'Mães estão no limite': famílias vivem estresse inédito com crise e quarentena:apostas em direto
O dinheiro arrecadado pelo projeto, por doações e financiamento coletivo, é distribuído às mulheres,apostas em diretorodadas (até agora duas)apostasapostas em diretodiretoR$ 150, "para comprar uma mistura, uma cesta básica, pagar uma conta", diz Ferreira.
"A ideia era ser um complemento à ajuda emergencial do governo, mas muitas disseram que não conseguiram acesso à ajuda. A nossa, mesmo pequena, acabou virando a principal ajuda delas."
A avaliaçãoapostasapostas em diretodiretoFerreira éapostasapostas em diretodiretoque 80% das mulheres acompanhadas pelo projeto "precisamapostasapostas em diretodiretoapoio psicológico com urgência".
"Os problemas vão desde estafa - mulheres que estão com seis criançasapostas em diretocasa sem ter comida para dar a elas ou que passaram a aplicar castigo físico nos filhos, dizendo 'não souapostasapostas em diretodiretobater, mas não consegui me controlar e agora estou me sentindo mal com isso' - até violência doméstica e baixa autoestima por não conseguirem mais ganhar renda com o que antes vendiam na rua", diz a ativista.
De uma mãe, ela ouviu: "acho que estou enfeando mais nesta quarentena".
"A vulnerabilidade é tanto objetiva, com a fome, quanto subjetiva, com essa perdaapostasapostas em diretodiretoautoestima", prossegue Ferreira. "É a vulnerabilidade agravada pela pandemia: já havia uma falha prévia, que atravessa gerações,apostasapostas em diretodiretoassistência a essas mulheres."
Sobrecarga feminina
Mesmo pais (e sobretudo mães) que não estãoapostas em diretosituação extremaapostasapostas em diretodiretovulnerabilidade viram os níveisapostasapostas em diretodiretoestresse cresceremapostas em diretocasa, ante o malabarismo para conciliar trabalho com cuidados da casa e atividades com as crianças, com jornadas muitas vezes intermináveis.
O motivo principal é que foram desestruturadas as pequenas "aldeias" que ajudavam no cuidado com os filhos, explica a psicóloga Desirée Cassado, que abordou o tema durante uma oficina online da instituição The School of Life,apostas em direto14apostasapostas em diretodiretojulho, dedicada a dar dicas (e palavrasapostasapostas em diretodiretoconforto) a famílias quarentenadas com crianças.
"O aumentoapostasapostas em diretodiretodemanda dentroapostasapostas em diretodiretocasa foi muito grande (com a pandemia), e a gente sempre dividiu os cuidados das crianças com outras mulheres, seja na escola, com as avós ou funcionárias - uma vila que deixouapostasapostas em diretodiretoexistir", diz a psicóloga à BBC News Brasil.
O resultado são "pais mais irritados, culpados e ansiosos".
As circunstâncias atuais também colocamapostas em diretoevidência o "trabalho invisível" que costuma ser responsabilidade primordialmenteapostasapostas em diretodiretomulheres, ressalta Cassado.
Uma pesquisa amplamente conhecida do IBGE feitaapostas em direto2017 aponta que,apostas em diretomédia, as mulheres brasileiras dedicavam o dobro do tempo dos homens a afazeres domésticos e cuidadosapostasapostas em diretodiretopessoas: 20,9 horas por semana gastas por elas, contra 10,8 horas por semana gastos por eles.
Mais recentemente, uma pesquisa global da Ipsos com a ONU Mulheres aponta que a pandemia aumentou o abismo na divisãoapostasapostas em diretodiretotarefas não remuneradas, no Brasil e nos outros 16 países pesquisados.
Aqui, 43% das mulheres entrevistadasapostas em diretomaio (contra 35% dos homens) concordaram fortemente com a frase: "Tive que assumir muito mais responsabilidade pelas tarefas domésticas e cuidados com crianças e família durante esta pandemia".
Desirée Cassado conta que ela própria, durante seus atendimentosapostas em diretocasa, colocou uma placa na porta do quarto com os dizeres para o filho: "Fale com o seu pai".
Isso porque as mães costumam ser as primeiras a serem chamadas para praticamente qualquer coisa.
