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O crânio com perfuração retangular que confirmou que incas realizavam cirurgias complexas:betfair apk
E o melhor fertilizante do mundo na época era encontrado nas montanhasbetfair apkalgumas ilhas da América do Sul, que durante séculos haviam acumulado guano, um substrato que tem origem nas fezesbetfair apkanimais e é ricobetfair apknitrogênio e fósforo.
Foi por causa do guano que,betfair apk1864, Lincoln enviou uma delegação ao Peru, da qual Squier fazia parte.
A dama 'do Grande Canal'
Garantido o suprimentobetfair apkfertilizante, o diplomata disse à mulher que voltasse sozinha para Nova York. Apaixonado por arqueologia, ele decidiu ficar no país para se dedicar a pesquisas.
Depoisbetfair apkum ano viajando, percorrendo desde o litoral até as florestas, e escalando os picos dos Andes, ele chegou a Cusco, uma "altiva, porém isolada cidadebetfair apkmontanha".
A viagembetfair apkLima a Cusco era muito mais demorada e incômoda do que a viagem da capital peruana a Nova York, escreveu Squier no livro Peru: Exploração e Incidentesbetfair apkViagem na Terra dos Incas.
Depoisbetfair apkdescrever detalhadamente os magníficos sítios arqueológicos que encontrou na região, assim como a cidade,betfair apkhistória, população e aspecto moderno, ele se detevebetfair apkum lugar:
"Vou me referir especialmente à residência da senhora Zentino, senhora que residia na Praçabetfair apkSão Francisco, cuja atenção aos estrangeiros era proverbial, e que estabeleceu uma honrosa reputação como colecionadora do melhor e mais valioso museubetfair apkantiguidades no Peru."
"Esta casa seria chamadabetfair apk'palácio' atébetfair apkVeneza, se não fosse porbetfair apkarquitetura, certamente porbetfair apkextensão. Na amplitudebetfair apkseus cômodos ebetfair apkseus ricos e variados conteúdos e decoração, louvavelmente poderia ser comparada com algumas das mais belas do Grande Canal."
Museubetfair apkcuriosidades
A "señora Zentino" era María Ana Centenobetfair apkRomainville (1816/1817-1874), uma mulher enriquecida pela "leitura frequente" e que começou a colecionar objetos desde jovem, com uma "paixão que beirava a loucura", segundo conta a pioneira educadora peruana Elvira García y Garcíabetfair apkseu livro A Mulher Peruana Através dos Séculos (1925).
Esse fascínio a levou a reunir um tesouro com peçasbetfair apkdiferentes lugares, a pontobetfair apkter um verdadeiro "museu histórico-arqueológico, por meio do qual era possível conhecer toda a história do Perubetfair apksuas diferentes épocas".
Alémbetfair apkantiguidades pré-colombianas feitasbetfair apkpedra, cerâmica e metais preciosos, havia desde um mosaico romano e objetos japoneses até pássaros empalhados e obras misteriosas. Afinal, seu objetivo não era "criar um museu arqueológico — mas, sim, umbetfair apkcuriosidades", escreveu García y García.
O "palácio" da senhora Zentino era um pontobetfair apkencontro parecido com os salões que existiam na Europa do Iluminismo. Era onde a elite cusquenha e convidados estrangeiros proeminentes se reuniam para falar sobre ciência, arte e literatura.
Um deles foi Ephraim Squier, e foi numa dessas ocasiões que colocou as mãosbetfair apkuma peça inusitada que mudaria a história da cirurgia.
"De certa forma, a relíquia mais importante na coleção da sra. Zentino é o osso frontalbetfair apkuma caveira, do cemitério inca no Valebetfair apkYucay", escreveu o americano.
O crânio
O que chamoubetfair apkatenção na peça foi um buraco retangularbetfair apk15x17mm. Não era natural, pensou: a natureza não costuma trabalharbetfair apkângulos retos.
Ele também achou ter visto sinaisbetfair apkcrescimentobetfair apknovos ossos, indicando que a pessoa não apenas estava viva durante a perfuração, como havia sobrevivido a ela.
Um pensamento surpreendente lhe ocorreu: será que o buraco poderia ser o resultadobetfair apkuma cirurgia, uma abertura feita no crânio para fins curativos?
Ele concluiu que não havia dúvidabetfair apkque estava lidando com "um caso clarobetfair apktrepanação", uma técnica antigabetfair apkperfuração craniana.
"A senhora Zentino gentilmente me cedeu a peça para pesquisa. Ela foi analisada pelos melhores cirurgiões dos Estados Unidos e da Europa, sendo considerada por todos como a evidência mais notável do conhecimentobetfair apkcirurgia por partebetfair apkpovos nativos já descoberta neste continente. A trepanação é um dos processos cirúrgicos mais difíceis", descreveu Squierbetfair apkseu livro.
Mas não foi tão fácil assim chegar a essa conclusão.
O relato do americano, publicadobetfair apk1877, omitiu um episódio que ocorreu logo após seu retorno,betfair apkuma reunião da Academiabetfair apkMedicinabetfair apkNova York. Ao ver o crânio, os presentes se recusaram a acreditar que alguém havia sobrevivido a um procedimentobetfair apktrepanação conduzido por um indígena peruano.
A ideiabetfair apkque os antigos incas pudessem realizar uma cirurgia tão delicada sem anestesia ou ferramentasbetfair apkmetal parecia simplesmente absurda.
