Alzheimer, um recomeço? Três histórias surpreendentes sobre a demência:jogo para jogar online

Da esquerda para a direita, Áurea Galli, Eneide Marques Cavalcante e Luzia da Silva

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Da esquerda para a direita, Áurea Galli, Eneide Marques Cavalcante e Luzia da Silva: três mulheres, três experiênciasjogo para jogar onlineconvívio com a demência

Especialistas alertam que a pandemiajogo para jogar onlinecovid-19 vai acelerar uma epidemiajogo para jogar onlinedemência que já existe hoje no mundo. A notícia preocupa, mas entre profissionaisjogo para jogar onlinesaúde, pacientes e familiares, cada vez mais pessoas vêm propondo que busquemos formas diferentesjogo para jogar onlinepensar a doença. Não como o fim, mas como um possível recomeço.

Nesta reportagem, três mulheres cujas mães viveram ou vivem hoje com demência e uma médica geriatra compartilham visões sobre a doença que podem surpreender muita gente.

"Quando você recebe um diagnósticojogo para jogar onlinedemênciajogo para jogar onlineum ente querido seu, parece que tudo acabou", diz a geriatra Celene Pinheiro. "Só que nem sempre é assim."

"Foram os melhores anos da vida dela e os melhores anos dela comigo", diz Denise.

Ao compartilhar suas histórias e reflexões, as entrevistadas vão também oferecendo suas respostas para questões comuns entre pessoas afetadas pela demência.

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Como cuidar bemjogo para jogar onlinealguém que tem demência? Colocar um ente querido com demênciajogo para jogar onlinecasajogo para jogar onlinerepouso é abandoná-lo? Como o idoso com demência pode ser incluído na sociedade e quem se beneficia com isso? Até que ponto no desenvolvimento da demência a pessoa é capazjogo para jogar onlinese sentir amada ou hostilizada?

E quando aceitam fazer seus depoimentos, as mulheres (e sim, é sobre elas que recai, na grande maioria dos casos, a responsabilidadejogo para jogar onlinecuidar) expressam um desejojogo para jogar onlinecomum: contribuir para que a sociedade conviva melhor com uma doença que, segundo a Organização Mundialjogo para jogar onlineSaúde (OMS), afeta hoje 50 milhõesjogo para jogar onlinepessoas no mundo e deve afetar maisjogo para jogar online150 milhõesjogo para jogar online2050.

Eneide Marques Cavalcante ejogo para jogar onlinefilha, Denise marques

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Eneide recebeu o diagnósticojogo para jogar onlineDoençajogo para jogar onlineAlzheimerjogo para jogar onlinejaneirojogo para jogar online2015 e faleceujogo para jogar online2019, aos 85 anos. 'Foram os melhores anos da vida dela', diz Denise.

Denise e Eneide - Alzheimer, um recomeço?

Denise Marques tem 54 anos e é terapeuta. Sua mãe, Eneide Marques Cavalcante, recebeu o diagnósticojogo para jogar onlinedoençajogo para jogar onlineAlzheimerjogo para jogar onlinejaneirojogo para jogar online2015 e faleceujogo para jogar onlinedezembrojogo para jogar online2019 aos 85 anos.

"A minha mãe teve Alzheimer, é uma doença que quando a gente ouve a respeito, assusta. Mas eu aprendi que o Alzheimer não é terrível como falam."

Eneide tinha uma deficiência: ela nasceu sem a cabeça do fêmur, o maior osso da perna.

"Minha mãe foi criada pelos meus avós com muito amor, carinho e cuidado, devido à deficiência dela. E aí eu imagino o choque que ela teve quando se viu num casamento totalmente abusivo. E ela não conseguia sair porque meu pai ameaçava que se ela se separasse ele mataria todos nós — eu, minha mãe e meus avós."

No relatojogo para jogar onlineDenise, o horror da violência doméstica vivenciada por ela e outros familiares momentaneamente toma lugar central na narrativa.

"Quando meu pai chegavajogo para jogar onlinecasa, já estava todo mundo tremendo. De que jeito ele ia chegar? Ele voltava alcoolizado, uma força, entortava a torneira, arrebentava a geladeira. Era uma coisa muito violenta."

