COP26: As críticas do Brasil a relatório da ONU crucial para conferência sobre mudanças climáticas:5gringos
5gringos Em mensagens ao principal órgão mundial responsável por orientar o combate às mudanças climáticas, o Brasil se opôs a recomendações para reduzir o consumo5gringoscarne no mundo, defendeu a produção5gringosbiocombustíveis e rebateu críticas à política ambiental do governo Jair Bolsonaro.
Os debates foram travados durante a elaboração do sexto relatório5gringosavaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que será um dos documentos5gringosreferência na COP26, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas que começa no dia 315gringosoutubro5gringosGlasgow, na Escócia.
A BBC teve acesso exclusivo a mais5gringos32 mil comentários e críticas que governos, empresas e outras instituições fizeram ao relatório do IPCC, o principal órgão global responsável por organizar o conhecimento científico sobre as mudanças do clima e orientar as ações para combatê-las.
Os relatórios do IPCC são usados por governos para decidir que ações são necessárias para reduzir o ritmo das mudanças climáticas, e este mais recente será crucial para orientar as negociações na COP26, na Escócia. Os comentários dos países e o rascunho mais atualizado do relatório foram entregues ao time5gringosjornalistas investigativos da ONG Greenpeace UK, que repassou os documentos à BBC.
Brasil é contra reduzir consumo5gringoscarne
Nas mensagens ao IPCC, o Brasil se opôs fortemente à conclusão do relatório5gringosque a adoção5gringosuma dieta com menos carnes e mais alimentos feitos5gringosplantas seria necessária para combater a mudança do clima.
O argumento foi endossado pela Argentina e,5gringosmenor grau, pelo Uruguai - outros dois grandes produtores5gringoscarne.
Segundo o IPCC, a produção5gringoscarne é um dos principais fatores por trás do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Isso porque a vegetação nativa é muitas vezes derrubada para dar lugar a pastagens ou plantações5gringossoja, que alimentam rebanhos.
O rascunho do relatório do IPCC diz que "dietas à base5gringosvegetais podem reduzir as emissões5gringosaté 50% comparado com a média5gringosemissões da dieta Ocidental."
Ao IPCC, porém, o Brasil argumentou que a produção5gringoscarne não necessariamente emite mais gases causadores do efeito estufa do que a produção5gringosalimentos feitos5gringosplantas.
Tanto Brasil quanto Argentina defenderam que os autores do relatório do IPCC apaguem ou modifiquem trechos do texto que falam que "dietas à base5gringosvegetais" cumprem um papel na gestão das mudanças climáticas ou que descrevem carne vermelha como um alimento5gringos"alta emissão5gringoscarbono".
O governo brasileiro citou a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre uma dieta saudável, segundo a qual a dieta deve "considerar recomendações nutricionais internacionais; (e) a adaptabilidade a contextos sociais, culturais e econômicos locais".
Segundo o Brasil, tanto dietas vegetarianas quanto dietas com carnes podem gerar altas emissões na5gringosprodução, dependendo da metodologia5gringosprodução, mas também há formas5gringosreduzir essas emissões, segundo o governo.
O Brasil argumentou que a pecuária, quando integrada com práticas agrícolas e conservacionistas, "pode neutralizar emissões e promover um sistema5gringosprodução equilibrado e diversificado, portanto, resiliente".
Além disso, disse que "os benefícios nutricionais da proteína animal para a saúde humana não podem ser desconsiderados".
Segundo a USDA, agência agrícola do governo americano, o Brasil é o segundo maior produtor do mundo5gringoscarne bovina e seus derivados, só atrás dos EUA. Em 2020, 16,67% da carne bovina consumida no mundo veio do Brasil, segundo a agência.
Biocombustíveis e desmatamento
Outro ponto5gringosdivergência entre o Brasil e o IPCC foi a produção5gringosbiocombustíveis, como o etanol. O Brasil se queixou da avaliação do IPCC5gringosque os biocombustíveis provocam a substituição5gringosflorestas por monoculturas e reivindicou que veículos movidos a biocombustíveis sejam tratados da mesma forma que veículos elétricos.
