Quem são os 'incels' – celibatários involuntários –, grupo do qual fazia parte o atropeladorpix bet classicToronto:pix bet classic
pix bet classic Quando o canadense Alek Minassian atropelou um grupopix bet classicpedestres com uma van, matando dez pessoaspix bet classicToronto, no Canadá, a notícia correu rapidamentepix bet classicum grupo muito específico na internet: fórunspix bet classicdiscussão dos autodenominados "incels" - homens que não conseguem ter relações sexuais e amorosas e culpam as mulheres e os homens sexualmente ativos por isso.
O termo "incel" é um diminutivo da expressão "involuntary celibates", ou celibatários involuntários. A notíciapix bet classicque Minassian se autodeclarava "incel" virou o assunto principal dos fórunspix bet classicconversa desses homens na internet.
Pouco antes do ataque, Minassian havia postado empix bet classicpágina no Facebook um textopix bet classicque dizia: "a rebelião 'incel' já começou! Vamos derrotar todos os Chads (homens atraentes e sexualmente ativos) e Stacys (mulheres sexualmente ativas). Todos saúdem o cavalheiro supremo Elliot Rodger!"
Em 2014, Elliot Rodger matou seis pessoas a tiros e facadas, na Califórnia, se matandopix bet classicseguida. Ele tinha várias publicaçõespix bet classicredes sociais falando sobrepix bet classicfrustração por ser rejeitado e pregando ódio às mulheres. Num vídeo que postou no YouTube, Rodger reclamoupix bet classicainda ser virgem aos 22 anos e revelou nunca ter ao menos beijado uma menina. Ele disse ainda que era o "ideal e magnífico cavalheiro" e que não compreendia porque as mulheres não queriam ter relações sexuais com ele.
Ao planejar o assassinatopix bet classicmassa, que ele chamoupix bet classic"Dia da Retribuição", Rodger disse que "não tinha outra alternativa a não ser se vingar da sociedade" que lhe "negava" amor e sexo.
Quem são os "incel"?
Assim como no casopix bet classicRodger, o ataque feito por Minassian atraiu as atenções para o termo "incel" e para os homens que assim se classificam.
Eles não são um grupo organizado, mas se reúnempix bet classicfórunspix bet classicdiscussões na internet, onde falam sobrepix bet classicsolidão,pix bet classicinsegurança ou sobre a frustração por não conseguirem se relacionar.
Esses espaços, no entanto, estão longepix bet classicserem apenas grupospix bet classicapoio para pessoas com problemas parecidos: se tornaram recantos onde o ódio e a misoginia são livremente disseminados – já que os incels costumam colocar a culpa porpix bet classicfaltapix bet classicvida sexual nas mulheres, no feminismo, na própria aparência ou inadequação, nos pais, nos homens sexualmente ativos, na tecnologia, na 'cultura moderna'.
Os "incels" entraram oficialmente para a listapix bet classicgrupos radicais que disseminam discursopix bet classicódio do Southern Poverty Law Center, uma entidade americana que monitora grupos extreministas. Segundo a organização, os "incels" são uma nova formapix bet classicexpressãopix bet classicuma visãopix bet classicmundopix bet classicsupremacistas masculinos.
"A misoginia sempre existiu. Mas a internet possibilitou que essas pessoas se agrupem, procurem semelhantespix bet classicvezpix bet classicprocurar ajuda", explica a psiquiatra Isa Kabacznik, da Associação Americanapix bet classicPsiquiatria. "Ali eles encontram a possibilidadepix bet classicventilar essa frustração, mas acabam alimentando seus problemas."
O funcionamento disso é simples:pix bet classicvezpix bet classicserem encorajados a tentar superar as decepções e desapontamentos, os homens nesses grupos encontram uma subcultura que os incentiva a afundar na própria amargura, o que cria um ciclo viciosopix bet classicisolamento, decepção e ódio.
O universo dos "incels" é povoado por suas gírias próprias, seus vilões esterotipados e suas neuroses.
Homens atraentes e sexualmente ativos são chamadospix bet classic"chads". Mulheres sexualmente ativas são chamadaspix bet classic"stacys". Mulherespix bet classicgeral,pix bet classic"femoids" ou "roasties". Homenspix bet classicaparência mediana ganham o apelidopix bet classic"normies".
Há incitação direta para a práticapix bet classicestupros e outros tipospix bet classicviolência. Muitos são agressivos mesmo com quem demonstra empatia ou oferece ajuda.
"Você quer nos apoiar porque tem medopix bet classicser a próxima vítima. Patético. Você não pode salvar incels. Está feito, acabou", diz um usuário.
Algumas neuroses – como a ideiapix bet classicque todo homem normal está sendo enganado porpix bet classicnamorada, que na verdade o trairá com um "macho alfa" – são vistas como uma verdade que o resto do mundo não consegue enxergar . Eles chamam issopix bet classic"blackpill" (pílula preta).
