Por que dizer 'tomei cloroquina e por isso me curei', como faz Bolsonaro, é uma 'falácia' e não prova nada:aposta para jogo do brasil
Pois alguém dizer que tomou cloroquina e, por causa disso, se curou da covid-19, como faz o presidente Jair Bolsonaro, é exatamente o mesmo.
Isso é o que se chamaaposta para jogo do brasil"evidência anedótica", informal, sem valor científico. E o erroaposta para jogo do brasillógica usado para se chegar nessa "evidência" é uma falácia lógica, chamado tambémaposta para jogo do brasilcorrelação coincidente ou,aposta para jogo do brasillatim, post hoc ergo propter hoc ("depois disso, logo, causado por isso"), explica o cientista David Grimes, autor do livro The Irrational Ape, sobre desinformação relacionada a ciência.
Essa falácia lógica é construída a partir da ideiaaposta para jogo do brasilque dois eventos que acontecemaposta para jogo do brasiluma sequência cronológica estão ligados por meioaposta para jogo do brasiluma relaçãoaposta para jogo do brasilcausa e efeito. Outros exemplos: "Eu espirrei e, segundos depois, a luz caiu". A luz caiu por que eu espirrei? "Hojeaposta para jogo do brasilmanhã nós dançamos. Mais tarde, choveu." Choveu porque dançamos?
"A gente tem uma pré-disposição para pensaraposta para jogo do brasilmaneira temporal: 'se aconteceu A e depois aconteceu B, logo B foi causado por A'", diz Natalia Pasternak, doutoraaposta para jogo do brasilmicrobiologia pela USP e presidente do Instituto Questãoaposta para jogo do brasilCiência. "É intuitivo pensar assim. De maneira genérica, não parece que está errado. O método científico é que é contraintuitivo e precisa ser aprendido."
"As pessoas não param para pensar que existem diversos outros fatores. Uma pessoa pode ter melhorado por causa do remédio, apesar do remédio, ou por causas nada a ver com o remédio. As pessoas atribuem facilmente relaçõesaposta para jogo do brasilcausa e efeito que não estão lá."
Se João tem uma doraposta para jogo do brasilcabeça, toma um banho, bebe água, toma um cháaposta para jogo do brasilervas, toma um medicamento, bebe sucoaposta para jogo do brasillaranja, sai para caminhar, tira uma soneca… Qual dessas variáveis ajudou a curar a doraposta para jogo do brasilcabeça? Ou então, será que nenhuma teve efeito para a doraposta para jogo do brasilcabeça, que passou sem interferência dessas ações?
Seres humanos tendem a ser "cegos" para as diferentes variáveis, alémaposta para jogo do brasilter viesesaposta para jogo do brasilconfirmação quando querem acreditar que determinada intervenção ou medicamento funciona para alguma doença, observa Grimes.
Mas casos individuais ou isolados não têm qualquer valor científico.
É porque sem controlar variáveis não dá para chegar à conclusãoaposta para jogo do brasilque alguém melhorou por causaaposta para jogo do brasilum medicamento ou outra intervenção. "O que mais a pessoa fez nesse período da doença? A doença pode ter passada sozinha, como muitas passam. A pessoa pode ter começado a se alimentar melhor, parouaposta para jogo do brasilse alimentar com algo que estava fazendo mal e nem sabia, começou a dormir melhor, saiuaposta para jogo do brasilum períodoaposta para jogo do brasilestresse. Ou então, houve uma resolução espontânea da doença", enumera Pasternak.
Ela cita seu próprio exemplo: "Eu tive asma infantil, que passou na fase adulta. Imagina que depoisaposta para jogo do brasil5 ou 6 anos tendo uma criança asmática, minha mãe decidisse que ia me dar homeopatia. E, depoisaposta para jogo do brasilum ano, a asma sumisse. Qual seria a conclusão da minha mãe? Que a homeopatia curou minha asma, quando provavelmente foi a puberdade, já que é uma doença tipicamente infantil".