Mais adiante, veremos que, sobre o panojogo para jogar onlinefundo dos 35 anosjogo para jogar onlineabuso físico e psicológico que Eneide viveu, a doençajogo para jogar onlineAlzheimer que ela desenvolve terá um papel singular emjogo para jogar onlinevida — e najogo para jogar onlinesua filha.

Denise conta que seu pai morreujogo para jogar onlinejaneirojogo para jogar online1997, mas a mãe nunca se recuperou da violência que sofreu e começou a fazer tratamento para depressão. Episódios estranhos, como aquelejogo para jogar onlineque Eneide entra na contramãojogo para jogar onlineuma rua movimentadajogo para jogar onlineCampinas e depois não se lembra do que fez (episódio descrito no início dessa reportagem), são para Denise um prenúncio do que estava por vir.

"Eu entendo que o Alzheimer é uma doença muito sorrateira, silenciosa", diz.

Dez anos mais tarde, Eneide tornou-se paciente da geriatra Celene Pinheiro.

Dra. Celene Pinheiro

Crédito, Divulgação/Sacha Ueda

Legenda da foto, Celene Pinheiro, 47 anos, é geriatra e presidente voluntária da Associação Brasileirajogo para jogar onlineAlzheimer e Outras Demências (ABRAz)

"Eu conheci e acompanhei a dona Eneide por pelo menos dez, doze anos", diz a médica. "E uma coisa que chamava muito a atenção no relacionamento das duas é que ambas se tratavam muito mal."

"Quando elas chegavam à clínica, nesse relacionamento conflituoso — a filha falava às vezesjogo para jogar onlineforma ríspida com a mãe — as minhas secretárias já vinham: 'doutora, nossa, como ela trata mal a mãe! Coitada da nona Eneide!'. E eu falava: 'gente, calma. A gente não deve julgar. A gente deve ouvir. E entender o cenário onde essa relação se construiu.' E foi o que acabou acontecendo", conta Celene.

Em seu depoimento, Denise oferece pistas sobre como era o relacionamento com a mãe: "A Eneide que eu conhecia era extremamente rígida. Eu a chamavajogo para jogar onlinegeneral."

"Quando eu comecei o relacionamento com minha namorada, a minha mãe não aceitoujogo para jogar onlinejeito nenhum", ela recorda. "Ficou muito indignada e não permitia que eu conversasse com ela sobre isso."

De repente, a relação entre mãe e filha se transforma, conta Celene.

"Quando ela (Denise) leva (Eneide) para a instituição, e a demência da dona Eneide avança mais um pouquinho, a hora que eu vejo, as duas começam a se relacionarjogo para jogar onlineuma forma leve, bem humorada, alegre, afetuosa. Um afeto muito grande da Denise para com a Eneide."

A médica conta que não entendia o que estava acontecendo. Até que, um dia, quando visitavajogo para jogar onlinepaciente na clínicajogo para jogar onlinerepouso, Denise lhe faloujogo para jogar onlineseu relacionamento, e da recusa da mãejogo para jogar onlineaceitar a homossexualidade da filha.

Mas o Alzheimer mudaria tudo isso.

Eneide no dia do seu casamento, ao lado do noivo

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, 'Minha mãe foi criada com muito amor, carinho e cuidado, devido à deficiência dela. E aí eu imagino o choque que ela teve quando se viujogo para jogar onlineum casamento totalmente abusivo', diz Denise

"Quando a dona Eneide desenvolve a demência, essas convenções sociais caem por terra", conta Celene. "E ela começa a dar espaço para essa aproximação que, eu acho, a Denise desejava tanto."

Dois anos após a mortejogo para jogar onlineEneide,jogo para jogar onlineentrevista por Zoom à BBC News Brasil, Denise ri, maravilhada, ao recordar os últimos quatro anos na vida da mãe. Não ficou nada mal resolvido, diz.

"Quando a minha mãe chegou nesse nível maior do Alzheimer, virou a chavinha. Como se essa couraça que ela desenvolveu para se protegerjogo para jogar onlinetanto sofrimento na vida tivesse caído, vindo abaixo."

"E aí foram os melhores anos da minha mãe, e os melhores anos meus com ela. Conheci aquela mulher alegre, risonha, que fazia todo mundo sorrir. Carinhosa, abraçava, beijava. Foi uma coisa incrível. Eu vejo que o Alzheimer deu para a minha mãe e para mim uma oportunidadejogo para jogar onlinea gente fazer um resgate. Foi uma história linda."

