Crise na Venezuela: quem são os indígenas que se rebelaram contra o governo Maduro:deposito via pix sportingbet
A imprensa local noticiou a morte do jovem pemon Charly Peñaloza,deposito via pix sportingbet21 anos, morto na área do acampamento El Arenal, próximo ao rio Carrao, por um destacamento da Direção Geraldeposito via pix sportingbetContrainteligência Militar (DGCIM), do governo venezuelano.
Segundo o relato da imprensa local, Peñaloza foi morto enquanto defendia outros indígenas que foram alvodeposito via pix sportingbetum ataque com armasdeposito via pix sportingbetguerra. A incursão teria sido partedeposito via pix sportingbetuma operação secreta da DGCIM e da Corporación Eléctrica Nacional (Corpoelec), a companhia estataldeposito via pix sportingbetenergia elétrica da Venezuela.
Por estaremdeposito via pix sportingbetmaior número, os moradores acabaram rendendo os servidores da DGCIM e da Corpoelec, e capturaram alguns deles. Também ficaram com as armas e explosivos dos funcionários.
Os líderes pemones classificaram a mortedeposito via pix sportingbetPeñalozadeposito via pix sportingbet"assassinato" – assim como a Anistia Internacional, uma ONG transnacional que agora exige o fim das agressões do governo venezuelano contra a comunidade indígena.
'Combate à mineração'
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, demorou até o dia 12deposito via pix sportingbetdezembro para mencionar o episódio.
Disse que o conflito foi parte do "combate contra a mineração ilegal, que causou um dano terrível ao Parque Nacional Canaima", e assegurou que "há grupos armados que conseguiram se infiltrar nas aldeias indígenas".
Mas não há apenas um interesse ecológico por trás da ação do governo.
Desde que começou a perder receitas do setor petroleiro e a sofrer sanções econômicas dos Estados Unidos, Maduro têm dito que a combalida economia venezuelana sobreviverá graças à exportaçãodeposito via pix sportingbetriquezas minerais.
Em 2016, o governo criou a Zonadeposito via pix sportingbetDesenvolvimento Econômico Nacional do Arco Mineiro do Orinoco. Trata-sedeposito via pix sportingbetuma tentativadeposito via pix sportingbetcriar uma fonte alternativadeposito via pix sportingbetrenda com base nas minas desta região, que se estende desde a fronteira com a Guiana, ao leste, até o Brasil, ao sul. Alémdeposito via pix sportingbetouro, a região tem ferro, bauxita, diamantes e coltan (um tipodeposito via pix sportingbetminério ricodeposito via pix sportingbetnióbio edeposito via pix sportingbettântalo)deposito via pix sportingbetabundância.
Nos últimos anos, Maduro fechou dois acordos com a Turquia para a vendadeposito via pix sportingbetouro venezuelano, evitando que este comércio seja paralisado pelas sançõesdeposito via pix sportingbetoutros países.
Ambientalistas alertam para o fatodeposito via pix sportingbetque o garimpo irregular que proliferou nos últimos anos ameaça não só a bacia do Orinoco, mas também a região paradisíaca habitada pelos pemones.
São três milhõesdeposito via pix sportingbethectaresdeposito via pix sportingbetnatureza selvagem, reconhecidos como patrimônio da humanidade pela Unesco. A região abriga ainda os montes Tepuyes, uma das formações geológicas mais antigas e singulares do mundo.
Os pemones acusam o governodeposito via pix sportingbetusar o pretexto da proteção ao meio ambiente para militarizar a região e assim garantir o controle dos recursos naturais. O Ministério das Comunicações da Venezuela não respondeu o pedidodeposito via pix sportingbetinformações da BBC News Mundo sobre a situaçãodeposito via pix sportingbetCanaima.
Quando Maduro comentou o assunto,deposito via pix sportingbet12deposito via pix sportingbetdezembro passado, os pemones já estavam protestando pela mortedeposito via pix sportingbetPeñaloza. Interromperam o tráfego na rodovia Troncal 10, que liga a Venezuela ao Brasil; deram início a uma greve geral e tomaram o controle do aeroportodeposito via pix sportingbetSanta Elenadeposito via pix sportingbetUairén, próximo da fronteira com o Brasil – portanto, é impossível agora acessar Canaima sem a autorização deles.
A mobilização dos indígenas obrigou à suspensão, no território, das eleições locais que ocorreram no resto da Venezueladeposito via pix sportingbet9deposito via pix sportingbetdezembro.