"Isso vai dando força para essas narrativasaposta para jogo do brasilevidências anedóticas, com pessoas dizendo: 'eu conheço uma criança que tomou homeopatia e a asma passou'. Essas narrativas são muito fortes na sociedade porque são depoimentosaposta para jogo do brasilamigos, conhecidos, que viram isso acontecer", diz Pasternak. "A evidência anedótica sempre tem valor sentimental, emocional que é muito mais forte."
Nosso cérebro responde ao apelo das experiências pessoais, opina o comunicadoraposta para jogo do brasilciência Jonathan Jarry, do McGill Office for Science and Society, organização dedicada ao ensinoaposta para jogo do brasilciências na Universidade McGill,aposta para jogo do brasilMontreal, Canadá. "É por isso que a maneira como contamos históriasaposta para jogo do brasillivros e filmes funciona tão bem. Nós amamos uma boa história", diz ele à BBC News Brasil.
"Mas quando se trataaposta para jogo do brasilavaliar se um tratamento funciona ou não, as histórias podem confundiraposta para jogo do brasilvezaposta para jogo do brasileducar. Precisamos recorrer à ciência para remover as variáveis contaminantes e chegar a uma resposta objetiva."
Para Grimes, "os humanos têm dificuldadeaposta para jogo do brasilencontrar padrões". "As coisas mais vívidas para nossa memória são as anedotas, enquanto estatísticas médicas são entediantes e secas", diz.
As anedotas, diz Jarry, podem, sim, ser usada para gerar hipóteses — que então testamos rigorosamente — , mas elas não sãoaposta para jogo do brasilforma alguma conclusivas.
Isso porque há uma sérieaposta para jogo do brasilrazões pelas quais alguém pode ter melhorado que nada têm a ver com o tratamento que afirmam ser a causa da cura.
"Do ladoaposta para jogo do brasilfora, é fácil ver: você tem doença, recebeu uma intervenção (um medicamento) e depois ficou sem a doença. É muito fácil pensar que a intervenção causou a mudança na situação", diz Jarry. "Mas pode ser que a pessoa tenha feito vários tratamentos diferentes. Depoimentos pessoais estão cheiosaposta para jogo do brasilvariáveis que não controlamos, sobre as quais nem mesmo estamos pensando, e que podem afetar o resultado final. O papel da ciência é se livraraposta para jogo do brasiltantas variáveis quanto possível, limpar para que tudo o que restar seja exatamente o que nos interessa estudar."
Hoje, existem métodos científicos confiáveis para comprovar se um medicamento tem eficácia para uma doença (leia mais abaixo), e esses métodos passam longe das evidências anedóticas repetidas por Bolsonaro.
Bolsonaro e a cloroquina
Erguer uma caixaaposta para jogo do brasilhidroxicloroquina como se ela fosse uma cura para a covid-19 e repetir que foi curado da doença por causa do medicamento, uma afirmação perigosa e sem embasamento científico, já se tornou algo corriqueiro para o presidente do Brasil.
Sua última defesa ao remédio foi na segunda (24/08)aposta para jogo do brasilum evento no Palácio do Planalto chamado "Brasil vencendo a covid-19", com o país chegando a quase 115 mil mortos.
Bolsonaro reuniu médicos entusiastas da hidroxicloroquina e membros do governo para uma cerimôniaaposta para jogo do brasildefesa do uso do medicamento no combate à doença, apesaraposta para jogo do brasilnão haver indíciosaposta para jogo do brasilsua eficácia — e mais, haver indíciosaposta para jogo do brasilque, pelo contrário, ela não funciona e seu uso pode trazer efeitos colaterais para pacientes.
