O 'navio dos milagres' que resgatou 14 mil refugiados norte-coreanos no Natal:atlético paranaense e cuiabá palpite
"A parteira teve que usar os dentes para cortar meu cordão umbilical", conta Lee Gyong-pil, cercaatlético paranaense e cuiabá palpite69 anos depois.
"As pessoas disseram que o fatoatlético paranaense e cuiabá palpiteeu não ter morrido e ter nascido foi um milagreatlético paranaense e cuiabá palpiteNatal."
Lee foi o quinto bebê a nascer a bordo do SS Meredith Victory no invernoatlético paranaense e cuiabá palpite1950, um dos períodos mais sombrios da Guerra da Coreia (1950-53).
A viagematlético paranaense e cuiabá palpitetrês dias salvou milharesatlético paranaense e cuiabá palpitevidas, incluindo a dos pais do atual presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in.
Não foi à toa que o Meredith Victory ganhou o apelidoatlético paranaense e cuiabá palpite"Navio dos Milagres".
O resgate
Em dezembroatlético paranaense e cuiabá palpite1950, cercaatlético paranaense e cuiabá palpite100 mil soldados da Organização das Nações Unidas (ONU) foram cercados pelas tropas chinesas no porto norte-coreanoatlético paranaense e cuiabá palpiteHungnam. Eles foram derrotados pelas tropas chinesas no que ficou conhecido como a Batalhaatlético paranaense e cuiabá palpiteChosin e tiveram sorteatlético paranaense e cuiabá palpitesair vivos das montanhas.
Eles enfrentaram um Exército quase quatro vezes maior do que o deles. E havia apenas uma maneiraatlético paranaense e cuiabá palpiteescapar: pelo mar. Mas tinham muito pouco tempo para isso, uma vez que os chineses estavam se aproximando.
Além disso, as tropas não estavam sozinhas. Milharesatlético paranaense e cuiabá palpiterefugiados norte-coreanos também haviam fugido para a praia. Muitos haviam percorrido quilômetros na neve com crianças pequenas na esperançaatlético paranaense e cuiabá palpiteserem salvos.
Eles estavam com frio, exaustos e desesperados.
Cercaatlético paranaense e cuiabá palpite100 navios americanos, incluindo o SS Meredith Victory, haviam se deslocado para Hungnam no intuitoatlético paranaense e cuiabá palpitebuscar os soldados, suprimentos e munições — e levá-los até os portos sul-coreanosatlético paranaense e cuiabá palpiteBusan e da Ilha Geoje.
O resgateatlético paranaense e cuiabá palpiterefugiados não estava nos planos.
O coronel Edward Forney, do Corpoatlético paranaense e cuiabá palpiteFuzileiros Navais dos EUA, trabalhou com outras pessoas para incluir os refugiados na missão.
"Se você quer vencer uma guerra — seu trabalho não é resgatar civis", diz Ned, veterano da Marinha e netoatlético paranaense e cuiabá palpiteForney.
"É uma coisa bacanaatlético paranaense e cuiabá palpitese fazer. Mas os militares vêmatlético paranaense e cuiabá palpiteprimeiro lugar."
"De alguma forma, isso aconteceu", conta. "Esses carasatlético paranaense e cuiabá palpiteHungnam fizeram o que eu diria que era a coisa certa, pelas razões certas,atlético paranaense e cuiabá palpiteuma situação muito difícil."
Foram vários dias até embarcar todo mundo. Os refugiados se amontoaram no porto, esperandoatlético paranaense e cuiabá palpitevez.
Entre eles, estava Han Bo-bae,atlético paranaense e cuiabá palpite17 anos, com a mãe.
"Era uma situaçãoatlético paranaense e cuiabá palpitevida ou morte", diz ela. "Não pensamosatlético paranaense e cuiabá palpiteoutra coisa a não ser que precisávamos entrar no navio ou morreríamos."
Mas deixaratlético paranaense e cuiabá palpitecidade natal foi difícil. "Ao ver a praia se afastandoatlético paranaense e cuiabá palpitemim, meu coração ficou apertado. Estou partindo, pensei."
As condições a bordoatlético paranaense e cuiabá palpitecada um dos navios eram bastante difíceis, com refugiados amontoados entre veículos, caixasatlético paranaense e cuiabá palpitemunição e suprimentos.
Não havia comida, tampouco água. O maior deles, o SS Meredith Victory, foi projetado para transportar no máximo 60 tripulantes. E, naquela ocasião, havia 14 mil refugiados a bordo — além da carga.
Han Bo-bae estava ao relento, no convésatlético paranaense e cuiabá palpiteum pequeno navio. Sua mãe conseguiu um cobertor para elas, mas nada muito além disso.
"As ondas caíam sobre mim, e minha mãe estava preocupada com a possibilidadeatlético paranaense e cuiabá palpitenos afogarmos e virarmos espíritos do mar", acrescentou.
Ninguém morreu a bordo dos navios. Todas as 200 mil pessoas que embarcaram na arriscada viagem à Coreia do Sul — metade refugiados, metade soldados — chegaramatlético paranaense e cuiabá palpiteterra firme com vida.
Foi a maior evacuação militar marítimaatlético paranaense e cuiabá palpitecivisatlético paranaense e cuiabá palpitecondiçõesatlético paranaense e cuiabá palpitecombate da história americana.
E, quando o SS Meredith Victory aportou na Ilha Geoje, havia cinco novas vidas a bordo.
Como os tripulantes americanos não conheciam nomes coreanos, decidiram chamar cada um dos bebêsatlético paranaense e cuiabá palpiteKimchi (prato típico coreano). Lee era o Kimchi número 5.
"No começo, eu não gostei. Por que Kimchi 5? Eu tenho nome próprio. Mas quando pensei melhor, passei a não me importar e agora agradeço à pessoa que me deu um nome."