Os efeitos inesperados da demência

Na experiênciajogo para jogar onlineEneide, a doençajogo para jogar onlineAlzheimer não apagou apenas regras e convenções sociais. A demência fez também o que anosjogo para jogar onlineterapia e medicamentos não tinham conseguido fazer: eliminou da memóriajogo para jogar onlineEneidejogo para jogar onlineexperiência traumáticajogo para jogar onlineviolência.

"No caso da Eneide, a demência foi um presente, porque ela pôde apagar essa memória muito triste e pôde voltar a ser a pessoa alegre que ela era antes", reflete Celene. Mas, infelizmente, não é assim para todos, diz a médica.

"Eu conheço uma senhora que até hoje repete: 'não bate na criança'. Porque o marido dela era muito violento com os filhos. Até hoje ela verbaliza isso: 'Ai, coitadinha, não bate.' Tem pessoas que ficam com essas recordações por terem um valor afetivo muito grande."

Áurea Galli e a filha, Lígia Galli

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Lígia Galli, 59 anos, ejogo para jogar onlinemãe, Áurea Moraes Galli, 81 anos. Áurea recebeu o diagnósticojogo para jogar onlinedemênciajogo para jogar online2012

Lígia e Áurea - Levar pessoa com demência para a instituição é abandonar?

A donajogo para jogar onlinecasa Lígia Galli tem 59 anos. Sua mãe, Áurea Moraes Galli, tem 81 anos e recebeu o diagnósticojogo para jogar onlinedemênciajogo para jogar online2012. Desde então, Áurea vivejogo para jogar onlineuma instituiçãojogo para jogar onlinelonga permanência (ILPI).

"Minha mãe sempre foi uma pessoa ativa, prestimosa com a casa, com os cuidados com os filhos. Fazia tricô, crochê, bordado. Ela cozinhava extremamente bem, fazia pinturas a óleo lindíssimas", conta Lígia.

"Então eu notei muita diferença, retomando, após a morte do meu pai. Quando eu ia visitá-la, a casa estava muito suja, muito largada, com um cheiro ruim, comida estragada na geladeira. Era uma coisa que chocava a mim porque minha mãe não passava nem pertojogo para jogar onlineum tipojogo para jogar onlinecomportamento assim."

Logo, Lígia percebe que a mãe não pode mais viver sozinha. Seu depoimento nos remete a um dilema quase universal entre pessoas afetadas pela demência: cuidarjogo para jogar onlinecasa ou levar para uma ILPI?

"Várias pessoas falaramjogo para jogar onlinecolocar minha mãe numa clínica, mas para mim, naquele momento, aquilo era impensável. Aquela ideiajogo para jogar onlineque a gente vai abandonar o idoso, largar aos cuidadosjogo para jogar onlineestranhos", diz.

Lígia decide levar a mãe para morar com elajogo para jogar onlineIndaiatuba, interiorjogo para jogar onlineSão Paulo. Ela conta que, no começo,jogo para jogar onlinefilha, que tinha 7 anosjogo para jogar onlineidade, achava certas situações engraçadas.

"Porque minha mãe ainda mantinha um bom humor", lembra. "Com piadas, com coisas engraçadas, que começaram a ser misturadas com momentosjogo para jogar onlineraiva, mau humor, desespero,jogo para jogar onlinefalar sozinha,jogo para jogar onlinetirar a fralda e guardar as fezesjogo para jogar onlinegaveta."

"Começou um drama muito grande", lembra Lígia. De um lado, a filha, aos prantos. De outro, uma mãe que agora precisavajogo para jogar onlineatenção 24 horas por dia.

"E quanto mais difícil a situação ficava, mais eu achava que tinhajogo para jogar onlineser capazjogo para jogar onlinecuidar", lembra.

Para ter um poucojogo para jogar onlinedescanso, Lígia começa a levar Áurea para passar o diajogo para jogar onlineuma clínica.

"Quando eu chegavajogo para jogar onlinecasa, o dia que ela ficavajogo para jogar onlinecasa, eu abria a porta e sentia o cheirojogo para jogar onlinefezes. Eu brigava com ela. Sentava no banheiro, fechava tudo, chorava, chorava. Senão eu ia realmente perder a paciência com ela."

Do consultório, a geriatra Celene Pinheiro acompanhou a lutajogo para jogar onlineLígia para cuidar da mãe.

