Quando e por que a Igreja Católica passou a impor o celibato aos padres:blaze com aposta

Jovens seminaristas teatianos (ordem dos clérigos regulares) fazem a profissão solene (ou seja, proclamam publicamente os votos)

Crédito, Pascom/São Roque

Legenda da foto, Hojeblaze com apostadia o celibato é necessário para quem quer se tornar sacerdote na Igreja Católica

E celibato sacerdotal é quando essa escolha é feita por alguémblaze com apostatrocablaze com apostauma dedicação integral aos serviços religiosos, por meio da ordenação presbiterial.

Maquete da Praça São Pedro, sede da Igreja Católica, exibidablaze com apostaMuseu no Vaticano

Crédito, Edison Veiga/BBC News

Legenda da foto, Até o século 12 os sacerdotes podiam casar

Conceitos

Conforme explica Ribeiro Neto, há cinco conceitos correlatos que costumam ser confundidos na linguagem cotidiana. A castidade, a virgindade, a vocação virginal, o celibato e o celibato sacerdotal.

"O celibato sacerdotal é uma condiçãoblaze com apostaoferta total da pessoa ao serviçoblaze com apostaDeus e da comunidade. Vincula-se à vocação virginal, mas não se identifica totalmente a ela. Religiosos que não exercem a função sacerdotal também podem manter a vocação virginal por um compromisso ou voto. Pessoas casadas – que, portanto, não podem ser celibatários – podem assumir num certo momento da vida um voto virginal, mantendo-se unidos mas sem terem mais relações sexuais."

A virgindade é a condição daquele que nunca teve relações sexuais, mas a vocação virginal é a renúncia da vida sexual ativa – ou seja, não é preciso ser virgem para escolhê-la.

"Nela, a pessoa renuncia a uma vida sexual ativa, para canalizar toda ablaze com apostaenergia e toda ablaze com apostapessoa à relação com Deus", teoriza o especialista.

Ribeiro Neto lembra que essa ideia não é uma invenção do cristianismo. "Monges budistas e as vestais -– sacerdotisas da deusa Vesta – da Roma Antiga, por exemplo, mantêm o mesmo idealblaze com apostavocação como condição para uma entrega maior a Deus.

Vista geral da Praça São Pedro, Vaticano.

Crédito, Edison Veiga/BBC News

Legenda da foto, Celibato para padres não é um dogma da igreja

Já a castidade "é o estadoblaze com apostaintegração positiva da sexualidade na pessoa",blaze com apostaacordo com o Catecismo da Igreja Católica, compêndio com a doutrina católica. "Para os casados, a castidade se exerce mantendo relações sexuais e sendo fiéis um com o outro; para o solteiro, abstendo-seblaze com apostapráticas sexuais próprias dos casados."

História

Originalmente, os primeiros sacerdotes católicos não precisavam ser celibatários. "Isso foi sendo reconhecido como um valor importante ao longo dos séculos", afirma Ribeiro Neto. "Assim, entre os católicosblaze com apostarito oriental (os ortodoxos), até hoje existem padres casados."

Por volta dos séculos 3º e 4º já existiam movimentos dentro do catolicismo propondo que os religiosos deveriam praticar o celibato. "Mas é no primeiro e no segundo concíliosblaze com apostaLatrão, ao longo do século 12, que se estabelece a obrigatoriedade definitiva do celibato aos clérigos católicos romanos", relata o sociólogo. Outros concílios prévios já mencionavam o tema, propondo a abstenção sexualblaze com apostasacerdotes e proibindo o casamentoblaze com apostamonges e freiras foi proibido.

"Desse período antigo, há ainda um decreto do papa Sixto,blaze com aposta386, e instruções do papa Inocêncio 1º", afirma o filósofo e teólogo Fernando Altemeyer Júnior, professor do Departamentoblaze com apostaCiência da Religião da Pontifícia Universidade Católicablaze com apostaSão Paulo.

Detalhe da Praça São Pedro, Vaticano.

Crédito, Edison Veiga/BBC News

Legenda da foto, A Igreja não está discutindo essa questão no momento

Manter posses e ser um missionário 'livre'

Mas esses regulamentos não foram instituídosblaze com apostafato durante o período. Na realidade, a Igreja viveu momentosblaze com apostaidas e vindas quanto ao tema, e mesmo regiões diferentes adotavam práticas diferentes - era uma épocablaze com apostaprecária comunicação.