"Não tem comprovação científica, mas salvaram muitas vidas", alegou o presidente no evento, sem apresentar provas disso. Ele disse, ainda, que observou que quem tomava o medicamento desde o início tinha "mais chance"aposta para jogo do brasilsobreviver. Citou seu exemplo pessoal e oaposta para jogo do brasil"maisaposta para jogo do brasildez ministros que se trataram com a medicação". "Nenhum foi hospitalizado. Então, está dando certo."
A falaaposta para jogo do brasilBolsonaro é o exemplo concreto do que é uma evidência anedótica. Primeiro, a grande maioria das pessoas com a covid-19 sobrevivem. Como saber que o presidente não sobreviveriaaposta para jogo do brasilqualquer forma sem a hidroxicloroquina? Além disso, ele foi tratado só com hidroxicloroquina? Seus ministros também? E se não tivessem tomado nada? Como estabelecer uma correlação direta sem um estudo clínico sério? Caso Bolsonaro tenha tomado sucoaposta para jogo do brasillaranja durante o tratamento, seria possível dizer que foi o sucoaposta para jogo do brasillaranja que o curou?
"A covid-19 é uma doença com 90%aposta para jogo do brasiltaxaaposta para jogo do brasilcura espontânea. Ou seja, a doença pode se resolver sozinha, mas o mérito vai para o remédio?", questiona Pasternak.
"Dizer: 'Eu tomei cloroquina e, portanto, me curei' está errado. As duas coisas podem ter acontecido simultaneamente, o que não quer dizer que uma foi a causa da outra. Não existe relaçãoaposta para jogo do brasilcausa e efeito."
Aliás,aposta para jogo do brasilrelação a hidroxicloroquina, já estamosaposta para jogo do brasiluma etapaaposta para jogo do brasildizer "nós já demonstramos que não tem efeito para a covid-19, e que ninguém se cura desta doença por causa desse medicamento", observa Pasternak. Existem diversos estudos que trazem evidênciasaposta para jogo do brasilque a hidroxicloroquina não tem eficácia para a covid-19.
Por não observar benefício do medicamento para a redução da mortalidade da covid-19, a OMS (Organização Mundial da Saúde) interrompeu os estudos com a cloroquina. A Sociedade Brasileiraaposta para jogo do brasilInfectologia disse considerar "urgente e necessário" que a hidroxicloroquina "seja abandonada no tratamentoaposta para jogo do brasilqualquer fase da covid-19", e sugeriu que o governo interrompaaposta para jogo do brasiloferta.
Para Jarry, há consequências perigosas para quem acredita nessas anedotas — principalmente quando são contadas e repetidas pelo presidente da República.
"As pessoas podem passar a tomar esse medicamento como profilaxia, por exemplo, e deixaraposta para jogo do brasiladotar o distanciamento físico", diz. Elas também podem tomar o medicamento sem acompanhamento médico, e terem efeitos adversos como os relacionados ao sistema cardiovascular — o medicamento pode acelerar o ritmo do coração — alémaposta para jogo do brasiloutros, como retinopatias e hipoglicemia grave.
Ensaio clínicoaposta para jogo do brasilalto-mar
Houve uma épocaaposta para jogo do brasilque evidências anedóticas eram comuns na medicina. As doenças, então, eram consideradas fruto do desequilíbrioaposta para jogo do brasil"humores".
Uma delas tirou a vidaaposta para jogo do brasildiversos marinheiros. Era a época das Grandes Navegações e, passando mesesaposta para jogo do brasilalto-mar com uma dieta escassa e pouco variada, marinheiros temiam o inchaço, sangramento das gengivas, fraqueza e dificuldadeaposta para jogo do brasilrespirar que acometiam grande parte da categoria.
Para o escorbuto, que hoje sabemos ser causado pela faltaaposta para jogo do brasilvitamina C na dieta, exploradores tinham suas próprias receitas: o capitão James Cook, famoso navegador inglês pioneiro na exploraçãoaposta para jogo do brasilrotas para Austrália e Nova Zelândia, sempre levava chucruteaposta para jogo do brasilsuas viagens; outros acreditavam que ácido sulfúrico era o remédio ideal. Não sabiam o que era a doença, e suas "curas" eram baseadasaposta para jogo do brasilevidências anedóticas, relatos informais.