Rumo a Canaima
Para conhecer a realidade sobre a área e os motivos da rebelião dos pemones, a reportagem da BBC enfrentou uma longa viagem da capital venezuelana, Caracas, até Canaima, no coração do parque nacional.
Geralmente, o local só é acessível por meiodeposito via pix sportingbetpequenos aviões que costumam levar turistas até o parque, ao custodeposito via pix sportingbetmilharesdeposito via pix sportingbetdólares. Também é preciso ter autorização dos caciques pemones, chefes das comunidades locais, para voardeposito via pix sportingbetSanta Elena até suas terras.
Só para chegar a Santa Elena foram dois diasdeposito via pix sportingbetviagem nas perigosas rodovias venezuelanas. Foram quase 1,3 mil quilômetrosdeposito via pix sportingbetburacos, pneus estourados e barreiras policiais.
Atravessando localidades como Tumeremo, Las Claritas e El Callao, é possível compreender a importância que a mineração ilegal ganhou para os moradores do Estado venezuelanodeposito via pix sportingbetBolívar.
Em meio à crise econômica que assola a Venezuela, com famílias sofrendo para obter comida, remédios e outros artigosdeposito via pix sportingbetprimeira necessidade, muitos encontraram na extraçãodeposito via pix sportingbetouro uma fontedeposito via pix sportingbetsustento.
O governo dos pemones
Em Santa Elena, fomos recebidos por um membro do Conselhodeposito via pix sportingbetCaciques, a entidade que reúne os chefes das comunidades pemones. Ele estava nervoso e exausto após dias e diasdeposito via pix sportingbetprotestos depois da mortedeposito via pix sportingbetPeñaloza. "Isto aqui não é nenhuma brincadeira, estamos lutando contra o Estado", disse.
No aeroporto, por exemplo, havia dezenasdeposito via pix sportingbetpemones que estavam há dias ocupando o local, para evitar que caia nas mãos das forças do governo. Exigiram saber quem éramos nós e o que estávamos fazendodeposito via pix sportingbetCanaima.
Os pemones discutem todos os assuntos importantesdeposito via pix sportingbetgrandes assembleias. Assistimos uma dessas reuniões, realizada na língua pemón, indecifrável para quem não conhece o idioma.
Na pistadeposito via pix sportingbetpouso, um ancião chamado Wesley me explicou que a queda nos rendimentos do turismo está deixandodeposito via pix sportingbetgente sem alternativas.
"Costumavam vir aqui muitos estrangeiros, mas agora vivemosdeposito via pix sportingbetagonia. Precisamosdeposito via pix sportingbetajuda, e o que vemos é o governo iniciando uma guerra não declarada para nos matar", diz.
A poucos metros dali, um homemdeposito via pix sportingbetmeia-idade armado com arco e flecha, chamado Antonio Martínez, e que se apresentou como descendentedeposito via pix sportingbet"grandes guerreiros" me falou sobre o que acredita serem as razões do conflito.
"Esta é uma luta antiga. Quiseram nos dominar por causa das riquezas auríferas das nossas terras. Conseguiram com nossos pais, mas conosco não conseguirão."
Pouco depois, pegamos um pequeno avião Cessna e sobrevoamos um grande e denso bosque. Um amigo me avisou: "Você vai se sentir como se sobrevoasse um grande brócolis".
Mas o tal "brócolis" estava com feridas bem visíveis.
Do alto era possível ver a proliferaçãodeposito via pix sportingbetgarimpos, que ao destruir a vegetação, alteram um ecossistema único.
Ao aterrissar na única pista do aeroportodeposito via pix sportingbetCanaima, descobrimos que dezenasdeposito via pix sportingbetindígenas aguardavam com ansiedade pela nossa chegada.
Outro cacique se encarregoudeposito via pix sportingbetnos receber, mas o fatodeposito via pix sportingbetele estar conosco não evitou que todos os integrantes da nossa equipe tivessem seus dados meticulosamente registrados.
Estávamos numa comunidade que viviadeposito via pix sportingbetestadodeposito via pix sportingbetexceção – e até para se conectar às redesdeposito via pix sportingbetwifi era preciso pedir autorização para o Conselhodeposito via pix sportingbetCaciques.
Um grupodeposito via pix sportingbetguardas nos escoltou até a pousada onde ficamos alojados.
O ambiente era tão tenso que, mesmo com os esforços do afável guia que nos foi designado, era difícil desfrutardeposito via pix sportingbetmaravilhas naturais como a lagoadeposito via pix sportingbetCanaima.
