'Escolhi esperar': por que só campanhajogo do onlineabstinência sexual não evita gravidez na adolescência:jogo do online
A ideia é instituir datas para que o tema da prevenção da gravidez na adolescência seja discutido nas escolas da capital paulista.
O projeto ganhou aval da própria Prefeiturajogo do onlineSão Paulo, comandada por Ricardo Nunes (MDB).
Embora não cite diretamente a abstinência sexual, a escolha do nome "Escolhi Esperar" para a iniciativa chamou atenção por ser o mesmo mote usadojogo do onlinecampanhasjogo do onlinegrupos religiosos cristãos, que entendem que a relação sexual só pode acontecer após o casamento.
O debate na Câmara Municipal paulista pode até ser o mais recente, mas não é o único:jogo do onlineoutras cidades e Estados, vereadores, deputados, prefeitos e governadores também abraçaram a ideia e já lançaram emendas e projetosjogo do onlinelei similares, que tentam até promover a abstinência sexual como método contraceptivo para os jovens brasileiros.
No Governo Federal, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos chegou a lançar, com apoio do Ministério da Saúde, uma campanha no iníciojogo do online2020 que abordava o tema e tentava retardar a idade da primeira transa.
Numa sériejogo do onlinecoletivas e notas à imprensa, representantes dos ministérios prometiam que o objetivo era colocar a abstinência como um método complementar, e que a distribuiçãojogo do onlinecamisinhas e outros contraceptivos não seria prejudicada ou ignorada.
À época, a abordagem foi muito criticada por especialistasjogo do onlinepolíticas públicas. O tema, porém, acabou ficandojogo do onlinesegundo plano com a chegada e o agravamento da covid-19 ao país.
Um sério problemajogo do onlinesaúde pública
As estatísticas sobre casosjogo do onlinegestação durante a adolescência no Brasil revelam uma realidade assustadora e pouco divulgada.
Segundo um relatório feito pela Federação Brasileira das Associaçõesjogo do onlineGinecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a taxa anualjogo do onlinegravidez precoce no mundo éjogo do online44 nascimentos a cada mil adolescentesjogo do online15 a 19 anos.
No Brasil, esse índice sobe para 62 nascimentos a cada mil adolescentes.
O Brasil, inclusive, faz parte do grupojogo do onlinesete nações que respondem por metadejogo do onlinetodas as gestações precoces registradas no planeta (os outros são Bangladesh, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Nigéria e Estados Unidos).
Olhando para a situação interna,jogo do onlinecada seis crianças que nascemjogo do onlinesolo brasileiro, uma é filhajogo do onlinemãe adolescente.
Para piorar, um terço das meninas brasileiras que tem um bebê ficam grávidas novamente após 12 meses, enquanto o tempo mínimo recomendado entre uma gestação e outra éjogo do online18 meses.
Outro dado que chama a atenção: 65% dos partosjogo do onlineadolescentes brasileiras não foram planejados.
Vale ressaltar que a maioria desses dados levajogo do onlineconta a faixa etária que vai dos 15 aos 19 anos — quando a gravidez ocorre antes disso (dos 10 aos 14 anos), esses casos são geralmente considerados "estupros presumidos".
E mesmo nessas idades ainda mais precoces a situação também é assustadora: um artigojogo do onlineespecialistas da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) ejogo do onlineoutras quatro instituições revela que o Brasil registrou, entre 2006 e 2015, maisjogo do online278 mil nascimentosjogo do onlinebebês cujas mães haviam acabadojogo do onlinesair da infância e entrado na adolescência.
Embora a taxajogo do onlinegestações entre garotasjogo do online10 a 14 anos tenha caído ano após anojogo do onlineboa parte do país, houve um crescimentojogo do onlinemaisjogo do online20% dos partos nesta faixa etária entre residentes da região Norte.
Em seu parecer, a Febrasgo ainda aponta que essas estatísticas brasileiras tão altas e díspares estão relacionadas a "uma sériejogo do onlinefatores que interagem entre si".
