Brasileiros viram 'moradores-fantasmas'bizzocasino comvilarejos na Itália para evitar filabizzocasino commaisbizzocasino comuma década por cidadania:bizzocasino com

Passaporte italiano

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Longas filasbizzocasino comespera no Brasil levam brasileiros a irem à Itália para obter cidadania

Milharesbizzocasino combrasileiros descendentesbizzocasino comitalianos têm recorrido a esta e outras cidades do país para dar entradabizzocasino comseus pedidos - caso sejam confirmados como cidadãos italianos, poderão viver e trabalhar legalmentebizzocasino comqualquer país da União Europeia e visitar lugares como os EUA sem a necessidadebizzocasino comvisto, entre outras vantagens.

No Brasil, com uma estimativabizzocasino com450 mil descentesbizzocasino comitalianos nas filas dos consulados, o processo pode levar até 13 anos. Na Itália, tudo é resolvidobizzocasino comquestãobizzocasino commeses. Por isso, uma alternativa para quem tem condições financeiras é contratar intermediários no país europeu, pagar entre 4 mil e 6 mil euros (R$ 16 mil a R$ 24 mil) e fazer as malas para ir para lá.

A lei diz que pessoas com direito à cidadania italiana podem realizar o processobizzocasino comqualquer cidade, mas devem morar no país durante o andamento do processo e registrar moradia junto aos cartórios municipais. Muitos brasileiros, uma vez concluído o trâmite, vão embora - tudo dentro da lei. Mas permanecem cadastrados como residentes.

Isso isso vem causando problemas para algumas dessas cidades. Em alguns locais, há suspeitasbizzocasino comirregularidades e, no casobizzocasino comOspedaletto Lodigiano, a fraude foi confirmada, e as cidadanias conferidas, canceladas.

Dinheiro apreendidobizzocasino comoperação
Legenda da foto, Operação encontrou milharesbizzocasino comeuros na casabizzocasino comfuncionário da Prefeiturabizzocasino comOspedaletto Lodigiano | Foto: Guardabizzocasino comFinanzabizzocasino comLodi

No total, 1.188 brasileiros declararam residirbizzocasino comOspedaletto Lodigiano entre julhobizzocasino com2015 e julhobizzocasino com2017 - 899 já tinham obtido o passaporte europeu, enquanto os demais aguardavam, fora da Itália, que os documentos fossem enviados por intermediários pelo correio.

"Sinceramente, não sei se os brasileiros que constam desta lista estavam ou não agindo com boa-fé, mas, com certeza, se essas pessoas tivessem efetivamente se transferido para a nossa cidade, qualquer um teria notado. Não temos nem hotéis na cidade. É impossível que todos eles tenham estado aqui", afirma a prefeita.

Pilhasbizzocasino comarquivos e problemas

A 400 kmbizzocasino comdistância dali, no vilarejobizzocasino comVal di Zoldo,bizzocasino commeio aos Alpes italianos, no nordeste do país, os brasileiros já são quase metade dos 3,2 mil moradores registrados. Mas quase todos eles hoje não vivem mais na cidade.

Os brasileiros descendentesbizzocasino comitalianos costumam se hospedarbizzocasino comuma casa no pé das montanhas para adquirir a residência na cidade, condição primordial para o processo. Depois da inspeção oficial, vão embora, tudo dentro da lei. A BBC Brasil visitou o local, que estava vazio e fechado.

Casabizzocasino comVal di Zoldo
Legenda da foto, Casa onde brasileiros costumam se hospedar Val di Zoldo está vazia e fechada

Só no último semestre, Val di Zoldo recebeu 14 novos pedidosbizzocasino comregistrobizzocasino comresidência, o que vem criando problemas para a administração municipal.

"Não estamos preparados para isso", diz o prefeito, Camillo De Pellegrin, apontando para as duas funcionárias do departamento demográfico, cercadas pela papelada e pilhasbizzocasino comarquivos que crescem sobre as mesas.

Alémbizzocasino comcuidar dos processosbizzocasino comcidadanias, elas precisam atender as necessidadesbizzocasino comquem realmente vive ali. Uma das funcionárias conta que costumava levar quatro meses para dar contabizzocasino comum processo. "Mas, agora, deve atrasar, porque estamos sozinhas", diz ela, acrescentando não ter detectado nenhuma irregularidade até agora.

