O massacrebigbassbonanza500 mil pessoas declarado crime contra a humanidade meio século depois:bigbassbonanza

Tribunal Popular Internacional 1965 en La Haya

Crédito, IPT 1965

Legenda da foto, Tribunal que disse que o que aconteceu na Indonésia equivale a outros grandes genocídios do século 20

bigbassbonanza Tudo começou com a mortebigbassbonanzaseis generais, depois que um grupobigbassbonanzamilitares indonésios irrompeubigbassbonanzasuas casas no meio da noite.

A resposta dos militares aos seis assassinatos foi brutal. Começava ali,bigbassbonanza30bigbassbonanzasetembrobigbassbonanza1965, uma ondabigbassbonanzarepressão que se estendeu por um ano e acabou com a mortebigbassbonanzamaisbigbassbonanzameio milhãobigbassbonanzapessoas.

O Exército da Indonésia acusou o então Partido Comunista Indonésio (PKI)bigbassbonanzaestar por trás do assassinato dos generais, e perseguiu todas as pessoas suspeitasbigbassbonanzapertencer ou simpatizar com esta organização.

Agora, 50 anos depois, o Tribunal Popular Internacional 1965bigbassbonanzaHaia (TPI), formado por sete juízes, considerou que essas mortes constituíram um dos maiores genocídios do século 20, qualificando-as como crime contra a humanidade.

Conflito mais amplo

Governada por Sukarno, seu primeiro presidente após a independência da Holanda, a Indonésia viviabigbassbonanzaum precário equilíbrio entre três poderosas forças: o Exército, o Partido Comunista e os grupos islâmicos.

O Partido Comunista da Indonésia era o segundo maior do mundo, com cercabigbassbonanzatrês milhõesbigbassbonanzamilitantes. Ainda que não fizesse parte do governo, tinha influência crescente no mesmo.

Presidente Sukarno e general Suharto.

Crédito, AP

Legenda da foto, Sukarno delegou seus poderes executivos ao general Suhartobigbassbonanza1967

Eram os tempos da Guerra Fria, e Sukarno (que vinhabigbassbonanzaJava, onde muitos não tem sobrenome), fundador do movimentobigbassbonanzaPaíses Não Alinhados, se colocava contra o cenário geopolítico controlado por potências ocidentais e marcado pela Guerra Fria.

Em um discursobigbassbonanzamarçobigbassbonanza1965, Sukarno acusou o "imperialismo ocidental" pelos conflitos do Vietnã, Laos e Camboja.

Internamente, a situação econômica do país se deteriorava gravemente, e os enfrentamentos entre militantes do Partido Comunista e grupos islâmicos e nacionalistas se acentuavam, muitas vezes resultandobigbassbonanzachoques sangrentos, sobretudobigbassbonanzaJava.

Ao mesmo tempo, militantes do PKI oubigbassbonanzasindicatos controlados por esse partido acossavam funcionários da Embaixada dos EUA na Indonésia.

Foi nesse momentobigbassbonanzaalta tensão no país que ocorreram as mortes dos seis generais,bigbassbonanzaação reivindicada por um grupo militar chamado Movimento 30bigbassbonanzaSetembro, que tomou o controlebigbassbonanzaalguns lugares chave e proclamou a instalaçãobigbassbonanzaum regime revolucionário no país.

Membros da ala juvenil do PKI foram detidos após mortebigbassbonanzaseis generais

Crédito, AP

Legenda da foto, Membros da ala juvenil do PKI foram detidos após mortebigbassbonanzaseis generais

Assumindo que o grupo estava ligado ao PKI, o então chefe do Exército, tenente-general Suharto, iniciou uma perseguição aos militantes desta organização política.

Poucos meses depois,bigbassbonanza1966, com Sukarno enfraquecido, Suharto tomou controle do país e, um ano depois, virou presidente, cargo que manteve no 31 anos seguintes.

O regresso da memória

Após décadasbigbassbonanzaesquecimento coletivo, a pressão para que este massacre viesse à tona ganhou força com o documentário The Act of Killing (lançado no Brasil como O AtobigbassbonanzaMatar), pelo qual o americano Joshua Oppenheimer foi indicado ao Oscar.

Estudiantes quemando la sedebigbassbonanzala organizaciónbigbassbonanzalas Juventudes del Partido Comunista indonesio

Crédito, Getty Images

No filme, Oppenheimer mostra os assassinos alardeando seus crimes e voltando ao lugarbigbassbonanzaque ocorreram para mostrarbigbassbonanzadetalhes o que fizeram.

