Neurofinanças: a ciência que busca desvendar o cérebro para ficarmos mais ricos (e felizes):

Ilustração mostra contorno do corpoum homem, com coração e cérebro destacados

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Legenda da foto, Nossas decisões têm sempre um elemento emocional — e com as finanças não é diferente

Nasceu, então, a área das neurofinanças.

O que ela já descobriu? E, talvez mais importante: como ela pode nos deixar mais ricos — ou mais felizes?

A carga emocional

Colagem mostra regador despejando moedas'planta' feitacédulas

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Legenda da foto, Ganhar dinheiro normalmente inclui um processo pessoalaprendizagem

Por mais que tentemos fugir disso, a natureza humana implica que cada escolha, mesmo que aparentemente racional, contém um elemento emocional.

"Isso é verdade para todos os tiposdecisões e se aplica particularmente às financeiras. Especialmente quando se decide por um investimento, a promessa ocultaenriquecimento tem um forte elemento emocional", explica o professor Eshraghi.

"Mesmo os gerentes financeiros mais experientes podem tomar decisões que não são baseadas apenas no pensamento racional."

Há, então, alguma formalidar melhor com esta nossa natureza?

"As melhores decisões financeiras geralmente são feitas através do pensamento lento, cuidadoso e analítico,vezpor meioum sentimento rápido e indutivo", descreve o professor.

Evidentemente, não é possível eliminar as emoções — mas parte da solução é estar ciente delas.

Por exemplo, "quando os mercados financeiros estão voláteis, geralmente é melhor 'ficarfora' e pararolhar para as telas".

A razão é que a "fiação"nossos cérebros reage a contextos instáveis mais emocionalmente do que analiticamente.

Mesmosituações mais rotineiras, porém, o "Tico e o Teco" podem se embolar.

Por exemplo, algumas pessoas têm preferência por marcas e empresas conhecidas e, na horainvestir ou comprar, "isso pode levar à faltadiversificação, o que eventualmente impede uma estratégia financeira sólida".

Há também um fenômeno observado entre alguns investidores e batizado por psicólogos"ancoragem": a tendênciase ater a números aleatórios.

"Mesmo informações aparentemente inócuas podem chegar ao nosso subconsciente. Por exemplo, os investidores podem se ancorar aos preços existentesuma ação e, quando há novidades (que impactam nestes preços), alguns demoram a reagir e a atualizar os níveis registrados anteriormente", conta Eshraghi.

Somos mais que lógica

Daniel Kahneman é o autor do livro Rápido e devagar: duas formaspensar, onde argumenta que nossa mente tem dois sistemas que influenciam a maneira como tomamos decisões.

Enquanto o Sistema I é constituído pelo intuitivo, pelo instintivo e inconsciente, o Sistema II diz respeito ao analítico, ao consciente, ao lógico.

Embora seja um psicólogo influente, Kahneman recebeu o Prêmio NobelEconomia2002 por seu trabalho pioneiro, junto com Amos Tversky, sobre o elemento irracional na tomadadecisões.

Na verdade, ambos foram os primeiros a identificar a aversão à perda.

Kahneman desafiou a corrente tradicional do pensamento econômico que considerava as pessoas como predominantemente racionais, lógicas e egoístas. Ele lançou, portanto, as bases da economia comportamental.

Daniel Kahneman com microfonerosto sorrindo timidamente, e fotografado do ombro para cima, aparentementeuma palestra

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Legenda da foto, Daniel Kahneman ganhou o NobelEconomia2002, abrindo caminho para a economia comportamental

Dicasum Nobel

Por que tomamos decisões ruins sobre dinheiro (e o que podemos fazer a respeito) é o títuloum vídeo no site Big Think no qual Kahneman faz preciosas recomendações.

"Para certos tiposdecisões, você precisahabilidades matemáticas. As pessoas que as possuem têm uma vantagem significativa sobre as que não as têm."

"Compreender os juros compostos faz uma grande diferença, quer você pegue um empréstimo com cartãocrédito ou tenha uma poupança."

