O país que reduziu assassinatos ao ‘legalizar’ ganguesesportes da sorte trabalhe conoscojovens:esportes da sorte trabalhe conosco
Não foi uma caminhada fácil, mas os resultados obtidosesportes da sorte trabalhe conoscodez anos já são destacados por organizações internacionais como o Banco Interamericanoesportes da sorte trabalhe conoscoDesenvolvimento (BID).
A entidade destaca que o programa teve influência significativa na redução da violência local. Segundo dados do BID, os assassinatos no Equador caíramesportes da sorte trabalhe conosco15,35/100 mil habitantesesportes da sorte trabalhe conosco2011 para 8,17esportes da sorte trabalhe conosco2014 e uma taxa próxima a 5esportes da sorte trabalhe conosco2017 - no Brasil, essa taxa éesportes da sorte trabalhe conoscocercaesportes da sorte trabalhe conosco30 homicídios por 100 mil habitantes.
A difícil transição
Manuel Zúñiga é o "Inca", isto é, o presidente dos Latin Kings. Seu nome é King Majestic entre os "pandilleros" - como são chamados membros desses grupos marcadamente jovens, informais e vinculados a determinadas regiões.
No passado, ele aprendeu a usar armas, roubar veículos e viver na prisão; hoje, ele é o representante legalesportes da sorte trabalhe conoscosua "pandilla" (ou "nação", como chamamesportes da sorte trabalhe conoscoalguns casos) e trabalha na Universidade Católicaesportes da sorte trabalhe conoscoQuito, uma instituição privada, com um escritório e tudo mais.
Ele não utiliza mais suas antigas calças largas, mas continua a vestir com orgulho as coresesportes da sorte trabalhe conoscoseu grupo e colares que ganhou como líder.
"Inca" também não esconde suas tatuagens e explica que cada uma simboliza os valoresesportes da sorte trabalhe conoscoseu grupo ou suas experiências pessoais.
"Nossa transição foi graças à união e à maturidadeesportes da sorte trabalhe conoscotodos nós. Não foi fácil, mas foi oesportes da sorte trabalhe conoscomais positivo para a nossa nação", explica o líder.
Zúñiga acrescenta que os "reis e rainhas" estavam "cansados de tantos abusos e discriminação".
Mas "foi muito difícil convencer os irmãos porque vivíamosesportes da sorte trabalhe conoscoum mundoesportes da sorte trabalhe conoscoviolência", diz.
"Agora que veem nossos passos como positivos, muitos irmãos estão se juntando a nós", conta à BBC News Mundo enquanto viajaesportes da sorte trabalhe conoscoum carro dirigido por um desses "irmãos" da universidade até seu bairro,esportes da sorte trabalhe conoscoum trajeto com quase uma horaesportes da sorte trabalhe conoscoduração.
No início, apenas 20 "pandilleros" decidiram "se legalizar". Agora, eles são maisesportes da sorte trabalhe conoscomil, com origem nos Latin Kings e tambémesportes da sorte trabalhe conoscooutras gangues.
A 'legalização'
Ana Rodríguez, pesquisadora da Faculdade Latino-Americanaesportes da sorte trabalhe conoscoCiências Sociais (Flacso) e ministra da Culturaesportes da sorte trabalhe conosco2016, foi uma das promotoras do processo à época.
"Para evitar abusos e reivindicar a vontadeesportes da sorte trabalhe conoscoevitar ações violentas, começamos a promover a legalização", explica.
Rodríguez diz ter sido fundamental o apoio do governo e da polícia do Equador - o que incluiu a disponibilização, para os "pandilleros",esportes da sorte trabalhe conoscocentrosesportes da sorte trabalhe conoscoapoio e treinamentos para o mercadoesportes da sorte trabalhe conoscotrabalho.
"Não foi preciso convencê-los. Foi uma vontade mútua acabar com a discriminação contra eles", disse Rodríguez à BBC News Mundo.
A pesquisadora ressalta que o modelo funcionou e conseguiu se expandir até mesmoesportes da sorte trabalhe conoscodireção às gangues inimigas dos Latin Kings.
"Uma das principais dificuldades foi mudar a imagem dos 'pandilleros', mas esse signo foi mudado."
O relatório "Inclusão socialesportes da sorte trabalhe conoscobaixo: As pandillasesportes da sorte trabalhe conoscorua e seus possíveis efeitos na redução da taxaesportes da sorte trabalhe conoscohomicídios no Equador", do BID, também destaca as conquistas do programa - iniciadoesportes da sorte trabalhe conosco2007.
"Descobrimos que a legalização desses grupos ajudou a reduzir drasticamente a violência e o crime e, ao mesmo tempo, garantiu um espaço cultural e legal para transformar o capital social das ganguesesportes da sorte trabalhe conoscomeios eficazes para alcançar uma mudançaesportes da sorte trabalhe conoscocomportamento", destaca o relatório.
