Por que a palavra 'descobrimento' renovou polêmicapix bet365 cadastroPortugal sobre a conquistapix bet365 cadastroterras como o Brasil:pix bet365 cadastro

Mapa antigo, datadopix bet365 cadastro1870, mostra a América do Sul

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Legenda da foto, Mapa antigo, datadopix bet365 cadastro1870, mostra a América do Sul; períodopix bet365 cadastroexpansão marítimapix bet365 cadastroPortugal tem passado por revisão crítica

"De início, estamos nos contrapondo à denominação, e não ao museupix bet365 cadastrosi. Ao nomear, define-se a forma como a história será apresentada ao público. Neste caso, falarpix bet365 cadastro'descobrimento' representa uma visão histórica eurocêntrica. As terras conquistadas por Portugal já existiam, tinhampix bet365 cadastroprópria história. Em vezpix bet365 cadastrodescobertas, elas foram invadidas, por vezes destruídas e palco para genocídios históricos, como o das populações indígenas no Brasil", afirmoupix bet365 cadastroentrevista à BBC Brasil a professora Junia Furtado, historiadora da Universidade Federalpix bet365 cadastroMinas Gerais (UFMG) e signatária da carta.

Culpa e orgulho

Ainda segundo o manifesto, a escolha desse nome representaria "recorrer a uma expressão frequentemente utilizada durante o Estado Novo (português) para celebrar o passado histórico", algo que seria incompatível com "o Portugal democrático".

O Estado Novo marcou o período do regime autoritário que Portugal viveupix bet365 cadastro1933 a 1974, sob o comando na maior parte do tempopix bet365 cadastroAntôniopix bet365 cadastroOliveira Salazar - o que faz esta fase ser conhecida também como "salazarismo".

Monumento conhecido como 'Padrão dos Descobrimentos',pix bet365 cadastroLisboa

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Legenda da foto, Monumento conhecido como 'Padrão dos Descobrimentos',pix bet365 cadastroLisboa; conquistas portuguesas do século 15 foram exaltadas da monarquia ao salazarismo

Mas, para o historiador português João Pedro Marques, ainda que as conquistas do país europeu naquele período tenham sido celebradas pelo salazarismo, esta valorização vempix bet365 cadastroainda antes.

"Isso já era algo presente no final da monarquia e na República (proclamadapix bet365 cadastro1910). Na corrida à África (períodopix bet365 cadastroque o continente africano foi marcado por disputas e pela colonização por potências europeias), no final do século 19, evocou-se muito a história dos descobrimentos e o que seria uma vocação dos portugueses para se ligar a outros povos", diz Marques, para quem o nome do museu proposto não é um problema e gera disputas por motivos ideológicos.

"(A polêmica) é fruto da atuaçãopix bet365 cadastrogrupospix bet365 cadastroativistas que querem injetar esse sentimentopix bet365 cadastroculpapix bet365 cadastroPortugal", disse Marquespix bet365 cadastroentrevista à BBC Brasil. "Esse período é algo extraordinário para a alma portuguesa".

Em 2015, durante um evento, Fernando Medina falou sobre o seu projeto e evocou o passado do país.

"No nosso país não temos muitas histórias para contar ao mundo, mas temos uma grande história única a contar e chegou o momentopix bet365 cadastrodar a conhecer", disse, acrescentando que seu objetivo não era criar "um museu dos Descobrimentos, hegemônico", mas sim "um elemento que contribua para contar bem essa história".

A BBC Brasil tentou contato com Medina, mas a assessoriapix bet365 cadastroimprensa da Câmara Municipalpix bet365 cadastroLisboa (CML) afirmou que não foi tomada qualquer decisão sobre o projeto do museu: "Quando houver alguma informação relativamente a esta questão, ela será divulgada pela CML".

Revendo a história

Enquanto isso, o nome do museu tem sido tema frequentepix bet365 cadastrodebates entre historiadores e nos veículospix bet365 cadastroimprensa. Alguns pesquisadores têm até mesmo proposto alternativas ao nome, como "Museu da Viagem", "da Expansão" ou da "Interculturalidade".

