Não é só a direita: por que parte da esquerda britânica apoia o Brexit?:link da brabet
Esquerdistas pró-Brexit ganharam seu próprio apelido: lexiteers, um híbrido das palavras "left" (esquerda,link da brabetinglês) e Brexit.
O termo chegou a ser mencionado durante a campanha para o plebiscito, mas pareceu ter passado despercebido até o resultado das urnas.
Por que a esquerda?
Contudo, como a própria arquitetura do Brexit, as motivações que levaram eleitores desse espectro político a apoiar uma causa tradicionalmente associada à direita são mais complexos do que um simples apelido.
"O euroceticismo nunca foi exclusividade da direita britânica, e durante a campanha para o referendo havia setores da esquerda declarando apoio ao Brexit", explica o cientista político Jon Tonge, da Universidadelink da brabetLiverpool, um dos principais analistas eleitorais britânicos.
"Porém, suas vozes eram minoria e tampouco contavam com personalidades políticas fazendo campanha pela Brexit, como foi o caso do Partido Conservador e do Ukip (legenda fundada nos anos 90 exclusivamente com a plataformalink da brabetsaída da UE)", acrescenta.
Em meio a um Partido Trabalhista marcado pela guinada rumo ao centro nos anos 90, que mudou a imagem associada ao socialismo e, pela primeira vez na história política britânica, garantiu à legenda três mandatos consecutivos no governo, entre 1997 e 2010, a causa eurocética foi abafada.
Ao contrário do que aconteceulink da brabet1975, quando o governo trabalhistalink da brabetHarold Wilson precisou convocar um plebiscito sobre a permanência no bloco, ao qual havia se juntado apenas três anos antes, para aplacar a ira do partido e, sobretudo, dos sindicatoslink da brabettrabalhadores, históricos aliados da legenda. Ironicamente, com ajuda crucial dos conservadores, o Brexit original foi derrotado com sobras - 67% a 23%.
"Em 2016, tivemos a situação oposta,link da brabetque um premiê conservador (David Cameron) precisou convocar a consulta por pressão das alas eurocéticas do seu partido. Só que o resultado não lhe favoreceu", conta Alan Charlton, embaixador britânicolink da brabetBrasília entre 2008 e 2013, referindo-se à renúncialink da brabetCameron, que fez campanha aberta contra o Brexit.
Desconfiança
Tonge, porém, explica que o euroceticismo trabalhista nunca "morreu".
"A esquerda tem problemas com a UE e é errado assumir que lexiteers são simplesmente xenófobos. O argumento é que a união facilitou o trabalho do capitalismo e suprimiu os direitos dos trabalhadores, algo reforçado pelas medidaslink da brabetausteridade que o bloco impôs a países como a Grécia e a Irlanda quando precisaramlink da brabetajuda econômica", explica Tonge.
"Sem falar que durante muito tempo houve alas trabalhistas lamentando a entrada do Reino Unido na UE (1972) porque isso matarialink da brabetvez o projetolink da brabetum governo socialista no país", acrescenta.
O cientista político explica, porém, que a convicção política não é a única explicação para a popularidade do Brexit entre eleitoreslink da brabetesquerda - que também inclui o Partido Nacionalista Escocês, cuja terça-parte do eleitorado (36%) votou pelo Brexit na Escócia, apesar da vitória tranquila dos defensores da permanência do Reino Unido na UE (remainers) no país.
"Não estou dizendo que o argumento sobrevive a uma análise forte, mas eleitores dessas regiões usaram o plesbiscito para manifestarlink da brabetpercepçãolink da brabetque a UE não ajudou a classe trabalhadora e criou dificuldades por causa da livre movimentaçãolink da brabetimigrantes dos países do bloco", diz Tonge.
"E, sim, há eleitoreslink da brabetesquerda que dividem com oslink da brabetdireita a reclamaçãolink da brabetque a UE é uma instituição burocrática e que afetou a soberania britânica", diz Tonge.
Estereótipos
Em um artigo publicado na terça-feira pelo jornal americano The New York Times, o acadêmico britânico Alan Johnson expressa a preocupação com generalizações.
"Somos lexiteers, mas nem por isso somos xenófobos. Votamos pelo Brexit porque tememos o projeto autoritário neoliberallink da brabetintegração proposto pela União Europeia. Defendemos um sistema político democrático", escreveu Johnson.
O web designer Trev Prellie,link da brabet51 anos, que fez campanha aberta pelo Brexitlink da brabetsuas contaslink da brabetmídias sociais, diz que o argumentolink da brabetque todos os lexiteers são contrários à imigração é o que mais o deixou frustradolink da brabetdebates e conversas.
"Para mim, o voto não teve nada a ver com imigração. Votei contra uma organização formada por banqueiros que não foram eleitos por mim. Quando olho para o que a UE fez com a Grécia, não vejo uma instituição benevolente, mas sim uma que passou por cima do voto popular dos gregos, cuja maioria era contra a austeridade", afirma.
Prellie vivelink da brabetBirmingham, segunda maior cidade do Reino Unido e tradicional bastião da esquerda britânica.
"Além do mais, sou socialista e defendo, por exemplo, a nacionalizaçãolink da brabetserviços públicos essenciais, algo que a legislação da UE não permite", completa.
'Fronteiras reorganizadas'
Jon Tonge afirma que o resultado do plebiscito britânico mostra o que se pode chamar reorganizaçãolink da brabetfronteiras políticas no Reino Unido e na Europa,link da brabetque tanto partidoslink da brabetesquerda quantolink da brabetdireita buscam um discurso mais nacionalista e protecionista.
Isso ainda que o sucessolink da brabetpolíticos da considerada extrema-direita, como Marine Le Pen, na França e Geert Wilders na Holanda, obtenha mais atenção.
"O populismo está nos dois ladoslink da brabetum momentolink da brabetque muitas pessoas na Europa e no mundo estão desiludidas com a globalização e se sentem alienadas do processo político", finaliza.