Como Paraguai e Bolívia conseguiram se transformarjetix pixbetpaíses bilíngues:jetix pixbet

Jeannette sorri enquanto segura um microfone no meiojetix pixbetuma rua repletajetix pixbetpessoas

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, A locutorajetix pixbetrádio Jeannette fala espanhol e quechua

Idiomas originários

Na Bolívia, principalmente na região do Altiplano, no oeste do país, existem programasjetix pixbetrádio ejetix pixbettelevisão, incluindo infantis,jetix pixbetlínguas indígenas e grupos musicais que cantam os chamados idiomas originários. Alguns bolivianos trouxeram essa prática para a capital argentina.

"Quando cheguei aquijetix pixbetBuenos Aires, contei que falava aimará e acabei conseguindo um programa dominicaljetix pixbetrádio no idioma que aprendijetix pixbetcasa e que nunca deixeijetix pixbetfalar", disse Freddy Flores,jetix pixbet29 anos, que éjetix pixbetLa Paz, na Bolívia, e trabalha na rádio Constelación, 98.1, FM. Ele disse que, quando pequeno, seus pais e avós liam para ele contosjetix pixbetaimará e nãojetix pixbetespanhol, o que contribuiu para que aprendesse o idioma.

'Rohayhu' significa,jetix pixbetguarani, algo como 'te amo'

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'Rohayhu' significa algo como 'te amo'jetix pixbetguarani, uma das línguas oficiais do Paraguai

No seu programa, ele toca as baladasjetix pixbetsucesso dos grupos com cançõesjetix pixbetlínguas indígenas ou folclóricas, como Los Awatiñas, K'ala Marka e Los Kjarkas.

As constituições da Bolívia e do Paraguai estabelecem que o idioma nacional não deve se limitar ao espanhol. Na Bolívia, existem 36 idiomas reconhecidos desde 2009 na Carta Magna. No Paraguai, a Constituição estabelece que os idiomas oficiais são o espanhol e o guarani - estima-se que maisjetix pixbet70% da população seja bilíngue.

No Censojetix pixbet2001,jetix pixbetmeio a uma populaçãojetix pixbet6,95 milhõesjetix pixbethabitantes, 37,8% dos bolivianos com maisjetix pixbet6 anosjetix pixbetidade eram bilíngue - espanhol e um idioma indígena - somando 2,62 milhõesjetix pixbetpessoas bilíngues no país andino.

Uma década depois, no Censojetix pixbet2012, com uma população totaljetix pixbet7,8 milhõesjetix pixbethabitantes no país, 38,2% com maisjetix pixbet6 anosjetix pixbetidade se declararam bilíngues, maisjetix pixbet2,98 milhõesjetix pixbetpessoas.

Leijetix pixbetlínguas

Em 2010, entroujetix pixbetvigor no Paraguai a chamada "leijetix pixbetlínguas", que determina que as línguas indígenas devem ser usadas, assim como o espanhol, na atenção ao público e no Executivo, Judiciário e Legislativo.

Ou seja, o presidente e outras autoridades do país devem estar aptos a falar nos dois idiomas na horajetix pixbetse dirigir ao público, como informou a diretorajetix pixbetPlanejamento Linguístico da Secretariajetix pixbetPolíticas Linguísticas, Célia Godoy,jetix pixbetentrevista à BBC News Brasil.

"O guarani é o idioma que identifica a cultura paraguaia. E manter o guarani vivo é um trabalho minucioso e constante", disse Godoy, que é doutorajetix pixbeteducação com especializaçãojetix pixbetespanhol ejetix pixbetguarani.

O primeiro idioma que ela aprendeu foi o guarani, falado na casa dos pais. Ao se casar e ter filhos, combinou com o marido que a tradição deveria ser preservada. "Ele fala espanhol com nossos filhos, e eu só falojetix pixbetguarani. Hoje, os três, que têm 8, 15 e 20 anos, são bilíngues", contou Godoy.

Um site do governo paraguaio dá a opçãojetix pixbetescolher ver a páginajetix pixbetespanhol oujetix pixbetguarani

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Em sites do governo paraguaio, é possível escolher ver a páginajetix pixbetespanhol oujetix pixbetguarani

Além das práticasjetix pixbetcasa e da exigência do ensino do guarani nas escolas, como determinam as normas locais, existe uma espéciejetix pixbetvigilância permanente para que o guarani continue sendo falado.

Em uma carta aberta dirigida ao presidente Mario Abdo Benítez, a Academiajetix pixbetLíngua Guarani reclamou que seu discursojetix pixbetposse não tenha sido feito no idioma indígena, como informou o jornal Ultima Hora,jetix pixbetAssunção,jetix pixbetagosto passado.