Entre eles, a entidade destaca o início precoce da vida sexual, a pobreza, a baixa escolaridade, ter a maternidade como a única opçãojogo do onlinevida, relações familiares conflituosas, faltajogo do onlinediálogo, o não uso (ou o uso inadequado)jogo do onlinemétodos contraceptivos, a violência sexual, o casamento precoce, a faltajogo do onlineinformação, a ausênciajogo do onlineeducação sexual nas escolas, a dificuldadejogo do onlineacesso aos serviçosjogo do onlinesaúde e a pressão dos colegas.
"Estamos falando, portanto,jogo do onlineum problema multifatorial, que vai interferir significativamente na vida da adolescente dalijogo do onlinediante", assinala o ginecologista Agnaldo Lopes, presidente da Febrasgo.
Futurojogo do onlinexeque
Éjogo do onlinese esperar, portanto, que um cenário tão complicado como esse tenha as mais diversas repercussões para a adolescente, o bebê, a família e toda a sociedade.
O relatório da Febrasgo destaca que gestaçõesjogo do onlineidades tão tenras estão associadas com maior riscojogo do onlineparto prematuro, recém-nascido com baixo peso, o aparecimentojogo do onlinetranstornos mentais (como depressão) na adolescente e até morte por complicações na horajogo do onlinefazer um aborto inseguro ou durante o parto.
A necessidadejogo do onlinecuidar do filho também está diretamente relacionada com o abandono escolar e a perdajogo do onlineoportunidadesjogo do onlineempregos, o que, segundo o texto da Febrasgo, "perpetua o ciclo da pobreza".
Os dados do Instituto Brasileirojogo do onlineGeografia e Estatística (IBGE) apontam que seisjogo do onlinecada dez adolescentes grávidas no país não trabalham e nem estudam.
E isso repercute na vida delas e também na economia como um todo: um estudo assinado pelo Banco Mundial revela que o Brasil teria um incrementojogo do online3,5 bilhõesjogo do onlinedólares (R$18 bilhões)jogo do onlineprodutividade anual se essas meninas tivessem a gestação só após os 20 anos.
Como combater
Mas, diantejogo do onlinetal problema, como é possível resolvê-lo?
E a ciência já tem bons caminhos a oferecer: a ginecologista Carolina Sales Vieira, chefe do Serviçojogo do onlineAnticoncepção da Faculdadejogo do onlineMedicinajogo do onlineRibeirão Preto da Universidadejogo do onlineSão Paulo (USP), explica que as abordagens mais bem-sucedidas combinam uma sériejogo do onlineestratégias.
"E isso inclui projetosjogo do onlinetransferênciajogo do onlinerenda, não incentivar o casamento precoce, melhorar a educação sexual nas escolas, aprimorar o acesso aos métodos anticoncepcionais…", enumera a médica.
A especialista também defende a necessidadejogo do onlinedar perspectivas futuras para as meninas brasileiras, especialmente das camadas mais pobres.
"Se elas não têm razão para estudar, se não possuem algum objetivojogo do onlinecarreira, por que atrasariam uma gestação para outro momento da vida?", questiona.
E, ao contrário do que se pensa, falar mais sobre saúde sexual nas escolas não estimula os jovens a transaremjogo do onlineforma desenfreada.
"As aulas precisam falar sobre o autocuidado, os problemasjogo do onlineser mãe precocemente, o que fazer se estiverjogo do onlineriscojogo do onlineabuso e, claro, como se proteger durante a relação para não apenas evitar um filho, mas também uma infecção sexualmente transmissível (IST)", exemplifica Vieira.
E essas aulas não devem focar apenas no sexo feminino, segundo a especialista. Os meninos também precisam saberjogo do onlinesuas responsabilidades e entender todos os aspectos da reprodução, do prazer e todos os aspectos relacionados ao tema.
O problema está justamente na faltajogo do onlineinformações: quando os jovens não conhecem o próprio corpo, o que acontece durante o sexo e como se resguardar adequadamente, eles acabam se colocandojogo do onlinesituaçõesjogo do onlinerisco.
Segundo a ginecologista, tratar da sexualidadejogo do onlineforma aberta e sem tabus, respeitando os limitesjogo do onlinecada faixa etária, está relacionado, inclusive, a um início sexual mais tardio, pois os jovens se sentem mais empoderados para tomar uma decisão consciente e sabem reconhecer melhor possíveis abusos.
Focar sójogo do onlineabstinência também não ajudajogo do onlinenada, aponta a médica.
