O estigma das mães que deixam seus filhos:app mrjack bet
A recente produção da Netflix A Filha Perdida lançou uma luz sobre esse tipoapp mrjack betreação às mães que vivem separadasapp mrjack betseus filhos. O filme, baseado no romance homônimo da escritora italiana Elena Ferrante, concentra-se na atriz britânica Olivia Colman no papelapp mrjack betuma mãe que deixa seus filhos com o marido por três anos para buscar seus objetivos profissionais. Ela e outras pessoas consideram queapp mrjack betdecisão é egoísta, mas o mesmo não acontece no filme com um pai (interpretado pelo ator norte-americano Ed Harris), que também deixou seus filhos, aparentemente sem muito julgamento.
Embora, na vida real, paisapp mrjack bettodos os gêneros venham abandonando seus filhos há séculos, existem episódios que indicam que a quantidadeapp mrjack betmães que tomam essa decisão pode estar aumentando.
Melissa afirma que a quantidadeapp mrjack betpessoas que participam do grupoapp mrjack betapoio online que ela administra está na casa das centenas eapp mrjack betcrescimento constante. E terapeutas como Reennee Singh, porta-voz do Conselhoapp mrjack betPsicoterapia do Reino Unido (UKCP, na siglaapp mrjack betinglês), afirma que eles vêm notando "leve aumento" da quantidadeapp mrjack betmães decidindo abrir mãoapp mrjack betviver com seus filhos.
Dados do Reino Unido e dos EUA também indicam aumento da proporçãoapp mrjack betlares com apenas um dos pais, mas as informações não diferenciam as famílias onde as crianças ainda passam parte significativa do tempo com suas mães ou não - ou como foram decididos os esquemasapp mrjack betcriação dos filhos.
Sejam quais forem os números exatos, a questão das mulheres (e não os homens) deixarem a unidade familiar ainda levanta muito debate na cultura ocidental. Uma das causasapp mrjack bettensão do filme A Filha Perdida, por exemplo, é a questão indicada pelo título: se a filha foi abandonada pela mãe ou se, ao contrário, a mãe que abandona suas filhas é a "perdida", evidenciando que a reação emocional a esse tipoapp mrjack betcomportamento ainda é profunda.
Isso pode parecer surpreendenteapp mrjack betmuitas formas, considerando a ondaapp mrjack betapoio da sociedade e da imprensa à igualdadeapp mrjack betgêneroapp mrjack betoutros setores da sociedade.
"Nós aceitamos muito mais as famílias misturadas e pais do mesmo sexo que as mães que trabalham e cuidam dos filhos à distância", segundo Tom Buchanan, professorapp mrjack betsociologia da Universidade Mount Royalapp mrjack betCalgary, no Canadá. Para ele, "existe um atraso cultural". E os especialistas dizem que isso pode não mudarapp mrjack betbreve.
As razões para sairapp mrjack betcasa
Acadêmicos e terapeutas que acompanham o "leve aumento" das mães que decidem viver longeapp mrjack betseus filhos afirmam que existe um amplo espectroapp mrjack betrazões para que isso aconteça.
Algumas saem para assumir empregos, atribuições ou oportunidadesapp mrjack betestudoapp mrjack betcidades diferentes, mantendo seu relacionamento com o pai das crianças ou depoisapp mrjack betuma separação. "Os tempos mudaram o suficiente para que as mulheres se sintam mais confortáveis e tenham o direitoapp mrjack betbuscar suas próprias carreiras, seus próprios interesses", afirma Singh, "mesmo que isso signifique viver longe da casa [da família]."
Outras mulheres concluem que é preferível que seus filhos morem com o pai depoisapp mrjack betuma separação, por razões práticas ou financeiras.
"As crianças viviamapp mrjack betuma casa agradávelapp mrjack betuma fazenda no interior, estavamapp mrjack betboas escolas e tinham ótimos amigos", conta Melissa. "Eu não sabia como conseguiria sustentá-los." Ao deixar seus filhos com o pai, ela conseguiu refazerapp mrjack betcarreira como freelancer na imprensa e mudar para um bairro mais barato, perto daapp mrjack betfamília estendida.
"E eu também fiquei muito fragilizada com o que aconteceu no casamento e precisavaapp mrjack bettempo para me recuperar", ela conta.
Em outros pontos do espectroapp mrjack betescolhas, encontram-se as mães que saemapp mrjack betcasa para terem um estiloapp mrjack betvida ou relacionamento diferente.