Funcionáriabizzocasino comVal Di Zoldobizzocasino commeio a papéis
Legenda da foto, Prefeito diz que Val di Zoldo não está dando conta do trabalho extra gerado por registrosbizzocasino comresidência

A regiãobizzocasino comVeneto, onde fica o vilarejo, é famosa pela imigração ocorrida a partirbizzocasino commeados do século 19, principalmente para o Brasil. Val di Zoldo tem inclusive uma cidade-irmãbizzocasino comSanta Catarina, Siderópolis, que foi fundada por italianos.

O cadastrobizzocasino comitalianos residentes no exterior, conhecido pela siglabizzocasino comitaliano AIRE, aponta o Brasil como líder das estatísticasbizzocasino comVeneto. São 107.392 cidadãos brasileiros inscritos. Os argentinos e suíços vêm num distante segundo e terceiro lugar, com 46.816 e 43.193 inscritos, segundos dados oficiaisbizzocasino com31bizzocasino comdezembrobizzocasino com2016 publicados pelo Ministério do Interiorbizzocasino commaio do ano passado.

"Uma pessoa humilde fica na fila por dez anos nos Consuladobizzocasino comSão Paulo porque não pode ter acesso a uma agência aqui, pagando altas somasbizzocasino comdinheiro. Isso não gera uma discrepância no tratamento?", questiona o prefeito.

'Acimabizzocasino comqualquer suspeita'

De Pellegrin conta que um brasileiro costuma prestar assistência aos candidatos à cidadania. Ele diz ter recebido ainda uma denúnciabizzocasino comque passaportes falsos podem estar sendo produzidos no Brasil e já encaminhou o caso para as autoridades investigarem.

"Há uma preocupaçãobizzocasino comque exista alguma coisa por trásbizzocasino comtudo isso, com organizações tornando esses processos um negócio lucrativo. Temos visto pessoas sendo condenadas por práticas ilícitas", diz ele,bizzocasino comrelação ao casobizzocasino comOspedaletto Lodigiano.

A BBC Brasil conversou com alguns dos brasileiros que tiveram a cidadania cancelada pela Prefeiturabizzocasino comOspedaletto Lodigiano. Todos afirmam ter agido com boa-fé. "Nunca pensei que eu estivesse contrariando alguma regra ou que teria problemas com minha cidadania", afirma Paula, uma empresáriabizzocasino comSão Paulo. O nome é fictício - ela pede para não ter o verdadeiro publicado.

Ela conta ter contratado uma agênciabizzocasino comMonza indicada por uma professora universitária que frequentava o consuladobizzocasino comSão Paulo. Paula afirma ter pago aos intermediários,bizzocasino comnovembrobizzocasino com2016, 5 mil euros pela hospedagembizzocasino comuma semana na Itália, transporte até as repartições públicas e assistência junto aos guichês, alémbizzocasino commais 200 euros para obter o código fiscal, equivalente ao CPF brasileiro.

Camillo De Pellegrin
Legenda da foto, Prefeitobizzocasino comVal di Zoldo luta para atrair novos moradores para vilarejo

"As pessoas que nos ajudaram com a viagem e o procedimento na Itália pareciam estar acimabizzocasino comqualquer suspeita. São ítalo-brasileiros cultos, que já realizaram muitos processosbizzocasino comcidadania ao longo dos anos."

A empresária conta que ela e outros quatro brasileiros foram à Prefeitura acompanhados por um dos donos da agência, que era conhecido e bem recebidobizzocasino comtoda a cidade. "Somos um grupobizzocasino comquase 600 clientes, entre professores, advogados, juízes e inclusive diretoresbizzocasino commultinacionais que vivem nos Estados Unidos. A prisão dos donos da agência foi uma surpresa para nós."

Gabriela (nome também fictício), uma advogada do Riobizzocasino comJaneiro que conheceu Paula durante a viagem à Ospedaletto Lodigiano, afirma ter sido hospedada na casa da intermediária, com outros brasileiros.

"A lei não exige que tenhamos um contratobizzocasino comaluguelbizzocasino comnosso nome. Podemos ser hospedados por alguém que já tenha residência no país. Todos tínhamos direito à cidadania. Estávamos certosbizzocasino comque agíamos corretamente, diz Gabriela, que, após conseguir a nacionalidade, mudou-se para Portugal.