"Os estudos nos mostram que os jovens acabam tendo relação sexual do mesmo jeito e ainda ficam mais vulneráveis à gravidez e às ISTs", resume Vieira.
"Não basta dizer para não ter relação sexual. É preciso instruir os jovens a escolher o momento oportuno,jogo do onlineque as coisas são feitasjogo do onlineforma consciente e segura", entende Lopes.
"Fora que essa abordagem do 'escolhi esperar' não reconhece o papel da violência sexual na gravidez durante a adolescência: uma gestação dos 10 aos 14 anos muitas vezes é frutojogo do onlineum estupro presumido. Será que essas meninas só engravidam porque não falaram 'eu escolhi esperar'?", aponta a especialista.
"Muitas vezes, a questão não é querer fazer sexo. Elas são obrigadas", completa.
Para que espermatozoide e óvulo não se encontrem
Somado à educação sexual e o combate às mais variadas formasjogo do onlineviolência, especialistas argumentam ser necessário ampliar o acesso aos métodos contraceptivos no sistema públicojogo do onlinesaúde brasileiro.
Segundo eles, não se trata apenas dos preservativos, masjogo do onlinealternativasjogo do onlinelonga duração que prescindem da memória e da ação direta dos adolescentes na hora do sexo, como é o caso dos dispositivos intrauterinos (conhecidos pela sigla DIU), dos implantes hormonais e das injeções mensais ou trimestrais.
Embora não atuem contra as ISTs como Aids, sífilis e gonorreia, as pesquisas mostram que essas ferramentas têm uma alta eficácia na prevenção da gravidez.
Nesse sentido, uma das experiências mais bem-sucedidasjogo do onlineredução nos casosjogo do onlinegestação na adolescência aconteceu no Reino Unido. Seis anos após a implementaçãojogo do onlineum programa amplo, que envolveu os métodos contraceptivos e a educação sexual, foi registrada uma quedajogo do online42% na taxajogo do onlinemeninas grávidas por lá.
Em comparação, o Brasil não realizou nenhuma mudança significativa nas políticas públicasjogo do onlinesexualidade entre os mais jovens. O resultado foi uma quedajogo do onlineapenas 13,5% nos númerosjogo do onlineadolescentes que esperavam um filho entre 2006 e 2015.
Seguindo as evidências, portanto, pensar que a abstinência será a solução para todos os problemas soa, no mínimo, estranho, na opiniãojogo do onlineespecialistas.
"Na verdade, quando a gente não usa as evidências científicas disponíveis para criar políticasjogo do onlinesaúde pública realmente efetivas, corremos o riscojogo do onlinegastar dinheiro e não alcançar o resultado desejado, a não ser atender os anseiosjogo do onlineuma base eleitoral ou perpetuar candidatos no poder", critica Vieira.
"Quando nós temos a evidênciajogo do onlineque algo funciona e seguimos por outro caminho com motivações religiosas ou morais, estamos correndo o riscojogo do onlinedesperdiçar dinheiro público, que é umjogo do onlinenossos grandes males junto da corrupção", completa a ginecologista.
Respostas, versões e posicionamentos
A BBC News Brasil procurou diversas entidades, representantes políticos e instâncias governamentais que foram citados ao longo desta reportagem.
A Prefeiturajogo do onlineSão Paulo respondeu por meiojogo do onlineuma notajogo do onlineesclarecimento, enviada pela assessoriajogo do onlineimprensa.
Nela, os responsáveis pela capital paulista informam que o parecer da Secretaria Municipaljogo do onlineSaúde, que deu uma sinalização positiva ao projeto da "Semana Escolhi Esperar", "é técnico, portanto não autoriza nenhuma ilação político-ideológica".
A proposta seguejogo do onlinediscussão na Câmara Municipal da cidade.
"A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) ressalta que as açõesjogo do onlineprevenção da gravidez na adolescência desenvolvidas pela rede municipal são baseadas na autonomia do adolescente, preconizada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e também no direito à informação e acesso a métodos contraceptivos, inclusive para redução da incidênciajogo do onlinesegunda gravidez na adolescência", continua a nota, que informa uma quedajogo do online9,2% na taxajogo do onlinegestações entre paulistanasjogo do online10 a 20 anos ao longo do ano passado.
