Ômicron: entenda por que epistasia é chave para entender gravidadevariante:
"Se uma variante tem mais mutações, isso não significa que seja mais perigosa, mais transmissível ou que tenha maior capacidadeevadir o efeito das vacinas", diz Ed Feil, professorevolução microbiana da UniversidadeBath, na Inglaterra.
A chave para saber quais efeitos a variante terá, diz o especialista, é entender como suas mutações interagem entre si.
Esse processo é denominado epistasia (não confundir com epistaxe, o termo científico para o sangramento pelo nariz).
Entender como funciona a epistasia e quais são suas consequências é um verdadeiro desafio para os cientistas.
"Mesmo que entendamos o efeito das mutações individuais, isso não nos diz como essas mutações se comportarão quando ligadas entre si", diz Feil.
O que é epistasia e por que ela é essencial na luta contra a pandemia covid-19?
Interaçãomutações
À medida que um vírus evolui, ele pode acumular um grupomutações que, porvez, podem criar uma variante.
Para detectar novas variantes, os cientistas rastreiam a sequência genômica do vírus.
Dessa forma, eles identificam quais partesseu genoma estão mudando à medida que o patógeno é transmitido.
Algumas variantes, como a ômicron, são consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como "variantespreocupação" porque suas mutações lhes conferem potencial para serem mais contagiosas, causar doenças mais graves ou reduzir o efeito das vacinas.
Esse é o caso da gamma, por exemplo, detectada originalmenteManaus, no Brasil.
Mas para saber se o vírus realmente possui alguma dessas habilidades, não basta identificar que algumasuas mutações são capazesproduzir algum desses efeitos individualmente.
"A combinaçãomutações pode ter efeitos que não podem ser necessariamente previstos ou explicados pelo efeitouma mutação individual", diz Feil.
"Pode haver uma mutação que causa um efeito e outra mutação que causa outro, mas juntas podem ter um efeito completamente diferente."
Um exemplo disso é mencionado pelo biólogo evolucionista Jesse Bloomum artigo recente no jornal americano The New York Times.
A variante alpha tem uma mutação chamada N501Y, que está associada à maior capacidadeinfecção.
A variante delta não tem essa mutação e, no entanto, é mais contagiosa que a alpha, pois possui outras mutações que fortalecemtransmissibilidade.
Para casos como esse, Feil diz que "o efeitouma mutação individual dependequais outras mutações estão no genoma do vírus".
Difícilprever
Da mesma forma, as mutações não têm efeito aditivo.
Por exemplo, se uma variante tem uma mutação que aumentacapacidadetransmissão10% e tem outra mutação que também aumentacapacidadetransmissão10%, isso não significa automaticamente que essa variante será 20% mais contagiosa.
Dependendocomo essas duas mutações interagem, ou seja, dependendo do tipoepistasia entre elas, o vírus pode ser 40% mais contagioso.
Mas também pode acontecer que ambas as mutações se cancelem, tornando-se uma variante menos transmissível do que o esperado.
"A epistasia não torna necessariamente a situação mais perigosa, apenas torna incrivelmente difícil prever como o vírus se comportará", explica Feil.
No caso do coronavírus, diz Feil, pode ser que o vírus esteja passando por tantas mutações que pode estar chegando a um pontoque se autodestrói.
"Mas essa é uma visão muito otimista", diz Feil com ceticismo.
"O efeito da epistasia pode fazer com que o vírus tome um novo rumo a qualquer momento."
Como exemplo, Feil menciona que grande parte da batalha contra o vírus tem se concentrado na proteína S (spike ou espícula) com a qual ele se liga às células humanas, mas é possível que algumas mutaçõesoutras partes do vírus estejam influenciando seu comportamento.
"Ainda não sabemos como essas mutações vão interagir", diz o especialista.
Consequências da epistasia
A ômicron é particularmente difícildecifrar porque o númeromutações que apresenta tornaepistasia mais difícilentender.
"Isso abre mais espaço evolutivo para isso", diz Feil, acrescentando que os pesquisadores também são forçados a observar combinações que não foram vistas antes.
Segundo o especialista, a sequência genômica do vírus pode nos enviar sinaisalerta ao detectar uma mutação perigosa, mas isso não é o suficiente.
"A sequência genética nos diz o que uma mutação pode fazer, mas não nos diz quais serão as consequências da combinaçãomutações na variante", assinala Feil.
A chave é entender o que essas mutações podem alcançar interagindo umas com as outras.
Portanto, "vai demorar para saber do que a ômicron é realmente capaz", conclui o especialista.
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