Ele também fala sobre a importânciater uma perspectiva ampla sobre o que está acontecendo e evitar reações emocionais excessivamente fortes aos acontecimentos.

Busque orientação

Publicado no site do Instituto CFA (que emite uma prestigiada certificação para analistas financeiros), um artigoKahneman afirma também que "tendemos a superestimar nossas chancessucesso, especialmente na faseplanejamento."

Quando algo não vai bem, procuramos uma explicação — buscando a sensação "de que aprendemos algo e que não vamos cometer um erro novamente", diz Kahneman.

Homemescritório, com olhar apreensivodireção à tela

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Legenda da foto, A 'fiação'nossos cérebros reage a contextos instáveis mais emocionalmente do que analiticamente, explica Arman Eshraghi

Mas talvez uma relaçãocausa e efeito não explique o que aconteceu.

"O que você deve aprender é que foi surpreendidonovo. Você deve aprender que o mundo é mais incerto do que você pensa."

Outro aspecto que o Nobel recomenda evitar é o arrependimento, pois este é "o maior inimigo da tomadadecisões nas finanças pessoais".

Ele também convida as pessoas a cultivar a curiosidade e a procurar um consultor. O melhor conselheiro é "uma pessoa que gostavocê e que não se importa com seus sentimentos", ele diz.

E quando você estiver prestes a tomar uma decisão importante: vá devagar.

A importância da margemerro

Ser flexível e se adaptar a novas circunstâncias também é fundamental ao tomar decisões relacionadas ao dinheiro.

Morgan Housel é o autor de The Phychology of Money ("A Psicologia do dinheiro") e também destaca como é importante se abrir para os erros.

"Muita dedicação a uma meta, um caminho, um resultado, é invocar o arrependimento, uma vez que somos tão suscetíveis a mudanças", escreveu ele no blog com o mesmo títuloseu livro.

"As pessoas subestimam a necessidadeuma margemerroquase tudo o que envolve dinheiro."

Segundo o especialista, isso se deve "à ideiaquevisãofuturo é correta, movida pela sensação do incômodo que vemadmitir o contrário".

Mas isso causa "danos econômicos", porque atrapalha melhores decisões.

Housel também argumenta que a margemerro é mal compreendida, "muitas vezes vista como uma formaproteção conservadora, acionada por quem não quer correr muito risco ou não confiasuas opiniões".

"Mas, quando usadamaneira adequada, é o oposto. A margemerro permite que você aguente, e essa resistência o faz permanecer tempo o suficiente se expondo a chancesse beneficiarum resultado que,outra maneira, teria baixa probabilidadeser favorável."

E,muitos casos, ter lucro também é questãotempo.

"Descobri que, ao tomar decisões financeiras, é útil lembrar constantemente que o objetivoinvestir é maximizar os retornos, não minimizar o tédio. A chatice é perfeitamente normal, ela é boa. Se você quiser definir isso como uma estratégia, lembre-se: a oportunidade está onde os outros não estão, e os outros tendem a ficar longe do que é entediante."

O que os milionários fazem

William Leith é jornalista e autorThe Trick: Why Some People Can Make Money and Other People Can't ("O truque: por que algumas pessoas podem ganhar dinheiro e outras não").

Sua pesquisa o levou a mergulhar no mundoalguns milionários.

"As pessoas que entrevistei, que ficaram ricasalguma forma, desenvolveram uma compreensão do que era o risco e como, com frequência, ele é contrário à intuição."

"Isso é essencial", diz ele à BBC News Mundo (serviçoespanhol da BBC), acrescentando que as pessoas bem-sucedidas passaram por vários erros, aprenderam com eles, mudaram e seguiram adiante.

"E a cada vez elas se aproximaram um pouco maiscomo as coisas funcionam" até se tornarem "as poucas pessoas que têm sucesso".

"A verdade é que todo mundo desistiria muito antes porque são (sequências de) falhas, falhas e falhas. A maioria das pessoas simplesmente não aguenta."

Leith destaca também um atributo que Kahneman havia antecipado: a curiosidade.