"A Lígia é minha paciente. Ela veio me contando como foi o diagnóstico da mãe,jogo para jogar onlinedoençajogo para jogar onlineAlzheimer."

"Ela estava se desdobrando, se desgastando, sofrendo, até que ela fala: 'meu Deus, só tem uma saída: pedir ajuda especializada'", recorda a médica.

Mas Lígia ainda precisoujogo para jogar onlineum último empurrão. Um dia, ela recebe um telefonema da clínica onde a mãe estava passando o dia. Áurea tinha caído e sofrido várias fraturas.

"Depois desse acidente, para mim ficou claro que ela tinhajogo para jogar onlineir para uma clínicajogo para jogar onlinelonga permanência", diz Lígia.

"Minha prima ainda brincou: 'coitada da tia Aurinha. Deus teve que quebrar ajogo para jogar onlinemãe toda para você entender que era horajogo para jogar onlinelevar ela para uma clínica. Para ter um tratamento adequado e você também,jogo para jogar onlineficar cuidandojogo para jogar onlinevocê e dajogo para jogar onlinefilha.'"

Pintura a óleo feita por Áurea Galli

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Culinária, crochê, pintura a óleo: os múltiplos talentosjogo para jogar onlineÁurea Galli

Quando você leva um idoso com demência para uma ILPI, está atendendo a uma necessidade dele, diz Celene Pinheiro.

"Eu falo para os filhos dos meus pacientes, você sabe ler e escrever? Quando seu filho entrou na idadejogo para jogar onlineser alfabetizado, você levou para a escola, para que ele fosse alfabetizado por especialistasjogo para jogar onlinefazer isso. Não está abandonando seu filho."

Quando se tratajogo para jogar onlineum idoso com demência, você temjogo para jogar onlinepensar assim, prossegue a médica. "Você sabe cuidar, mas às vezes a pessoa precisajogo para jogar onlinealgo a mais."

Livre da responsabilidadejogo para jogar onlinecuidar, Lígia passa a se relacionar com a mãejogo para jogar onlinemaneira diferente.

"Ela me disse que pela primeira vez, depoisjogo para jogar onlinemuito tempo, se sentia filha da mãe dela", diz a geriatra.

E é como filha que Lígia viverá um encontro inesquecível com a mãe.

"Um dia, chegueijogo para jogar onlineuma visita e estava tão triste, tão abalada, com tanto problema da minha filha, do meu marido, faltajogo para jogar onlinedinheiro…", conta.

"Minha mãe estava no terraço sozinha, sentei e comecei a conversar com ela. Até hoje eu converso com ela, como se ela entendesse. Acaba saindo sem querer e acho que alguma coisinha sobra, lá dentro da cabecinha dela. E eu deitei no colo dela. E chorei tanto, tanto. Falei, 'poxa mãe, estou com tanto problema'."

Lígia continua.

"Ela passou a mão na minha cabeça e falou: 'ah, coitadinha, ela tá triste.' E falou: 'eu te amo'. Foi a primeira vez, na minha vida, que eu ouvi a minha mãe falar 'eu te amo'. Eu chorei muito, ejogo para jogar onlineseguida ela começou a cantar 'boi, boi, boi, boi da cara preta…'. Que é uma música que ela canta até hoje."

"Foi um consolo", conta. "O momentojogo para jogar onlineamor que eu nunca tinha recebido da minha mãe a minha vida inteira. Recebi aquele dia."

Em seguida, sorrindo entre as lágrimas, Lígia pede: "Você tem um lencinho aí pra mim?"

Áurea e Lígia Galli

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Livre da responsabilidadejogo para jogar onlinecuidar, Lígia desenvolve um relacionamento diferente com a mãe

Como se comunicar com quem tem demência? O poder da linguagem não verbal

Ao ler o relato desse precioso encontro entre mãe e filha, alguns talvez se perguntem: mas então, onde é que estava esse sentimento que Áurea expressa? Onde fica guardado o amor?

Talvez não haja uma resposta, claro. Mas o episódio sugere que pessoas com demência são, sim, capazesjogo para jogar onlinesentir e expressar amor.

Para Celene, essa história ilustra a importância da comunicação não verbal com pessoas que têm demência.

