Os acampamentos para ex-detentos condenados por abuso sexual que não têm onde morar nos EUA:apostar no palmeiras

Luis Concepción

Crédito, Lioman Lima/BBC Mundo

Legenda da foto, Luis Concepción,apostar no palmeiras74 anos, vive desde 2014apostar no palmeirasum acampamento para agressores sexuaisapostar no palmeirasMiami

Mas ali, na esquinaapostar no palmeirasuma rua ao norteapostar no palmeirasMiami, onde viveapostar no palmeirasuma barraca, rodeado por latasapostar no palmeirasconserva, embalagens vazias e lixo, ele não tem como carregar o aparelho naquele momento.

Barracas

Crédito, Lioman Lima/BBC Mundo

Legenda da foto, Muitos vivemapostar no palmeirasbarracas improvisadas com lonas nesta zona industrial, ao norte da cidadeapostar no palmeirasMiami

"Nós compramos juntos um gerador, que é ligado à noite, mas agoraapostar no palmeirasmanhã um rapaz que também estava aqui o levou porque precisava dele", afirma, enquanto fuma e espanta as moscas que pousam insistentemente sobre seu rosto.

O "nós" ao qual Concepción se refere são os maisapostar no palmeiras270 abusadores sexuais que vivem "oficialmente" no local,apostar no palmeirasum acampamento improvisado com lonas, pedaçosapostar no palmeirasmadeira, móveis velhos e outros objetos doados ou encontrados no lixo.

Muitos vivemapostar no palmeirasbarracasapostar no palmeirascamping, onde acumulam poucos pertences. Alguns poucos têm carros ou trailers, com os quais se locomovem pela cidade durante o dia, ainda que à noite tenham que voltar.

Outros dormem ao relento, sobre tábuas ou colchonetes, e guardam suas coisasapostar no palmeirasmalas velhas ou carrinhosapostar no palmeirassupermercado.

Camas

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Legenda da foto, Outros dormemapostar no palmeirascolchonetes que estendem na rua ouapostar no palmeirastábuasapostar no palmeirasmadeirasapostar no palmeirasrecobrem com mantas

A maioria esteve presa por abuso sexualapostar no palmeirasmenores.

Os crimes que cometeram vão desde consumirapostar no palmeiraspornografia infantil ou manter relações sexuais com uma parceira menorapostar no palmeirasidade até despir-se dianteapostar no palmeirascrianças, tocá-lasapostar no palmeirasforma obscena ou estuprá-las.

Todos já cumpriram suas penasapostar no palmeirasregime fechado.

Mas as leisapostar no palmeirasMiami, as mais rigorosas nesse sentido nos Estados Unidos, estabelecem que os condenados por abusoapostar no palmeirasmenores, ainda que tenham cumprido suas sentenças, têmapostar no palmeirasresidir, até o fim da vida,apostar no palmeirasum local que esteja pelo menos 600 m distanteapostar no palmeirasuma escola, áreaapostar no palmeirasrecreação, jardimapostar no palmeirasinfância ou paradaapostar no palmeirasônibus escolar.

Móveis

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Legenda da foto, Alguns usam móveis velhos doados ou encontrados no lixo

"Depois que saem da cadeia, que terminamapostar no palmeirasetapa probatória, que cumprem com tudo o que se supõe que devem cumprir, se deparam com estas excessivas restrições que os deixa praticamente sem lugar para viver. E o mais lamentável é que este crime os segue para o restoapostar no palmeirassuas vidas", afirma Nancy Abudu, diretora jurídica da Associação para as Liberdades Civis (ACLU, na siglaapostar no palmeirasinglês) na Flórida.

A medida, tomada na sequência do caso dramáticoapostar no palmeirasuma menor que foi estuprada e queimada vivaapostar no palmeiras2005, transformou a cidadeapostar no palmeirasum lugar praticamente inabitável para os ex-condenados.

Poucos lugares cumprem os requisitos, e as opções se reduzem ao Aeroporto Internacionalapostar no palmeirasMiami, ao Everglades, uma regiãoapostar no palmeiraspântano cheiaapostar no palmeirascrocodilos que recobre grande parte do Estado, e outras regiões distantesapostar no palmeirastudo, como a ruaapostar no palmeirasque Concepción vive,apostar no palmeirasuma zona industrial na cidadeapostar no palmeirasHialeah, no norte do condadoapostar no palmeirasMiami Dade.