No texto, a instituição, criada a partir da leijetix pixbetlínguas, expressou "preocupação e inquietude por não ter escutado" o presidente usando a "língua ancestral" diante dos paraguaios e das autoridades estrangeiras que participaram da cerimôniajetix pixbetposse.

Consultada pela reportagem, a assessoriajetix pixbetimprensa do presidente informou que ele fala guarani. "É verdade que surgiram críticas, mas não foi uma decisão deliberada (do presidentejetix pixbetnão discursar na língua indígena)", afirmaram. Como um gestojetix pixbetfavor do idioma, comentaram, o presidente determinou que fossem atualizados todos os logos das instituições públicas para espanhol e guarani.

Intimidados

Durante muito tempo, segundo especialistas e historiadores, o guarani foi mal visto pelas classes mais ricas. A atitude fazia com que os mais carentes se sentissem intimidados a falar o idioma indígena forajetix pixbetcasa. "A atmosfera foi mudando desde que a lei entroujetix pixbetvigor", disse Godoy.

Para ela, a escrita e a gramática também cumprem papel fundamental para a preservação das línguas indígenas. Neste ano, contou, foram lançados dicionários e livros que respaldam o guarani e outros idiomas ancestrais - o Paraguai tem 19 línguas indígenas.

Foi o caso, por exemplo, do dicionáriojetix pixbetmanjui lançado neste ano no país, realizado pelo pesquisador e professor da Universidade Autónomajetix pixbetEntre Ríos, na Argentina, Javier Carol, a pedidojetix pixbetautoridades paraguaias.

"O importante do dicionário é que significa que a língua existe para o Estado. Significa que o Estado e a sociedade não a escondem, e isso é importante para a pessoa que fala a língua", disse Carol.

Estima-se que o manjui seja falado por menosjetix pixbet3 mil pessoas. Mas existem outros idiomas, como o do povo guaná, falado por apenas quatro pessoas, como contou Célia Godoy. As quatro idosas que falam o idioma passaram até por oficinas para preservar a cultura.

Ilustração mostra saudaçõesjetix pixbetquechua, uma mulher com trajes tradicionais e bandeiras do Peru, Bolívia, Colômbia e Argentina

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A escrita tem papel fundamental para a preservação das línguas indígenas

Em muitos casos, segundo especialistas, é natural que as crianças e adolescentes prefiram, até por integração ou às vezes por certa vergonha, programasjetix pixbetTV, moda e culturajetix pixbetespanhol, o que dificulta a permanência do idioma indígena.

Para Eduardo Navarro, professor da Universidadejetix pixbetSão Paulo (USP), que pesquisa culturas indígenas há três décadas, o Paraguai "tem a sortejetix pixbetpreservar" a língua indígena, o guarani.

"Já o Brasil perdeu a oportunidadejetix pixbetser bilíngue como o Paraguai, que tem o maior bilinguismo dentro da América e conseguiu isso com muitas medidas", disse Navarro.

Ele contou, porém, que existem iniciativas "muito bonitas" no Brasil, no mundo acadêmico ejetix pixbetONGs, mas muito menos no terreno oficial, na tentativajetix pixbetrespaldar as línguas indígenas no país.

A USP, contou, realizou publicaçõesjetix pixbetgramáticajetix pixbetnheengatu, que é da Amazônia. Cercajetix pixbet6 mil pessoas, distribuídas ao longojetix pixbet700 quilômetros, na região do rio Negro, são bilíngues.

"Mas as línguas só sobrevivem se, alémjetix pixbetfaladas, forem escritas. Elas precisam ser lidas ou suas palavras serão substituídas pelo português, como vem ocorrendo. Sabemos que proteger a língua é proteger a cultura. E as culturas não podem morrer", disse Navarro, que costuma levar seus alunos para pesquisasjetix pixbetcampojetix pixbetcomunidades indígenasjetix pixbetSão Paulo.

Na América do Sul, além do Paraguai e da Bolívia, Peru, com 44 línguas originárias, e Equador, com 14, também são países onde, dependendo do território, se pode escutar,jetix pixbetmaior ou menor medida, línguas indígenas sendo faladas.

Segundo dados oficiais, cercajetix pixbet4 milhõesjetix pixbetperuanos,jetix pixbetuma população totaljetix pixbet32 milhõesjetix pixbethabitantes, falam algum idioma indígena. No Equador, porjetix pixbetvez, acadêmicos alertam que algumas línguas indígenas correm o riscojetix pixbetdesaparecer se não continuarem sendo faladas.

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