‘Caçadoresfreebet vbetvírus’: os cientistas que buscam a origem da próxima pandemia:freebet vbet

Morcego

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Legenda da foto, Os morcegos são uma das principais 'fontes'freebet vbetnovos vírus com potencial pandêmico

"Sars-CoV, Mers-CoV, influenza, ebola, marburg, lassa, nipah, zika e, agora, o Sars-CoV-2 foram todos os causadores da 'doença X' por um tempo", escrevem os representantes da OMS.

Nesse contexto, o termo "doença X" é comumente usado para descrever a próxima grande pandemia que afetará a humanidade num futuro próximo. Esse foi (e continua a ser) o caso da covid-19, que começou a chamar a atenção no finalfreebet vbet2019 e causou uma crise sanitária global que não era vista há pelo menos um século.

"Até o momento, pelo menos 4,8 milhõesfreebet vbetpessoas morreramfreebet vbetcovid-19. Eles e seus familiares merecem respostas sobre onde e como esse vírus se originou. E essa informação é interessefreebet vbettodos, pois precisamos estar melhor preparados para a próxima doença X", finalizam os especialistas no artigo da Science.

Tedros Adhanom Ghebreyesus

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Tedros Adhanom Ghebreyesus entende que interesses políticos atrapalharam as investigações sobre as origens da covid-19

Mas como um trabalho desses acontece na prática? Como é que os cientistas "caçam" coisas tão microscópicas como os vírus? A BBC News Brasil conversou com quatro virologistas brasileiros que fazem esse tipofreebet vbetpesquisa. Eles contam um pouco da rotina no laboratório (e fora dele) e da importância desse trabalho para entender melhor as ameaças do presente e do futuro.

Duas décadas agitadas

Com 37 anosfreebet vbetserviços prestados à ciência, Edison Luiz Durigon é um dos mais conhecidos "caçadoresfreebet vbetvírus" do Brasil.

O professor titularfreebet vbetvirologia do Institutofreebet vbetCiências Biomédicas da Universidadefreebet vbetSão Paulo (ICB-USP) conta que o interesse por essa área no país ganhou força a partirfreebet vbet2003, quando foram feitos investimentos para o monitoramentofreebet vbetvírusfreebet vbetterritório nacional.

"À época, nós estávamos muito preocupados com a febre do oeste do Nilo, uma doença emergente que poderia chegar ao país atravésfreebet vbetaves migratórias", lembra.

Transmitido por picadasfreebet vbetmosquitos, esse vírus pode afetar, além das próprias aves, seres humanos e cavalos. "A infecção costuma ser leve na maioria das vezes, mas pode causar uma encefalite [inflamação do cérebro] letalfreebet vbetcrianças e idosos", explica o professor.

Ao contráriofreebet vbetdengue, zika e chikungunya, que são veiculados pelo Aedes aegypti, o gênerofreebet vbetmosquito que transmite a febre do oeste do Nilo é o Culex, o pernilongo comum que se reproduz atéfreebet vbetágua suja.

"Em 2003, nós montamos um dos primeiros laboratóriosfreebet vbetbiossegurança nível 3, que têm controle bem rígido, e formamos uma equipe para capturar aves migratórias, colher amostras e analisar a presençafreebet vbetvírus nelas", contextualiza Durigon.

Edison Luiz Durigon

Crédito, Reprodução/YouTube ICB-USP

Legenda da foto, O 'caçadorfreebet vbetvírus' Edison Luiz Durigon faz o monitoramentofreebet vbetaves migratórias que chegam ao Brasil há quase duas décadas

Nessa mesma época, outro vírus assustou o mundo: o Sars-CoV, um "primo" do coronavírus por trás da covid-19. Identificado na China, ele causava a Síndrome Respiratória Aguda Grave, conhecida pela sigla Sars, e matou cercafreebet vbet700 pessoasfreebet vbet29 países diferentes.

"Na sequência, observamos,freebet vbet2005, o surgimento do H5N1, que foi chamadofreebet vbetcausador da gripe aviária,freebet vbet2009, o H1N1, e assim por diante", lista o pesquisador.