Atendendo ao chamadodeposito via pix sportingbetseus irmãosdeposito via pix sportingbetCanaima, centenasdeposito via pix sportingbetindígenasdeposito via pix sportingbetoutras comunidades se dirigiram ao local para apoiá-los diante do perigodeposito via pix sportingbetuma nova incursão militar do governo venezuelano, que muitos consideravam certa.
Circulava inclusive um rumordeposito via pix sportingbetque uma equipedeposito via pix sportingbetcombate do Exército já estava pronta para atuar.
Outros rumores diziam que o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino, chegaria a Canaima naquele dia para resolver a crise.
Os pemones estavam muito nervosos após dias longedeposito via pix sportingbetcasa, e preparados para qualquer cenário. Não eram poucos entre eles que se diziam convencidosdeposito via pix sportingbetuma "guerra" iminente, e dispostos a morrer nela.
Enquanto os caciques seguiam com intermináveis reuniões, os três membros da DGCIM capturados pelos indígenas permaneciam sob custódia, à esperadeposito via pix sportingbetquedeposito via pix sportingbetsorte fosse decidida.
A indígena Achimiko,deposito via pix sportingbet32 anos, era encarregadadeposito via pix sportingbetuma das pousadas para turistas. Fui convidado por ela a dividir comdeposito via pix sportingbetfamília um pratodeposito via pix sportingbettumá, uma espéciedeposito via pix sportingbetguisado picante típico da culinária pemón.
Ela me contoudeposito via pix sportingbethistória – que segundo ela é parecida com adeposito via pix sportingbetmuitos outrosdeposito via pix sportingbetseu povo – enquantodeposito via pix sportingbetfamília preparava o casabe, um tipodeposito via pix sportingbetpãodeposito via pix sportingbetmandioca muito popular na Venezuela.
"Minha família trabalhou a vida toda recebendo turistas, mas desde que começou este governo, eles não vêm mais", disse ela.
A crise do turismo
A faltadeposito via pix sportingbetsegurança e outros problemas que atingem a Venezuela levaram muitos estrangeiros a deixardeposito via pix sportingbetconsiderar o país na horadeposito via pix sportingbetdecidir o destino das férias.
"Foi o governo que nos obrigou a adotar a mineração. Não o fazemos porque queremos, mas por necessidade", disse Achimiko.
Ela se dizia "indignada" com Maduro. "Nos acusamdeposito via pix sportingbetvender o ouro para fora do país, quando na verdade estamos vendendo para o próprio governo. O que querem é tomar controle da região", diz ela.
Jesús Fernandez, outro morador local, nos ofereceu um café e nos contou que, anos atrás, deixou seu trabalhodeposito via pix sportingbetprofessor porque o salário não era suficiente para comprar mais que dois pacotesdeposito via pix sportingbetfarinhadeposito via pix sportingbetmilho – que na Venezuela é usada para fazer a popular arepa. Agora, ele ganha a vida combinando seu trabalho na mineração com bicos ocasionais, como odeposito via pix sportingbetpedreiro.
"Nunca passamos por uma situação tão difícil como adeposito via pix sportingbetagora, e foi por isso que nos voltamos para a mineração", disse.
Quando sai para trabalhar, Jesús reúne seus colegas e caminha com eles durante dias, até chegar nas áreasdeposito via pix sportingbetmineração.
Ele costuma trabalhar numa curiara, um tipodeposito via pix sportingbetcanoa tradicional indígena. Sua função é garantir que mergulhadores – que passam horas submersos procurando ouro – recebam oxigênio suficiente.
Às vezes é preciso buscar durante dias até encontrar ouro.
Junto a seus companheiros, Jesús cumpre jornadas que chegam a se estender das seis da tarde até as seis da manhã do dia seguinte. Em troca, cada um chega a ganhar uma gramadeposito via pix sportingbetourodeposito via pix sportingbetpó. Esta pode ser vendida por cercadeposito via pix sportingbetUS$ 26 (o equivalente a R$ 96).
É relativamente pouco, mas já é quatro vezes o salário mensal que ele ganhava como professor.
Para este indígena pemón, extrair e vender ouro parece ter se tornado a última alternativa para conseguir algum dinheiro.
'Garantidores'
Uma das pessoas que acompanhou maisdeposito via pix sportingbetperto os problemas da região é a jornalistadeposito via pix sportingbetviagens venezuelana Valentina Quintero, que se dedicou durante anos a mostrar ao público os tesourosdeposito via pix sportingbetseu país.