Após a publicação da reportagem, a BBC News Brasil recebeu respostas e posicionamentos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) e do vereador Rinaldi Digiglio, que também foram mencionados ao longo do texto.
A assessoriajogo do onlineimprensa do MMFDH afirmou que "trabalha nas ações voltadas para à proteção integral desse público [os adolescentes], o que inclui a preservaçãojogo do onlinesua integridade física e psicológica. O ministério busca oferecer informações integrais para que eles possam avaliar com responsabilidade as consequênciasjogo do onlinesuas escolhas para o seu projetojogo do onlinevida".
Nesse sentido, diz a nota, as políticas que incentivam os jovens a atrasarem a idade do primeiro relacionamento sexual é "considerada como estratégia para redução da gravidez na adolescência por ser o único método 100% eficaz".
Os responsáveis pelo MMFDH também informam que, desde 2019, eles se esforçam para articular o assunto com "múltiplos atores, nas diferentes esferas sociais e governamentais".
"Aindajogo do online2019, foi aprovada a Lei nº 13.798/2019, que instituiu a Semana Nacionaljogo do onlinePrevenção da Gravidez na Adolescência. A primeira ação concreta decorrente da lei foi a formalizaçãojogo do onlinecompromisso público entre os Ministérios da Saúde, da Educação, da Cidadania e o MMFDH, visando a reuniãojogo do onlineesforços para a prevenção da gravidez na adolescência", continua a nota, que confirma a realização das campanhasjogo do onlinecomunicação com o público geraljogo do online2020 e 2021.
"Essa iniciativa vem sendo construída a partirjogo do onlinepesquisas ejogo do onlineboas práticas nacionais e internacionais sobre o tema, com a participação efetiva das equipes técnicas do governo federal, especialistas, entidades representativasjogo do onlineclasse,jogo do onlinefamílias,jogo do onlineprofissionais das áreasjogo do onlinesaúde, educação e assistência social e dos próprios adolescentes."
O MMFDH conclui dizendo que está construindo o Plano Nacionaljogo do onlinePrevenção Primária ao Risco Sexual Precoce e Gravidezjogo do onlineCrianças e Adolescentes, que deve ser lançadojogo do onlinebreve.
Já o vereador Rinaldi Digiglio disse lamentar que "mais uma vez, sem sequer uma linha ou palavra no texto do projetojogo do onlinelei citando a abstinência sexual, a união entre uma imprensa desinformada e uma esquerda assassina, que quer aprovar seus projetos já apresentadosjogo do onlineaborto humanizado e a eutanásia, macule um projetojogo do onlinelei sério, com base científica".
Vale ressaltar, no entanto, que a reportagem deixa claro logo nos primeiros parágrafos que, apesar do nome "Semana Escolhi Esperar", o projeto não fala diretamentejogo do onlineabstinência sexual.
Digiglio continua dizendo que, "ao contrário do que a imprensa e a esquerda dizem, já existem políticas públicas que incentivam o usojogo do onlinepreservativos, como camisinhas, e outros métodos contraceptivos, como os anticoncepcionais e pílulas do dia seguinte. Políticas essas que seriam mantidas e ampliadas, com meu apoio, mesmo com a aprovação do projeto".
O vereador lembra que membros do PT e do PSOL da Câmara Municipaljogo do onlineSão Paulo votaram a favor do projeto, que também recebeu um parecer favorável da Secretaria Municipaljogo do onlineSaúde.
Ele afirma estar disposto a mudar o nome da semana e que a ideia é somar "mais uma política, que é ajogo do onlineorientação e conscientização, com palestras feitas por profissionais da saúde e educação da rede pública mostrando como uma gravidez precoce pode prejudicar o futuro do adolescente, tanto na questão dos estudos, quanto trabalho e renda, como mostram diversas pesquisas e estudos".
"Mesmo com essa sinalizaçãojogo do onlinemudançajogo do onlinenome, pedida por PT e PSOL, a esquerda abortista e assassinajogo do onlinecrianças insistejogo do onlineincluir no texto do meu projeto, a ideologiajogo do onlinegênero, erotização das crianças, pornografia infantil e pedofilia, pautas bases do marxismo contra infância e os valores da família, o que não tolerarei", finaliza Digiglio.
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