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Como discussão sobre o celibato na Amazônia deve ampliar oposição ao papa Francisco:400fs novibet
"Embora afirmando que o celibato é um presente para a Igreja, tem havido pedidos400fs novibetque, para as áreas mais remotas da região, a Igreja estude a possibilidade400fs novibetconferir ordenação sacerdotal a homens idosos,400fs novibetpreferência membros indígenas, respeitados e aceitos400fs novibetsuas comunidades", diz trecho do documento.
Na cúpula da Igreja, uma certeza: se o projeto for adiante, pode ser o rompimento400fs novibetséculos400fs novibetuma tradição400fs novibetque o celibato se tornou fundamental para o exercício do sacerdócio. Porque a ideia400fs novibetliberar padres casados na Amazônia seria um teste que, uma vez bem-sucedido, tende a ser replicado, primeiramente400fs novibetregiões remotas, para suprir a falta400fs novibetpadres no mundo.
Dados divulgados no ano passado pelo Centro400fs novibetEstatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mostram que o País tem 27,3 mil padres - uma média400fs novibetum sacerdote católico para cada 7.802 habitantes.
Considerando o peso que o catolicismo tem no Brasil, é uma média baixa. Na Itália há um clérigo para cada mil habitantes.
E esses 27,3 mil padres não estão bem distribuídos, considerando a população brasileira. Enquanto no Rio Grande do Sul há um padre para cada 5,8 mil habitantes, Estados do Norte e do Nordeste têm carência400fs novibetsacerdotes. Maranhão tem a mais baixa proporção, com um sacerdote para cada 13,7 mil pessoas. Pará conta com um religioso para cada 13,2 mil habitantes, enquanto Amazonas e Roraima têm um para cada 9,7 mil.
Oposição
Se por um lado a medida pode resolver um problema histórico da Igreja e, ao mesmo tempo, solucionar a carência400fs novibetsacerdotes400fs novibetregiões remotas, por outro a mudança já desperta críticas e preocupações no setor mais conservador da cúpula do Vaticano, justamente a oposição ao papa Francisco.
De acordo com estudos do vaticanista italiano Marco Politi, a oposição a Francisco hoje engloba 30% do episcopado mundial. Os opositores discordam do perfil progressista do atual sumo pontífice, que não raras vezes aborda questões políticas, ambientais e sociais. E também propõe aberturas400fs novibettermos400fs novibetparticipação nas comunidades, como já ocorreu com uma maior aceitação aos divorciados400fs novibetsegunda união, como se reflete nas palavras400fs novibetacolhimento aos homossexuais e como agora pode ocorrer com a questão dos padres casados.
No livro La Solitudine di Francesco, Politi apresenta um cenário400fs novibetque o papa, politicamente, precisa enfrentar o histórico conservadorismo da Igreja - e fora dela.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil acreditam que, se levada adiante, a aprovação da ordenação sacerdotal400fs novibethomens casados pode aumentar ainda mais esse grupo400fs novibetopositores.
Consultor do Vaticano, o padre jesuíta americano James Martin pondera que alguns grupos criticam qualquer gesto do atual papa. "Há algumas pessoas - cardeais, bispos, padres e leigos - que se opõem a Francisco400fs novibetquase todos os assuntos. Parecem discordar dele400fs novibettudo o que diz e faz", afirma. "Portanto, ele não vai agradar a esse grupo."
"No geral, aqueles que se opõem à questão dos padres casados o fazem por causa da tradição", acredita ele.
"Os críticos conservadores não vão gostar disso", afirma o vaticanista britânico Austen Ivereigh, autor400fs novibetThe Great Reformer: Francis and The Making of a Radical Pope (O grande reformista: Francisco e a criação do papa radical,400fs novibettradução livre). "Mas se houver um consenso no sínodo, certamente o papa vai permitir (a ordenação400fs novibetpadres casados400fs novibetcontextos específicos)."
"Contudo, como a Igreja Católica já tem padres casados, como os400fs novibetrito oriental, eles (os críticos) dificilmente poderão argumentar que se trata400fs novibetuma questão doutrinal", completa o britânico.
Para o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Júnior, chefe do Departamento400fs novibetCiência da Religião da PUC-SP, a questão do celibato poderia ser atenuada com algumas adaptações. "Há bispos contrários porque temem um clero casado", acredita ele. "Mas seria possível com algumas mudanças quanto aos bens, aposentadoria e direitos da esposa e filhos."
"Não tenho certeza se isso (a flexibilização do celibato clerical) vai acontecer ou não", comenta Martin. "Mas certamente há uma grande necessidade400fs novibetmais padres, especialmente para fornecer a Eucaristia a pessoas400fs novibetáreas remotas. A ideia400fs novibetordenar homens casados tem sido amplamente discutida por muitos bispos."
Celibato
Os primeiros sacerdotes católicos não eram celibatários. A começar por Pedro, apóstolo considerado o primeiro papa: ele era casado.
Os católicos400fs novibetrito oriental - os ortodoxos - até hoje admitem clérigos casados.