Conversei com ela emdeposito via pix sportingbetcasadeposito via pix sportingbetCaracas – ela se mostrou crítica aos mineiros pemóns. Além das leis da venezuelanas, diz ela, as próprias crenças ancestrais dos indígenas os obrigam a cuidar do ambiente único que habitam.
"Eles deveriam ser os garantidores da vida no Parque Nacional. Causa muita surpresa quando eles, que são os habitantes originais, vão contra os seus costumes e começaram a trabalhar com a mineração lá."
Argumentos como osdeposito via pix sportingbetValentina Quintero não são suficientes para o mineiro Jesús Fernández. "Estamos cientesdeposito via pix sportingbetque o trabalho na mina danifica a natureza, mas não vamos morrerdeposito via pix sportingbetfome", ele me disse.
Sem notícias do governo
Nosso primeiro dia entre os Pemones terminou com um breve encontro com os caciques.
Eles esperavam que o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, finalmente aparecessedeposito via pix sportingbetCanaima. Esperavam que nós registrássemos a notíciadeposito via pix sportingbetsua chegada.
Os caciques pareciam desapontados quando lhes dissemos que achávamos improvável que o ministro aparecesse.
Eles queriam dizer ao ministro e ao mundo que, ao contrário do que o governo afirma, eles não têm armas e são pessoas pacíficas.
Talvez por já terem se convencidodeposito via pix sportingbetque Padrino não chegaria, no dia seguinte os caciques não se preocupavam mais conosco.
Fomos procurados também por alguns indígenas que estavam insatisfeitos com a atuação dos caciques. Queriam informações – que nós não tínhamos – sobre como estavam as negociaçõesdeposito via pix sportingbetseus chefes com as autoridades.
Nós também esperávamos notícias, principalmente sobre quando poderíamos deixar a região. Conforme eles tinham nos alertado, "o tempo pemón é lento".
Voltamos a conversar com o cacique que tinha nos recebido na cidadezinhadeposito via pix sportingbetSanta Elena.
Ele parecia muito preocupado. Contou que estava há dias sem dormir, e repetia que a situação estava ficando complicada.
Temia tanto uma possível reação das forçasdeposito via pix sportingbetsegurança do governo quanto um estalodeposito via pix sportingbetindignação do seu próprio povo, que estava há dias esperando que "algo acontecesse".
Tensão no aeroporto
O chefe nos disse também que estava a caminho um pequeno avião, no qual poderíamos regressar a Santa Elena. Mas não estava claro se o Instituto Nacionaldeposito via pix sportingbetAeronáutica Civil da Venezuela autorizaria o voo.
No aeroporto, logo descobrimos que os temores do cacique sobre um possível tumulto entre os pemones tinham fundamento.
Dezenasdeposito via pix sportingbetjovens indígenas se concentravam na pistadeposito via pix sportingbetpouso, com o rosto coberto por pinturas tradicionais – sinaldeposito via pix sportingbetque se preparavam para a ação. Alguns deles desaprovavam a nossa viagem.
Pediram que ficássemos ali até a chegadadeposito via pix sportingbetmediadores internacionais que eles tinham solicitado a fimdeposito via pix sportingbetproteger-sedeposito via pix sportingbetpossíveis ações hostis do Exército venezuelano.
Finalmente conseguimos deixar Canaima depoisdeposito via pix sportingbetnos despedirmos apressadamente. Ficamos convencidosdeposito via pix sportingbetque os pemones não serão vencidos facilmente.
'Ou nos matam, ou nós os matamos'
No dia seguinte, enquanto viajávamosdeposito via pix sportingbetcarro rumo a Caracas, recebi um vídeo que reforçou esta impressão.
No auditório comunaldeposito via pix sportingbetCanaima, os três funcionários sequestrados da DGCIM aparecem cabisbaixos e com as mãos amarradas.
Sentado entre dezenasdeposito via pix sportingbetpemones, um general das Forças Armadas – enviado a Canaima para negociar – ouve as palavras que lhe são dirigidas por José Luis Galletti, um dos mais respeitados líderes dos indígenas.
Galletti anuncia que devolverá as armas apreendidas com os membros da DGCIM, mas alerta:
"Nós daremos nossa vida por nosso povo. Se chegar a ocorrer outra incursão dentro do nosso território ou contra nossa gente, tenha certezadeposito via pix sportingbetque não vai terminar desta maneira (pacífica). Ou vocês nos matam, ou nós vamos matar vocês com as suas armas."
O militar escuta impassível. Esta é, até agora, a última imagem do conflito dos indígenas com o Estado venezuelano.
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