Em seu relatório, o IPCC diz que um aumento muito grande no uso5gringosbiocombustíveis "colocará pressão significativa sobre o uso da terra e ecossistemas".
Já o Brasil argumenta, entre outros pontos, que a bioenergia pode ajudar a combater a desertificação e que o setor pode se expandir por áreas agrícolas hoje inutilizadas, e não florestas.
Outra divergência se deu quanto à avaliação do IPCC5gringosque o governo Bolsonaro teria reduzido a proteção da Amazônia, o que teria causado um aumento do desmatamento.
Sobre esse ponto, o Canadá afirmou que a situação era ainda pior do que a retratada pelo IPCC.
"As taxas atuais5gringosdesmatamento (na Amazônia brasileira) estão 182% mais altas do que as metas estabelecidas - representando uma redução5gringossó 44% comparada aos 80% estabelecidos5gringoslei".
O Canadá cobrou ainda do Brasil um "plano coerente para regularizar e proteger terras públicas e indígenas". Já o governo brasileiro rejeitou que tenha ocorrido uma redução na proteção da Amazônia.
"Não houve mudanças nas regulamentações sobre uso da terra no Brasil, e o país manteve seu Código Florestal como ele é", disse o país.
O governo citou ainda a criação do Conselho da Amazônia e5gringosuma força-tarefa ambiental para traçar e executar planos para "proteger, defender e desenvolver sustentavelmente as florestas brasileiras".
No entanto, não há referências no relatório do IPCC a qualquer desregulamentação, mas sim à redução5gringospoder das agências ambientais brasileiras, caso do Ibama.
Em várias ocasiões, o presidente Jair Bolsonaro se queixou5gringospráticas empregadas pelo Ibama - como a destruição5gringosequipamentos5gringosmadeireiros e garimpeiros ilegais.
Afirmou ainda que,5gringosseu governo, a agência estava sendo "mais racional" com produtores rurais.
Apesar do discurso do governo5gringosque não houve enfraquecimento nas leis5gringosproteção ambiental, a gestão Bolsonaro tem apoiado propostas5gringosmudanças legislativas que, se aprovadas, podem gerar mais desmatamento, segundo especialistas.
É o caso dos Projetos5gringosLei 510/2021 e 2633/2020, que hoje tramitam no Congresso e facilitariam a regularização5gringosterras públicas desmatadas ilegalmente.
Suíça e Austrália se opõem a mais ajuda a países pobres
Um número significativo5gringoscomentários da Suíça é direcionado a emendar partes do relatório que argumentam que os países5gringosdesenvolvimento precisarão5gringosapoio, principalmente financeiro, dos países ricos para cumprir as metas5gringosredução5gringosemissões.
Foi acordado na conferência do clima5gringosCopenhague5gringos2009 que as nações desenvolvidas forneceriam US$ 100 bilhões por ano5gringosfinanciamento climático para os países5gringosdesenvolvimento até 2020, uma meta que ainda não foi cumprida
A Austrália apresenta argumentos semelhantes aos da Suíça - afirma que nem todas as promessas climáticas5gringospaíses5gringosdesenvolvimento dependem5gringosreceber apoio financeiro externo. O governo australiano também classifica5gringos"comentário subjetivo" uma menção no rascunho do relatório à falta5gringoscompromissos públicos confiáveis sobre financiamento a nações5gringosdesenvolvimento.
O Escritório Federal Suíço para o Meio Ambiente disse à BBC: "Embora o financiamento do clima seja uma ferramenta crítica para aumentar a ambição climática, não é a única ferramenta relevante."
"A Suíça considera que todas as Partes do Acordo5gringosParis com capacidade para fazê-lo devem fornecer apoio àqueles que precisam desse apoio."
Combustíveis fósseis
Os documentos obtidos pela BBC mostram diversas organizações e países argumentando que o mundo não precisa reduzir a dependência5gringoscombustíveis fósseis tão rapidamente quanto o recomendado pelo IPCC.