"Eu me sentia presa, completamente presaapp mrjack betuma situação", afirma Katy, professora que deixou seus cinco filhos com o paiapp mrjack bet2018 e mudou-se para outro lugar na Europa. "Eu me casei com 22 anos, tive meu primeiro filho com 25 e depois foi 'bum, bum, bum' - um filho depois do outro. Eles eram o que eu queria na época, mas acho que não conseguia fazer nada que fosse para mim, na verdade."
E, no extremo do espectroapp mrjack betescolhas, estão as mães que fogemapp mrjack betrelacionamentos tóxicos. Para esse grupo, deixar seus filhos para trás pode ser uma espécieapp mrjack betúltimo recurso para superar sérias questõesapp mrjack betsaúde mental e seguir adiante com suas vidas.
Este foi o casoapp mrjack betNatalie, da Austrália, que sofreu depressão profunda quando vivia no exterior com seu ex-marido. Ela disse que a dinâmica entre eles não era saudável, mas que ele cuidava muito bem dos filhos,app mrjack betforma que ela acabou voltando para o país natal sem eles.
"Meus filhos tinham um pai e uma família estendida que os amavam, rotinas e um lar. Deixá-los era salvar a mim mesma", ela conta. "Quando você chega ao fundo do poço, precisa ser criativa."
Singh acredita que promover a consciência do público sobre o bem-estar sustenta as decisões das mãesapp mrjack betdeixar o ninho da família - ao contrário das gerações anteriores, quando as mulheres muitas vezes sentiam que precisavam cuidar da dinâmica doméstica existente. Existem hoje livros e podcastsapp mrjack betautoajuda sobre separações ou autocuidado, por exemplo, que podem oferecer conforto e aprovação para as mães que tomaram a difícil decisãoapp mrjack betviver longe dos seus filhos.
Mas Singh alerta que parte dessa literatura somente existe devido aos estereótiposapp mrjack betmaternidade que ainda existem. E ela se questiona como algumas mulheres podem sentir que precisam usar discursos sobre bem-estar "para garantir ou legitimar o que estão fazendo".
"Se a sociedade fosse mais justa e igualitária, talvez elas não precisassem depender tanto da literatura para se sentirem confortáveis com as decisões que tomaram. Eu tento ajudar as mulheres a se tornarem mais fortes e fundamentadasapp mrjack betsuas escolhas e, sabe, penso, 'bem, a sociedade pode dizer 'o que seja', mas é isso que eu quero fazer neste momento'", argumenta ela. Às vezes, esta opção é a única que se apresenta para elas... [então é] também questão apenasapp mrjack betajudá-las, fazendo com que elas possam sair com a sensaçãoapp mrjack betque está tudo bem."
Estigma persistente
A liberdadeapp mrjack betsairapp mrjack betcasa não fez com que as mulheres ficassem livresapp mrjack betjulgamentos. Elas ainda tendem a enfrentar reações negativas dos amigos, da família e da sociedadeapp mrjack betgeral pela decisão não convencionalapp mrjack betviver longe dos seus filhos, sejam quais forem as razões por trás dessa decisão - especialmente no Ocidente.
"O principal tema no grupo [online] é como as mulheres ficaram surpresas com as restrições que a sociedade [ainda] esperava delas", segundo Melissa. Ela conta que até participantes que moram longe dos seus filhos para buscar caminhos profissionais no exército ou estudosapp mrjack betpós-graduação compartilham experiênciasapp mrjack betdifamação pelas suas escolhas.
Melissa conta que é frequente que novos conhecidos perguntem às participantes do grupo: "O que você quer dizer, seus filhos não moram com você? Que tipoapp mrjack betmãe não quer estar com seus próprios filhos?".
"Como se fosse uma escolha simples que apenas a mãe pudesse fazer. Como se os pais não tivessem influência, voz, nem responsabilidade nenhuma", diz.
Segundo Singh, isso se deve,app mrjack betgrande parte, aos discursos e expectativas sobre a maternidade não terem se alterado na mesma velocidade do progresso das mulheresapp mrjack betoutras áreas. Em outras palavras, ainda se espera que as mulheres desempenhem o papelapp mrjack betcriadora dos filhos, independentementeapp mrjack betoutras circunstâncias externas.
"Existe ainda um certo estigma ligado às mulheres, como se estivessem abandonando suas tarefas e responsabilidades", segundo ela. "Tem muito a ver com história, ideias culturais e relações entre os gêneros."
Ela indica que esta narrativa é particularmente comum nas culturas individualistas do Ocidente, ao contrário das sociedades mais coletivas. "Nas Filipinas ou na Índia, é bastante comum que as mulheres saiam para ganhar dinheiroapp mrjack betoutros países e o enviem para casa, enquanto as crianças estão sendo criadas pela família estendida ou pelos avós."
