Vitamina D protege contra coronavírus? Especialistas explicam por que é cedo para afirmar:ice casino

Pessoa segura comprimidoice casinovitamina D na contraluz do Sol

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Entidades médicas têm recomendações bem claras sobre suplementoice casinovitamina D — e elas não valem pra qualquer pessoa

Essas recomendações já foram refutadas pelo Ministério da Saúde, que afirmou: "Até o momento, não há nenhum medicamento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo novo coronavírus."

Em linhas gerais, as recomendações do ministérioice casinorelação ao novo coronavírus seguem o que vem sendo divulgado internacionalmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS): lavar recorrentemente as mãos; usar lenço descartável na higiene nasal; cobrir nariz e boca ao espirrar e tossir; evitar tocar mucosasice casinoolhos, nariz e boca; evitar contato próximo com pessoas com infecções respiratórias agudas ou que apresentem sintomas da doença; entre outros.

A Sociedade Brasileiraice casinoInfectologia também publicou uma nota no último dia 7 sobre fake news referentes à vitamina D, afirmando que "jamais" a entidade publicou que "preconiza o reforçoice casinoimunidade como a única estratégia preventiva contra a infecção pelo coronavírus", tampouco a recomendaçãoice casino"imunomodulação usando vitamina Dice casinodose alta e injetável", conforme indicaram alguns boatos.

Homem passa por emblema da Organização Mundial da Saúde (OMS) no vidroice casinoprédio na Geneva

Crédito, FABRICE COFFRINI/AFP via Getty Images

Legenda da foto, Sede da OMSice casinoGeneva, que recebeu conferência sobre pesquisas abordando o novo coronavírus; recomendaçõesice casinoprevenção da organização internacional focamice casinomedidasice casinohigiene

Hoje, no Brasil, a recomendação para usoice casinosuplementoice casinovitamina D,ice casinoformaice casinocomprimidos por exemplo, é feita apenas para gruposice casinoriscoice casinodeficiência desta substância, e, mesmo assim, após exames, consultas e prescrição médica. A recomendação é motivada principalmente por aquele que é o papel mais conhecido e essencial da vitamina D: ela participa da absorção do cálcio pelo organismo, contribuindo assim para a saúde dos ossos.

Estão incluídos nos gruposice casinorisco para carência da vitamina D, segundo o mais recente posicionamento das sociedades brasileirasice casinoPatologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e da Sociedade Brasileiraice casinoEndocrinologia e Metabologia (SBEM), idosos com maisice casino60 anos; gestantes e lactantes; pessoas com osteoporose; pessoas com as chamadas doenças osteometabólicas, como raquitismo; entre outros.

"Cientificamente, a gente não está autorizado a usar vitamina D fora da prevençãoice casinodoenças ósseas,ice casinoquedasice casinoidosos e na populaçãoice casinorisco. Se não tem evidência científicaice casinoque há benefícios (para o públicoice casinogeral), não está autorizado", resumiu à BBC News Brasil José Antonio Miguel Marcondes, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês,ice casinoSão Paulo.

Mas se, para alguns grupos, a ingestãoice casinosuplementos é recomendada, não se pode esquecer que a vitamina D também pode — e deve — chegar a todos através das vias "naturais": principalmente a partir da pele exposta ao sol e,ice casinomenor medida, através da alimentação.

Durante a quarentena, porém, nem todos têm a opçãoice casinose expor ao sol. Foi pensando nisso que o sistemaice casinosaúde público na Inglaterra recomendou que as pessoas considerem tomar doses diáriasice casinovitamina D para compensar a faltaice casinoexposição ao sol durante o isolamento.

Na Inglaterra, já há uma recomendação para que as pessoas tomem dez microgramasice casinovitamina D por dia nos mesesice casinoinverno, entre outubroice casinomarço, ou ao longo do ano inteiro se não tiverem o hábitoice casinose expor ao sol.

"Infelizmente, como os efeitos do coronavírus continuam, muitosice casinonós estão enfrentando restrições no tempo que podemos passar foraice casinocasa", diz Sara Stanner, da Fundação Britânicaice casinoNutrição.

Nesse cenário, ela diz que a suplementação é uma alternativa para que as pessoas mantenham níveis saudáveisice casinovitamina Dice casinoseus corpos.

As doses recomendadas por faixa etária pelo sistemaice casinosaúde pública inglês são:

- Até 25 microgramas/dia para bebês com menosice casino12 meses;

- Até 50 microgramas/dia para crianças entre um e dez anos;

- Até 100 microgramas/dia para adultos com deficiência da vitamina, mas a dose padrão recomendada para adultos éice casino10 microgramas/dia.

A vitamina D fortalece o sistema imunológico?

Mas, afinal, a vitamina D pode ajudar no fortalecimento do sistema imunológico — inclusive dianteice casinodoenças respiratórias virais, como o novo coronavírus?

Pelos especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, a ciência ainda não encontrou uma resposta clara a essa pergunta — e, por isso mesmo, não veem evidências para recomendar seu uso no reforço do sistema imunológico.

