Tive maisbet36t510 tentativasbet36t5suicídio, diz ex-jogador inglês que denunciou escândalobet36t5abuso sexual no futebol:bet36t5

Andy Woodward

Crédito, AFP

Legenda da foto, Em visita ao Brasil, Woodward defende a importânciabet36t5falar sobre o tema para estimular mais denúncias por aqui

O convíviobet36t5Andy com Bennell foi além do futebol - o ex-técnico entrou na famíliabet36t5sua vítima.

"Bennell começou a namorar a minha irmã. Eles se casaram. Eu disse para ela que ela não deveria fazer isso, mas não consegui dizer por quê. Tive que assistir ao meu abusador se casando com a minha irmã" contou Andy Woodward.

Andy Woodward

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Andy Woodward jogava na defesa e afirma que os abusos o traumatizaram e arruinarambet36t5carreira

A pressão sobre o então jogador piorou quando o casal teve o primeiro filho - um menino. "Ele festejou quando nasceu meu sobrinho. Foi isso que me fez denunciar. Quando meu sobrinho fez 8 anos, eu percebi que precisava escolher entre a vida dele e a minha carreira, porque ele seria a próxima vítima - e eu tive que escolher meu sobrinho."

Bennell foi condenado pela primeira vezbet36t51994 por abuso sexual nos Estados Unidos, mas depois seria julgado por outras dezenasbet36t5acusações na mesma linha que surgiram no Reino Unido - incluindo abet36t5Andy - e hoje acumula uma penabet36t5maisbet36t530 anos na prisão.

"Ele arruinou minha vida. Eu tive problemas gigantescosbet36t5relacionamento, tive quatro casamentos, tive inúmeros problemas na minha vida adulta. Minha carreira acabou. Eu tentei o suicídio pelo menos umas 10 ou 15 vezes. E não consegui falar sobre isso até os 27 anos - tem gente que passa a vida sem conseguir, que leva esse segredo para o caixão", desabafou Andy.

Pode parecer um caso extremo,bet36t5crime bárbaro e raro no futebol. Mas o hoje ex-jogador britânico garante que o abuso sexual no esporte mais popular do mundo é muito mais comum do que se pode imaginar - um assunto que ainda é um tabu gigantesco silenciado pelo medo que os atletas têmbet36t5falar qualquer coisa e arruinarem suas carreiras por isso.

Andy Woodward fez a denúncia contra Bennell aos 27 anos, mas só dois anos atrás, quando tinha 42, conseguiu falar sobre issobet36t5público e se tornou um ativista pelo combate ao abuso sexual no futebol. Foi para isso que ele esteve no Brasil nesta semana, para participarbet36t5um evento promovido pelo Sindicato dos Atletas do Estadobet36t5São Paulo sobre a campanha "Chegabet36t5Abuso", que tem por objetivo conscientizar jogadores e incentivar as denúncias desses casos no futebol.

Tabu

Depois que Andy Woodward falou publicamente sobre o que sofreu, dezenasbet36t5ex-jogadores britânicos também revelaram terem sido vítimasbet36t5Bennell ou outros técnicos naquilo que se tornou o maior escândalobet36t5abuso sexual da história do futebol inglês.

Andy e outros jogadores que denunciaram abusos

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Andy e outros ex-jogadores que denunciaram abusos no futebol britânico - eles fundaram a The Offside Trust, uma organização que visa combater o abuso sexual no esporte

Os casos não são isolados, mas o tabubet36t5torno do futebol faz com que eles sejam silenciados e nunca venham à tona. O medobet36t5ver a carreira acabando e o sonho desmoronando com uma eventual denúnciabet36t5um técnico ou empresário é algo que mantém os jogadores calados por muito tempo.

"O que você vê é que quando há um pedófilo, eles são muito inteligentes na maneirabet36t5agir. Não importa se é na Inglaterra ou no Brasil, os pedófilos agem no futebolbet36t5uma maneira muito inteligente", disse Andy.

"Eu era um menino vulnerável, mais quieto. Primeiramente ele identificou essa característica. Aí ele conquistou meus pais, indo até a casa deles e dizendo que eu era um excelente jogador, que tinha um futuro brilhante. E me convidou para ficar na casa dele, dizia que estava apostando na minha carreira, que iria trabalhar comigo nisso. Duas semanas depois, tudo começou", contou.

Casos no Brasil

Se na Inglaterra, os casosbet36t5abuso sexual no futebol começaram a surgir agora, no Brasil eles ainda são bastante ocultos. Não há estatística oficialbet36t5denúncias oubet36t5condenações e quase ninguém fala publicamente sobre isso. Na semana passada, porém, um caso denunciado envolvendo o coordenador das categoriasbet36t5base do Santos chamou a atenção - Ruan Petrick Aguiarbet36t5Carvalho,bet36t519 anos, acusa Ricardo Criveli, conhecido como Lica,bet36t5ter abusado sexualmente dele quando o levou para o Santos aos 11 anosbet36t5idade.

O Santos afirmou, por meiobet36t5nota, que "vai contribuir plenamente para as investigaçõesbet36t5andamento. Tão logo soube do caso, Lica foi afastado pelo Comitêbet36t5Gestão do Clube e assim se manterá até que as autoridades competentes finalizem seu parecer."