Nessas culturas ocidentais, o estigma muitas vezes é ainda mais forte para as mulheres que deixam o ninho familiar para buscar um relacionamento ou estiloapp mrjack betvida específico, que para aquelas que saem por razões práticas ou profissionais. Katy afirma que muitos dos seus parentes não falaram com ela por meses, embora a decisãoapp mrjack betmanter seus filhos na casa da famíliaapp mrjack betvezapp mrjack betsair com ela tivesse sido, segundo ela, tomadaapp mrjack betcomum acordo com o pai das crianças.
"Os homens podem fazer isso, não ter contato com a criança e é aceitável", segundo Katy. "Mas, quando uma mulher faz isso - e eu ainda tenho contato com meus filhos -, as pessoas acham que sou uma mãe ruim e os abandonei. Penseiapp mrjack betfazer o melhor para eles", relata ela, indicando que, se ela tivesse ficado,app mrjack betexaustão e infelicidade só teriam se ampliado. "Eu não percebi na época todas as consequências e todos os julgamentos que iria enfrentar."
Quatro anos apósapp mrjack betmudança, Katy conta que alguns amigos e familiares ainda a veem como "uma mãe ruim" e culpamapp mrjack betdecisãoapp mrjack betsairapp mrjack betcasa por qualquer dificuldade sofrida pelas crianças.
E compartilharapp mrjack bethistória com novos amigos também não a ajudou a reduzir a pressão. Muitas pessoas próximas se distanciaram dela depois que souberam do seu passado e, por isso, ela agora evita falar sobre seus filhos.
"É difícil porque todo dia você pensa 'sim, o que eu fiz realmente exigiu muita coragem'; até que alguém faz um comentário e leva você novamente a pensar que é a pior pessoa do mundo", relata ela.
Melissa conta que as mulheres que admitem que o abuso doméstico foi um fator para que elas saíssem - mesmo acreditando que seu antigo parceiro não machucaria as crianças - enfrentam o julgamento "talvez mais cruel" das pessoas.
"Na violência doméstica, as mulheres raramente saem vivas, que dirá comapp mrjack betsaúde mental intacta", ela conta. Ainda assim, essas mulheres ainda ouvemapp mrjack betestranhos e conhecidos perguntas como "como você pôde fazer isso?" ou "as crianças estão bem com isso?" "Muito raramente as pessoas perguntam 'como você está?' ou 'você está bem?'", conta Melissa.
As visõesapp mrjack betpaternidade aumentam os encargos das mães
Buchanan concorda que, historicamente, os pais que deixam a casa da família foram muito mais aceitos pela sociedade e pela cultura popular do que as mães. Ele menciona a música do veterano cantor norte-americano Bruce Springsteen intitulada Hungry Heart ("Coração faminto",app mrjack bettradução livre). Sua letra começa dizendo "tenho esposa e filhosapp mrjack betBaltimore, Jack, saí para dar uma volta e nunca mais voltei".
Parte dessa aceitação deve-se ao estereótipo social dos homens e das mulheres. Os pais são tradicionalmente considerados cuidadores menos capazes do que as mães. E há também o valor atribuído ao trabalho doméstico sem pagamento, como cuidar das crianças,app mrjack betcomparação com empregos assalariados, argumenta Buchanan.
Tudo isso alimentou a narrativaapp mrjack betque é mais aceitável que os homens saiamapp mrjack betcasa se contribuírem financeiramente, enquanto as mulheres são vistas como abandonando as tarefas familiares.
"Os pais costumam reconhecer apenas o trabalho profissional [pago] como 'trabalho'. E, até que isso mude, acho que você verá muita pressão sobre as mulheres", argumenta ele. "Os pais precisam abraçar, abordar e desafiar o estigmaapp mrjack betque eles são apenas 'provedores', não necessariamente 'pais'."
Mas Buchanan acredita que, apesarapp mrjack bettudo isso, os pais que saemapp mrjack betcasa hojeapp mrjack betdia "não são totalmente desestigmatizados" e "provavelmenteapp mrjack betreputação não é boa". Mas ele aceita que existe um "nível diferenteapp mrjack betestigma" para as mulheres que deixam suas famílias nesse tipoapp mrjack betcircunstâncias. "Quando isso acontece com as mães, o problema é enorme e se torna uma questãoapp mrjack betgênero."
Singh acrescenta que os estigmas sociais podem até influenciar a formaapp mrjack betque as crianças reagem à decisão da mãeapp mrjack betmudar-se da casa da família. Ela trabalhou com muitos clientes adultos que presenciaram o crescimento da infidelidade dos pais e conta que as pessoas tendem a julgar as mães que saemapp mrjack betcasa com mais severidade que os pais: "É difícil perdoá-las, mesmo na idade adulta".
