O veteranotropa do luva betguerra que se tornou estrela trans:tropa do luva bet
"Ex-soldado se convertetropa do luva betbela loira", anunciou o tabloide New York Daily News; "Um marceneirotropa do luva betNova York etropa do luva betmulher se disseram encantados com a notícia que se tornaram paistropa do luva betuma nova moça, loira, atraente,tropa do luva bet26 anos", relatou o Boston American naquele mesmo diatropa do luva bet1952.
Foram os primeiros diários a contar a história que logo centenastropa do luva betmeiostropa do luva betcomunicação detalhariam, transformando Christinetropa do luva betuma sensação.
As manchetes destacavam que Christine havia sido um soldado e a declaravam uma beleza americana, descrevendo suas longas pernas, cabelo loiro e roupatropa do luva betgrife.
Tudo issotropa do luva betuma épocatropa do luva betque o Exército castigava a homossexualidade com penatropa do luva betprisão, dispensa desonrosa ou corte marcial, e a liberdadetropa do luva betoutras pessoas LGBT estava constantemente sob risco.
Por que, então, seu caso foi tão excepcional?
A primeira
Apesartropa do luva betalgumas pessoas dizerem se tratar do primeiro homem a se convertertropa do luva betmulher, há outros pioneiros antestropa do luva betChristine.
A primeira pessoa, segundo registros, foi Rudolf Richter, um alemão nascidotropa do luva bet1891 que, depoistropa do luva betcumprir uma penatropa do luva betprisão por delitotropa do luva bettravestismo, foi entregue pela Justiça aos cuidados do médico alemão e ativista dos direitos sexuais Magnus Hirschfeld, que dirigia o Instituto para a Ciência Sexualtropa do luva betBerlim.
Em 1922, Rudolf se submeteu a uma orquiectomia (remoção dos testículos) etropa do luva bet1930 a uma penectomia (amputação do pênis) seguida por una reconstrução vaginal, e começou a viver como Dora Richter.
Nesse mesmo instituto, a alemã Martha Baer havia sido operadatropa do luva bet1906 e no ano seguinte registrou-se oficialmente como Karl, tornando-se a primeira mulher a se tornar um homem e a primeira pessoa a mudartropa do luva betsexo.
No casotropa do luva betChristine, a intenção era preservar a privacidade datropa do luva bettransformação, mas uma pessoa anônima tornou o caso público e fez dela a primeira mulher transgênero a alcançar a fama mundial por se submeter a uma cirurgiatropa do luva betredesignaçãotropa do luva betsexo.
Diante da avalanchetropa do luva betatenção pública nos EUA e no exterior, ela deixoutropa do luva betladotropa do luva bettimidez, entrou nos holofotes e virou um exemplo vivo, atraente e eloquente da diversidadetropa do luva betgênero.
Não só aproveitou a oportunidade para se lançar como artistatropa do luva betcasas noturnas como,tropa do luva betentrevistas etropa do luva betuma autobiografia, alémtropa do luva betpalestras universitárias, iluminou uma realidade na época desconhecida.
Uma mulher
Dizia ao público que nunca se sentira como homem ou homossexual, e sim como mulher; que havia sido num livro — "O hormônio masculino",tropa do luva betPaultropa do luva betKruif (1945) — que encontrara a possível explicação dos seus questionamentos; quetropa do luva betveztropa do luva bettomar testosterona para se tornar mais viril (como sugeria o livro), começou a tomar estrogênio e se consultou com médicos que confirmaram que alguns cirurgiões europeus tinham tentado fazer cirurgiastropa do luva betredesignação sexual.
Em Copenhague, na Dinamarca, o médico Christian Hamburguer foi quem lhe explicou que ela era uma pessoa transgênero. A partir daí, passou por dois anostropa do luva bettratamentos hormonais, avaliações psiquiátricas e, finalmente, as cirurgias para a remoção dos genitais masculinos.
O nome Christine foi escolhidotropa do luva bethomenagem a seu médico.
E ela foi adorada.
Por alguns meses.
Quando os jornalistas entraramtropa do luva betcontato com os cirurgiões que fizeram a transformação e descobriram que Christine ainda não tinha uma vagina (não tinha se submetido ainda à vaginoplastia), "os jornais a expuseram como um 'homem alterado' e os seguidorestropa do luva betJorgensentropa do luva bettodo o mundo se indignaram ao descobrir que ela não era uma mulher 'real'"conta o escritor David Serlintropa do luva bet'Christine Jorgensen and the Cold War Closet' ('Christine Jorgensen e o Armário da Guerra Fria',tropa do luva bettradução livre).
