Cientistas revelam 'chave' do vírus da zika que pode ser esperança para tratamento:telephone zebet

Crédito, REUTERS/Nacho Doce

Legenda da foto, Bebê com microcefalia é erguido portelephone zebetmãetelephone zebetOlinda,telephone zebetfototelephone zebet2016; conhecendo o caminho do vírus da zika para causar lesões no cérebro dos fetos, pesquisadores sugerem terapia promissora para bloqueá-lo

A publicaçãotelephone zebet2016 foi uma urgente resposta científica a um surtotelephone zebetzika que começou no paístelephone zebet2015. Segundo um relatório do Ministério da Saúde, entre 2015 e 2019 pelo menos 3.474 crianças no país nasceram com alterações no crescimento e desenvolvimento possivelmente relacionadas à infecção pelo vírus da zika — este número inclui apenas casostelephone zebetque esta associação entre infecção e alterações foi confirmada, mas há centenastelephone zebetoutros que não puderam ser confirmados por razões diversas. Destas 3.474 crianças, 2.179 (63%) nasceram no Nordeste do país.

A infecção pelo zika pode levar a várias sequelas, entre elas a microcefalia — uma má formação gestacional que acarretatelephone zebetcérebro e cabeça menorestelephone zebetum bebê, o que frequentemente afeta o desenvolvimento mental e físico da criança.

Boletins do ministério mostram que,telephone zebet2020, casostelephone zebetzika na população geral (não apenas bebês) continuam sendo registrados, embora não na mesma dimensão que do surtotelephone zebet2015-2016. Especialistas, porém, alertam que o país não está livretelephone zebetuma nova epidemia, como a que já passou.

Desde o surto que começoutelephone zebet2015, porém, cientistas não pararamtelephone zebetestudar a zika. O trabalho recém-publicado na Nature Neuroscience, por exemplo, levou quatro anos para ser concluído.

"Este artigo tem duas mensagens principais. Primeiro, o receptor AHR (receptortelephone zebetaril hidrocarboneto, uma proteína presente dentro das células) tem um papel fundamental na infecção. Segundo, que drogas que testamos agindo no AHR funcionaram muito bemtelephone zebettestes com camundongos", resumiu à BBC News Brasil o imunologista Jean Pierre Schatzmann Peron, do Institutotelephone zebetCiências Biomédicas da USP.

O caminho da vírus — e as apostas para contê-lo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Representação do vírus da zika no sangue; no feto, patógeno mira principalmente neurôniostelephone zebetformação

No atual trabalho, a equipe contou com a colaboraçãotelephone zebetpesquisadorestelephone zebetinstituições internacionais, como a Universidade Harvard, nos EUA, e a Universidadetelephone zebetBuenos Aires, na Argentina.

A pesquisa recebeu financiamento da Coordenaçãotelephone zebetAperfeiçoamentotelephone zebetPessoaltelephone zebetNível Superior (Capes), do Conselho Nacionaltelephone zebetDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundaçãotelephone zebetAmparo à Pesquisa do Estadotelephone zebetSão Paulo (Fapesp).

Os autores conseguiram identificar que, após invadir as células, o vírus age sobre o receptor AHR que, portelephone zebetvez, limita a produção do interferon tipo 1 e da proteína da leucemia promielocítica (PML) — ambas substâncias importantes para a defesa, ou resposta imune, do corpo.

"Receptores são proteínas presentes na membrana celular, no citoplasma ou ainda no núcleo. No caso da AHR, trata-setelephone zebetuma proteína no citoplasma que, quando ativada, vai para o núcleo da célula. Essa proteína é observadatelephone zebetvários tipostelephone zebetcélula, incluindo as do sistema imune e neuronais", explica Peron.

Foi observadotelephone zebetcamundongos que, após passar essa barreira imune da mãe, o vírus conseguiu cruzar a placenta, infectar os fetos e chegar às suas células "preferidas", os precursorestelephone zebetneurônios (em formação). O cérebro é lesionado e, então, ocorre a microcefalia.

Vale lembrar que a transmissão do zika pode acontecer da mãe para o feto, mas também por picadas do mosquito Aedes aegypti e por relações sexuais.

Na pesquisa publicada, os autores apresentam também bons resultados com duas drogas que bloqueiam esta ativação do AHR — uma autorizada apenas para usotelephone zebetpesquisas e outratelephone zebetestudo clínico como imunoterapia contra câncer.

Fêmeastelephone zebetcamundongos prenhes e infectadas com zika receberam os remédios e, depois, a lesão cerebral — principal alvo dos pesquisadores — melhorou tanto nas mães quanto nos fetos, segundo os pesquisadores fazendo com que os cérebros ficassem praticamente iguais aostelephone zebetcamundongos não infectados. O peso e o comprimento dos animais também melhorou após o tratamento.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Receptor AHR mostrou ter papel fundamental na transmissão dos vírus da zika e dengue, transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, indicam estudos

Um próximo passo do estudo com estas drogas seria o teste com macacos e, depois, eventualmente com humanos, mas isso depende do investimento e interessetelephone zebetalgum laboratório farmacêutico.

No artigo, os próprios pesquisadores destacam que eventuais testes com as drogas precisam verificar se o tratamento traria efeitos colaterais — averiguação que é esperadatelephone zebetqualquer estudo clínico, mas que neste caso tem a particularidadetelephone zebetenvolver também grávidas.

Sobre a passagem dos testes com cobaias para um eventual estudo clínico com pacientes,telephone zebetque o sucesso da fase anterior não necessariamente se comprova, Peron diz que é favorável o fatotelephone zebetque a doença se apresentatelephone zebetforma muito parecidatelephone zebetcobaias, macacos e humanos. Portanto, o sucesso observado com cobaias poderá ser vistotelephone zebetpessoas também.

Estudos que já levam anos

Francisco Quintana, pesquisadortelephone zebetHarvard e um dos coautores do artigo na Nature Neuroscience, já vinha trabalhando com terapias que agem na AHR desde 2006, especificamente para esclerose múltipla. Depois, vários grupos pelo mundo descobriram o papel do receptortelephone zebetoutras doenças — inclusive a dengue, causada por outro flavivírus como a zika, segundo encontrou a própria equipe brasileira posteriormente.

No momentotelephone zebetque os estudos com a AHR começaram, Jean Pierre Schatzmann Peron fazia "doutorado sanduíche"telephone zebetHarvard. As trocas entre as equipes brasileira e americana continuam — uma das doutorandas da USP a assinar também o artigo está atualmentetelephone zebetHarvard.

Em 2016, a equipe da USP, tambémtelephone zebetcolaboração com pesquisadores estrangeiros, liderou a publicação na Nature após fazer testes com camundongos infectados com zika comparados a não infectados.

Peso, tamanho do cérebro e composição dos tecidos mostraram diferenças significativas entre os dois grupos, comprovando a causalidade entre a infecção pelo vírus a microcefalia.

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