Afeganistão: O que aconteceu com 100 refugiados afegãos que Brasil recebeu há quase 20 anos:apostas campeão copa do mundo 2024

Nas ruasapostas campeão copa do mundo 2024Porto Alegre, as pessoas estranhavam o véu cobrindo inteiramente o cabelo. Às vezes, reagiam com hostilidade. "Não tinha afegãos lá naquela época, não tinha muçulmanos.

As pessoas me viam com o hijab e saíamapostas campeão copa do mundo 2024perto, não queriam sentar ao meu lado no ônibus. Alguns falavam: saiapostas campeão copa do mundo 2024perto, é mulher-bomba."

Mas a afegã, hoje com 43 anos, conta que também encontrou acolhida, principalmente entre as vizinhas, que hoje são como irmãs para ela. "A gente pode construir famíliaapostas campeão copa do mundo 2024afeto. Tenho pessoas maravilhosas ao meu redor, que me amam como irmã. São minha família".

Nabila faz parte do primeiro grupoapostas campeão copa do mundo 2024refugiados afegãos que o Brasil recebeu, há cercaapostas campeão copa do mundo 202420 anos, no início da Guerra do Afeganistão.

Na ocasião, o presidente Fernando Henrique Cardoso se comprometeu a incluir o Brasil no esforço internacionalapostas campeão copa do mundo 2024acolhimento das pessoas que fugiam do Talebã e do conflito armado no país.

Numa medida inédita para o Brasil, o Ministério da Justiça firmou acordo com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), para reassentar cercaapostas campeão copa do mundo 2024100 afegãos que estavamapostas campeão copa do mundo 2024camposapostas campeão copa do mundo 2024refugiados na Índia e no Paquistão.

Essas pessoas, que não falavam português e que tinham uma ideia muito remota do que era o Brasil, cruzariam o oceanoapostas campeão copa do mundo 2024buscaapostas campeão copa do mundo 2024uma vida nova.

Nabila conta que o marido fez um pedido ao governo indiano para ser reassentadoapostas campeão copa do mundo 2024outro país, onde recebesse auxílio e tivesse mais oportunidadesapostas campeão copa do mundo 2024trabalho. Meses depois, chegou a notíciaapostas campeão copa do mundo 2024que o Brasil os receberia.

"A gente não sabia como era o Brasil, como é a língua e a cultura. Saímos com olhos fechados, no escuro, jogando na sorte. Tudo o que a gente queria era um futuro para nosso filho, mais calmo, mais saudável."

Ajuda inicial para depois 'andar com os próprios pés'

Apesarapostas campeão copa do mundo 2024o Brasil ser um mistério para grande parte dos refugiados que seriam reassentados, a expectativa era grande: as crianças poderiam ir à a escola e os adultos teriam ajuda financeira da Acnur por pelo menos um ano.

Cada adulto receberia R$ 260, mais R$ 13 por criança, alémapostas campeão copa do mundo 2024aluguel, energia, cesta básica, remédios e transporte escolar.

Grande parte dos reassentados foi encaminhada para Porto Alegre. "Essa assistência é temporária, enquanto está ocorrendo a inserção. No médio prazo, o desafio é a inserção econômica, a autonomia financeira", explica o porta-voz da Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho.

Uma ONG chamada Centroapostas campeão copa do mundo 2024Orientação e Encaminhamento (Cenoe) ficou responsável por coordenar o esforçoapostas campeão copa do mundo 2024integração dos afegãos, providenciando as residências, angariando ofertasapostas campeão copa do mundo 2024trabalho e aulasapostas campeão copa do mundo 2024português.

"As famílias estavam muito esperançosas. Elas vinhamapostas campeão copa do mundo 2024situação difícil, sem direitos, vivendoapostas campeão copa do mundo 2024camposapostas campeão copa do mundo 2024refugiados. O país deles estavaapostas campeão copa do mundo 2024guerra e eles tinham a oportunidadeapostas campeão copa do mundo 2024recomeçar no Brasil", disse à BBC News Brasil o advogado Gerson Heeman, que coordenou, como integrante da Cenoe, a recepção aos afegãos.