A preocupação quanto ao celibato veio à tona com toda a força a partir do século 11. Foi pautablaze com apostapapas como Leão 9º e Gregório 7º. Havia uma preocupação com a chamada "degradação moral" do clero, naqueles temposblaze com apostaIdade Média e Igreja Católica superpoderosa.

De forma que o celibato acabaria instituído nos dois concíliosblaze com apostaLatrão - o primeiro,blaze com aposta1123, o segundoblaze com aposta1139. A partir deles, ficou decretado que clérigos não poderiam casar ou mesmo se relacionar com concubinas. "Há que dizer que entre os séculos 10º e 15 o concubinato dos presbíteros com mulheres era muito comum na Europa. Aqui no Brasil colonial também há dezenasblaze com apostacasosblaze com apostapadres que se casaram e tiveram muitos filhos à margem da lei eclesiástica", ressalta Altemeyer Júnior.

A manutençãoblaze com apostacelibato ainda seria defendidablaze com apostamais um concílioblaze com apostaLatrão (em 1215), e no Concílioblaze com apostaTrento (entre 1545 e 1563).

"Muitos dizem que a partir do seculo 10º a Igreja enrijeceu com o celibato para não desfazer ou partilhar os feudos com os filhos dos padres. Isso,blaze com apostaparte, é verdade", diz Altemeyer Júnior. "Mas o sentido maior é que haja um missionário livre para assumir missões e cargos."

Hojeblaze com apostadia

A partir do século 20, o tema voltou à tona com o Papa Pio 12 – que defendeu o celibato na encíclica Sacra virginitas. E no segundo Concílio Vaticano,blaze com aposta1965, dois documentos trataram do tema. O papa Paulo 6º também divulgou um documento, De sacerdotio ministeriali, abordando o assunto.

Em uma cartablaze com aposta1979, o papa João Paulo 2º afirmou: "Frutoblaze com apostaequívoco – se não mesmoblaze com apostamá fé – é a opinião, com frequência difundida,blaze com apostaque o celibato sacerdotal na Igreja Católica é apenas uma instituição imposta por lei àqueles que recebem o sacramento da Ordem. Ora todos sabemos que não é assim. Todo o cristão que recebe o sacramento da Ordem compromete-se ao celibato com plena consciência e liberdade, depoisblaze com apostapreparaçãoblaze com apostavários anos, profunda reflexão e assídua oração. Toma essa decisãoblaze com apostavidablaze com apostacelibato, só depoisblaze com apostater chegado à firme convicçãoblaze com apostaque Cristo lhe concede esse 'dom', para bem da Igreja e para serviço dos outros. Só então se compromete a observá-lo por toda a vida".

Monges beneditinos, na igreja anexa ao Mosteiroblaze com apostaSão Bentoblaze com apostaSão Paulo

Crédito, Mosteiroblaze com apostaSão Bento/ Divulgação

Legenda da foto, A igreja diz que sacerdotes celibatários tem condiçõesblaze com apostacumprir melhor suas funções

Seu sucessor Bento 16 também fez declarações a respeito do celibato. "Para compreender bem o que significa a castidade devemos partir do seu conteúdo positivo, explicando que a missãoblaze com apostaCristo o levava a um dedicação pura e total para com os seres humanos. (...) Os sacerdotes, religiosos e religiosas, com o votoblaze com apostacastidade no celibato, não se consagram ao individualismo ou a uma vida isolada, mas sim prometem solenemente pôr totalmente e sem reservas ao serviço do Reinoblaze com apostaDeus as relações intensas das quais são capazes", disse ele,blaze com apostauma homilia.

"Espera-se que os padres, nessa condição celibatária, possam se entregar melhor as suas tarefas religiosas e pastorais, vivendo uma espiritualidade mais profunda e essencial, tendo mais disponibilidade para entregar-se à comunidade à qual assiste", afirma o sociólogo Ribeiro Neto.

