Uma semana depois, ataquesae aposta esportiva appPacaraima dividem venezuelanos e moradores:ae aposta esportiva app
Durante os diasae aposta esportiva appque a reportagem esteveae aposta esportiva appPacaraima, ouviu muitos relatosae aposta esportiva appviolência sofrida pelos venezuelanos.
Oscar Rojas,ae aposta esportiva app33 anos, , que chegou a Pacaraima há maisae aposta esportiva appum ano, morava com outros venezuelanosae aposta esportiva appum box do mercado produtor da cidade. Assim como seus companheiros, teve todas as suas coisas queimadas - roupas, dinheiro, os telefones da família e os dados bancários da mãe, para quem enviava dinheiro sempre que podia na Venezuela.
Com medoae aposta esportiva appcontinuarae aposta esportiva appPacaraima, resolveu tentar a sorteae aposta esportiva appBoa Vista, ansioso para conseguir um empregoae aposta esportiva appuma padaria fazendo bolos e biscoitos,ae aposta esportiva appespecialidade desde a adolescência.
"Em meu país eu passava fome, mas estavaae aposta esportiva appcasa. Agora não tenho comida, trabalho nem possibilidades. Não queria sair da minha casa para passar pelo que estou passando agora", afirmou à BBC News Brasil, enquanto esperava o ônibus para a capital. Vai tentar recomeçar, mais uma vez.
Sem imigrantes nas ruas
Uma semana depois dos ataques, o clima entre os locais não éae aposta esportiva appconsternação com o que ocorreu, nemae aposta esportiva appmea culpa.
Na visão deles, a cidade está mais tranquila: não há mais venezuelanos acampando nas calçadas da cidade, e o reforço do policiamento teria inibido a prostituição e a vendaae aposta esportiva appdrogas, argumentam moradores e comerciantes.
"Eles ficavam no meio das praças, nos ambientesae aposta esportiva appque a família da gente queria brincar, passear, e ninguém podia. Por quê? Fluxoae aposta esportiva appvenezuelano. Morarae aposta esportiva appalojamento é uma coisa, na calçada é outra", argumenta Francisco Souza Nogueira,ae aposta esportiva app38 anos, donoae aposta esportiva appuma lojaae aposta esportiva appacessórios e recargaae aposta esportiva appcelular.
Vídeos dos acontecimentosae aposta esportiva app18ae aposta esportiva appagosto mostram moradores empilhando os pertences dos imigrantes nas ruas e jogando combustível sobre os acampamentos precários onde viviam, ateando fogo a tudoae aposta esportiva appseguida. Alguns carregavam paus e pedras. Sob gritos e aplausos da população, maisae aposta esportiva appmil imigrantes foram forçados a cruzar a fronteiraae aposta esportiva appvolta para seu país.
Em um vídeo, um morador descreveu assim os acontecimentos: "O pau tá comendo, menino, tamo expulsando os venezuelanos! É desse jeito agora. Se não tem governante, se não tem autoridade, nós vamos fazer a nossa autoridade. Fora venezuelanosae aposta esportiva appdentroae aposta esportiva appPacaraima!"
A Polícia Civilae aposta esportiva appRoraima abriu um inquérito para investigar os ataques e apurar se houve crimesae aposta esportiva appódio, xenofobia e incitação pública à violência.
Um segundo inquérito buscará elucidar o assalto contra o comerciante Raimundo Nonatoae aposta esportiva appOliveira, que foi o estopim para a revoltaae aposta esportiva appsábado. O comerciante sofreu agressões ao ladoae aposta esportiva appsua esposa, Maria Carneiro da Frota Oliveira. Os quatro assaltantes seriam venezuelanos.
'Pacaraima vem sofrendo'
Fundadaae aposta esportiva app1995, Pacaraima tem cercaae aposta esportiva app12 mil habitantes e é portaae aposta esportiva appentrada para os venezuelanos que entram no Brasil por terra -ae aposta esportiva app500 a até 900 por dia. Eles chegam fugindo da grave crise econômicaae aposta esportiva appseu país, sofrendo com a faltaae aposta esportiva appcomidaae aposta esportiva appcomida e medicamentos, serviços básicos e uma inflação astronômica.
De acordo com o governoae aposta esportiva appRoraima, cercaae aposta esportiva app1.500 pessoas vinham vivendo nas ruasae aposta esportiva appPacaraima. A maioria viveae aposta esportiva appsituaçãoae aposta esportiva appextrema pobreza (os venezuelanos com algum dinheiro costumam seguir para outras cidades ou países). O salto da populaçãoae aposta esportiva appimigrantes trouxe mudanças profundas para uma cidade.
De acordo com a delegada geral da Polícia Civilae aposta esportiva appRoraima, Giuliana Castro, a cidade vive um aumento da criminalidade.
"Pacaraima vem sofrendo. Queremos criar nossos filhosae aposta esportiva appsegurança e ter liberdadeae aposta esportiva appir e vir. Não invadimos a terraae aposta esportiva appninguém com violência", afirma ela, que depois dos ataquesae aposta esportiva appsábado vem organizando carreatas com buzinaços pela cidade - "para alertar o povo que a gente está na paz".
A professora do ensino fundamental Neura Costa diz que hoje as pessoas "têm medoae aposta esportiva appsairae aposta esportiva appcasa".
Ela afirma que a cidade recebe bem venezuelanos, mas que não há espaço para todos - e muito menos para os que recorrem à violência. "Não que todos sejam bandidos. Não são", reconhece.