Agora, ela terábizzocasino comvoltar ao Brasil para recomeçar o processo.

Começarbizzocasino comnovo

Tiziana Fiorella, advogadabizzocasino comdez brasileiros envolvidos no caso, afirma que recorrerá contra a decisão da prefeita Mizzi.

"A resolução da Prefeitura que revoga as cidadanias não especifica a situaçãobizzocasino comcada requerente. Estamos analisando caso a caso, mas o procedimento generalizado é a primeira falha a ser questionada", disse à BBC Brasil.

Apesar do aumento no númerobizzocasino comfraudes envolvendo brasileirosbizzocasino combusca do passaporte europeu, não estão previstas mudanças nas regrasbizzocasino comcidadania italiana por descendência.

"É pouco provável que isso aconteça, até porque somos 60 milhõesbizzocasino comdescentesbizzocasino comitalianosbizzocasino comtodos mundo", diz à BBC Brasil a deputada ítalo-brasileira Renata Bueno, eleita para ao Parlamento italiano com o votobizzocasino comitalianos residentes na América do Sul.

"O que pode vir a acontecer é o governo italiano dificultar o processobizzocasino comobtenção da cidadania para descendentes diretamente na Itália."

Ela explica que o cancelamento das cidadanias por si só não traz consequências penais aos requerentes, tampouco acarreta a perda do direito à cidadania. "Mas eles terão que reiniciar o processo", afirma Bueno.

Rosa Maria com os filhos

Crédito, EPA

Legenda da foto, Rosa Maria (centro) se mudou com os filhos e o marido para vilarejo italiano para obter a cidadania

Este não será o caso dos Rigon, os únicos brasileirosbizzocasino comcarne e osso a caminhar pelas ruazinhasbizzocasino comVal di Zoldo. Em um chalé com vista para as montanhas, a poucos passos da sede da prefeitura, a famíliabizzocasino comSanta Catarina espera o tempo passar.

Rosa Maria Rigon Dorneles e seus dois filhos são quem têm direito à cidadania. Seu marido pediu licença do emprego para acompanhá-la. O namoradobizzocasino comsua filha também foi para a Itália. Eles dispensaram a ajudabizzocasino comum despachante e planejaram tudo por conta própria e com antecedência.

O aluguel da casa foi fechado aindabizzocasino comCriciúma, onde viviam, com uma brasileira, proprietária do imóvel. Todos estão prontos para uma permanência longa. Incluíram no orçamento a hipótesebizzocasino comuma ou outra ida ao Brasil. Só irão embora quando Rosa e os filhos se tornarem cidadãos italianos.

"Optamos por fazer tudo da forma correta, por nossa conta, quero dizer, ficar morando aqui até conseguir a cidadania. Depois, quem sabe, alternar temporadas aqui e lá no Brasil", diz Rosa.

"Viemos movidos pela paixão pela cultura italiana. Sou descendentebizzocasino comitalianos. Sempre tive muita vontadebizzocasino comter a cidadania, mas não é para trabalharbizzocasino comoutros lugares, como muita gente está fazendo."

Apelo aos brasileiros

Os Rigon são citados pelo prefeito como um bom exemplo a ser seguido. Ele explica que o aumentobizzocasino com"residentes" brasileiros gera nele outra preocupação. "Neste ritmo,bizzocasino combreve, vão ter mais residentes que vivem no exterior do que os habitantes locais - ambos com direito a voto, que, na Itália, não é obrigatório", diz.

Isso pode impedir que a cidade alcance o quórum mínimo para uma consulta popular ou uma eleição municipal, explica o prefeito. "Hoje, a exigênciabizzocasino compresença da metade mais um dos eleitores aptos não seria cumprida, porque os inscritos que vivem no exterior nunca votam no município."

Val di Zoldo, assim como outras comunidades italianas nas montanhas, luta para repovoar seus vales. Por isso, o prefeito faz um apelo aos brasileiros.

"Temos uma históriabizzocasino comimigração para a América do Sul. Nossos antepassados construíram a vida lá. Ficaríamos muito felizes se essa rota se invertesse", diz ele que pretende valorizar os dotes turísticos da cidade.

"Temos muitas casas vazias. Agora, precisamosbizzocasino compessoas que queiram reconstruir o nosso futuro."