Para Andy Woodward, o fatobet36t5o futebol ser muitas vezes "a única esperança" dos garotos no Brasil, que embet36t5maioria têm uma origem humilde e apostam nele para uma mudançabet36t5vida, faz com que o poder que os abusadores detêm sobre os atletas aqui seja ainda maior. Se os casos não surgiram ainda, é porque o medobet36t5jogarem fora esse sonho ainda prevalece sobre as vítimas.

Andy Woodward
Legenda da foto, Ex-jogador britânico falou pela primeira vez publicamente sobre o abuso que sofreubet36t52016

"O futebol dá poder para aquele técnico que comanda aquele time, e ele tem o controle. Esse controle é maior do quebet36t5qualquer outro setor, porque o futebol, especialmente no Brasil, é o sonhobet36t5todo garoto, é a única esperança deles. Esse poder dos abusadores sobre uma criança é imenso e eles sabem que têm controle sobre aquele menino, porque eles controlam o sonho dele", afirmou Andy.

Além disso, o ex-jogador ressalta que há um "estigma" preconceituoso com a homossexualidade no futebol e isso silencia ainda mais os meninos que são vítimas desse tipobet36t5abuso.

"Acho que na sociedadebet36t5geral os meninos vão achar mais difícil falar, porque meninos são ensinados a esconderem suas emoções. E há um elemento no futebol: esse é um jogo para homens, como eu posso falar sobre abuso? Por isso que foi importante pra mim falar sobre isso, mostrar que eu era um jogadorbet36t5futebol e passei por isso e está tudo bem, então você pode se sentir à vontade para falar."

Por tudo isso, Andy defende a criaçãobet36t5um "ambiente seguro" para os jogadores poderem denunciar sem medobet36t5sofrerem represálias - uma ouvidoria anônima nos clubes ou nas federações, por exemplo, que pudesse registrar e apurar as denúncias.

Combate aos abusos

No Brasil, ainda há bastante resistência por parte dos clubesbet36t5falarem abertamente sobre esse assunto. Mas as coisas têm mudado nos últimos anos. No próprio Santos, há uma abordagem sobre educação sexual e abuso com as categoriasbet36t5base por parte da assistência social do clube.

"A sexualidade no Brasil ainda é um tabu, tudo o que se fala sobre isso é uma quebrabet36t5paradigmas. Mas nosso trabalho é orientar esses meninos como medida protetiva para que eles saibam discernir o que pode e o que não pode fazer com o corpo deles. E reforçar que, para eles se tornarem atletas, não precisam passar por isso", disse à BBC Silvana Trevisan, assistente social da base do Santos (categorias sub-11 ao sub-23).

Outro trabalho que tem sido feitobet36t5alguns clubes é uma palestra promovida pelo Sindicato dos Atletasbet36t5São Paulo para debater o tema do assédio, abuso e exploração sexual no futebol. Quem fala sobre o tema é o ex-jogador Alê Montrimas, que começou a carreira na Portuguesa e passou por times do interior paulista antesbet36t5encerrar a carreirabet36t52011. Ele conta que foi vítimabet36t5assédio sexualbet36t5diversas equipes ao longo da carreira e, ao encerrá-la, decidiu falar sobre isso para quebrar alguns tabus.

Andy Woodward

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Legenda da foto, Andy Woodward veio ao Brasil e falou para jovensbet36t5categoriasbet36t5basebet36t5alguns clubes daqui sobre os abusos que sofreu

"Em uma ocasião, eu estava num carro com mais 4 jogadores, eu no banco da frente, e o cara que estava conosco veio passar a mãobet36t5mim. Era um cara muito rico, levava a gente para comerbet36t5lugar legal, fazia agrado, era do meio do futebol. Eu tinha 17 anos, já tinha consciência que era errado, eu poderia ter tido várias reações. Mas na hora eu congelei", contou.

Alê conta que esse "método" usado por abusadores para atrair meninos aspirantes a jogadoresbet36t5futebol é muito comum e considerado "normal" no meio. "Às vezes oferecem comida, às vezes é chuteira, às vezes é uma vaga no time".

Ale fala sobre campanha Chegabet36t5Abuso

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Sindicato dos Atletas criou camapanha 'Chegabet36t5Abuso' para combater o problema no futebol brasileiro; Alê Montrimas diz que 'assédio é prática considerada normal no futebol brasileiro'

Hoje, Alê já visita dezenasbet36t5clubes do Brasil para falar com meninos das categoriasbet36t5base sobre isso e orientá-los. "Nosso principal objetivo é mostrar para eles que isso não é normal. Não tem que passar por isso para atingir o sonhobet36t5ser jogador", afirmou.

O objetivobet36t5Andy Woodward ao falar abertamente sobre os abusos que sofreu é exatamente o mesmo que obet36t5Alê: os dois acreditam que falar sobre isso é a melhor maneirabet36t5estimular denúncias e combater o problema.

"Falar sobre isso mudou minha vida. Eu me sinto mais forte agora e consigo falar e mostrar que sobrevivi. Não tem sido fácil, mas eu acredito que estou aqui por um motivo, e esse motivo é mudar a realidade para essas crianças para que elas não tenham que passar pelo que eu passei", concluiu o ex-jogador britânico.