Para Laurentino Gomes, autorpix bet365 cadastrobest-sellers sobre a história do Brasil, tais contestações fazem partepix bet365 cadastroum "revisionismo histórico" que coincide,pix bet365 cadastroPortugal, com dois processos históricos: a redemocratização, com a Revolução dos Cravos,pix bet365 cadastro1974, e a progressiva integração do país à comunidade europeia.

"Isso fez com que emergisse uma nova identidade portuguesa, que questiona o seu passado e se contrapõe profundamente à chamada história oficial propagada no período anterior, da ditadura salazarista. É sempre bom lembrar que a história é uma ferramentapix bet365 cadastroconstruçãopix bet365 cadastroidentidade", escreveu Gomes, por e-mail, à BBC Brasil.

"O esforçopix bet365 cadastrorevisão histórica está, portanto,pix bet365 cadastroacordo com um Portugal que busca se identificar cada vez mais com a Comunidade Europeia e seus valores, deixando no passado mitos e conceitos que os portugueses hoje julgam anacrônicos. Como resultado, acho que Portugal tem se tornando um país mais politicamente correto do que os seus vizinhos, tentando se ajustar ao discurso que fortalece a construção dessa nova identidade".

Mapa inscritopix bet365 cadastromármore representa caravela circulando no Oceano Atlântico

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Legenda da foto, Segundo escritor brasileiro, Portugal vem vivendo um 'revisionismo histórico' sobre seu passado

O escritor lembra, como outro exemplo deste revisionismo, protestos contra a colocaçãopix bet365 cadastrouma estátua do Padre Antônio Vieira no largo Trindade Coelho,pix bet365 cadastroLisboa. O padre, que na homenagem aparece rodeadopix bet365 cadastrotrês crianças indígenas, é visto por alguns portugueses como um defensor dos povos nativos, mas, por outros, como um representantepix bet365 cadastrosua dizimação e da perpetuação da escravidão africana.

De acordo com Gomes, essa revisão também é observada no Brasil, onde a redemocratização tem papel fundamental.

"Há uma tentativa, sob o regime democrático,pix bet365 cadastrodesconstruir a narrativa da história oficial que imperou durante os períodospix bet365 cadastroditadura e na qual se destacavam sempre os grandes feitos nacionais e seus heróis. Um exemplo desse revisionismo no Brasil envolve, por exemplo, o imperador Pedro I. Durante o regime militar, ele era celebrado como um herói marcial, como, por exemplo, no filme Independência ou Morte,pix bet365 cadastro1972, com Tarcísio Meira e Glória Menezes. Era um Dom Pedro que estavapix bet365 cadastroacordo com os ideais e a estética que os generais do regime militar queriam impor ao país numa épocapix bet365 cadastroMilagre Brasileiro e do lema 'Brasil, Ame-o ou Deixe-o'", diz o escritor.

"Com a redemocratização, Dom Pedro virou um herói bastante desqualificado, boêmio, mulherengo epix bet365 cadastrocaráter duvidosos, como aparece no filme Carlota Joaquina e na série Quinto dos Infernos".

'Achamento'

Para Gomes, contestações ao uso da palavra "descobrimento" no Brasil ainda estão restritas aos círculos acadêmicos e à militância dos partidos políticospix bet365 cadastroesquerda, mas já se reflete nos livros didáticos.

Já a historiadora Junia Furtado diz que, na academia, tais debates remontam aos anos 80 e 90,pix bet365 cadastroque novas correntes da historiografia inglesa e francesa influenciaram a produção brasileira. Ainda assim, segundo ela, as críticas não se refletiram,pix bet365 cadastro2000, na celebração no Brasil dos 500 anos da chegada dos portugueses ao país. Naquele ano, marcado por uma sériepix bet365 cadastroeventos sobre o fato histórico, a palavra "descobrimento" esteve por todo canto.

Entre os pesquisadores, alguns propõem novos termos, como, por exemplo, "achamento".

"A renovação da historiografia brasileira vem neste movimento da leitura dos ditos 'desclassificados'. Em contraposição à memória dos grandes feitos, dos heróis, passa-se a valorizar a história dessas populações. É pensar a história nãopix bet365 cadastrofora para dentro, maspix bet365 cadastrodentro para fora".