"Eles tinham muitas expectativas e vontadeapostas campeão copa do mundo 2024recomeçar, mas a minha impressão é aapostas campeão copa do mundo 2024que pouco sabiam sobre o Brasil."

Choqueapostas campeão copa do mundo 2024cultural

Pouco tempo depoisapostas campeão copa do mundo 2024desembarcar no país, os refugiados se depararam com um choqueapostas campeão copa do mundo 2024realidade. Para Heeman, no imaginário deles, o Brasil era um país rico, cheioapostas campeão copa do mundo 2024oportunidades. Mas grande parte das ofertasapostas campeão copa do mundo 2024emprego disponíveis não oferecia remuneração alta.

Alguns dos refugiados tinham completado cursosapostas campeão copa do mundo 2024graduação. Um deles era professor universitário, um outro era engenheiro elétrico. Mas sem possibilidade imediataapostas campeão copa do mundo 2024revalidar seus diplomas no Brasil e sem dominar o português, não conseguiriam trabalhar com a especializaçãoapostas campeão copa do mundo 2024origem.

Foram oferecidas 277 vagasapostas campeão copa do mundo 2024emprego aos refugiados, após campanha junto a empresas da cidade, diz Heeman. A maioria, no entanto, pagava o salário mínimo vigente na época.

"Houve uma decepção deles com a realidade do Brasil, além da adaptação cultural. Eles tinham uma expectativa maiorapostas campeão copa do mundo 2024remuneração, já que comparavam com a vidaapostas campeão copa do mundo 2024parentes que haviam sido reassentados no Canadá", diz Heeman.

Os afegãos também se depararam com uma cultura muito diferente e com a ausênciaapostas campeão copa do mundo 2024uma comunidade muçulmana, para se sentirem mais acolhidos.

"Eles eram os primeiros afegãosapostas campeão copa do mundo 2024Porto Alegre. Países europeus, Canadá e Estados Unidos já estavam mais acostumados a receber imigrantes e refugiadosapostas campeão copa do mundo 2024países da Ásia e do Oriente Médio", destaca Heeman.

O porta-voz da Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho, também ressalta que o processoapostas campeão copa do mundo 2024integração não foi simples.

"Para pessoas vindasapostas campeão copa do mundo 2024muito longe,apostas campeão copa do mundo 2024áreas do Oriente Médio e da África, a cultura brasileira é muito diferente. Há um choque cultural. Depois, tem a barreira do idioma, que é preciso transpor para alcançar o mercadoapostas campeão copa do mundo 2024trabalho", disse à BBC News Brasil.

Uns ficaram, outros foram embora

Alguns anos depoisapostas campeão copa do mundo 2024se mudar para o Brasil, integrantesapostas campeão copa do mundo 2024três famílias decidiram voltar ao Afeganistão.

O motivo não foi somente a dificuldadeapostas campeão copa do mundo 2024adaptação, mas também a esperançaapostas campeão copa do mundo 2024participar da reconstruçãoapostas campeão copa do mundo 2024um Afeganistão sem os talebãs no poder.

"Em 2003, quando a situação estava mais estabilizada, eles decidiram voltar, comentaram que poderiam retomar a vida lá e estavam animados para ajudar na reconstrução do país pós-talebã", conta Heeman.

Mas outros afegãos do grupo decidiram ficaram no Brasil. Foi o casoapostas campeão copa do mundo 2024Omar Atbai,apostas campeão copa do mundo 202430 anos, que hoje trabalha na áreaapostas campeão copa do mundo 2024informática. A mãe dele, Roqia, e as duas irmãs continuaram no Brasil. Mas o pai decidiu voltar ao Afeganistãoapostas campeão copa do mundo 20242005.