Paradoxos
Paradoxalmente, Christine recebeu temporariamente a atenção social porque se marcava dentrotropa do luva betseus rígidos parâmetros heterossexuaistropa do luva betforma exemplar.
Como homem, tinha sido um patriota, um soldado veterano com honras na Segunda Guerra Mundial — a representação masculina por excelência no pós-guerra.
Como mulher, seus traços,tropa do luva betbeleza, maneirismos e comportamento eram a encarnação da feminilidade que se viatropa do luva betrisco desde que as mulheres haviam ocupado, durante a guerra, funções tradicionalmente feitas por homens.
E na intersecção entre esses dois seres estava, nas palavras do tabloide Daily News, a "feitiçaria da ciência", a visãotropa do luva betum futurotropa do luva betque os médicos encontrariam curas milagrosas a todas as aflições.
Tudo isso envolto no sonho americano, aquele que não se perdetropa do luva betvista mesmo diantetropa do luva betobstáculos aparentemente insuperáveis e no qual o êxito é alcançado graças ao esforço.
Assim, Christine foi disparada ao estrelatotropa do luva betuma sociedadetropa do luva betque homossexuais, travestis e transexuais viviam sob ameaçatropa do luva betserem estigmatizados, despedidos, presos ou ridicularizados.
Na época, a campanha anticomunista do senador Joseph McCarthy vinculava explicitamente a homossexualidade com a subversão e o universo soviético. O chefe do FBI (polícia federal americana), J Edgar Hoover, alegadamente gay, usou a agência para atacar dezenastropa do luva betservidores públicos homossexuais.
Em 1953, o presidente Dwight D. Eisenhower assinou a Ordem Executiva 10450, considerando homossexuais um risco à segurança nacional, por serem vulneráveis à chantagem.
Enquanto isso, a polícia detinha homossexuaistropa do luva betbares, parques e outros espaços públicos.
Mas Christine não deixoutropa do luva betforçar o público a questionar essas normas.
Uma mulher?
Depois que veio a público que ela havia realizado uma vaginoplastia, com a divulgaçãotropa do luva betdetalhes íntimos, como otropa do luva betnunca poder "ter filhos, mas não significa que não poderei ter relações sexuais naturais: estou na posiçãotropa do luva betuma mulher que se submete a uma histerectomia", a pergunta para muitos era se ela era "realmente" uma mulher.
A resposta legal veiotropa do luva bet1959, quando foi negadatropa do luva betlicençatropa do luva betcasamento com Howard J. Knox, porque embora seu passaporte dissesse que ela era do sexo feminino,tropa do luva betcertidãotropa do luva betnascimento dizia "masculino".
Mas Christine promovia uma nova noçãotropa do luva betsexo biológico cada vez mais comum na Europa, mesmo que não nos EUA ou mesmo na comunidade científica: atropa do luva betque não havia dois sexos opostos, e sim um espectro sexual.
Quando, por exemplo,tropa do luva betuma entrevistatropa do luva bet1958, o apresentador Nipsey Russell perguntou se ela "era mulher", ela respondeu: que ele "parecia supor que todas as pessoas são homens ou mulheres. Cada pessoa étropa do luva betrealidade ambas as coisastropa do luva betdiferentes graus. Eu sou mais mulher do que homem".
Além disso, ela convidava seu público a se questionar se, sendo a mesma pessoa, eratropa do luva betalguma forma mais aceitável como mulher heterossexual do que quando era um homem afeminado que se sentia atraído por outros homens — e, nesse caso, por quê?
Por outro lado, a atenção ao seu caso ajudou o público a reconsiderar noções. Médicos americanos, por exemplo, começaram a distinguir a transexualidade do travestismo e da homossexualidade.
Alguns anos antestropa do luva betsua morte,tropa do luva bet1989, Christine se reuniu na Dinamarca com os médicos que participaram datropa do luva bettransformação. E comentou o marco que foi o seu caso:
"Nós não começamos a revolução sexual, mas acho que demos a ela um belo empurrão!"
- Este texto foi originalmente publicadotropa do luva bethttp://vesser.net/geral-62021027
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