Administrando à distância
Natalie descreveapp mrjack betrelação com seus filhos como "muito próxima" e afirma que eles se falam várias vezes por semana, trocam mensagensapp mrjack bettexto regularmente e fazem visitas presenciais entre si.
"A qualidade do tempo que temos quando estamos juntos é mágica e normal. Nós nos reunimos com muita alegria e estou também presente para cuidar dos dramas e da liçãoapp mrjack betcasa", relata ela.
Já Katy conta que enfrentou dificuldades para manter contato regular com alguns dos seus cinco filhos e mantém uma relação particularmente frágil comapp mrjack betfilha mais velha. Mas, embora a pandemia tenha dificultado as visitas das crianças, ela afirma que conseguiu oferecer a elas o tipoapp mrjack bettempoapp mrjack betfamíliaapp mrjack betqualidade que era difícil quando ela equilibrava a atençãoapp mrjack betcasa e os horáriosapp mrjack bettrabalho antissociais.
"Nós vamos à praia, saímos, fazemos piqueniques juntos no parque... esse tipoapp mrjack betcoisas", segundo Katy. "Eu não me arrependo da minha decisão. Todo o tempo, eu fiz o que achei que tinha que fazer. Gostaria que, um dia, meus filhos crescessem, olhassem para mim e pensassem 'bem, minha mãe não estava feliz, mas ela não aceitou a situação. Ela fez alguma coisa a respeito.'"
No grupoapp mrjack betapoio online, muitas mulheres compartilham regularmente sentimentosapp mrjack betculpa, isolamento social e ostracismo, segundo Melissa, porque é difícil discutir o que elas estão passando com outras pessoas.
"A observação mais comum das novas participantes do nosso grupo é como elas são incrivelmente solitárias. Elas dizem que descobrir o nosso grupo ajuda porque elas se sentem compreendidas e não demonizadas pelas suas circunstâncias", segundo ela. Melissa acredita que os comportamentos mais amplos da sociedade precisam mudar, com a melhor compreensãoapp mrjack betque "as mulheres que saem [de casa]... amam seus filhos tanto quanto as mães que vivem vidas mais tradicionais".
Uma sociedade mais acolhedora?
Permanece o debate sobre se a sociedade algum dia passará a aceitar melhor as mães que vivem longe dos seus filhos.
Tom Buchanan acredita que as coisas irão melhorar, mas apenasapp mrjack betalgumas circunstâncias. "No casoapp mrjack betmudanças orientadas à carreira, acho que é algo que iremos superar,app mrjack bettermosapp mrjack betestigmatização", segundo ele. Ele argumenta que este será um efeito colateralapp mrjack betum aumento mais geral da igualdadeapp mrjack betgênero no lar e no localapp mrjack bettrabalho, com os pais cada vez mais envolvidosapp mrjack betcasa e mais mulheresapp mrjack betposiçõesapp mrjack betliderança.
"[Mas] sair da família apenas por querer buscar algo diferente - acho que sempre será estigmatizado", ressalta ele.
Melissa, a administradora do grupoapp mrjack betapoio, concorda: "Não acho que as coisas mudarão muito no futuro". Dez anos depois que se mudou da casa da família, ela conta que viu pouco progresso no comportamento social com relação às mães que vivem separadas, como ela.
Mas Natalie tem mais esperançasapp mrjack betque as mulheres que saemapp mrjack betcasa por motivos não profissionais terão suas escolhas mais "normalizadas" no futuro, "com educação e consciência suficientes". Para que isso aconteça, ela afirma que a sociedade também precisa ser mais aberta à ideiaapp mrjack betque os pais são cuidadores igualmente capazes.
Esse tipoapp mrjack betmudança, segundo Reennee Singh, também precisa ser acompanhadaapp mrjack betuma aceitação mais ampla e respeitosaapp mrjack bettodo o lequeapp mrjack betopções abertas para as mulheres modernas que trabalham, além dos modelos tradicionais das funções domésticas.
"Seja tendo filhos com mais idade, não tendo filhos, tendo filhos para que outra pessoa seja o cuidador principal deles, existe muito trabalho à frente para nós, mulheres, apenas nos sentirmos mais confortáveis com o fatoapp mrjack betque existem escolhas disponíveis atualmente", argumenta ela. "Não há problemaapp mrjack betescolher algo um pouco diferente... mas cada uma dessas escolhas tem um custo."
Os sobrenomesapp mrjack betMelissa, Katy e Natalie foram omitidos para proteger a privacidade delas eapp mrjack betsuas famílias.
Leia esta reportagem na versão originalapp mrjack betinglês no site BBC Worklife.
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