"Se a Lígia falasse para a mãe, 'mãe, eu estou triste', talvez a mãe não compreendesse porque, muitas vezes, ela não entende o significado da palavrajogo para jogar onlinesi. Mas à medida que ela deita no colo da mãe, se coloca nessa posiçãojogo para jogar onlinefragilidade e chora, e externa esse sentimento dela, a mãe percebe pela posição, e pelo choro, a situação que a filha está passando. E aí ela compreende, e fala: 'tadinha, ela está triste'."

Na verdade, pondera a médica, não se tratajogo para jogar onlineentender com a razão.

"Ela entendeu da forma como ela podia, ou (melhor), acho que ela não entendeu, ela sentiu. Tem coisas que não passam pelo campo da compreensão, passam pelo campo do sentimento."

Por outro lado, observa a médica, uma expressão facial hostil, ou alarmada, pode assustar a pessoa que tem demência.

"Isso é muito nítido. Às vezes, você pode falar uma coisa que não seja agressiva, mas por uma feição agressiva, a pessoa se assusta."

Um dilema e um privilégio

Antesjogo para jogar onlineconcluirmos a históriajogo para jogar onlineLígia e Áurea, é importante ressaltarmos que, para a grande maioria dos brasileiros, o dilema vivido por Lígia — cuidarjogo para jogar onlinecasa ou na instituição? — é quase um privilégio. E por que privilégio?

Segundo Celene Pinheiro, que alémjogo para jogar onlinegeriatra é também presidente voluntária da regional paulista da Associação Brasileirajogo para jogar onlineAlzheimer e Outras Demências (ABRAz), estima-se que entre 1,5 e 2 milhõesjogo para jogar onlinepessoas vivam hoje com alguma formajogo para jogar onlinedemência no Brasil.

Faltam estudos sobre o tema, a médica explica, e os números são imprecisos. Ainda assim, aqui vão dados preliminares fornecidos pela Frente Nacionaljogo para jogar onlineFortalecimento às ILPIs:

  • Haveria 7 mil ILPIs no Brasil, abrigando por voltajogo para jogar online300 mil idosos.
  • Dessas ILPIs, 5% apenas seriam públicas. Outras 35% seriam filantrópicas (muitas das quais pagas) e 60% particulares.
  • Entre as pagas, as mensalidades oscilariam entre 70%jogo para jogar onlineum salário mínimo e R$ 20 mil reais.

Ou seja, há uma carência gritantejogo para jogar onlineILPIs no país. E entre as instituições que existem, a maioria está fora do alcance do brasileiro comum.

Para esses brasileiros, a mensagem da geriatra é: peça ajuda.

"Procure a assistente social no postojogo para jogar onlinesaúde mais próximo", ela sugere. "Busque saber que recursos estão disponíveis. Medicamentos? Fraldas?"

Ela prossegue.

"É importante que a família se sensibilize e se mobilize para cuidar desse idoso. Muitas vezes, fica uma só pessoa cuidando, isso é muito cruel com quem cuida", comenta.

Por fim, diz Celene, as instituiçõesjogo para jogar onlineapoio (entre elas a ABRAz) oferecem uma gamajogo para jogar onlineserviços. Aconselhamento jurídico, por exemplo.

"Às vezes, a orientação jurídica permite que a pessoa viabilize recursos para cuidar desse idoso."

As associações também oferecem suporte emocional e oportunidades para que cuidadores e outras pessoas afetadas pela demência se encontrem, se apoiem mutuamente, troquem experiências e recebam informações práticas sobre como cuidar, explica.

A médica deixa claro que tudo isso está longejogo para jogar onlineser suficiente. Mas diz que profissionaisjogo para jogar onlinesaúde como ela e entidadesjogo para jogar onlineapoio vêm pressionando autoridades e políticos para que promovam mais pesquisas sobre as demências e aumentem a ofertajogo para jogar onlineserviços ejogo para jogar onlineinstituições públicas para pacientes.

Não por acaso, acabajogo para jogar onlineser aprovado no Senado um projetojogo para jogar onlinelei que institui uma política nacionaljogo para jogar onlineenfrentamento à doençajogo para jogar onlineAlzheimer e outras demências.

"Vamos avançar para aumentar o acesso ao cuidadojogo para jogar onlinequalidade e às instituições", diz.

Mas nem todo paciente com demência precisa ser cuidadojogo para jogar onlineuma instituição. A história que encerra essa reportagem é uma experiênciajogo para jogar onlinecuidar bem —jogo para jogar onlinecasa.

