Como a alta no preço do ouro alimenta os temoresuma recessão global:

Quiloouro

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Legenda da foto, Cotação do ouro superou os US$ 1,5 mil pela primeira vezseis anos

Apenas nos últimos três meses e meio, seu valor passouUS$ 1.270 a US$ 1.516, cotação da última sexta-feira (16/8). É uma altaquase 20%.

"O mercado está se preparando para uma mudançaciclo e isso tem feito (o preço do) ouro disparar", diz Javier Molina, porta-voz da plataformanegociaçãomoedas eToro.

Como acontecetodas as crises, o precioso metal segue sendo uma das pistas a serem analisadas com cuidado quando o cenário econômico global se deteriora – que parece ser o caso agora.

OperadorbolsaWall Street

Crédito, AFP

Legenda da foto, Em tempos turbulentos, investidores deixam as ações na bolsabuscaativos seguros, como o ouro

De que os mercados têm medo?

O principal temor é a desaceleração do crescimento. A escala mundial da economia pode ter já entradouma faserecessão.

O primeiro sinal disso vemum indicador-chave: a curvarentabilidade.

Pela primeira vez desde 2007, um ano antes da grande crise financeira mundial, essa curva mudou.

Isso significa que, para os governosEUA e Reino Unido, sai mais barato emitir dívida para daqui a dez anos do que para dois anos (embora o risco seja maior quanto mais tempo durar o empréstimo).

Esse fenômeno é incomum e costuma prenunciar uma recessão ou, ao menos, uma significativa desaceleração do crescimento econômicoescala global.

"Sem dúvida, durante este trimestre, o colapso da rentabilidade dos títulosdívida tem sido o principal impulsor da alta do ouro", diz à BBC News Mundo (serviçoespanhol da BBC) Ole Hansen, chefeestratégiasmatérias-primas do banco dinamarquês Saxo Bank.

Alemanha e China

A essa conjuntura se somam os dados recém-divulgados da economia alemã: o PIB do país no segundo trimestre caiu 0,1%, puxada para baixo pela queda nas exportações e na produção industrial – seus dois grandes pilares –,meio à guerra comercial entre EUA e China e ao caótico processo do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia, cujos termos ainda não estão definidos).

Fábricaautomóveis alemã

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Legenda da foto, Fábricaautomóveis alemã; economia do país se contraiu no segundo trimestre do ano

Ao mesmo tempo, a China publicou seus dadosvendas ao varejo eprodução industrial – o que, segundo analistas, evidenciou a debilidadesua demanda interna e freio no consumo.

Para Mark Haefele, chefeinvestimentos do banco suíço UBS, esses dados "dão sequência a uma tendênciacrescimento global baixo que já dura vários meses".

As expectativasque a economia mundial siga claudicante vão puxar para baixo as taxasjurosmuitos países, como formaos bancos centrais estimularem o crescimento internamente.

Mas, desta vez, não está claro que os bancos centrais vão contarseu arsenal com políticas eficazes para levar a cabo essa tarefa, algo que também colabora para gerar ainda mais incerteza.

"Todos os olhos estão sobre o Fed (banco central americano). Qualquer corte adicional (na taxajuros)uma conjunturaincerteza geopolítica pode fazer subir ainda mais o preço do ouro", opinam especialistas da M&G Investments.

Segundo fator

Em segundo lugar, os mercados têm medo da escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China.

Muitos analistas creem que essa disputa não vai arrefecer tão cedo.

Bandeira da China

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Legenda da foto, China desvalorizoumoeda, para tornar suas exportações mais competitivas

"A disputa comercial se intensificará nas próximas semanas, já que nenhuma das partes têm interesserecuar, o que deve alimentar a inquietação atual dos mercados e respaldar (a busca por) ativos seguros, como o ouro", explica Norbert Rücker, chefeEconomia do banco suíço Julius Baer.

De fato, o que começou como uma guerra tarifária entre EUA e China agora é cambial, uma vez que a China decidiu desvalorizar o yuan para tornar suas exportações mais competitivas, com impactos na economiatodo o mundo.

"Não acreditamos que as autoridades chinesas vão deixar cair ainda maismoeda, mas tampouco vemos uma solução rápida" para a guerra comercial, diz a equipeanálise global do Bank of America Merrill Lynch.

Terceiro fator

Por fim, a demanda pelo ouro tem se mantido forte,uma busca pela diversificaçãoativos.

Em âmbito global, bancos centrais aumentaramcompra do metal precioso no primeiro semestre2019, para o maior nívelseis anos, totalizando reservasUS$ 15,7 bilhões.

No total, suas reservas subiram 145,5 toneladasouro no período, uma alta68%comparação com o primeiro trimestre2018.

Armazémouro

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Legenda da foto, Bancos centrais aumentaramcompraouro, particularmente ospaíses atingidos por sanções americanas

Os principais países compradoresouro são Rússia, China e Irã, que respondem às sanções impostas pelos EUA vendendo dólares e comprando ouro para suas reservas.

Reino Unido e Argentina

A situação no Reino Unido, que está politicamente paralisado pelo Brexit, e na Argentina, cujo mercado despencou depois das primárias das eleições presidenciais, também contribui para esse cenário.

"Alguns mercados emergentes, como a Argentina, estãocrise", afirma Nitesh Shah, analista da empresainvestimentos WisdomTree. "Historicamente, quando eventos similares ocorreram na economia argentina, houve um efeitocontágiooutros países emergentes."

Línea.

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