Marcondes explica que, apesar do nome, a vitamina D é um hormônio. Ela se liga a receptores próprios para estes hormônios dentro das células — "como se fosse um interruptor: uma vez que há esta ligação (hormônio e receptor), dispara-se uma sérieice casinoeventos", explica o endocrinologista.

"Existem algumas células do sistema imunológico que têm receptorice casinovitamina D. Então, ela pode ter algum papel na defesa, mas qual papel é esse, se é significativo ou não, não há evidências suficientes. É um assunto bastante discutido."

"A questão do coronavírus, pode ser que no futuro a gente venha a conhecer (um papel), mas no momento não tem dados para sugerir doseice casinovitamina D."

Portanto, mais uma vez: não havendo comprovação científicaice casinobenefícios ouice casinodosagem segura (há efeitos colaterais com a ingestão excessivaice casinovitamina D, como náusea e cálculo renal), não há recomendação médica.

Lúciaice casinoFátima Campos Pedrosa, nutricionista e professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explicou à BBC News Brasil que, além da saúde óssea e do sistemaice casinodefesa, pesquisadores vêm testando as fronteiras da vitamina Dice casinovárias outras áreas. A própria professora coordena há alguns anos um projetoice casinopesquisa que acompanha níveisice casinovitamina Dice casinopacientes com síndrome metabólica.

"A função clássica da vitamina D era relacionada ao metabolismo ósseo. Com a evolução das pesquisas, percebeu-se queice casinoatuação não está somente nisso: existem receptoresice casinooutros tecidos, no cérebro, músculos, nos adipócitos...", exemplifica.

"Era como se nosso organismo,ice casinomodo geral, estivesse preparado para acatar essa vitamina D. E no nosso organismo, tudo tem uma explicação. Se eu tenho um receptor para vitamina D, é porque aquele tecido precisa desse nutriente", diz, apontando que há pesquisas investigando o papel da vitamina D na diabetes, doenças neurológicas, cardiovasculares, alguns tiposice casinocâncer, entre outras condições.

A questão é que, por motivos também aindaice casinoestudo, a deficiênciaice casinovitamina D (ou hipovitaminose) é um problema no Brasil e no mundo — ainda maisice casinopaísesice casinomaior latitude e com invernos severos, pois há menos exposição ao sol.

Salmão, ovos, peixe enlatado e outros alimentos que são fonteice casinovitamina D sobre a mesa

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Peixes gordurosos e derivados do leite estão entre as principais fontesice casinovitamina D na alimentação — mas as dietas modernas são pobres nela, alertam especialistas

"Existe uma estimativa geralice casino20 a 59% (da população com deficiênciaice casinovitamina D) na América do Sul. Já fizemosice casinoNatal (RN) pesquisa com idososice casinoinstituiçõesice casinolonga permanência, o valor foi pertoice casino70%; com adolescentes, 45%. Já houve percentuais altos detectados tambémice casinoSão Paulo e outras partes do Nordeste", aponta a pesquisadora da UFRN.

"De 80 a 90% da fonteice casinovitamina D que a gente tem circulante vem da exposição solar. A vitamina D é um hormônio pré-sintetizado na pele que precisa do estímulo, liberando uma enzima que é catalisada pela radiação UV", explica.

"Mas o estiloice casinovida mudou muito: já saímosice casinocasa com filtro solar; passamos o diaice casinoambientes fechados; e a alimentação,ice casinomaneira geral, é deficiente. Na minha experiência (com diferentes grupos), a deficiênciaice casinovitamina D na dieta é altíssima."

No entanto, a exposição ao sol coloca uma encruzilhada: ela precisa chegar diretamente à pele, sem protetor solar ou camisas feitas para bloquear raios ultravioleta B. Como fazer isso sem desproteger a pele demais?

"O que deve ser feito tantoice casinocrianças quanto adultos é ir ao sol nos horários adequados (costuma-se recomendarice casino10h-16h); deixar o corpo exposto ao sol por mais ou menos 20 minutos (por dia); e após esse período, aplica-se o protetor. Mas no primeiro momento, é importante dar a oportunidade para a sínteseice casinovitamina D", sugere a nutróloga Nívea Bordin, da clínica Leger,ice casinoSão Paulo.

De qualquer forma, aí vai mais um pontoice casinoque não há consenso científico: o tempoice casinoexposição ao sol recomendado, já que podem influenciar fatores como a pigmentação da pele e a quantidadeice casinogordura no corpo.

Já na dieta, Bordin explica que as principais fontes da vitamina D são os peixes gordurosos (arenque, cavala, salmão, atum, etc); leites e derivados; e ovos.

"A maioria das dietas modernas são pobresice casinovitamina D, e poucos são os países que possuem programasice casinofortificação com essa vitamina (o Brasil não tem, por exemplo, como faz por outro lado com o iodo no sal). Nos Estados Unidos, há óleoice casinofígadoice casinobacalhau, ovo, leite, sucoice casinolaranja, cereais matinais fortificados."

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