Luzia da Silva sorri para a câmera, goiaba mordida na mão

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Luzia da Silva, 81 anos, vive com Alzheimer e outras demências há pelo menos 8 anos. Ela mora com a filha, a professora aposentada Ivani Alexandre, 59 anos

Ivani e Luzia - O que é um bom evoluir da demência?

Ivani Alexandre, professora aposentada, tem 59 anos. Sua mãe, Luzia da Silva, com 81 anos, vive com Alzheimer e outras demências há pelo menos 8 anos.

"Minha mãe costurava, quando foi para a minha casa ainda costurou. Costurou uma colchajogo para jogar onlineretalhos maravilhosa, mas nos últimos retalhos foi muito difícil, e eu falo que essa colchajogo para jogar onlineretalhos foi a história da minha aceitação."

"Eu insistindo e e eu percebendo que cada dia ela tinha uma dificuldade. Ela não gravava o que tinha feito no dia anterior e a gente começava do zero. Sempre começando do zero. Mas foi super bacana essa colcha, e aí eu entendi."

Celene Pinheiro diz que começou a atender Luziajogo para jogar online2012.

"A Ivani percebeu que era entrando nesse mundojogo para jogar onlinenovas necessidades da dona Luzia, e atendendo a essas necessidades, que ela ia conseguir tanto estimular a dona Luzia como também trazer muito mais conforto e serenidade", diz.

As demências são doenças degenerativas e progressivas, diz a médica. Elas vão piorar — mas podem evoluirjogo para jogar onlineformas diferentes.

O bom evoluir da demência se apoiajogo para jogar onlinedois grandes pilares, explica. Um é a saúde geral do paciente — que dependejogo para jogar onlinefatores como boa alimentação, exercícios físicos e o controlejogo para jogar onlinedoenças crônicas como diabetes, por exemplo.

O outro grande pilar tem a ver com as interações sociais, a qualidade do ambiente, o entorno da pessoa.

"Tem casosjogo para jogar onlinepessoas que têm diagnósticojogo para jogar onlinedemência há bem maisjogo para jogar onlinedez anos e estão estáveis porque têm engajamento social, uma vivência interessante com a família, uma vida bem organizada no sentido da rotina", diz. "Você vê que essas pessoas evoluem melhor."

Aqui, a médica tocajogo para jogar onlineum ponto central ao novo jeitojogo para jogar onlinepensar a demência que surge no Brasil e no mundo: chegajogo para jogar onlinesegregação. A pessoa com demência precisa ser incluída na sociedade, ela defende.

Como incluir a pessoa com demência e quem ganha com isso?

Como educadora, Ivani já tinha familiaridade com o conceitojogo para jogar onlineinclusão. Ela conta que, quando era professorajogo para jogar onlineeducação física, adorava ver crianças com deficiência e sem deficiência fazendo aula juntas. Ela diz à BBC News Brasil que, hoje, pratica inclusãojogo para jogar onlinecasa, com a mãe.

A família morajogo para jogar onlineuma chácara. Luzia é incentivada a contribuir com pequenas tarefas, como debulhar feijão, por exemplo.

"A coordenação fina dela ainda é muito boa", explica.

Mas a história vai ficar ainda mais interessante. Por causa da pandemia, a netajogo para jogar onlineIvani, Dyanna, com 4 anosjogo para jogar onlineidade, vem passar uma temporada na chácara.

Agora, são quatro geraçõesjogo para jogar onlineconvivência: Luzia, Ivani e seu marido, o filho do casal e a neta. "A gente foi construindo um relacionamento", conta.

Bisneta e bisavó passam a fazer refeições juntas. Luzia torna-se "a ajudante"jogo para jogar onlineDyanna e participa das atividades escolares. "Minha mãe sempre prestativa", comenta Ivani. "Afinal, ela quer ser útil."

"Por exemplo, meu filho e minha neta fizeram um bilboquê e a minha mãe brincou junto", lembra. "Ela mostrou uma habilidade, todo mundo ficou admirado, aplaudiu, e ela ficou toda feliz, sorridente."