Sua permanência ali, contudo, também estáapostar no palmeirasrisco.

O departamento sanitário declarou no mês passado que as condiçõesapostar no palmeirassalubridade nas barracas contituem um risco à saúde pública e que o acampamento, considerado um dos maiores desse tipo no país, deve ser desalojado.

O caso chegou inclusive à Justiça na semana passada, mas a decisão foi mantida.

Acampamento

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Legenda da foto, Alguns vivem há maisapostar no palmeirascinco anos no acampamento

As leis do Estado ainda proíbem que os ex-condenados pernoitem na rua, mesmo que, diante dos altos preçosapostar no palmeirasaluguelapostar no palmeirasMiami, um dos lugares mais caros dos EUA, o centro da cidade se transforme à noiteapostar no palmeirasdormitório para centenasapostar no palmeiraspessoas que não têm para onde ir.

A incerteza paira como uma nuvem pesada sobre o acampamentoapostar no palmeirasHialeah. Ninguém ali parece ter ideia dos lugares a que essas pessoas possam ser levadas e as autoridades não têm alternativa para lhes oferecer.

Sem oportunidades

Não é a primeira vez que uma situação desse tipo acontece. Em 2010, ex-condenados foram desalojadosapostar no palmeirasuma ponte na famosa praiaapostar no palmeirasMiami Beach, sob a qual viviam desde 2005, quando a nova lei foi aprovada.

Desta vez, os moradores do acampamento saíram para protestar nos lugares afastados que lhes foram propostos como alternativas para um novo assentamento, nos limites da cidade com os pântanosapostar no palmeirasEverglades.

"Ninguém nos querapostar no palmeiraslugar algum. Um criminoso que matou, um traficante, eles cumprem suas penas e seguem com suas vidas. Mas nós não temos essa oportunidade. É uma morteapostar no palmeirasvida", lamenta Concepción.

Ronald Book, diretor do Homeless Trust - órgão ligado ao governo do condadoapostar no palmeirasMiami Dade que lida com a questãoapostar no palmeirasmoradia para os sem-teto -, considera que a situação se deve ao tipoapostar no palmeirasinfração que esses ex-presos cometeram.

"Nos Estados Unidos, diferentementeapostar no palmeirasoutros países, tratamos as pessoas que cometem crimes sexuaisapostar no palmeirasuma forma distinta daapostar no palmeirasqualquer outro delito. Quando alguém rouba a infânciaapostar no palmeirasum menor por meio do estupro, ele destrói a vida da vítima, e vai ser tratadoapostar no palmeirasforma diferente", ele diz.

"Os que vendem drogas para menores também lhes destroem a vida, mas isso se pode corrigir. Uma pessoa que matou alguém pode se reabilitar, é possível fazer com que se redimam desse comportamento, mas não há como fazer o mesmo com os predadores sexuais. Não há como mudar suas condutas. Não tem cura", opina.

Acampamento

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Legenda da foto, Os ex-detentos afirmam que não têm alternativasapostar no palmeirasreintegração à sociedade

Abudu, por outro lado, considera o argumentoapostar no palmeirasque essas pessoas não podem se reabilitar "insustentável" e acredita que a situação a que estão expostas é "inconstitucional".

"As leis também dizem que não se pode apagar as pessoas, não se pode ter uma sociedade onde algumas pessoas simplesmente não tenham um lugar para onde ir. Reconhecemos que eles cometeram crimes e foram condenados por isso. Mas agora precisamapostar no palmeirasauxílio social para refazerem suas vidas", considera.

Daniel Fundora

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Legenda da foto, Daniel Fundora chegou ao acampamento um dia antes da confirmação do desalojamento

Primeiro dia no acampamento

Daniel Fundora chegou um dia antes da confirmação do desalojamento pela Justiça.

Apesar da polêmica sobre o destino do acampamento, ele afirma que foi a própria polícia que o aconselhou a ir para lá.

"Não há muitos lugares para nós e, quando você sai (da prisão), eles mesmos te dão esse direcionamento. Me deram ontem a condicional, mas na verdade eu preferia ter ficado preso. Era melhor do que estar aqui", diz.

O que mais o incomoda, afirma, é a tornozeleira eletrônica.

Tornozeleira

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Legenda da foto, Muitos usam tornozeleira eletrônica

Como quase todos ali, ele tem um dispositivo no tornozelo que permite às autoridades saberemapostar no palmeiraslocalizaçãoapostar no palmeirastempo real - ainda que alguns, como Luis Concepción, não possam se mover sem uma cadeiraapostar no palmeirasrodas.