"Se você quer começar um negócio, você tem que ver o que está acontecendo e o que está mudando. Você tem que descobrir por si mesmo", porque os livros vão mostrar "o mundo que existiu ontem".

"Pense por si mesmo: como posso melhorar isso? É assim que as pessoas têm sucesso."

Como reagir

Mulher com máscara coloca papel na portavidro dizendo: 'Fechado'

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Legenda da foto, Empresários que conseguiram encontrar oportunidades na pandemiacoronavírus possivelmente tiveram a habilidade, entre outros fatores,observar e se adaptar a mudanças, segundo entrevistados

Joselyn Quintero, assessora financeira especializadapsicologia financeira e neurofinanças, aponta para exemplosexperiências bem-sucedidas na pandemiacoronavírus.

Alguns empresários conseguiram encontrar oportunidadesmeio a circunstâncias muito difíceis porque, como aponta Leith, pararam para observar o que estava acontecendo.

"Se você pergunta a alguémfinanças: 'No meio disso tudo, o que você faria?', essa pessoa vai falarcortedespesas. A tendência é minimizar os riscos ao máximo", diz Quintero.

"Nos tornamos pessoas não apenas avessas ao risco, mas também obsessivas pela certeza. Não nos mexemos se não tivermos garantiasque as coisas vão dar certo."

"Isso significa que quando você se depara com uma situação que não tem como controlar, a tendência é se retrair, se fechar."

E, muitas vezes, isso nos impedever as oportunidades que existem.

O novo paradigma

Quintero menciona outra característica pessoal importante: a autoestima.

"Trata-sesaber que você pode estar fazendo algo que não necessariamente vai agradar algumas pessoas. A certeza é você. É a única garantia que você tem,vezbuscar a certeza (fora)."

A especialista lembra também que vivemosum período dinâmico, muito devido aos avanços tecnológicos e à internet — o que também vem acompanhadomudanças culturais.

Segundo ela, enquanto a geração dos baby boomers tendia a trabalharalgo que não gostava para ganhar dinheiro, as gerações mais jovens têm uma mentalidade contrastante.

"Faço o que gosto porque ganho dinheiro fazendo isso. A partir daí, construo um modelonegócios que serve à sociedade, mas que é fundamentalmente partemim."

"Quando você fala com uma pessoa25, 27 anos, a probabilidadeela gerar dinheiro é mais evidente do que uma pessoa da minha geração, que nasceu há 40, 50 anos, ou seja, a possibilidadeganhar mais gastando menos tempo já é uma narrativa geracional."

Uma abordagem complementar

Duas mulheres conversam e gesticulamfrente a laptopescritório arejado e alegre

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Legenda da foto, Ao contrário da geração 'baby boomer', novas gerações não querem apenas um emprego, mas trabalhar com o que gostam

Quintero defende que as neurofinanças,comparação ao pensamento tradicional do mundo dos negócios, conseguem ser mais flexíveis a particularidades das pessoas e do ambiente.

"Em vezdizer a uma pessoa o que fazer, começo a entender o que ela está fazendo", a partir daí criando um planoação que "tem mais a ver com aquele indivíduo — suas aspirações, desejos —, e não aquele que o enquadrauma fórmula pré-estabelecida".

E, nessa abordagem, aparecem vários fatores que explicam por que existem pessoas com mais dificuldadetomar boas decisões financeiras.

Alguns ficam "paralisados" porque estão superpreparados e outros pelo contrário, porque "não estudaram na universidade, o que os faz sentir menos inteligentes" — quando inteligência "é, na verdade, a capacidadeaprender com o que está acontecendo, ajustar-se e melhorar", defende Quintero.

"A paralisia da análise", explica ela, é frequentemente vivida por pessoas altamente analíticas: "Estou sem o último relatório, o gráfico mais recente, a última atualização. É como se a mente analítica tivesse tomado essas pessoas."

Pessoas assim, segundo a especialista, têm a tendênciatomar decisões considerando "os outros".

Por isso, enquanto nas finanças tradicionais se busca a maximização dos lucros, nas neurofinanças fala-se"retornos satisfatórios", completa.

Línea

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