"Isso não acontece à toa: a criança aprende que a mãe é quem está mais disponível. Tem toda uma culpa, uma carga social históricaapostasapostas em diretodiretoque a mulher precisa dar conta e estar disponívelapostas em diretotempo integral. (...) As mulheres são as mais vulneráveis, sendo as principais responsáveis pelo trabalho exaustivo e invisívelapostasapostas em diretodiretocuidar da casa e dos filhos", prossegue a psicóloga.
"No ambiente profissional, a maternidade também é muitas vezes invisível - muita mãe tem que fingir que não é mãe no trabalho e fazerapostasapostas em diretodiretoconta (para seus chefes) que não temapostasapostas em diretodiretoparar o trabalho para ajudar no 'homeschooling' ou para fazer o almoço."
'Estou perdendo a fé'
O fardo financeiro também se traduzapostas em diretofardo psicológico, sobretudo no casoapostasapostas em diretodiretominorias. Uma pesquisa online com 369 mulheres negras, feita pela ID-BR, organização que promove igualdade racial no mercadoapostasapostas em diretodiretotrabalho, apontou que apenas um terço delas está empregada e continua recebendo salários.
As demais 67% vivem diferentes grausapostasapostas em diretodiretoinsegurança, sendo que uma parte é empreendedora e recebe por serviços executados, e outra parte está desempregada. Pouco maisapostasapostas em diretodireto40% delas são mães, e quase a metade arca com as despesas familiares sozinha.
"Aumentou a minha preocupação e o estresse. Esse dinheiro do governo é muito incerto, eu sou desempregada e estou perdendo a fé. O que me deixa mais triste é a situação do meu filho, eu tenho pavor que falte algo pra ele", diz uma participante da pesquisa, sob condiçãoapostasapostas em diretodiretoanonimato.
Quase um terço das entrevistadas afirmou que as questões financeiras são o que mais impacta emapostasapostas em diretodiretosaúde mental atualmente: 36% delas dizem ter tido crisesapostasapostas em diretodiretoansiedade e 20% têm oscilaçõesapostasapostas em diretodiretohumor.
"Me sinto inútil, ociosa, triste... Parece que tudo que já era difícil ficou pior. No âmbito profissional fiquei estagnada. Agora que irei começar a 'normalidade'", relata outra entrevistada.
Pais e mães com sintomasapostasapostas em diretodiretoestresse pós-traumático
É difícil prever os efeitos desta sobrecarga atual, afirma Cassado, "mas dá para imaginar que, depois da pandemia, teremos uma segunda epidemia, essaapostasapostas em diretodiretosaúde mental".
"No curto prazo, o resultado é mais insônia, irritação, dificuldadeapostasapostas em diretodiretoconcentração, compulsões ou consumoapostasapostas em diretodiretoálcool e remédios. No longo prazo, isso pode virar depressão e problemas que exijam uma intervenção (psiquiátrica) mais clara e complexa, com consequências a médio e longo prazo. Lembrando que a depressão e o burnout estão entre as maiores causasapostasapostas em diretodiretoafastamento no trabalho."
Em fevereiro, a revista científica The Lancet publicou uma revisãoapostasapostas em diretodiretoestudos acadêmicos prévios que pesquisaram os impactos do isolamento socialapostas em diretofamílias, concluindo que "a maioria dos estudos revisados reportava efeitos psicológicos negativos, como sintomasapostasapostas em diretodiretoestresse pós-traumático, confusão e raiva. Os (fatores) estressores incluíam a longa duração da quarentena, medo da infecção, frustração, tédio, faltaapostasapostas em diretodiretosuprimentos adequados, informação inadequada, perdas financeiras e estigma".
Um dos estudos revisados foi feitoapostas em direto2013 pela pesquisadora Ginny Sprang, PhD e professora do Departamentoapostasapostas em diretodiretoPsiquiatria da Universidadeapostasapostas em diretodiretoKentucky (EUA).
Ela aplicou questionários a quase 400 pais e mãesapostas em diretoáreas da América do Norte que haviam sido bastante afetadas pelas epidemiasapostasapostas em diretodiretoSars (2003) e H1N1 (2009) e instruídas, na época, a fazer quarentena voluntária.