Ao sair da prisão, onde esteve por uma condenação no casoapostar no palmeirasestuproapostar no palmeirasum adolescenteapostar no palmeiras14 anos, Fundora, assim como a maioria, não teve muitas opções alémapostar no palmeirasviver na rua.

Porapostar no palmeirascondição, não são admitidos nos albergues para sem-teto administrados pelo condado, e a maioria dos donosapostar no palmeirasimóveis para alugar se recusam a aceitar ex-condenados por abuso sexualapostar no palmeirasmenor.

O mesmo acontece com as oportunidades para encontrar trabalho e voltar a ter uma fonteapostar no palmeirasrenda. O auxílio social recebido pela maioria se reduz a um vale-refeição, com o qual podem não comprar produtosapostar no palmeirashigiene ou comida pronta, e no acampamento não têm como cozinhar.

Durante o dia eles podem circular livremente. Muitos podem, inclusive, se aproximarapostar no palmeiraslocais onde há crianças.

Os que têm casa ou família têm permissãoapostar no palmeirasvisitá-las e os poucos que conseguem encontrar emprego depoisapostar no palmeirassair da prisão podem ter uma rotinaapostar no palmeirastrabalho.

De sete da noite às sete da manhã (para alguns,apostar no palmeiras10 da noite às seis da manhã), porém, devem pernoitar somente nos poucos locais que lhes são permitidos pela lei.

Banheiros químicos

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Legenda da foto, As autoridades instalaram há algum tempo banheiros químicos nas imediações

Fundora, que tem 45 anos, diz que não quer ficar no acampamento, mas não sabe o que pode fazer para sair da situaçãoapostar no palmeirasque está.

Como todos os seus novos "vizinhos", seu nome apareceapostar no palmeirasuma baseapostar no palmeirasdadosapostar no palmeiras"agressores sexuais" que mostra, inclusive,apostar no palmeiraslocalização.

Seus documentos oficiaisapostar no palmeirasidentificação os definem como "predadores sexuais" - algo que, afirma, pode ser um obstáculo para que ele consiga refazerapostar no palmeirasvida, encontrar trabalho ou moradia.

Identificacion
Legenda da foto, Depoisapostar no palmeirassaírem da prisão, os ex-detentos recebem um documentoapostar no palmeirasidentificação que os qualifica como 'predadores sexuais'

Chega a noite

À noite, o acampamento até então vazio fica repletoapostar no palmeirassombras que se movem entre as barracasapostar no palmeirascamping.

A maioria das tendas está às escuras. Em algumas, se vê um poucoapostar no palmeirasluz.

Algunsapostar no palmeirasseus residentes falam, bebem e fumam nas esquinas. O cheiro éapostar no palmeirasurina eapostar no palmeirasmaconha.

Acampamento

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Legenda da foto, Alguns vão apenas à noite para o acampamento

Azari González, que foi condenado aos 18 anos por estuprar uma meninaapostar no palmeiras12, afirma que este é o momentoapostar no palmeirasque há mais pessoas no acampamento, porque os que têm casa ou carro vêm apenas passar a noite.

A maioria dos que estavamapostar no palmeirasmanhã está agoraapostar no palmeirasseus veículos. Alguns estão acompanhadosapostar no palmeirasmulheres.

Carregando seu telefone na barracaapostar no palmeirasLuis Concepción, ali próximo, há um jovem. Está com fonesapostar no palmeirasouvido e vê vídeosapostar no palmeirasmulheres nuas. Está alheio a tudo, inclusive a quem está a seu redor.

Havia chegado um dia antes ao acampamento. Não fala muito.

O mais velho o olha e diz que ele passa o dia assim, vendo "essas coisas" no telefone. Conta que foi preso por consumir pornografia infantil. Reincidiu há pouco tempo e voltou à prisão.

Concepción mudaapostar no palmeirasassunto e conta que finalmente conseguiu carregar seu "GPS" com o pequeno gerador que agora os demais usam para carregar os celulares.

Ele conta que, naquela tarde, eles foram notificadosapostar no palmeirasque o acampamento seráapostar no palmeirasfato desalojado.

Não sabe para onde lhes dirão para ir, mas afirma que,apostar no palmeirasqualquer forma, se movimenta com dificuldade e que não se importa para onde o mandem, que já não tem motivos para viver.