A partir desse conhecimento popular, o médico escocês James Lind conduziu o que hoje se reconhece como um ensaio clínico, talvez o primeiro deles, para verificar a eficácia dos remédios. Em 1747, quando estava a bordo do navio HMS Salisbury, separou 12 homens que estavam com sintomasaposta para jogo do brasilescorbuto e os dividiuaposta para jogo do brasilseis pares.
Cada par recebeu um tipoaposta para jogo do brasiltratamento diferente, criado a partiraposta para jogo do brasilremédios para a doença sugeridosaposta para jogo do brasilregistros até então:
1. um quartoaposta para jogo do brasilum copoaposta para jogo do brasilcidra; 2. 25 gotasaposta para jogo do brasilvitríolo (ácido sulfúrico diluído), três vezes por dia; 3. vinagre; 4. água do mar; 5. uma pastaaposta para jogo do brasilalho, mostarda, raizaposta para jogo do brasilrabanete, bálsamo-do-peru e mirra; 6. duas laranjas e um limão por dia
Em uma semana, os marinheiros que receberam as frutas cítricas estavam bem.
Em um tratado sobre escorbuto que escreveu anos depois,aposta para jogo do brasil1753, Lind descreveu seu ensaio clínicoaposta para jogo do brasildetalhes, concluindo que "os resultados dos experimentos foi que laranjas e limões foram os remédios mais eficazes para essa enfermidade no mar".
O que Lind fez foi criar gruposaposta para jogo do brasilcondições experimentaisaposta para jogo do brasilambiente e tempo controladas, uma prévia do que se faz hojeaposta para jogo do brasildia.
Mas demorou para que a medicina adotasse formalmente os ensaios clínicos randomizados para produzir evidências. A era dos ensaios clínicos só começou mesmo nos anos 1970, 1980 e 1990, diz Jarry. "Antes disso, era mais baseadaaposta para jogo do brasileminência do queaposta para jogo do brasilevidência. Ou seja, médicos mais velhos com muita fama eram muito respeitados poraposta para jogo do brasilexperiência clínica e pelas coisas que tinham a dizer."
"O problema com isso é que pode haver muito viés já que, se você é um médico, pacientes que não tiveram bons resultados com o tratamento prescrito por você podem não voltar mais."
E então, segundo Jarry, a medicina passou, há algumas décadas, por uma revolução, dando espaço para um tipoaposta para jogo do brasilabordagem que é conhecido como medicina baseadaaposta para jogo do brasilevidências.
"Hoje, testamos hipótesesaposta para jogo do brasilforma rigorosa e objetiva, por meioaposta para jogo do brasilensaios clínicos. Quando isso passou a ser feito, testes com intervenções usadas atéaposta para jogo do brasilentão mostraram que elas eram neutras ou até danosas e, por isso, vários tratamentos foram revertidos."
"É bom testar nossas premissasaposta para jogo do brasilformas rigorosas porque o cérebro humano pode nos levar a pensar que algo está funcionando sem queaposta para jogo do brasilfato esteja."
Um dos médicos fundadores da medicina baseadaaposta para jogo do brasilevidências também foi um escocês, 200 anos depoisaposta para jogo do brasilLind. Archie Cochrane (1909-1988) esteve com as forças britânicas na Segunda Guerra e foi capturadoaposta para jogo do brasilCreta, na Grécia. Então, como prisioneiroaposta para jogo do brasilguerra, trabalhouaposta para jogo do brasilcamposaposta para jogo do brasilconcentração controlados pelos alemães. Em umaposta para jogo do brasilSalonica, na Grécia, ele fez seu primeiro ensaio clínico randomizado para investigar a grande incidênciaaposta para jogo do brasiledema entre os prisioneiros.
