O que é a 'culturaslot brabetcancelamento':slot brabet

JK Rowlingslot brabet2016

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Acusadaslot brabettransfobia, JK Rowling assinou carta contra a cultura do cancelamento

"Você pode ser cancelado por algo que você disseslot brabetmeio a uma multidãoslot brabetcompletos estranhos se um deles tiver feito um vídeo, ou por uma piada que soou mal nas mídias sociais ou por algo que você disse ou fez há muito tempo atrás e sobre o qual há algum registro na internet. E você não precisa ser proeminente, famoso ou político para ser publicamente envergonhado e permanentemente marcado: tudo o que você precisa fazer é ter um dia particularmente ruim e as consequências podem durar enquanto o Google existir", definiu o colunista do The New York Times Ross Douthatslot brabetuma coluna sobre cancelamento há alguns dias.

O fenômeno acontece também no Brasil, mas frequentemente tem como alvo famosos. Um exemplo recenteslot brabetcancelamento foi o da blogueira Gabriela Pugliesi. Depoisslot brabetpostar imagensslot brabetuma festa que deu emslot brabetcasa,slot brabetabril,slot brabetmeio a uma quarentena por conta da epidemiaslot brabetcoronavírus, uma multidão online passou a cobrar as marcas que a patrocinavam para que rescindissem os contratosslot brabetpublicidade com ela. Pugliesi perdeu pelo menos cinco contratos e seu prejuízo teria superado os R$ 2 milhões.

Injustiças no movimento por justiça social?

O alcance da cultura do cancelamento nos Estados Unidos tem gerado questionamentos sobre a possibilidadeslot brabetque injustiças sejam cometidas justamente na busca por Justiça.

Cafferty não é um caso único. No fimslot brabetmaio, um pesquisador contratado por uma consultoria política progressista compartilhou no Twitter o resultadoslot brabetum estudo que indicava que, nos anos 1960, protestos raciais violentos aumentavam o percentualslot brabetvotosslot brabetcandidatos republicanos, enquanto atos pacíficos favoreciam políticos democratas nas urnas. Ativistas consideraram que seu comentário era uma reprimenda aos atos pela morteslot brabetGeorge Floyd e passaram a exigirslot brabetdemissão. O pesquisador foi demitido dias mais tarde.

No último mês, uma professoraslot brabetteatroslot brabetNova York foi acusadaslot brabetter cochilado durante uma reunião online para tratarslot brabetações por justiça racial no curso. Uma petição assinada por quase duas mil pessoas pedeslot brabetdemissão, acusando-aslot brabetracista. A professora nega e alega que apenas descansava as vistas olhando momentaneamente para baixo quando a foto foi feita.

No começoslot brabetjunho, um migrante palestino, donoslot brabetuma redeslot brabetpadarias que emprega 200 pessoasslot brabetMinnesota, se tornou alvo depoisslot brabetserem encontrados — e divulgados — na internet posts racistas e antissemitasslot brabetsua filha, adolescente quando os escreveu. Apesarslot brabetter demitido a filha, hoje adulta, da empresa, seus compradores cancelaram os contratos e ele perdeu linhasslot brabetcrédito. O negócio pode não sobreviver.

Diante do que qualificaram como "atmosfera sufocante", um gruposlot brabet150 jornalistas, intelectuais, cientistas e artistas, considerados progressistas, resolveu publicar, na Harper's Magazine, há duas semanas, um texto intitulado "Uma carta sobre Justiça e Debate Aberto". Assinada por nomesslot brabetpeso, como o linguista Noam Chomsky, os escritores J.K. Rowling e Andrew Solomon, a ativista feminista Gloria Steinem, a economista trans Deirdre McCloskey, e o cientista político Yascha Mounk, a carta afirma que "a livre trocaslot brabetinformações e ideias, força vitalslot brabetuma sociedade liberal, tem diariamente se tornado mais restrita. Enquanto esperávamos ver a censura partir da direita radical, ela está se espalhando tambémslot brabetnossa cultura: uma intolerância a visões opostas, um apelo à vergonha pública e ao ostracismo e a tendênciaslot brabetdissolver questões políticas complexas com uma certeza moral ofuscante".

