O drama das meninas venezuelanas obrigadas a se prostituir para comer:casinoempire

Crédito, Humberto Matheus

Legenda da foto, A polícia local afirma que menores se prostituem na região centralcasinoempireMaracaibo

Por semana, a polícia do EstadocasinoempireZulia prende uma médiacasinoempiredez mulheres acusadas da prática na região do MercadocasinoempireMaracaibo.

Daniel Noguera, comandante da Polícia Bolivariana ali, afirma que quatro integrantes desse grupo costumam ser menorescasinoempireidade. E que sempre há uma indígena.

Essas operações geralmente acabam com alguns conselhos e a liberaçãocasinoempiretodas elas.

Crédito, Humberto Matheus

Legenda da foto, Segundo antropólogos, legisladores e defensores dos direitos das crianças, a crise econômica da Venezuela piorou a situação da prostituição infantil

Mercado 24 horas

O MercadocasinoempireMaracaibo opera ao ar livre, 24 horas por dia. Impossível não notar a sujeira e a lamacasinoempiremeio ao calorcasinoempire36°C dos últimos diascasinoempireoutubro. Existe uma cerca, mas apenascasinoempireum dos lados.

Os caminhões entram e saemcasinoempiremeio ao mau cheiro. Em meio a eles, crianças indígenas perambulam vestindo trapos e pedindo esmolas.

Kelvin Rincón, vendedorcasinoempirebananas, explica o que acontece.

"Essas meninas estão aqui a toda hora. É um desastre. Elas vendem café ou bananas, mas começam a te tocar, falar besteiras. Eles se relacionam com elas dentro dos caminhões."

Ilse Cruz, uma vendedoracasinoempirecafé, diz que os programas acontecem dentro dos veículos,casinoempirepequenos apartamentos próximos do mercado oucasinoempirebarracões.

Oswaldo Márquez, presidente da AssociaçãocasinoempireComerciantes do MercadocasinoempireMaracaibo, conta que o local também é marcado pelo roubo e consumocasinoempirebebidas alcoólicas e drogas, o que envolve pelo menos cem meninos e meninas, a maioria integrantecasinoempiretribos indígenas.

Diferenças culturais

Cercacasinoempire35% dos jovens venezuelanos tem a primeira relação sexual entre os 12 e 18 anos,casinoempireacordo com estudos.

Mas na cultura wayuu não existe um períodocasinoempiretransição entre a infância e a idade adulta e, por isso, não se pode falarcasinoempiresexualidade precoce, explica o antropólogo Mauro Carrero.

Existe uma tradição entre os wayuu, chamadacasinoempire"a clausura", na qual as mulheres adultas explicam para as jovens na puberdade quais são seus deveres como mulher e futura esposa.

"Para elas, a virgindade não é uma preocupação moral, como na concepção judaico-cristã. E nos diascasinoempirehoje ainda existe uma pressão adicional, que é a crise econômica", explica ele, professor da Universidade do EstadocasinoempireZulia.

Os frequentadores do MercadocasinoempireMaracaibo contam que os corpos das meninas, sejam elas wayuu oucasinoempireoutras tribos, são moedacasinoempiretroca para a obtençãocasinoempireuma quantia que varia entre 1 mil e 2 mil bolívares (algo que varia entre 25 a 50 centavoscasinoempiredólar americano segundo a taxa do mercado "negro"), algumas bananas ou qualquer outro tipocasinoempirecomida.

O que é uma consequência da fome e do abandono das populações indígenas da Venezuela, afirma o deputado Virgilio Ferrer, integrante da ComissãocasinoempirePovos Indígenas da Assembleia Nacional.

A Constituição do país dedica um capítulo inteiro para garantir os direitos das populações indígenas. Entre seus artigos 119 e 126, está a garantia do respeito acasinoempireorganização social, econômica e política.

Leis que não são cumpridas, diz o parlamentar.

"Há um abandono total do pontocasinoempirevista social. Há fome, desemprego e pouca educação. Até os pais dessas meninas fazem vista grossa", explicou.

Miséria

Em Zulia, que faz fronteira com a Colômbia, a desnutrição infantil chega 20%,casinoempireacordo com informações da SecretariacasinoempireSaúde.

O Censocasinoempire2011 mostrou que existem 415 mil indígenas na Venezuela, concentrados emcasinoempiremaioria nos povoadoscasinoempireMara, Guajira e Almirante Padilla, onde o índicecasinoempiredesnutrição supera os 30% - todos ficam no Estado.

Jhonny, um homem pequenocasinoempire54 anos que trabalha nas empilhadeiras do mercado, concorda que os problemas sociais que podem ser observados na região centralcasinoempireMaracaibo têm uma causa: a fome.

"Isso é horrível. Às vezes vejo as crianças comendo bananas podres que os caminhoneiros jogam fora."

Pesquisas da Universidade do EstadocasinoempireZulia, como a da socióloga e professora Natalia Sánchez, revelam que a pobreza atinge cercacasinoempire80% dos 3,7 milhõescasinoempirehabitantes da região.

"Há dez anos esse indicador estavacasinoempire55%. E hoje maiscasinoempire35% dessa pobreza geral é extrema."

ÓrgãoscasinoempireEstado, como a Fundação Niño Zuliano e o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, realizam operações no mercado. Mas as casascasinoempireabrigo onde o governo hospeda os menores com as piores situações não conseguem dar conta da demanda.

Jonathan Perozo, advogado do Conselho Municipal do Direito da Criança, admite que os casos como os do mercado testam a capacidade das instituições venezuelanas.

"Somos limitados no que diz respeito a ferramentascasinoempiretrabalho. O orçamento é baixo, faltam verbas."

Duas cervejas

Crédito, Humberto Matheus

Legenda da foto, As menores se prostituem e recebem entre 1 mil e 2 mil bolívares por programa, o equivalente a centavoscasinoempiredólar

No mercado, dois homenscasinoempiremaiscasinoempire40 anos falam abertamente sobre a situaçãocasinoempirefrente a um local que vende sucocasinoempirelaranja a 300 bolívares o copo - menoscasinoempireum centavocasinoempiredólar.

Eles comentam sobre uma jovem que passa usando uma minissaia.

"Convidei esta menininha e ela aceitou. Tem 15 aninhos. Levei para o Gran Bazar - um centro comercial aqui perto -, ofereci duas cervejas e disse 'venha'."

Os dois riem do crime.

Mariela, a jovem wayuu com a camiseta do Real Madrid, garante que não se prostitui. A risadacasinoempireoutra adolescente interrompecasinoempirefala.

A adolescente brinca com um jovemcasinoempirecimacasinoempireum dos caminhões. Enquanto isso, outra menina coloca metade do corpo na cabine do mesmo veículo, deixando a porta entreaberta enquanto negocia um encontro com o motorista.

Mariela se aproxima e fala mais alto, mas não oferece seu produto, como estava fazendo antes. Desta vez, ela avisa as amigas sobre a presença da imprensa.

"Oi! Cuidado, vocês não sabem quem está vendo vocês!"

A adolescente ri e brinca com as outras meninas antescasinoempirereforçarcasinoempirefala.

"Há algumas que fazem isso sim... Mas eu não sou dessas."

Esta reportagem faz parte da série especial 100 Mulheres, da BBC.

O que é o 100 mulheres?

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