As polêmicas 'geladeiras' onde imigrantes ficam presos na fronteira dos EUA com o México:
São centrosdetençãocurto prazo próximos à fronteira, onde os detentos não podem permanecer mais72 horas, segundo diretrizes do governo americano.
Por anos, no entanto, organizaçõesdireitos humanos têm denunciado que os detentos passam dias ou meses ali, sofrendo com temperaturas extremamente frias, sem camas nem serviços sanitários adequados.
O governo americano, porvez, afirma que a estadia dos detentos não supera as 72 horas e que as temperaturas são mantidas"nível razoável e cômodo tanto para detidos como para funcionários", segundo um manualpráticas enviado pela CBP à BBC News Mundo, o serviçoespanhol da BBC.
O apelido "geladeira" é usado frequentemente por migrantes latino-americanos que passaram por ali.
Mas é difícil saber exatamente como são as condições das celas, uma vez que o acesso ao local é restrito a funcionários.
Luz branca
Jenny conta que, logo ao chegar ali, "me tiraram tudo": seus documentos pessoaisEl Salvador, um brinquedoseu filho, dinheiro e peçasouro que portava para o casoprecisar vender para ter mais recursos para a viagem.
Ela e o filho passaram quase quatro dias no mesmo ambiente com outras dez mulheres e seus filhos, conta.
"Nos deram algo que parecia papel alumínio como lençóis", diz ela. "Havia colchonetes no piso, fininhos, como um plástico."
Há quem diga que a sensaçãofrio vem do contraste com as altas temperaturas do deserto lá fora, ou para atender as demandas dos funcionários dos centros, que precisam usar uniformes e coletes, a despeito do calor.
Mas há relatos, negados pela CBP,que seria uma formapunir os imigrantes.
Segundo Jenny, havia também sempre uma luz branca acesa na cela.
A descrição coincide com uma feita2016 pelo Conselho AmericanoImigração (AICinglês): "Em geral, são salas pequenas, com bancoscimento e sem camas".
Os que chegam ali são os que foram detidos primeiro pela patrulhafronteira ou ao longo da divisa, sob suspeitaatividade ilícita, entrada ilegal nos EUA ou presença no país sem status migratório adequado.
A ideia é que os detentos permaneçam no centro pelo menor tempo possível, segundo o próprio CBP, enquanto seus casos correm na Justiça e é tomada uma decisão sobre seus destinos.
A crise2014
Os questionamentos sobre as condições das celas cresceram a partir2014, por conta dos grandes fluxosmigrantes menoresidade sem documentos que chegaram aos EUA, explica Astrid Domínguez, diretora do CentroDireitos na Fronteira da União AmericanaLiberdade Civis (ACLU,inglês).
"Naquele ano, as denúncias não foram isoladas. Começamos a ver que havia muita gente detida sob condições abusivas, que incluem a temperatura fria extrema", diz.
Domínguez visitou diversas dessas instalaçõesnome da ACLU entre 2014 e 2016.
Ela diz ter visto pessoas dormindo no piso, cobrindo-se com mantas térmicas, e agentes agasalhados por conta das baixas temperaturas.
Imagens
Foi2016, no entanto, que imagens captadas por câmerassegurançaum desses centros deram pistas mais claras sobre o ocorrido ali dentro.
O CBP tornou as imagens públicas depois que um grupomigrantes processou o órgão pelas condições desses locais.
As fotos mostram mulheres, homens e criançascelas para migrantes na cidadeDouglas, Arizona,setembro2015.
O processo, movido com a assessoria da ACLU e da AIC, diz que os migrantes foram detidos"celas sujas, geladas e sobrepovoadas, ao longodias".
Denunciou, ainda, que eles não tiveram atenção médica apropriada nem acesso a itens básicoshigiene, como sabonete, fralda e papel higiênico suficiente.
O caso ainda tramita na Justiça, mas uma ordem judicial preliminar,dezembro2017, estabeleceu que os detidos nas celas do Arizona devem ter acesso a colchonetes e artigoshigiene pessoal.
O próprio governo, por intermédio do EscritórioResponsabilidade Governamental dos EUA, constatou casosdetenções superiores a 72 horas.
Um relatório2016 recomendou à CBP que monitorasse "os dados sobre a quantidadetempo que as pessoas ficam sobcustódia".
E agora?
O manualpráticasdetenção do CBP é2015, quando Barack Obama ainda era presidente.
Mas há quem se pergunte se o endurecimento das políticas migratórias sob Donald Trump mudou algo na operação desses centros.
Até o momento não houve anúncios oficiais a respeito do funcionamento desses centros, mas a morte,maio,uma migrante centro-americana voltou a lançar luz sobre as "geladeiras".
Ativistas denunciaram que Roxana Hernández, que tinha HIV, ficou doente após passar cinco diasum centrodetençãocurto prazoSan Diego, na Califórnia.
"Ela passou frio, não teve alimentação adequada ou atenção médica necessária, com as luzes acesas as 24 horas do dia, presa", dizem gruposdireitos humanos.
As autoridades, porvez, afirmaram que Hernández recebeu atendimento médico quando precisou dele.