Nesse meio tempo, Durigon e outros especialistas ainda lidaram com dengue, zika, chikungunya, ebola…

Para resumir a história, os virologistas do Brasil e do mundo não tiveram sossego nesse começofreebet vbetséculo 21: foram vários os episódiosfreebet vbetsurtos e epidemias que exigiram o trabalho deles nos últimos anos.

Os alvos prediletos

Os caçadoresfreebet vbetvírus costumam acompanhar maisfreebet vbetperto algumas espéciesfreebet vbetanimais, que sabidamente carregam agentes microscópicos com potencial danoso à saúde humana.

E, como adiantamos mais acima, as aves são objetofreebet vbetmonitoramento constante.

"Em meadosfreebet vbetnovembro, cercafreebet vbet5 bilhõesfreebet vbetaves migram do Hemisfério Norte para o Sul, num dos fenômenos mais bonitos da natureza", calcula Durigon.

O pesquisador do ICB-USP explica que, no Brasil, esses animais costumam pousarfreebet vbettrês lugares específicos: no extremo Sul, próximo à Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, no extremo Norte, nas cercaniasfreebet vbetBelém do Pará, e nas regiões costeirasfreebet vbetPernambuco e Maranhão.

"Elas vêm pra cáfreebet vbetbuscafreebet vbetalimentação, principalmentefreebet vbetpequenos crustáceos típicos desses locais", complementa o virologista.

Todos os anos, uma equipefreebet vbetcientistas vai até essas localidades para colher amostras das aves e ver que vírus elas carregam.

"Nós já encontramos os influenzas H6N8 e o H11N9, que têm potencialfreebet vbetcausar uma pandemia no futuro", informa Durigon.

Aves migratórias

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Legenda da foto, Aves migratórias podem levar novos vírusfreebet vbetum canto do planeta a outro

Mas as aves migratórias não são o único objetofreebet vbetinteresse: gruposfreebet vbetpesquisa também monitoram com frequência primatas, roedores, mosquitos e, claro, os morcegos.

A virologista Helena Lage Ferreira, co-coordenadora da rede PREVIR-MCTI e professora da Faculdadefreebet vbetZootecnia e Engenhariafreebet vbetAlimentos da USP, chama a atenção para a enorme variedadefreebet vbetmorcegos que existem não apenas no Brasil, masfreebet vbettodo o Hemisfério Sul.

"E a gente conhece muito pouco dessa diversidade e quais vírus circulam entre eles. Precisamos ter uma maior vigilância sobre essas espécies", aponta.

A especialista, que também é primeira secretária da Sociedade Brasileirafreebet vbetVirologia, conta que, a partir da pandemiafreebet vbetcovid-19, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações decidiu criar a Rede Vírus, um comitê que reúne especialistasfreebet vbetvárias instituições para estudar e integrar iniciativasfreebet vbetcombate às viroses emergentes no país.

"Quando a gente conhece melhor a situação, não somos pegosfreebet vbetsurpresa por doenças novas e totalmente desconhecidas" diz Ferreira.

O virologista Cláudio Wageck Canal, que estuda vírus causadoresfreebet vbetabortosfreebet vbetsuínos, ovinos e bovinos, conta que o avanço da tecnologia facilitou bastante o trabalhofreebet vbetmonitoramento dos vírus.

"Nos últimos 10 anos, tivemos acesso a equipamentos que permitem sequenciar e identificar os vírus com muito mais facilidade", informa o pesquisador, que é professor titular da Faculdadefreebet vbetVeterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O salto entre espécies

Mas como um vírus, que está adaptado a uma espécie, "pula" para a outra e começa a causar novos danos?

Esse processo é conhecido pelo termo inglês spillover, que pode ser traduzido para o português como "transbordamento".

Ele acontece quando uma espécie, que é o reservatório natural daquele vírus, passa a ter um contato mais frequente com uma segunda espécie.

