".

Reprodução da cartaChe Guevara

Crédito, Centro Che

Legenda da foto, É possível que Castro tenha lido a frase não exatamente como Che Guevara a escreveu

Na noite3outubro1965, quando Castro chegou a esse ponto da carta, ele leu a frase diretamente. "Até à vitória, sempre. Pátria ou morte", disse, quase sem ênfase. "Abraço-te com todo o meu fervor revolucionário. Che."

Em seguida, vieram os aplausos, a comoção, a carta publicada incansavelmente, a frase transformadamantra socialista,um verso sublime da propaganda da Revolução Cubana.

Foi por maisdois anos o último vestígioGuevara, seu derradeiro sinal até aparecer morto na foto feitaLa Higuera, na Bolívia.

A essa altura,frase já havia se tornado histórica. Mas, como com muitas coisas sobre a CubaFidel Castro, alguns acreditam que seu significado original foi perdido ou alterado.

Diferentes versões e interpretações

Como explica o historiador cubano Sergio Guerra Vilaboy, por mais55 anos, a cartadespedidaChe Guevara a Fidel Castro tem sido objeto das mais diferentes visões e interpretações.

"Fidel a tornou pública1965, quando o Comitê Central (do Partido ComunistaCuba) estava sendo criado e ele tevedar uma explicação sobre por que Che, com todo o seu mérito, não estava ali e o governo não havia ainda se manifestado sobre isso", diz o professor da UniversidadeHavana.

Segundo o especialista, Che Guevara havia deixadoser uma figura visível nos altos escalões cubanos havia algum tempo e, desde então, rumores e teorias se espalharam sobre seu destino oupossível quedadesgraça.

"Havia muitas históriasque ele brigou com Fidel. E Fidel teveacabar com esses rumores", diz Vilaboy.

Che Guevara e Fidel Castro conversando

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A partidaChe deu origem a rumores sobre supostas diferenças entre ele e Fidel

No entanto, segundo o historiador,alguma forma, a leitura da carta também fechou as portas para um possível retornoChe à vida públicaCuba.

"Che havia ido lutar no Congo, mas, no momentoque a carta foi lida, a guerrilha no Congo havia fracassado, e Che estava se retirandolá, mas foi dito que ele estava indo lutaroutros territórios", diz Vilaboy.

"Isso deve tê-lo influenciado, porque o comprometia a não reaparecer publicamente. Isso o forçou a prosseguir para outra etapa da luta", acrescenta.

De qualquer forma, observa Vilaboy, Guevara tinha ido ao Congoforma temporária até que melhores condições fossem criadas na América Latina, que seria seu destino definitivo e no qual havia apostado desde a juventude.

'Até à vitória, sempre'

A carta veio a público entre dois silêncios constrangedores: durante muito tempo, nada se soube sobre Che Guevara antesela ser lida e nada se soube por dois anos e uma semana depois,9outubro1967, quando as fotos do seu corpo foram recebidas como duro um golpe pelos movimentos revolucionários da América Latina.

"Em Cuba, depois que Che sumiu, houve dois momentos: a carta e o anúnciosua morte", diz Vilaboy.

No entanto, sabe-se que, após a derrota da guerrilha no Congo, antesviajar para a então Tchecoslováquia elá para Havana, para seguir para a Bolívia, Che Guevara viajou para a Tanzânia, onde se encontrou comúltima mulher, Aleida March.

Aleida March com Che Guevara

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Aleida March, última mulherChe Guevara, diz que a intenção dele com a frase era outra

Foi nesse encontro,acordo com Marchsuas memórias, que Che Guevara lhe disse "o quanto ele se arrependiaseu erro"pontuação na carta que enviou a Fidel Castro.

E,acordo com o testemunho da viúva, a forma como a frase entrou para a história não foi realmente o que Che Guevara queria dizer com ela.

"Nunca esquecerei o quão claro ele foi ao expressarconvicçãoque, onde quer que fosse lutar depois do Congo, mesmo lá, seu gritoguerra seria sempre osua revolução, a Revolução Cubana: 'até à vitória, sempre pátria ou morte'", escreveu March.

Ela afirma que a maneira como Castro leu a carta e como ela foi transcrita posteriormente estava distante do significado e do contexto pretendidos por Che Guevara.

"Determinada a compartilhar alguns detalhes que deixaram uma marca profundamim, não consigo pararpensar nisso e transmitir a vocês a força com que ele expressou o que realmente quis dizer e o quanto se arrependeuseu erro ao colocar a vírgula onde não deveria", escreveu ela.

"O que queria dizer era que,qualquer circunstânciaque se encontrasse, sempre atenderia ao chamado'pátria ou morte!'."

Descuido?

Em seu livro Apuntesun viajero mexicano (notasum viajante mexicano,tradução livre), o pesquisador Raúl Rojas Soriano diz que a história da frase mostra "a importância que Che atribuía aos sinais ortográficos".

O sociólogo, que entrevistou MarchHavana, concorda que foi um "descuido" dele ao colocar suas palavras no papel.

"Por um descuido ao escrevê-lo, Che não colocou um sinalpontuação onde deveria e como desejava. A frase,acordo com Che, deveria ser escrita assim: 'Até à vitória, sempre Pátria ou Morte'", diz Soriano.

No entanto, nem todos concordam com esse pontovista. Jon Lee Anderson, o único biógrafoChe Guevara que teve acesso aos arquivos da família, não acredita que houve um erro na vírgula ou no sentido da frase.

"Olhei para as imagens da cartadespedida original e também ouvi novamente a gravação da vozFidel lendo-apúblico e toda a frase está lá'', diz Anderson.

"Se você olhar a carta, verá que há um grande espaço entre as duas frases e a vírgula. Difícil cometer esse erro sem perceber. Che era muito articulado no que dizia e escrevia."

Para o biógrafo, a frase foi uma tentativaChe Guevaramostrarsintonia com as idéiasCastro. "Na frase, entende-se que Che compartilha com Fidel uma ideologia e um desejofuturo — a revolução socialistanível continental — e o slogan é um clamor para que as próximas batalhas fossem bem-sucedidas."

Línea

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