Neura admite que a população foi violenta nos confrontosae aposta esportiva appsábado. Mas justifica: "Sabe por quê? Porque há anos estamos recebendo e ajudando os venezuelanos e pedindo ajuda do governo federal. Só que o governo não olha para nós. A gente pediu, suplicou. A governadora (Suely Campos) foi não sei quantas vezes a Brasília, o prefeito (Juliano Torquato) também. Ninguém atendeu", afirma. E quando veio a notícia sobre Seu Raimundo, "o sangue subiu."
Depois dos ataques, a governadoraae aposta esportiva appRoraima, Suely Campos (PP), voltou a solicitar ao STF o fechamento temporário da fronteira, que fora negado pela ministra Rosa Weber no início deste mês. A Advocacia-Geral da União já enviou manifestação contrária ao Supremo, afirmando que a medida violaria tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.
Roraima enviou ainda um ofício ao governo Temer apresentando dez demandas para enfrentar o fluxo desordenadoae aposta esportiva appvenezuelanos, entre elas a intensificação do programaae aposta esportiva appinteriorizaçãoae aposta esportiva appimigrantes para outros Estados, o envioae aposta esportiva appum escâner para fiscalizar veículos, cargas e volumes que adentram o país a exigênciaae aposta esportiva apppassaportes para que os venezuelanos entrem no Brasil.
Nesta semana, o governo federal enviou 60 homens da Força Nacionalae aposta esportiva appSegurança para reforçar o policiamento na fronteira e nas ruas da cidade e prometeu acelerar o programaae aposta esportiva appinteriorização, anunciando que mil imigrantes serão transferidos para outras regiões até o inícioae aposta esportiva appsetembro. Desde abril, apenas 820 venezuelanos foram transferidos para outras regiões.
Em visita a Pacaraima na quinta-feira, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, admitiu que o programaae aposta esportiva appinteriorização precisa ser aprimorado, mas disse que a União não pode impor a outros Estados que aceitem os venezuelanos.
Noites no chão e famílias sem ajuda
Nesta semana, as calçadas e espaços antes ocupados por imigrantesae aposta esportiva appPacaraima se mantiveram vazios apósae aposta esportiva appexpulsão no sábado passado.
A BBC News Brasil acompanhou um grupo com dezenasae aposta esportiva appimigrantes que têm dormido na zona neutra entre os dois países desde então. Quando a luz do dia começa a cair, eles se dirigem para o trecho além da fronteira brasileira e buscam lugares para dormir no trecho intermediário que separa a entrada do Brasil e da Venezuela. Alguns ao relento, sob as árvores esparsas na vegetaçãoae aposta esportiva appsavana; outros sob um galpão venezuelano próximo à aduana do ladoae aposta esportiva applá.
Entre as dezenasae aposta esportiva apppessoas esticando lençóis e toalhas para dormir no chão do galpão estava Amparo Delgado. Ela chegou ao Brasil com outros 11 membrosae aposta esportiva appsua família.
O grupo havia dado entrada à documentação brasileira no centroae aposta esportiva apptriagem e acolhimento montado pelo governo federal, ONGs e organizações internacionais na entrada do Brasil. O processo, porém, leva alguns dias - e a solução encontrada foi dormir na zona neutra. Em uma tigela sem tampa, ela levou um poucoae aposta esportiva appágua potável do banheiro do centroae aposta esportiva apptriagem, para que pudessem escovar os dentes antesae aposta esportiva appdormir.
"Estamos aqui porque não temos dinheiro para pagar um hotel nem conhecidos para quem pedir ajuda", explicou Amparo. "E, com a situação com a sociedade civilae aposta esportiva appPacaraima, não queremos nos arriscar a dormir lá."
Ela é mãe solteiraae aposta esportiva apptrês filhos, mas veio para o Brasil sem as crianças, que ficaram com a mãe. Sua esperança é conseguir um emprego para poder enviar dinheiro para casa. Ela diz que muitos conterrâneos têm medoae aposta esportiva appsair do país e ser taxadosae aposta esportiva apptraidores à pátria.
"Mas a verdade é que a situação na Venezuela está impossível. Não tivemos opção se não vir para cá para tentar uma vida melhor", lamenta.
Medoae aposta esportiva appagressões
Ao longo da semana, moradoresae aposta esportiva appPacaraima se mostraram irritados e incompreendidos com a forma como as notícias sobre as agressões se disseminaram no Brasil e no exterior.
"Eles são queridos na cidade", diz Iolandaae aposta esportiva appOliveira,ae aposta esportiva app43 anos. "Mas você sabe que tem o bom e tem o ruim. A gente estava com medoae aposta esportiva appandar no centro, havia muita droga, muita cachaça. Agora amenizou um pouco", considera. Para ela, "a mídia aumentou as coisas".
Mas imigrantes na cidade lembram as agressões com um mistoae aposta esportiva appmedo, revolta e o desespero que sentiram ao ver suas coisas sendo destruídas.
Andando pela rua com seus três filhos,ae aposta esportiva app4, 5 e 7 anos, Felix Eduardo Gonzalez disse que todos os seus pertences foram tirados do galpão onde estava morando com a família - e viraram cinzas.
"Agora tenho que ficar pedindo comida, porque os alimentos que tínhamos foram queimados, e fico perambulando pela rua com os meus filhos", afirmou.
Gonzalez carregava um prato com arroz e pedaçosae aposta esportiva appfrango que alguém lhe havia dado. Com garfadas alternadas, dividia a comida entre as três crianças. A menina mais nova dava pulinhos ao lado do pai, abrindo a boca e esperando aae aposta esportiva appvez.
"Se quiserem que eu vá embora, eu vou. Mas então que nos deem dinheiro para ir, porque o dinheiro que tínhamos foi queimado também", afirmou. "Até os sapatos perdi. Me deixaram descalço", disse, apontando para o parae aposta esportiva appchinelos tão gasto que só protegia metade da sola do pé.