Com o passar do tempo e essa proximidade constante, o agente infeccioso sofre mutações, que podem facilitar a transmissãofreebet vbetum tipofreebet vbetanimal para outro.

Vamos pegar como exemplo o Sars-CoV, o causador da epidemiafreebet vbetSarsfreebet vbet2002 e 2003. Sabe-se que esse tipofreebet vbetcoronavírus circulava entre morcegos da Ásia. Por uma sériefreebet vbetfatores, ele "pulou" e começou a afetar também as civetas, um mamífero comumfreebet vbetalgumas regiões daquele continente. Passado algum tempo, o agente infeccioso deu um novo salto e passou a invadir o organismofreebet vbetseres humanos.

Civeta

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Legenda da foto, A civeta foi o animal intermediário entre morcegos e humanos na epidemiafreebet vbetSars,freebet vbet2002 e 2003

Para causar um surto, uma epidemia ou uma pandemia ainda mais grave, o vírus ainda pode passar por uma última etapa: sofrer uma nova leva mutações, que permita que ele seja transmissívelfreebet vbetuma pessoa para outra, sem a "intermediação"freebet vbetum animal.

É por isso que as aves migratórias geram tanta preocupação: elas são capazesfreebet vbettrazer o vírus influenza, o causador da gripe,freebet vbetum hemisfério para outro. Quando chegam ao Brasil, por exemplo, elas têm contato com aves locais, que podem ser infectadas pelo patógeno.

"Nós temos muitas granjas instaladasfreebet vbetSanta Catarina e no Rio Grande do Sul que estão próximas dos sítios migratórios das aves", acrescenta Durigon.

Do pontofreebet vbetvista econômico, isso representa uma grande ameaça. Se o influenza acaba transmitido para essas galinhas e é identificado a tempo, elas precisam ser abatidas, o que representaria um grande prejuízo e um riscofreebet vbetdesabastecimento no mercado.

Já sob a perspectiva da saúde pública, há também um perigo enorme. Se esses vírus da gripe sofrerem algumas mutações, eles poderiam começar a ser transmitidos para os cuidadores e os demais funcionários das granjas. E daí basta mais um passo para que a infecção passefreebet vbetindivíduo para indivíduo.

"Nos últimos anos, foram registrados surtosfreebet vbetinfluenza H5N1freebet vbetcriadourosfreebet vbetlugares como Rússia e Egito. Isso é algo que começa a nos assustar", avalia Durigon.

Um bicho 'enxerido'

Agora que já entendemos como acontece o tal do spillover, podemos nos debruçar na próxima pergunta: com todas as experiênciasfreebet vbetsurtos no século 21, esses eventos estão se tornando mais comuns? Por que os vírus estão "pulando" mais para os seres humanos?

"Porque o homem é um bicho enxerido", responde Durigon.

"O desenvolvimento social e econômico é sempre acompanhadofreebet vbetdesmatamento e queimada. Toda vez que o homem entra no ambiente do animal, ele favorece o surgimentofreebet vbetuma doença nova", completa o pesquisador.

Os dados mostram como a destruiçãofreebet vbetambientes naturais se aceleroufreebet vbetépocas mais recentes.

Dados do Banco Mundial indicam que,freebet vbet1990, o mundo possuía 41,2 milhõesfreebet vbetquilômetros quadradosfreebet vbetárea florestal. Esse número caiu para 39,9 milhõesfreebet vbet2016. Parece uma redução pequena? A área devastadafreebet vbetmaisfreebet vbet1,3 milhõesfreebet vbetquilômetros quadradosfreebet vbetapenas 16 anos é quase equivalente ao Amazonas inteiro (o maior Estado do Brasil) e supera a áreafreebet vbetpaíses como Peru, Colômbia e África do Sul.

Ou seja: os vírus estão quietinhos lá na natureza, cumprindo seus infindáveis ciclosfreebet vbetreplicação dentrofreebet vbetum ser vivo. Com o avanço das cidades, mais natureza é destruída, o que desloca os animais e facilita o contato deles com os seres humanos.