Padres casados

De acordo com o Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados, maisblaze com aposta7 mil brasileiros solicitaram à Igreja a dispensa do sacramento da ordemblaze com apostatroca do matrimônio - a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não divulga dados sobre o assunto.

Isso significa que a cada quatro sacerdotes católicos que são ordenados no Brasil, um larga a batina para constituir família.

Segundo a revista La Civiltá Cattolica, publicada desde 1850blaze com apostaRoma pelos jesuítas italianos,blaze com apostatodo o mundo esse número supera os 60 mil padres.

Há ainda uma perspectiva para aqueles que já são casados, mas desejam desempenhar papéis mais religiosos dentro do catolicismo. Atualmente, a Igreja Católica ordena homens casados como "diáconos permanentes". "Assim, eles podem desempenhar quase todas as funções dos sacerdotes, com exceção da consagração da hóstia na comunhão e da absolvição dos pecados na confissão", esclarece Ribeiro Neto.

Se o papa Francisco não deu sinalização algumablaze com apostarever a regra, por outro lado a demanda existe: há faltablaze com apostapadres no mundo.

"Por isso, houve um pedidoblaze com apostamuitos bispos da Amazônia para que se passe a se permitir que haja padres casados para atender às comunidades sem padres", conta o professor Altemeyer Júnior. "Parece que o papa Francisco estaria disposto a aceitar tal mudança que não exige mudar nenhum dogma ou lei. É só uma disciplina cultural e histórica."

Dentro do próprio clero, padres questionam se chegou a horablaze com apostamudar essa posição. Um dos mais famosos sacerdotes católicos brasileiros da atualidade, o padre Fábioblaze com apostaMelo, por exemplo, já deu entrevistas dizendo que a norma do celibato deveria ser abolida, "por ser algo da Idade Média". De acordo com ele, a Igreja deveria ordenar casados - e manter a possibilidadeblaze com apostacelibato àqueles que quisessem fazer uma "entrega mais radical".

Em artigo divulgado pela agência americana Religion News Service, que existe desde 1934, o padre jesuíta Thomas Reese defendeu que o celibato clerical fosse opcional. "Papa Francisco sinalizou que está aberto para analisar a ordenaçãoblaze com apostahomens casados, mas quer o pedido venhablaze com apostaconferências episcopais nacionais", escreveu. "Mas Francisco também é bastante contundente ao afirmar que até que isso aconteça o celibato deve ser observado. Ele não expulsaria todos os padres que violaram o celibato; lapsos individuais podem ser perdoados."

Reese ainda insinua que, ao longo da história e ao redor do mundo, são muitos os casosblaze com apostareligiosos que não seguem essa norma.

A Igreja, no entanto, mantém o celibato porque acredita que os celibatários desempenham suas funções religiosas melhor do que os casados, segundo os especialistas. Essa é a visão oficial da Igreja, corroborada por alguns especialistas.

"Se um homem quer se casar, isso é um sinalblaze com apostaque ele não foi escolhido para a função ministerial do padre – e, diferentementeblaze com apostauma profissão leiga, o sacerdócio católico é algo a que uma pessoa é chamada, algo mais que uma atividade que ela individualmente deseja fazer. Ceder às pressões para que os padres se casassem seria, na visão da Igreja, facilitar a entradablaze com apostapessoas não verdadeiramente vocacionadas, que acabariam se tornando maus padres", acrescenta Ribeiro Neto.

É dentro dessa perspectiva, portanto, que a Igreja se defende quando recebe insinuaçõesblaze com apostaque, abolindo o celibato, iria reduzir os casosblaze com apostapedofilia envolvendo o clero – Thomas Reese é um dos que fazem esse tipoblaze com apostasugestionamento.

"Os casosblaze com apostapedofilia recentemente noticiados são entendidos pela Igreja como decorrência justamente da escolhablaze com apostapessoas sem uma verdadeira vocação eblaze com apostaum acompanhamento deficiente, que não fornece uma base espiritual adequada para conviver com a condição celibatária. Assim, a opçãoblaze com apostapermitir que os padres se casassem poderia ter um efeito até contrário, facilitando o ingressoblaze com apostapessoas não vocacionadas e sem uma espiritualidade sólida", diz o sociólogo, explicando o pontoblaze com apostavista do Vaticano.