O celibato começou a ser considerado dentro do catolicismo a partir dos séculos 3 e 4, com recomendações para que sacerdotes não constituíssem famílias. Desde então, diversas propostas internas recomendavam abstenção sexual400fs novibetreligiosos. Nos dois concílios400fs novibetLatrão, no século 12, o celibato se tornou norma. Concílios posteriores -400fs novibetLatrão,400fs novibet1215; e400fs novibetTrento,400fs novibet1545 e 1563 - ratificaram a medida.
Ao longo do século 20, o tema seguiu sendo defendido. Papa Pio 12 (1876-1958) defendeu o celibato na encíclica Sacra Virginitas. No concílio Vaticano 2º,400fs novibet1965, dois documentos trataram do assunto.
Papa Paulo 6º (1897-1978) escreveu sobre a questão400fs novibetDe Sacerdotio Ministeriali. João Paulo 2º (1920-2005) reiteradamente se manifestou400fs novibetdefesa do celibato. "Fruto400fs novibetequívoco - se não mesmo400fs novibetmá-fé - é a opinião (...)400fs novibetque o celibato sacerdotal na Igreja Católica é apenas uma instituição imposta por lei àqueles que recebem o sacramento da Ordem", pontuou ele,400fs novibetcarta400fs novibet1979. "Ora todos sabemos que não é assim."
"Os sacerdotes, religiosos e religiosas, com o voto400fs novibetcastidade no celibato, não se consagram ao individualismo ou a uma vida isolada, mas sim prometem solenemente pôr totalmente e sem reservas ao serviço do Reino400fs novibetDeus as relações intensas das quais são capazes", afirmou,400fs novibetuma missa, seu sucessor Bento 16.
Papa Francisco também se declarou recentemente a favor do celibato. Em coletiva400fs novibetimprensa realizada400fs novibetjaneiro, ele lembrou com respeito da possibilidade que existe no catolicismo do rito oriental mas enfatizou a importância da norma da Igreja Católica Apostólica Romana. "Quanto ao rito latino, lembro-me400fs novibetuma frase400fs novibetSão Paulo 6º (o papa Paulo 6º): 'prefiro dar a vida antes400fs novibetmudar a lei do celibato'. Isso me veio400fs novibetmente e quero afirmá-lo porque é uma frase corajosa", disse Francisco. "Pessoalmente, penso que o celibato seja um dom para a Igreja e não concordo400fs novibetpermitir o celibato opcional. Não."
"A proposta não é permitir que padres se casem ou que ex-padres que são casados voltem a exercitar o sacerdócio", pontua Austen Ivereigh. "Mas, sim, ordenar homens mais velhos e casados que estejam presentes400fs novibetsuas comunidades. Ele (o papa) deixou claro que não mudará a regra do celibato para o sacerdócio400fs novibetgeral, então isso só se aplicaria400fs novibetlugares remotos, onde é difícil para as pessoas terem acesso aos sacramentos."
"Permaneceria alguma possibilidade nos lugares mais distantes, penso nas ilhas do Pacífico, mas é algo400fs novibetque pensar quando há necessidade pastoral", afirmou o sumo pontífice,400fs novibetjaneiro. "O pastor deve pensar nos fiéis."
Essa carência400fs novibetlugares remotos, portanto, deve ser a justificativa. "Já existem padres católicos casados nas igrejas400fs novibetrito oriental. É só ampliar para o rito latino por urgência", argumenta Altemeyer.
De acordo com o sociólogo e biólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, "a questão pastoral é a recolocação do papel do leigo na vida da comunidade". Por isso essa prerrogativa considerada400fs novibetlugares remotos.
"De certa forma, para essas realidade onde a presença do sacerdote tradicional tem se mostrado inviável, surge a tentativa400fs novibetaumentar a responsabilidade do leigo na vida sacramental", explica Ribeiro Neto. "Temos que considerar que os neopentecostais mostraram a eficiência pastoral400fs novibetum grande número400fs novibetagentes, com pouca e rápida formação,400fs novibetdetrimento do modelo católico, que acaba tendo poucos agentes, com uma formação aprofundada mas demorada."
Divergências
"Existe uma antiga batalha400fs novibetex-padres que pedem o fim do celibato eclesial. Francisco não concorda com essa reivindicação", pondera o sociólogo. "Aliás, diante dos escândalos400fs novibetpedofilia, a tendência da Igreja é a400fs novibetser mais estrita na escolha400fs novibet'vocacionados' e o fim do celibato tende a aparecer como um laxismo que aumentaria os riscos400fs novibettermos padres mal preparados e humanamente inadequados para a função."
"Nesse sentido, o debate no sínodo, sobre a ordenação400fs novibethomens casados, tem400fs novibetser desvinculado da bandeira por casamento400fs novibethomens ordenados", resume ele.
Mas como o celibato não foi algo imposto desde os primórdios da Igreja, o argumento400fs novibetque é uma regra que pode ser derrubada também pode pegar carona nessa urgência. "Durante muitos séculos na igreja, padres foram casados. E ainda hoje temos alguns padres casados nos 'ritos orientais'", pontua o padre James Martin. "E o próprio São Pedro era casado. Sabemos isso porque os evangelhos mencionam400fs novibetsogra."
"Então", provoca ele, "se você tem algo contra padres casados, pergunte a São Pedro o que ele pensa."
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