Ele comprou suplementosaposta para jogo do brasilvitamina C eaposta para jogo do brasilfermento no mercado ilegal do campo, selecionou 20 prisioneirosaposta para jogo do brasilmaneira aleatória e os dividiu pela metade. O primeiro grupo recebeu porções diáriasaposta para jogo do brasilfermento, e o segundo grupo, vitamina C. Os prisioneiros que receberam fermento melhoraram. A conclusão seriaaposta para jogo do brasilque a proteína presente no fermento combatia a desnutrição dos doentes, eliminando o edema. Mas o próprio Cochrane criticou seu ensaio clínico randomizado, dizendo que a sorte contribuiu muito para seu sucesso, e que seu teste teve uma qualidade baixa.
De qualquer forma, aquele foi um dos primeiros ensaios clínicos randomizados e controlados, algo que era quase desconhecido para a comunidade médica até então.
Em ensaios clínicos, pacientes são divididosaposta para jogo do brasilgruposaposta para jogo do brasilpessoas que recebem ou não uma intervenção com o objetivoaposta para jogo do brasilavaliar seus efeitos. A ideia é controlar o máximoaposta para jogo do brasilvariáveis possível, com todas iguais, exceto aquela que está sendo testada. O que Lind e Cochrane fizeram foi refinado a partiraposta para jogo do brasilnovos conhecimentos e, hoje, o que se faz tem mais rigor e cuidado.
Pirâmideaposta para jogo do brasilevidência
Para entender que tiposaposta para jogo do brasilmétodos trazem evidências mais robustas, hoje temos o que se chamaaposta para jogo do brasil"pirâmideaposta para jogo do brasilevidências". Diferentes tiposaposta para jogo do brasilestudos resultamaposta para jogo do brasilgraus diferentesaposta para jogo do brasilevidência. Se uma evidência anedótica não traz evidência alguma, por exemplo, resultadosaposta para jogo do brasilensaios clínicos trazem evidências robustas.
No topo da pirâmide, estão os estudos que representam evidências com maior rigor, qualidade e confiabilidade. Ou seja, quanto mais perto do topo da pirâmide, mais precisos, confiáveis e com menor chanceaposta para jogo do brasilerros estatísticos ou vieses causados por diferentes variáveis são os estudos.
"Não há um dogma, e pode haver ordens um pouco diferentes, mas, como um todo, é um bom princípio para as ciências biomédicas", diz Jarry.
Na parte inferior desta pirâmide estão "dados sujos, produzidos sem qualquer tipoaposta para jogo do brasilcontrole ou intervenção, sem saber se há outros fatores que poderiam ter influenciado o resultado", diz Jarry. São coisas como as anedotas, ou então "opiniõesaposta para jogo do brasilespecialistas". "Pode ser interessante, mas não há uma evidência por trás."
Acima, estão os relatosaposta para jogo do brasilcasos, "alguém que relate que recebeu um ou mais pacientes, tratou deles com um medicamento e o resultado foi x". "Podem levar a hipóteses interessantes", diz Jarry. Mas ainda não produzem evidências robustas.
Depois desses dois níveis estão os estudos observacionais — e aí o nívelaposta para jogo do brasilevidência começa a melhorar. Esses estudos costumam olhar para o passado e verificar o que aconteceu. São feitos sem intervenções, portanto, comparando pacientes que tiveram um tratamento a pacientes que tiveram um tratamento diferente, por exemplo. "Mas pode haver variáveis, vieses ou razões para o tratamento desconhecidas para os autores do estudo", diz Jarry.
Também há os estudos observacionais que olham para o futuro e, nestes, é possível garantir que os grupos analisados sejam essencialmente os mesmos antes do estudo começar. Depois, observá-los ao longo do tempo e analisar os resultados. Mas, porque ainda é observacional, não é possível decidir quem vai receber a intervenção. E porque isso não é definido por quem está conduzindo o estudo, pode haver outros fatores que as influenciam a tomar essas decisões. Então, as evidências produzidas por estudos assim podem sugerir caminhos, mas não produzir evidências com poder científico suficiente para comprovar se um remédio é benéfico ou não, por exemplo.