A taxabetfair apksobrevivênciabetfair apktrepanações realizadas pelos cirurgiões mais habilidosos nos melhores hospitais da época na região raramente chegava a 10%.
O que eles não levarambetfair apkconta é que o percentual era semelhante ao observadobetfair apkoutros tiposbetfair apkprocedimento. A teoria microbiana, que apontou para micro-organismos como causadoresbetfair apkvárias enfermidades e revolucionou o tratamento e diagnósticobetfair apkdoenças, ainda não vigorava nessa época, e muitos pacientes acabavam morrendobetfair apkinfecção.
Squier não se deu por vencido. Decidiu levar o crânio para a França, para que fosse examinado pela maior autoridade europeiabetfair apkcrânio humano, Paul Broca, professorbetfair apkpatologia externa e cirurgia clínica na Universidadebetfair apkParis e fundador da primeira sociedade antropológica.
Broca ficou mundialmente famosobetfair apk1861, ao descobrir o primeiro pontobetfair apklinguagem conhecido no cérebro humano, agora chamadobetfair apkáreabetfair apkBroca, o primeiro casobetfair apklocalização cerebralbetfair apkuma função psicológica.
Ao examinar o buraco retangular, o cientista concluiu que ele havia sido feitobetfair apkforma deliberada. Depoisbetfair apkanalisá-lo ao microscópio, encontrou evidênciasbetfair apkcrescimento ósseo ao redor da perfuração — o que indicava que o paciente havia sobrevivido à operação.
Mesmo diante do prestígiobetfair apkBroca, a Sociedade Antropológicabetfair apkParis se mostrou cética quanto a suas conclusões.
Mas alguns anos depois,betfair apkinterpretação seria finalmente confirmada, com a descoberta, na região central da França,betfair apkcrânios com orifícios arredondados, cicatrizes nas bordas e discos ósseos do mesmo tamanho (talvez usados como amuletos) pertencentes ao Neolítico — o que confirmava que, já naquele período, se praticava a trepanação com sucesso.
Os cientistas não tiveram escolha a não ser considerar a possibilidadebetfair apkque haviam subestimado civilizações mais antigas a esse respeito.
O crânio inca estimulou uma mudançabetfair apkpostura nos antropólogos, que começaram a vasculhar suas próprias coleções e examinar buracos que haviam sido interpretados no passado como resultadobetfair apkferimentosbetfair apkguerra, acidentes ou ataquesbetfair apkanimais. E encontraram mais crânios trepanados, alguns dos quais datadosbetfair apk8.000 a.C.
Hoje sabe-se que era uma prática difundida e que diferentes culturas ao redor do mundo usavam uma variedadebetfair apkferramentas para cortar crânios: pedras afiadas, ossosbetfair apkanimais, ferrosbetfair apkbrasa e até dentesbetfair apktubarão.
No caso do Peru,betfair apklocaisbetfair apkenterrobetfair apkincas eram encontradas pequenas facas curvasbetfair apkmetal usadasbetfair apkcerimônias, — chamadas tumi —, que podem ter sido usadas para realizar o procedimento.
Estudos indicam ainda que médicos da Antiguidade conseguiam inclusive prevenir infecções. Uma pesquisa feitabetfair apk66 crânios antigos trepanados mostrou que apenas três tinham sinaisbetfair apkinfecção.
O resultado é semelhante aobetfair apkum relatório produzidobetfair apkLondres na décadabetfair apk1870. Enquanto 75% dos pacientes neurocirúrgicos na cidade inglesa morriam, na Nova Guiné, onde os cirurgiões ainda perfuravam crânios com métodos tradicionais, a taxabetfair apkmortalidade erabetfair apk30%.
O que não se sabe ao certo é por que culturas antigas praticavam a trepanação, já que não se encontrou nada escrito sobre o procedimento.
Broca sempre argumentou que eles trepanavam os crânios para liberar o que acreditavam ser espíritos malignos que estavam presos dentro do cérebro. Ele afirmava que essa associação era comum, especialmentebetfair apkcasos envolvendo ataques epiléticos ou alucinações.
Esse foi certamente o caso na Europa, mas não há evidênciasbetfair apkque tenha ocorrido tambémbetfair apkum passado mais distante.
Ephraim Squier e outros arqueólogos sempre questionaram as teorias que remetem ao sobrenatural.
Eles argumentavam que os antigos neurocirurgiões estavam fazendo exatamente o que pareciam estar fazendo: tratando ferimentos na cabeça, principalmentebetfair apkquedas e resultantesbetfair apkcombates.
A pesquisa moderna aponta mais nessa direção, sobretudo no caso dos incas.
Crânios com perfurações foram encontrados maisbetfair apkhomens do quebetfair apkmulheres, o que é interpretado como resultado do fatobetfair apkque havia mais guerreiros do sexo masculino do que feminino.
Esses orifícios geralmente ficam no lado esquerdo do crânio, onde um oponente destro atacaria combetfair apkarma.
As trepanações teriam sido uma formabetfair apklimpar as feridas e evitar que o sangue se acumulasse.
A superstição pode ter desempenhado um papel nas primeiras trepanações. Mas também é possível que aqueles antigos neurocirurgiões usassem o procedimento para salvar a vidabetfair apkpessoas, como seus colegas ainda fazem hoje.
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