"Meu pai viveu aqui por dois anos, mas não se adaptou e resolveu voltar", diz Omar, que nunca mais retornou ao país natal.

O maridoapostas campeão copa do mundo 2024Nabila também não se adaptou e quis retornar ao Afeganistãoapostas campeão copa do mundo 20242007. Ela se recusou a sair do Brasil e não deixou que ele levasse os filhos.

"Ele começou a ficar com ciúmesapostas campeão copa do mundo 2024mim, não queria me deixar trabalhar e a gente precisava do dinheiro. O Brasil era muito liberado para ele. Eu disse que ia ficar, não ia deixar meus filhos vivendo na guerra. Ele foi e eu fiquei", conta.

Atualmente, só os filhos mantêm contato com o pai, mas faz três meses que não conseguem notícia.

Heeman, da ONG Cenoe, conta que além das mulheres que decidiram se separar dos maridos e ficar no Brasil, vários jovens se adaptaram rapidamente e não quiseram voltar ao Afeganistão com os pais.

O filhoapostas campeão copa do mundo 2024um casal que voltou ao paísapostas campeão copa do mundo 20242003, por exemplo, resolveu ficar no Brasil, onde estava bem posicionado no ramoapostas campeão copa do mundo 2024vendaapostas campeão copa do mundo 2024tapeçarias persas. Uma outra família assentadaapostas campeão copa do mundo 2024Porto Alegre conseguiu empregos na áreaapostas campeão copa do mundo 2024corteapostas campeão copa do mundo 2024carnes halal que segue os preceitos do islã.

'Saldo positivo'

Apesarapostas campeão copa do mundo 2024ter havido repatriaçãoapostas campeão copa do mundo 2024parcela dos primeiros afegãos que chegaram ao Brasil, Heeman diz considerar que o saldo do programaapostas campeão copa do mundo 2024reassentamento foi positivo.

O esquema só existiu por um ano. Desde então, a entradaapostas campeão copa do mundo 2024afegãos passou a se dar por pedidoapostas campeão copa do mundo 2024refúgio - a pessoa entra no Brasil pelos próprios meios e pede para permanecer. De 2016 a 2020, o país concedeu refúgio a 88 afegãos, segundo dados do Ministério da Justiça.

"Eu acho que foi positivo o programaapostas campeão copa do mundo 2024reassentamento, porque as famílias que voltaram fizeram isso num momento diferente, avaliando que a situação havia melhorado com a queda do Talebã. E as famílias que ficaram conseguiram uma inserção na sociedade."

Godinho também destaca que é natural que alguns refugiados acabem sendo repatriados ou busquem acolhida num terceiro país com o qual se identifiquem mais.

"Não existe uma cartilha. Não é só seguir um manual que vai funcionar igual para todos. As pessoas têm seus traumas, suas maneirasapostas campeão copa do mundo 2024lidar com as situações. Algumas resistem à nova realidade. Algumas se adaptam, outras não", diz o representante da Acnur.

Nabila, hoje com 43 anos, fala português fluentemente e trabalha na casaapostas campeão copa do mundo 2024uma família, fazendo faxina e cozinhando, alémapostas campeão copa do mundo 2024cuidarapostas campeão copa do mundo 2024uma idosa às tardes. Os dois filhos,apostas campeão copa do mundo 202427 e 28 anos, estão trabalhando, são independentes financeiramente e, segundo ela, não pensamapostas campeão copa do mundo 2024deixar o país. Ela não abre mão do hijab, frequenta a mesquita da cidade, e diz que considera o Brasilapostas campeão copa do mundo 2024casa.

"O Brasil é um país bom. Se não fossem os roubos, seria o melhor país do mundo. Eu, mesmo se tivesse oportunidadeapostas campeão copa do mundo 2024morar no Canadá ou nos Estados Unidos, ia querer continuar a morar no Brasil. As pessoas aqui são maravilhosas, são acolhedoras, sabem olhar para a dor do outro."

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