Acima dos estudos observacionais e com maior poder científico estão os ensaios clínicos randomizados. Pela primeira vez na pirâmide, há uma intervenção dos cientistas conduzindo o estudo, com o maior controleaposta para jogo do brasilvariáveis. E a forma como esses estudos clínicos randomizados são desenhados pode dar ainda mais robustez às evidências finais.
Nesse tipoaposta para jogo do brasilestudo, pacientes são selecionados para diferentes gruposaposta para jogo do brasilforma aleatória. A ideia é manter a maior semelhança possível entre os grupos, considerando fatores com idade dos participantes, sexo ou gravidade da doença, por exemplo. Placebos também podem ser usados como formaaposta para jogo do brasilcontrole, evitando que grupos saibam se estão tomando o medicamento ou não. Os ensaios também costumam ser duplo-cegos,aposta para jogo do brasilque nem paciente nem profissionalaposta para jogo do brasilsaúde sabemaposta para jogo do brasilque grupo está o paciente ou se o tratamento que está recebendo éaposta para jogo do brasilfato o tratamento ou o placebo. Isso elimina o viés que profissionaisaposta para jogo do brasilsaúde podem ter.
Com isso, temos os ensaios clínicos randomizados controlados com placebo e duplo-cegos, que podem produzir evidências robustas. Mas esses estudos precisam passar antes por avaliações éticas. "Se você suspeita que algo pode causar danos a pacientes, e quer controlar isso, você não pode" diz Jarry. As avaliações éticas evitam que produtos reconhecidamente tóxicos ou tratamentos sabidamente piores dos que os disponíveis no momento sejam ministrados a pacientes.
Por fim, no topo da pirâmide estão as revisões sistemáticas e as meta-análises. "Se você tiver cinco estudos bem-feitos que apontam para a mesma direção, é provável que essa seja a resposta", explica Jarry. Ou seja, as revisões sistemáticas juntam e analisam cada estudo feito sobre um assuntoaposta para jogo do brasilparticular, e as meta-análises produzem resultados numéricosaposta para jogo do brasiltodos os estudos incluídosaposta para jogo do brasilconjunto, podendo dar diferentes pesos a cada estudo, dependendoaposta para jogo do brasilsua robustez, e produzindo uma análise estatística sobre tudo.
"E temos que lembrar também que as meta-análises também podem ser abusadas e podem ser vítimasaposta para jogo do brasil'lixo'. Se todos os estudos levadosaposta para jogo do brasilconta por uma meta-análise forem mal-feitos, a meta-análise também será mal-feita. Ou seja, não podemos confiaraposta para jogo do brasilmeta-análisesaposta para jogo do brasilforma cega porque ela não será necessariamente boa", diz Jarry. "Mas elas estão no topo da pirâmide, e podem extrairaposta para jogo do brasiltodos os estudos a melhor resposta possível para uma questão."
E quantas pessoas são necessárias para um estudo confiável? "Quanto mais pessoas, melhor. Cem pessoas são melhores que dez, mil pessoas são melhores que cem, dez mil pessoas são melhores que mil, e por aí vai. Os cientistas fazem uma análiseaposta para jogo do brasil'poder' científico. Isso ajuda a definir quantas pessoas precisam recrutar para que um estudo avalieaposta para jogo do brasilfato o efeitoaposta para jogo do brasiluma intervenção", explica Jarry.
O importante é lembrar que um relato individual não prova nada, e dizer que B aconteceu por causaaposta para jogo do brasilA sem um estudo científico sério sobre isso não está correto. Uma doraposta para jogo do brasilcabeça, afinal, pode passar sozinha.
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