Ivani, Luzia e o irmãojogo para jogar onlineIvani, Ivo da Silva

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, 'Tem casosjogo para jogar onlinepessoas que têm diagnósticojogo para jogar onlinedemência há bem maisjogo para jogar onlinedez anos e estão estáveis porque têm engajamento social, uma vivência interessante com a família', diz a geriatra Celene Pinheiro

Ivani não se esquivajogo para jogar onlinefalar do aspecto mais dolorido dessa convivência com a demência.

"Sinto falta do sorriso, que é a presença dela mesmo. Não gosto muito quando ela está com aquele ar ausente, isso me machuca. E a minha neta trouxe essa vivacidade para a minha mãe."

Luzia, porjogo para jogar onlinevez, também oferece a Dyanna oportunidadesjogo para jogar onlinese incluir e fazerjogo para jogar onlinecontribuição.

"Havia alguns momentosjogo para jogar onlineque minha mãe falava para a Dyanna: 'ah, vou embora'."

"Ela levantava, ia saindo, e não dava tempojogo para jogar onlinea Dyanna vir contar para mim, para eu tomar uma atitude."

Esse, aliás, é um quadro comum entre pacientes com demência. Durante certos períodos do dia, ficam inquietos e começam a vagar, forçar as portas e querer ir embora. Médicos chamam esse comportamentojogo para jogar onlineSíndrome do Pôr do Sol. Dyanna logo aprende a lidar com ele.

"Ela corria atrás da minha mãe, pegava pela mão e explicava: 'não, bisa, você mora aqui.' Aí ela levava a minha mãe no quarto: 'olha, aqui é seu quarto, aqui é seu banheiro.' Ela estava repetindo os gestos que tinha me visto fazer", conta. "Ela se prontificou a ser cuidadora também."

O depoimentojogo para jogar onlineIvani é repletojogo para jogar onlinemomentos encantadores,jogo para jogar onlineque bisavó e bisneta parecem habitar um mundo só delas. Dyanna e Luzia pescando. Dyanna sentada na poltrona ao lado da cama da bisavó, trocando histórias.

"A conversa ia longe! E eu ouvindo atrás da porta, para saber se estavam fazendo arte."

E o episódiojogo para jogar onlineque Dyanna tenta convencer a a avó a sentarjogo para jogar onlineum pequenino balanço, feito sob medida para a criança.

"Se eu não tivesse surtado, eu deveria ter filmado: 'Não, bisa, senta aqui, põe uma perna, depois põe a outra… não, não tem problema, não vai acontecer nada'."

Ivani ri, deliciada, ao recordar o episódio.

"E minha mãe simplesmente indo… não têm amarras, nenhuma das duas."

Poder trocar histórias, conviver e participar da vida da família eleva muito a autoestima da pessoa que tem demência, diz Celene. Mas para a geriatra, a históriajogo para jogar onlineIvani, Luzia e Dyanna mostra que não só o idoso se beneficia.

"A criança também, começa a perceber o outro, a não olhar só para si."

"E ganha a cuidadora Ivani, que aprendeu tanto e tem tido momentos tão ricosjogo para jogar onlineconvívio."

Dizendo adeus aos poucos

Ao longojogo para jogar onlinevárias entrevistas à BBC News Brasil, Celene Pinheiro não esconde seu desejojogo para jogar onlinemudar a imagem que se faz das demências. Mas ela reconhece: "Ninguém quer terjogo para jogar onlineenfrentar um casojogo para jogar onlinedemência na família."

Por outro lado, "quantos perdem familiaresjogo para jogar onlineforma repentina e sofrem tanto", observa. A demência pode ser a oportunidadejogo para jogar onlineuma despedida gradativa.

"Quando você percebe que essa é uma condição que vai levar tempo para acontecer, e que você pode fazer dele um tempo bom, e se permitir ter esses momentos bonitos, é muito engrandecedor."

Mas as palavras finaisjogo para jogar onlineCelene Pinheiro vão para quem não conseguiu se enxergar nos relatosjogo para jogar onlineLígia, Ivani e Denise.

Ela conta que,jogo para jogar online18 anosjogo para jogar onlinegeriatria, já viu muitas famílias saírem do consultório ou da salajogo para jogar onlinepalestras se sentindo culpadas.

"Não estamos pregando modelos virtuosos, que devam ser erguidos", explica. "Conhecemos muito mais histórias tristes do que bem sucedidas. Mas, quem sabe ouvir histórias positivas nos ajuda a vislumbrar outras possibilidades?"

Línea

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