"A gente batia neles até que morressem e depois ficava uma mancha feiabigbassbonanzasangue, então começamos a usar fios", disse um deles.

Oppenheimer disse à BBC Mundo, o serviçobigbassbonanzaespanhol da BBC, que o massacre foi simplesmente apagado da história do país porque a versão dos fatos ficou a cargo dos vencedores do conflito.

"É como se Hitler tivesse ganhado a guerra e Himmler fosse um herói nacional, salvador da pátria. Na Indonésia, os ganhadores seguem tendo muito poder e toda a impunidade do mundo para seguir perpetuandobigbassbonanzaversão dos fatos", respondeu.

Após The Act of Killing, Oppenheimer rodou um segundo documentário, The Look of Silence, mostrando todos os sobreviventes e seus parentes.

Tribunal simbólico

O Tribunal Popular Internacional (TPI) para analisar a existênciabigbassbonanzacrimes contra a humanidade na Indonésiabigbassbonanza1965 não é uma instância com competências jurídicas reais.

Tribunal Popular Internacional 1965 en La Haya

Crédito, IPT 1965

Legenda da foto, Veredito do tribunal não é vinculante, mas tem uma carga simbólica difícilbigbassbonanzaignorar

Sua criação foi iniciativabigbassbonanzaum conjuntobigbassbonanzaorganizações não governamentais, a partir da realização dos documentáriosbigbassbonanzaJoshua Oppenheimer. Tevebigbassbonanzaprimeira sessãobigbassbonanzanovembrobigbassbonanza2015;bigbassbonanzasuas audiências participaram seis fiscais internacionais e sete juízes, assim como dezenasbigbassbonanzatestemunhas e especialistas.

A ideia do tribunal é pressionar para que as próprias autoridadesbigbassbonanzaIndonésia investiguem o ocorrido e punam aos responsáveis.

Procedimentos semelhantes foram usados no passado diantebigbassbonanzasituações que não puderam ser resolvidas por meiobigbassbonanzaprocessos judicias formais, como, por exemplo, a guerra do Vietnã ou a situação do povo palestino.

Ataques visavam tudo que era comunista na Indonésia, incluindo livrarias.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Ataques visavam tudo que era comunista na Indonésia, incluindo livrarias.

A sentença

Na sentença, o TPI exige que o governo da Indonésia peça desculpas, investigue o massacre e deixebigbassbonanzafingir que nada aconteceu.

Declara ainda que Estados Unidos, Reino Unido e Austrália "foram cúmplices"bigbassbonanzadiferentes graus desta matança. Seu veredito, porém, não é vinculante (não tem forçabigbassbonanzalei).

A coordenadora indonésia do tribunal, Nursyahbani Katjasungkana, disse à BBC que os resultados deste julgamento serão levados à ComissãobigbassbonanzaDireitos Humanos da ONUbigbassbonanza17bigbassbonanzaabrilbigbassbonanza2017.

Mas o governo indonésio imediatamente saiu embigbassbonanzadefesa e, apesarbigbassbonanzareconhecer que houve "um evento", assegurou que será resolvido sem intervenção estrangeira.

"A Indonésia não reconhece este julgamento e tudo está no passado", disse à BBC o porta-voz do governo Agus Barnas.

Negação

Em meio à Guerra Fria e com o Vietnã como panobigbassbonanzafundo, a intervenção do então chefe do Exército indonésio, o tenente-general Suharto, contra o Partido Comunista contou com a aprovação, ou ao menos vista grossa, das potências ocidentais.

Sri Muhayati,bigbassbonanza75 anos, cujo pai foi executado durante a repressão

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Sri Muhayati,bigbassbonanza75 anos, cujo pai foi executado durante a repressão

Muitos pensaram que após a saídabigbassbonanzaSuharto do poder,bigbassbonanza1998, haveria uma reforma. Mas, segundo o tribunalbigbassbonanzaHaia, o poder continua na mãobigbassbonanzaseguidoresbigbassbonanzaSuharto.

O atual presidente, Joko Widodo, eleito sob a promessabigbassbonanzaintroduzir várias reformas, prometeu investigar as violaçõesbigbassbonanzadireitos humanos relacionadas ao "assuntobigbassbonanza1965", mas nada foi feito.

Pelo menos até agora.