Pelos questionários, Sprang concluiu que o período deixou traumas "a uma porcentagem significativaapostasapostas em diretodiretocrianças e pais". Em 30% dos casos, as crianças apresentaram sintomasapostasapostas em diretodiretotranstornoapostasapostas em diretodiretoestresse pós-traumático; no caso dos pais, esse índice foiapostasapostas em diretodireto25%.
"A covid-19 é diferente da Sars, mas a ameaçaapostasapostas em diretodiretodano é potencialmente a mesma, ou pior", diz Sprang por e-mail à BBC News Brasil. "Cada pessoa percebe a ameaçaapostasapostas em diretodiretomodo diferente, mas alteraçõesapostas em diretohábitos diários,apostas em diretoliberdades eapostas em direto(redes de) apoio podem aumentar a percepçãoapostasapostas em diretodiretodano (psicológico)."
E, é claro, essa sensação aumenta exponencialmente entre pessoas que perderam entes queridos na pandemia.
Sobre os efeitosapostasapostas em diretodiretolongo prazo disso, Sprang diz que "quanto maior for a duração da exposição (aos fatores negativos da pandemia), mais a recuperação pode ser retardada ou prolongada. Em contrapartida, algumas pessoas aprenderão a se adaptar às circunstâncias, então um crescimento pós-pandemia também é possível".
"Em geral, os que têm fatoresapostasapostas em diretodiretorisco (exposição prévia ao trauma, outros problemas psicológicos, suporte social fraco, são do gênero feminino ou são crianças cujos pais têm transtornoapostasapostas em diretodiretoestresse pós-traumático) estão sob maior riscoapostasapostas em diretodiretoproblemasapostasapostas em diretodiretolongo prazo", agrega a pesquisadora.
'Período mais desafiador da vida'
De um lado, a quarentena proporciona a oportunidadeapostasapostas em diretodiretopais e mães passarem um outro tipoapostasapostas em diretodiretotempoapostas em diretofamília, conhecendo-se melhor, aprendendo novas formasapostasapostas em diretodiretoconviver,apostasapostas em diretodiretobrincar,apostasapostas em diretodiretose amparar eapostasapostas em diretodiretoser resilienteapostas em diretoum período difícil.
De outro, diz a ONU Mulheres, "muitas mulheres (e homens) vão lembrar deste período como um dos mais desafiadoresapostasapostas em diretodiretosua vida - um períodoapostasapostas em diretodiretoGrande Intensidadeapostas em diretovezapostasapostas em diretodiretouma Grande Pausa", nas palavrasapostasapostas em diretodiretoGinette Azcona, pesquisadora da entidade.
"O trabalho que recai sobre eles se intensificou, enquanto está faltando o suporteapostasapostas em diretodiretoque precisam para dar conta. Sendo assim, as respostas à covid-19 devem refletir as necessidades específicas e novos fardos que as pessoas,apostas em diretoparticular as mulheres, estão enfrentando. (...) Seu trabalho é essencial e precisa ser reconhecido, valorizado e, mais importante, apoiado por diferentes medidas, incluindo políticas como proteção social para provedoresapostasapostas em diretodiretocuidados não remunerados e mais acesso a benefícios a famílias e a licenças remuneradas".
Para Thais Ferreira, é também o momentoapostasapostas em diretodiretoreconhecer a "potência materna".
Ela conta a históriaapostasapostas em diretodiretouma mãe que brigou na Justiça para ficar com a guarda da sobrinha, filhaapostasapostas em diretodiretouma irmã dependente química. A bebê estavaapostas em diretoum abrigo, e colegasapostasapostas em diretodiretoFerreira deram assessoria jurídica para que a guarda passasse à tia.
"Ela estava muito angustiada para ficar com a sobrinha. Quando conseguiu, disse que voltou a sorrir", conta Ferreira. "É a históriaapostasapostas em diretodiretomulheres que assumem a responsabilidade tambémapostasapostas em diretodiretooutras mulheres e mostra o quanto elas são potentes -apostasapostas em diretodiretoo quanto são vivas e mantêm os outros vivos também. Só faltam mais ferramentas para que possam exercer isso com dignidade."
*Colaborou Luiza Franco, da BBC News Brasilapostas em diretoSão Paulo
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