Um assessor do Ministério do Petróleo da Arábia Saudita exige que "frases como 'a necessidade5gringosações urgentes e aceleradas5gringosmitigação5gringostodas as escalas ...' sejam eliminadas do relatório".
Um alto funcionário do governo australiano rejeita a conclusão5gringosque o fechamento5gringosusinas termelétricas a carvão é necessário, embora acabar com o uso do carvão seja um dos objetivos declarados da conferência COP26.
A Arábia Saudita é um dos maiores produtores5gringospetróleo do mundo e a Austrália é um grande exportador5gringoscarvão.
Um cientista sênior do Instituto Central5gringosPesquisa5gringosMineração e Combustível da Índia, que tem fortes ligações com o governo indiano, alerta que o carvão provavelmente continuará sendo o esteio da produção5gringosenergia por décadas por causa do que ele descreve como os "tremendos desafios"5gringosfornecer eletricidade acessível. A Índia já é o segundo maior consumidor mundial5gringoscarvão.
Defesa5gringostecnologias5gringoscaptura5gringoscarbono
Vários países argumentam a favor5gringostecnologias emergentes e atualmente caras, projetadas para capturar e armazenar permanentemente dióxido5gringoscarbono no subsolo. Arábia Saudita, China, Austrália e Japão - todos grandes produtores ou usuários5gringoscombustíveis fósseis - assim como a organização5gringosnações produtoras5gringospetróleo, Opep, todos apóiam a captura e armazenamento5gringoscarbono (CCS).
Alegam que essas tecnologias CCS podem reduzir drasticamente as emissões5gringoscombustíveis fósseis5gringosusinas5gringosenergia e alguns setores industriais.
A Arábia Saudita, o maior exportador5gringospetróleo do mundo, pede aos cientistas da ONU que excluam5gringosconclusão5gringosque "o foco dos esforços5gringosdescarbonização no setor5gringossistemas5gringosenergia deve ser a rápida mudança para fontes5gringoscarbono zero e a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis".
Argentina, Noruega e Opep também questionam a declaração. A Noruega argumenta que os cientistas da ONU devem permitir a possibilidade5gringosCCS como uma ferramenta potencial para reduzir as emissões5gringoscombustíveis fósseis.
O relatório preliminar aceita que o CCS pode desempenhar um papel no futuro, mas diz que há incertezas sobre5gringosviabilidade. O documento diz que "há grande ambiguidade sobre5gringosque medida os combustíveis fósseis com CCS seriam compatíveis com as metas 2°C e 1,5°C", conforme estabelecido pelo Acordo5gringosParis.
A Austrália pede aos cientistas do IPCC que excluam uma referência à análise do papel desempenhado pelos lobistas dos combustíveis fósseis5gringosamenizar as ações sobre o clima na Austrália e nos Estados Unidos. A Opep também pede ao IPCC que "elimine" essa frase do relatório preliminar: "o ativismo5gringoslobby, que protege os modelos5gringosnegócios5gringosextrativistas, impede a ação política".
Quando abordada sobre seus comentários ao relatório preliminar, a Opep disse à BBC: "O desafio5gringoslidar com as emissões tem muitos caminhos, como evidenciado pelo relatório do IPCC, e precisamos explorar todos eles. Precisamos utilizar todas as energias disponíveis, também como soluções tecnológicas limpas e mais eficientes para ajudar a reduzir as emissões, garantindo que ninguém seja deixado para trás. "
O IPCC afirma que os comentários dos governos são fundamentais para seu processo5gringosrevisão científica e que seus autores não têm obrigação5gringosincorporá-los aos relatórios.
"Nossos processos são projetados para proteger contra lobby", disse o IPCC à BBC. "O processo5gringosrevisão é (e sempre foi) absolutamente fundamental para o trabalho do IPCC e é uma fonte importante da força e credibilidade5gringosnossos relatórios."
*Com reportagem5gringosJustin Rowlatt e Tom Gerken
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