Na mesma toada, uma das editorasslot brabetopinião do jornal The New York Times, Bari Weiss, se demitiu essa semana por meioslot brabetuma carta aberta, na qual acusa a publicaçãoslot brabetpromover um "novo macartismo",slot brabetreferência à patrulha ideológica anticomunista dos anos 1950 nos Estados Unidos. "Artigos publicados com facilidade há apenas dois anos, agora colocariam um editor ou autorslot brabetapuros. Isso se ele não for demitido. Se um texto é percebido como provável fonteslot brabetreação interna ou nas mídias sociais, o editor sequer o publica", escreveu Weiss, contratada pelo New York Times pouco depois da eleiçãoslot brabetTrumpslot brabet2016,slot brabetum esforço para amplificar a diversidadeslot brabetvozes no diário.

A demissãoslot brabetWeiss acontece semanas após aslot brabetseu chefe, James Bennet, que optou por publicar um artigo do senador republicano Tom Cotton que defendia o uso do Exército americano para reprimir as manifestações pelos direitos dos negros. O artigo foi considerado "fora dos padrões" pelo New York Times.

Em um artigo para a revista The Atlantic,slot brabetque cita o casoslot brabetEmmanuel Cafferty, o cientista político Yascha Mounk explica porque assinou o manifesto.

Cafferty foi suspensoslot brabetseu emprego duas horas após chegar ao Twitter uma fotoslot brabetque ele aparecia fazer o sinalslot brabetokslot brabetseu carro. O usuário do Twitter que registrou a cena interpretou o gesto como um símbolo racista usado principalmenteslot brabetredes como o 4chan. Cafferty, no entanto, diz que estava apenas alongando os dedos que nem sequer sabia da conotação racista do símbolo. Dias depois da postagem, ele perdeu o que considerava o "melhor emprego"slot brabetsua vida.

Mounk aplaude o que chamaslot brabet"nova determinação americana" para desenraizar preconceitos da sociedade. "No entanto, seria um erro enorme, especialmente para aqueles que se importam com justiça social, considerar o que aconteceu com Cafferty como um detalhe menor ou o preço a ser pago pelo progresso", escreveu Mounk.

A resposta à carta dentro do movimento progressista não tardou. Um gruposlot brabetjornalistas, artistas e intelectuais acusou os autores da primeira carta de, do altoslot brabetseu sucesso profissional e posição confortável no mercado, ignorar as dificuldadesslot brabetminorias, como negros e população LGBT, no debate público no mundo acadêmico, nas artes, no jornalismo, no mercado editorial.

"Os signatários, muitos deles brancos, ricos e dotadosslot brabetplataformas enormes, argumentam que têm medoslot brabetser silenciados, que a chamada cultura do cancelamento está foraslot brabetcontrole e que eles temem por seus empregos e pelo livre intercâmbioslot brabetideias, ao mesmo temposlot brabetque se manifestamslot brabetuma das revistasslot brabetmaior prestígio do país", afirmam os signatários do novo documento, intitulado "Uma carta mais específica sobre Justiça e debate aberto". Alguns dos apoiadores do texto preferiram ficar anônimos, citando apenas a instituiçãoslot brabetque trabalham, por medoslot brabetrepresálias.

Os autores citam ainda nominalmente algunsslot brabetseus antagonistas: mencionam que J.K. Rowling esteve recentemente envolvidaslot brabetum debate sobre a palavra "mulher". Ao comentar um texto que mencionava "pessoas que menstruam", ela afirmou: "Se sexo biológico não é real, a realidade vivida por mulheres globalmente é apagada. Eu conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceitoslot brabetsexo (biológico) remove a capacidadeslot brabetmuitas pessoas discutirem o significadoslot brabetsuas vidas. Falar a verdade não é discursoslot brabetódio". Sua afirmação foi considerada transfóbica e duramente criticada. Os autores da segunda carta dizem ainda que negros e trans que assinaram a primeira carta serviram como álibi para os brancos signatários não serem considerados racistas.

A disputa políticaslot brabettorno da "cultura do cancelamento" deve ser longa e aguerrida. E a crítica a algunsslot brabetseus efeitos tem criado uma rara sintonia entre partes da esquerda e da direita.

O presidente americano Donald Trump já criticou o fenômeno como a "definição do totalitarianismo". Ao mesmo tempo, é criticado por usar justamente alguns desses métodos para perseguir desafetos por meio principalmenteslot brabetsua conta no Twitter.

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