Por que as mulheres do país com natalidade mais baixa do mundo não querem ter filhos?:
"Mais do que fazer parteuma família, eu gostariaser independente, viver sozinha e realizar meus sonhos", diz ela.
Yun-hwa não é a única jovem coreana que acredita que carreira e família são duas opções excludentes entre si.
Leis buscam proteger mulheres que querem ser mães
A Coreia do Sul tem leis destinadas a evitar que as mulheres sejam discriminadas porque engravidam ou simplesmente por terem uma idadeque esta é uma possibilidade. Mas, na prática, há sinaisque as normas não necessariamente têm efeitos na realidade.
A históriaChoi Moon-jeong, uma mulher que mora nos subúrbiosSeul, é uma poderosa ilustração desse problema.
Quando ela disse ao seu chefe que teria um filho, a reação do interlocutor foi chocante.
"Ele falou: 'Quando você tem um filho, ele se torna prioridade e a empresa ficasegundo plano. Como você poderá trabalhar?", lembra a coreana.
"E ficou repetindo a mesma pergunta."
Naquela época, Moon-jeong trabalhava como contadora. Quando chegou à época mais atarefada do ano, o chefe lhe passou ainda mais atribuições. Após reclamar disso, Moon-jeong ouviu que não era dedicada.
Eventualmente, a tensão chegou ao limite.
"Comecei a gritar e, com todo o estresse, comecei a sofrer convulsões e não conseguia abrir os olhos", lembra.
"Meu colega chamou um paramédico e fui levada ao hospital."
Lá, ela ficou sabendo que o estresse estava causando sintomasum aborto espontâneo.
Quando a mulher voltou ao trabalho depoisuma semana no hospital, já recuperada, sentiu que seu chefe estava fazendotudo para tirá-la do trabalho.
De acordo com Moon-jeong, esse tipoexperiência é comum entre as mulheres no país.
"Há muitos casosque as mulheres se preocupam quando engravidam e têm que pensar com muito cuidado antesdar a notícia", diz.
"Muitas pessoas que conheço não têm filhos e não planejam tê-las".
O papel das mulheres no avanço sul-coreano
Atribui-separte à culturatrabalho árduo a incrível transformação que a Coreia do Sul experimentou nos últimos 50 anos - períodoque passoupaísdesenvolvimento para ser uma das maiores economias do mundo.
Mas Yun-hwa diz que o papel desempenhado pelas mulheres nessa transformação é muitas vezes negligenciado.
"O sucesso econômico da Coreia também dependeu muito dos baixos salários pagos aos operários, que eram emmaioria mulheres", afirma.
"Também (dependeu) do cuidado que as mulheres prestavam às famílias para que os homens pudessem ir trabalhar e se concentrar apenas nisso".
Agora, as mulheres estão fazendo cada vez mais os trabalhos antes ocupados por homens.
Mas, apesar dessas rápidas mudanças sociais e econômicas, a culturarelação às disparidadesgênero está mudando muito lentamente.
Yun-hwa destaca que, com o casamento, recai nas mulheres o papelcuidadora e provedora das famílias.
"Há muitos casosque, mesmo que a mulher tenha um emprego, quando ela se casa e tem filhos a criação deles depende completamente dela", explica. "Espera-se também que ela cuideseus sogros se estiverem doentes."
Em média, o homem sul-coreano passa 45 minutos por dia fazendo trabalho não remunerado, como cuidarcrianças,acordo com dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Para as mulheres, este tempo é cinco vezes maior.
"Minha personalidade não é a adequada para esse papelapoio", diz Yun-hwa. "Estou ocupada com minha própria vida."
Nem marido nem namorado
Não é que ela não esteja interessada somentecasar: Yun-hwa também não quer ter namorados.
Ela aponta, entre as razões para isso, o temorque acabe se tornando uma vítima da pornografiavingança, um problema grande na Coreia.
Mas ela também demonstra preocupação com a violência doméstica.
No ano passado, o Instituto CoreanoCriminologia registrou que 80% dos homens do país consultadosuma pesquisa admitiram ter sido abusivos com suas parceiras.
Quando perguntei a Yun-hwa sobre a visão que os homens teriam das mulheres sul-coreanas, ela respondeu com uma palavra: escravas.
A decisãoYun-hwanão se casar reflete uma tendência mais geral: a taxacasamentos na Coreia do Sul está no seu ponto mais baixo desde que os registros começaram a ser feitos (5,5 por 1.000 pessoas, contra 9,21970).
No que diz respeito à fertilidade, apenas Cingapura, Hong Kong e Moldávia têm uma taxafertilidade tão baixa quanto a Coreia do Sul.
Custo econômico da maternidade
Outro fator que influencia as mulheres a não serem mães é o custo disso. Se por um lado a educação é gratuita, fornecida pelo Estado, a competitividade nas escolas faz com que os pais tendam a investirprofessores particulares.
Todos esses ingredientes combinados contribuem para um novo fenômeno social na Coreia do Sul: a chamada Geração Sampo. "Sampo" significa deixarter três coisas: relações sentimentais, casamento e filhos.
Yun-hwa diz que não rejeitou estas três coisas, mas escolheu não optar por elas. Ela não conta se tentará permanecer solteira ou se procurará relações com mulheres.
Mas, se você fala com sul-coreanos das gerações anteriores sobre fertilidade, a atitude é muito diferente. Eles consideram pessoas como Yun-hwa muito individualistas e egoístas.
Uma mulhercerca60 anos com quem falei me diz que tem três filhas com cerca40 anos. Nenhuma quer ter filhos.
"Deveria haver um sensodever para com o país", diz outro. "Estamos muito preocupados com a baixa taxafertilidade".
Yun-hwa e suas contemporâneas, filhasum mundo globalizado, não estão convencidas.