O spillover, portanto, acaba favorecido.

De acordo com a virologista e patologista Paula Rodriguesfreebet vbetAlmeida, professora do cursofreebet vbetveterinária da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, os contágios costumam acontecer nas chamadas "zonasfreebet vbetinterface".

"São ambientes naturais que foram degradados,freebet vbetque acontece com mais frequência essa exposição da espécie humana aos novos vírus", ensina.

A cientista, que faz o monitoramentofreebet vbetmosquitos transmissores vírus como dengue, zika, chikungunya e febre amarela, também chama a atenção para o fenômeno contrário: o spillback.

"Há sempre o riscofreebet vbetdoenças que afetam os humanos começarem a infectar espécies animais e criarem reservatórios na natureza", detalha.

"Foi o que aconteceu com a febre amarela no Brasil, que hoje é encontradafreebet vbetmosquitosfreebet vbetáreas silvestres."

Floresta degradada

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Legenda da foto, As 'zonasfreebet vbetinterface', áreas degradadas e destruídas na natureza, representam um grande perigo para o surgimentofreebet vbetnovos vírus

Propagação facilitada

Depois que o vírus adquire a capacidadefreebet vbetser transmitido entre seres humanos, o riscofreebet vbetele se espalhar mundo afora vai dependerfreebet vbetuma sériefreebet vbetfatores, como a formafreebet vbettransmissão e o potencialfreebet vbetletalidade.

Mas é inegável que a configuração atual do mundo facilita (e muito) esse processo.

Além da destruição do meio ambiente, sobre a qual já falamos, as pessoas vivem aglomeradasfreebet vbetgrandes cidades e a conexão entre diferentes partes do mundo é facilitada pelas viagensfreebet vbetavião.

Um indivíduo infectado com o coronavírus, por exemplo, pode sair do Brasil e chegar ao Japãofreebet vbetmenosfreebet vbet48 horas, antes mesmofreebet vbetdesenvolver os primeiros sintomas da covid-19.

É possível conter as futuras crises sanitárias?

Com tantos fatores jogando contra, é consenso entre especialistas que vamos passar por novas pandemias num futuro próximo.

"Essa não é uma questãofreebet vbet'se', mas, sim,freebet vbetquando vai acontecer", diz Ferreira.

De acordo com os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, existe uma grande probabilidadefreebet vbetque a próxima crisefreebet vbetsaúde seja causada pelo influenza, o causador da gripe.

"A maior chance é que esse vírus surja na Ásia, por causa da densidade populacional e do grande volumefreebet vbetcriaçãofreebet vbetaves e suínosfreebet vbetlá", projeta Canal.

A boa notícia é que as agências internacionaisfreebet vbetsaúde, como a OMS, parecem ter um planejamento mais elaborado para conter essa futura ameaça.

Laboratório científico

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A descrição e o estudofreebet vbetnovos vírus permite entender melhor as futuras ameaças — e eventualmente até desenvolver vacinas e tratamentos contra elas

"Existe um planofreebet vbetcontingência que pode ser colocadofreebet vbetprática assim que um influenza emergente aparecer", detalha Durigon.

"Isso envolve a produçãofreebet vbetvacinasfreebet vbetforma rápida. Existem laboratórios treinados no mundo todo para que a fabricação demore poucos meses e, inclusive, o Instituto Butantan,freebet vbetSão Paulo, faz parte deste consórcio", complementa.

Mas é claro que sempre há o riscofreebet vbetum outro vírus diferente do influenza aparecer e virar a nova dorfreebet vbetcabeça da humanidade, como foi o caso do próprio coronavírus nesses últimos meses.

Isso só reforça a importância do trabalho dos caçadoresfreebet vbetvírus e desse monitoramento constante das possíveis ameaças.

"Um timefreebet vbetpesquisadores capazes e coordenados, junto com o financiamento contínuo da ciência, são elementos cruciais para que a gente não seja surpreendido novamente", finaliza Ferreira.

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