A empresa
Manuel anda com seus "irmãos" pelos corredores da Universidade Católicaesportes da sorte trabalhe conoscoQuito.
É 30esportes da sorte trabalhe conoscooutubro, e o Kings Catering tem dois importantes serviços a oferecer: um almoço dos decanos da instituição e outro do conselho das universidades equatorianas.
Ninguém se surpreende ao ver que jovens com várias tatuagens nos braços, camisetas estampadas e longos colares preparam e servem comida: no menu do dia, arroz pesto com frango recheado.
Para Manuel, uma das maiores conquistas na década foi a superação do estigma que os cercava.
A socióloga Alejandra Delgado, coordenadora do programaesportes da sorte trabalhe conoscoinclusão dos "pandilleros" da Universidade Católica, combina suas aulas com o trabalho ao lado dos "reis e rainhas latinos". O grauesportes da sorte trabalhe conoscoconfiança que ela construiu com o grupo é notável.
Os Latin Kings não trabalham apenas no serviço gastronômico como também recebem treinamento técnicoesportes da sorte trabalhe conoscoáreas como serigrafia e informática. Os entes envolvidos buscam projetos que funcionem a longo prazo e gerem empreendimentos próprios.
Luis Enrique, um dos "pandilleros", tornou-se recentemente o primeiro do grupo a cursar Sociologia na universidade. Ele frequenta as aulas com quase uma dúziaesportes da sorte trabalhe conoscocolares, tatuagens nos braços e uma camiseta com os símbolosesportes da sorte trabalhe conoscosua "nação".
Os percalços
Apesar dos resultados celebrados, porém, a legalização das gangues não foi capazesportes da sorte trabalhe conoscoerradicar a violência entre gruposesportes da sorte trabalhe conoscojovens no Equador.
E embora o generalesportes da sorte trabalhe conoscopolícia Patricio Carrillo, agora parte do Ministério do Interior equatoriano, reconheça as conquistas do programa, ele também alerta para as dificuldades atuaisesportes da sorte trabalhe conoscosua manutenção.
Membros do governo reconhecem que o surgimentoesportes da sorte trabalhe conosconovos grupos violentos não legalizados e o cenário econômico atual,esportes da sorte trabalhe conoscoqueda na renda dos equatorianos, dificulta o apoio aos "pandilleros".
Para Carrillo, a redução da violência no país não passa apenas pelo trabalho com as organizações juvenis mas também pela aproximação entre a polícia e as comunidades, subdivididasesportes da sorte trabalhe conoscoáreasesportes da sorte trabalhe conoscoatuação dos agentesesportes da sorte trabalhe conoscosegurança.
Lições
Curiosamente, as conquistas da experiência equatoriana não parecem ter chamado a atençãoesportes da sorte trabalhe conoscooutros países latino-americanos.
Para especialistas consultados pela BBC News Mundo, a experiência é pouco conhecida e há resistênciaesportes da sorte trabalhe conoscopaíses próximos, como El Salvador, a uma eventual alocaçãoesportes da sorte trabalhe conoscorecursos públicos para membrosesportes da sorte trabalhe conoscogangues.
"É preciso implementar uma mudança estrutural, não só do governo, mas também da polícia - como aconteceu no Equador", defende Rafael Gude, pesquisador do BID que trabalhou com "pandillas" no Equador e na América Central.
A socióloga Ana Rodríguez afirma que o processo equatoriano deveria ser replicadoesportes da sorte trabalhe conoscooutros países - mudando a abordagem "criminalizadora" dos membrosesportes da sorte trabalhe conoscogangues.
"É muito difícil que isso seja alcançado se os governos continuarem atribuindo a culpa pelos problemasesportes da sorte trabalhe conoscosuas ruas às organizaçõesesportes da sorte trabalhe conoscojovens. Eles (os governos) devem reconhecer que a violência é produto da desigualdade, e não das gangues."
Para ela, os Estados com problemasesportes da sorte trabalhe conoscoviolência mostram a repressão contra as gangues como uma conquista, apesar da evidente ineficiência dessa política na reduçãoesportes da sorte trabalhe conoscohomicídios.
A opinião da sociólogia encontra semelhanças com aesportes da sorte trabalhe conoscoManuel Zúñiga, presidente dos Latin Kings, que expressa desejar que "irmãos"esportes da sorte trabalhe conoscooutros países sigam o mesmo caminhoesportes da sorte trabalhe conoscosua "nação" e possam andar com suas tatuagens e camisetas pretas com coroa dourada sem dificuldades nos corredoresesportes da sorte trabalhe conoscouniversidades e órgãos governamentais.
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