Lee ainda vive na ilha Geoje, onde o navio Meredith Victory atracou há quase 70 anos. Virou veterinário e tem um cartãoatlético paranaense e cuiabá palpitevisita com o nome Kimchi 5.
Ele ajuda a manter viva a história do resgateatlético paranaense e cuiabá palpiteHungnam e conheceu alguns dos ex-membros da tripulação do Meredith Victory — incluindo a pessoa que ajudouatlético paranaense e cuiabá palpitemãe a dar à luz.
Lee espera um dia criar um memorial para os navios no portoatlético paranaense e cuiabá palpiteGeoje.
A separação
Ninguém sabe o que aconteceu com os Kimchi número 2, 3 e 4.
Mas os pais do primeiro bebê nascido a bordo, o Kimchi 1, mais conhecido como Sohn Yang-young, tomaram uma decisão difícilatlético paranaense e cuiabá palpiteHungnam, que os assombraria para o resto da vida.
A maioria dos refugiados pensou que eles ficariam fora apenas por alguns dias — talvez algumas semanas, no máximo. O plano sempre foi voltar. Mas nenhum deles voltou.
Os paisatlético paranaense e cuiabá palpiteSohn Yang-young tinham dois outros filhos na época: Taeyoung,atlético paranaense e cuiabá palpite9 anos, e Youngok,atlético paranaense e cuiabá palpite5 anos. Fazia muito frio. O porto estava um caos.
Ele olhou para a esposa grávida e sabia que ela precisava embarcar. Decidiu então deixar os outros dois filhos com o tio e garantiu que voltaria para a Coreia do Norteatlético paranaense e cuiabá palpitebreve.
Eles nunca mais se veriam. Mesmo quando um cessar-fogo foi assinado e o conflito foi interrompido, a península estava dividida. E as duas Coreias ainda estão oficialmenteatlético paranaense e cuiabá palpiteguerra.
Por anos, a mãeatlético paranaense e cuiabá palpiteSohn implorou ao marido que voltasse para encontrar os filhos, mas sabia que estava pedindo o impossível.
Todas as manhãs, ela pegava uma tigelaatlético paranaense e cuiabá palpitearroz e água benta e orava diante dela, como uma oferenda para os filhos perdidos.
"Sou a prova viva da tristeza e da dor que uma família dividida carrega", diz Sohn.
"Minha família foi dilacerada. Hoje tenho meus próprios filhos e netos e checo todos os dias, quando volto para casa do trabalho, se eles estão bem."
"Ainda não consigo entender como um bebê teve a sorteatlético paranaense e cuiabá palpiteficar com os pais — enquanto os outros que saíram exatamente do mesmo útero foram separados deles e passaram por tantas coisas."
"Eles devem ter esperado na esperançaatlético paranaense e cuiabá palpiteque a mãe e o pai voltariam."
Sohn fez uma solicitação por meio da Cruz Vermelha Internacional para ver o irmão e irmã como parte dos raros encontrosatlético paranaense e cuiabá palpitefamílias separadas autorizados pela Coreia do Norte.
Ele diz esperar que a península seja unificada na esperançaatlético paranaense e cuiabá palpitepoder vê-los novamente.
"Desde que ainda estejam vivos, eu vou encontrá-los", afirma, sem conseguir segurar as lágrimas.
Ele nos mostra uma fotoatlético paranaense e cuiabá palpitequando era bebê com um bilhete escrito à mão pelo pai.
"Cuide bem dessa foto até conhecer seu irmão mais velho, Taeyoung", diz o texto.
Estima-se que haja cercaatlético paranaense e cuiabá palpite1 milhãoatlético paranaense e cuiabá palpitedescendentes da evacuaçãoatlético paranaense e cuiabá palpiteHungnam vivendo na Coreia do Sul eatlético paranaense e cuiabá palpiteoutras partes do mundo. É uma históriaatlético paranaense e cuiabá palpitesobrevivência. Masatlético paranaense e cuiabá palpiteprofunda tristeza para aqueles que foram deixados para trás.
Enquanto os navios americanos se afastavam do portoatlético paranaense e cuiabá palpiteHungnam na vésperaatlético paranaense e cuiabá palpiteNatal, o contra-almirante James Doyle olhava pelo binóculo.
"Ele avistou tantos refugiadosatlético paranaense e cuiabá palpiteterra, quanto os que EUA haviam resgatado", diz Ned Forney, que está escrevendo um livro para documentar o resgate.
Mas os EUA afirmaram que não tinham escolha. Tiveram que explodir o porto para garantir que o exército chinês não pegasse os suprimentos deixados para trás.
Han Bo-bae, que observava a cena do convés do navio, disse que o porto era como um "maratlético paranaense e cuiabá palpitefogo". Pouco depois das explosões, o Exército chinês entrou na cidade.
"Muitos ainda estavam esperando no porto. Muitos não conseguiram embarcar nos navios", lembra.
"Ainda havia muita gente esperando, eles devem ter morrido. Dói no meu coração, as artilharias, as bombas. A guerra não deveria acontecer. Não deveria acontecer".
Sohn ainda tem esperançaatlético paranaense e cuiabá palpitequeatlético paranaense e cuiabá palpitefamília esteja viva. Afinal, ele próprio nasceu no "Navio dos Milagres". E agora ele espera por mais um.
E escreveu esta mensagem para seu irmão e irmã:
"Nossos pais sentiram a faltaatlético paranaense e cuiabá palpitevocês todos os dias da vida deles. Mesmo estando no céu agora, acredito que eles ainda estão procurando por vocês."
"Espero que nosso sonho se torne realidadeatlético paranaense e cuiabá palpiteum futuro muito próximo. Espero mesmo."
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