Será que a Guiana conseguirá evitar 'maldição do petróleo' e virar o país mais rico do mundo?:
O prognóstico do americano pode parecer exagerado, mas com uma populaçãoapenas 750 mil pessoas, a riqueza per capita dos habitantes da Guiana tende a disparar.
E isso porque a ExxonMobil, principal operadorapetróleo da Guiana, diz ter descoberto uma reservapetróleomais5,5 bilhõesbarris nas águas do país no Oceano Atlântico.
'A maldição do petróleo'
Essa ex-colônia britânica - único país sul-americano que tem o inglês como língua oficial - tem altas taxasdesemprego e pobreza. Sem dúvida que a entradadinheiro na economia é bem-vinda. Mas a história deixa uma advertência para a Guiana.
É notório que a descoberta do petróleooutros paísesdesenvolvimento levou a um aumento da corrupção. Além disso, a nova riqueza gerada pela exploração do produto foi desperdiçada ou beneficiou apenas uma pequena parcela da sociedade.
Há também o riscoque o boom das exportaçõespetróleo provoque uma valorização excessiva da moeda local , prejudicando a competitividadeoutros setores da economia e eventualmente reduzindo o tecido produtivo do país.
"Na Guiana, a corrupção é desenfreada", diz Troy Thomas, diretor do escritório da ONG Transparência Internacional no país. Ele se diz "bastante preocupado" com a "maldição do petróleo".
Uma recente crise política no país é vista por alguns como um sinal precoce dos efeitos dessa "maldição".
Em dezembro, a coalizão governista perdeu uma moçãonão confiança no Congresso depois que um dos seus parlamentares votou com a oposição. O governo decidiu desafiar a votação nos tribunais,vezconvocar eleições.
A decisão desencadeou uma sérieprotestos.
"Tudo que pedimos é que o governo respeite a Constituição", disse à BBC uma manifestante, que estava paradafrente ao prédio do governo. "Os políticos só querem permanecer no poder e controlar o dinheiro do petróleo", completa.
A batalha continua e, na próxima semana, a CorteJustiça do Caribe deve analisar a última apelação do caso.
Aposta na educação
"Temos visto as experiênciasoutros países", diz Vincent Adams, diretor da AgênciaProteção Ambiental da Guiana, que trabalhou por três décadas no DepartamentoEnergia dos Estados Unidos. "Muitos países conseguiram muita riquezapetróleo, mas alguns estãosituação pior do que antes da descoberta do recurso."
Para Adams, há uma chave para evitar essa armadilha: "Educação, educação, educação", diz. "É o melhor investimento que este país ou qualquer país pode fazer."
Adams está promovendo a renovação da faculdadeengenharia da Universidade da Guiana, mas preparar jovens guianenses para essa lucrativa nova indústria não é fácil.
"Infelizmente não temos laboratórios para um programaengenhariapetróleo", diz Elana Trim, reitora da universidade.
Também tem sido um desafio atrair talentos acadêmicos com experiência relevante, afirma Trim. "Nossos salários não são tão altos. Quando as pessoas pensam se interessamconcorrer a vagas na Universidade da Guiana e as informamos sobre nosso nível salarial, elas desistem", diz a reitora.
No entanto, mesmo nesta fase inicial, a indústria petrolíferaGuiana já contratou estudantesoutras especialidadesengenharia. Dois anos atrás, 10 deles conseguiram empregosuma empresapetróleo. No ano passado, a mesma companhia contratou mais 20 profissionais.
"As empresas estão contratando nossos estudantes como se fossem pão quente", diz Trim.
Ceticismo
Em Sofia, um dos bairros mais pobresGeorgetown, há um certo ceticismorelação ao futuro do país.
Algumas das casas do local, bastante precárias, tiveram acesso a eletricidade e a água corrente apenas neste século.
"Cerca10% da populaçãoGeorgetown mora nessa comunidade, mas os recursos para a área são escassos ", diz Colin Marks, que administra o centrojuventude no bairro.
Isso ajuda a explicar o ceticismo sobre a extensão dos benefícios do petróleo.
"A maioria das pessoas é sensível a isso porque há mais pontos negativos (na exploraçãopetróleo) para Guiana do que positivos. E isso acontece por causa da política. Você viu o que aconteceu na Guiné, na Nigéria, na Venezuela, então as pessoas não estão muito certas ", diz Marks.
"Em uma comunidade como essa, só queremos saber se teremos uma parte do dinheiro do petróleo, queremos nos beneficiar disso", conclui.