Também há muitos posts sobre doenças como depressão e ansiedade e textos sobre desejopix bet classicsuicídio. No entanto, diz a psiquiatra, a misoginia, a inclinação para o ódio e para comportamentos destrutivos não pode ser justificada por doenças mentais.
"É preciso identificar quempix bet classicfato está doente e quem não está. A perturbação desses jovens pode estar relacionada com doenças e traumas, mas também está sendo alimentada pela ideologia", explica Kabacznik.
Onde eles se reúnem
Em novembro ano passado, após denúncias sobre o conteúdo violento e misógino, o site Reddit – que reúne grupospix bet classicdiscussão sobre diversos assuntos – baniu o "/r/incel", principal grupopix bet classicdiscussão dos "celibatários involuntários".
Mas outros similares continuam a todo vapor. O "/r/braincels" tem cercapix bet classic17 mil inscritos - embora não seja possível saber quantos são membros ativos e quantos apenas acompanham a movimentação da página por curiosidade. O "/r/incel" tinha 40 mil.
O Reddit não é o único espaço onde esse tipopix bet classiccomunidade se prolifera. Outros cantos - mais obscuros - da internet também abrigam homens solitários que se unem para falar dapix bet classicfaltapix bet classicvida sexual e se rotulam como "incels". Um deles é o fórum r9k, do site 4chan, que começou com um propósito diferente, mas acabou reunindo muitos homens que se descrevem como "celibatários involuntários". Outro é o site Incels.me.
Os textos costumam ser anônimos, já que não é preciso usar seu nome real nesse tipopix bet classicfórum.
Além da misoginia, há racismo e xenofobia. Um "incel" diz que mulheres "asiáticas e indianas são piores do que Hitler".
A escalada da agressividade no meio fez surgir também um grupopix bet classicdiscussão chamado "Incels Without Hate" (Incels sem Ódio) no Reddit – bem menor, com apenas 2 mil seguidores. Esse fórum é descrito como sendo um espaço para pessoas que têm dificuldadepix bet classicencontrar intimidadepix bet classicsuas vidas. "Ódio é estritamente proibido, mas isso não significa que o espaço precise ser sempre positivo."
"Nem todos incels odeiam mulheres. Eu pessoalmente acho que é minha culpa [não conseguir sexo], só não sei o que fazer", diz,pix bet classicinglês, um usuário brasileiro do site.
Apesar do nome e da descrição, o grupo também tem muitas demonstraçõespix bet classicmisoginia e incentivo a estupro. Em um post, um usuário que não é "incel" dá conselhos sexuais: "vá atrás das mulheres feias e bêbadas".
Radicalizaçãopix bet classicadolescentes
Muitos dos frequentadores desses fóruns são adolescentes que entram para procurar apoio e acabam sendo doutrinados pelo discursopix bet classicódio. Há postagens como "não sei como criar uma conexão com ninguém" e "ontem à noite foi muito difícil".
Quando um garoto fala sobre uma menina por quem ele tem uma queda, ouve a resposta: "odeio te dizer, mas ela está por aí f*dendo com um chad (homem sexualmente ativo)".
"Os mais jovens estão muito mais vulneráveis à esse tipopix bet classicradicalização, principalmente quando estão sob estresse e pressões sociais", afirma a psiquiatra Kabacznik.
Ódio e violência
Depois do ataque no Canadá, o "/r/braincels" fez um post dizendo "não apoiamos o ataquepix bet classicToronto". Mas a maioria dos comentários era irônico. "Agora ser virgem é crime? É pior do que ser do Estado Islâmico?", diz um usuário. Outros afirmam que é "melhor apagar tudo" porque eles serão perseguidos "como na Alemanha nazista".
Diversos usuários falam do crimepix bet classicAlek Minassian com condescendência e até aprovação.
"Toda essa atenção da mídia é empoderadora. Não somos mais só uma imagem para os "normies" ridicularizarem, mas uma fontepix bet classicmedo", diz um usuário. "Eu não culpo Alek pelo que ele fez. Culpo a sociedade por tratar os homens como lixo", diz outro.
Brasileiros
Embora a discussão nos fóruns seja semprepix bet classicinglês, também há pessoaspix bet classicpaíses não-anglófonos participando - inclusive brasileiros.
Um deles compartilha seu desejopix bet classic"não morrer sem ter tido uma experiência sexual". "Tenho 27 anos e sou virgem. Tenho pensadopix bet classicfazer sexo com uma prostituta? Sei que ela vai odiar, porque tenho uma aparênciapix bet classicbosta. O que acham?", pergunta.
Alguns incentivam, outros desencorajam. "Prostitutas não contam como mulherespix bet classicverdade", responde um usuário no "Incels Without Hate".
Na comunidadepix bet classicportuguês do Brasil no Reddit, outros brasileiros dizem participar ou ter participadopix bet classicgrupos como esses.
"Chegou num ponto que eu parei porque não aguentava mais a negatividade, mas entendo perfeitamente o que leva as pessoas a terem essa negatividade", diz um usuário.