A surpreendente história do coquetel molotov:roleta manual
Os soviéticos tinham à disposição 5,7 mil peçasroleta manualartilharia, 6,5 mil tanques e 3,8 mil aviões.
Do lado finlandês, o arsenal se resumia a 400 peçasroleta manualartilharia, a maioriaroleta manualbaixo calibre, 110 aeronaves, das quais 75 estavam prontas para combate, e 32 tanques velhos.
"Era um Davi contra Golias", diz o historiador Tuomas Tepora, da Universidaderoleta manualHelsinque. "Muitos finlandeses realmente temiam o pior."
A expectativa dos soviéticos era que a guerra acabaria três semanas depois que o Exército Vermelho chegasse a Helsinque.
Mas a resistência durou três longos meses, o rigoroso inverno entre dezembroroleta manual1939 e fevereiro 1940. Eroleta manualmuito graças a uma perigosa arma criada pelos filandeses, e que voltou às manchetes recentemente no Brasil com o ataque à sede do grupo humorístico Porta dos Fundos: o coquetel molotov.
Coquetel indigesto
No final, "Golias" venceu e Stalin conseguiu alargar a distânciaroleta manualLeningrado à fronteira. A União Soviética anexou cercaroleta manual10% do território finlandês, mas a um custo humano e material muito mais alto do que esperava.
Maisroleta manual130 mil soldados foram mortos e outros 200 mil ficaram feridos – um golpe à imagem do Exército Vermelho.
Do lado finlandês, o volumeroleta manualbaixas foi menor: 27 mil mortos e 44 mil feridos.
A eficácia das Forçasroleta manualDefesa da Finlândia é até hoje objetoroleta manualestudo dentro e fora do país – inclusive no Brasil.
"Me disseram que o Exército brasileiro ensina sobre a Batalharoleta manualSuomussalmi a seus altos oficiais como um exemploroleta manualaplicaçãoroleta manualtáticasroleta manualcerco", conta Pasi Tuunainen, professorroleta manualHistória Militar na Universidade da Finlândia Oriental (UEF, na siglaroleta manualinglês).
Autorroleta manual5 livros sobre a chamada Guerraroleta manualInverno, ele esteve no Rioroleta manualJaneiroroleta manual2011 para um Congresso organizado pela Escolaroleta manualComando e Estado-Maior do Exército (ECEMA).
Em desvantagem numérica, os finlandeses tiveramroleta manualser criativos. Usaram soldados-esquiadores para sabotar as linhasroleta manualabastecimento do Exército soviético, aproveitaram a escuridão do inverno no hemisfério norte para praticar táticasroleta manualguerrilha, transformaram fazendeirosroleta manualatiradoresroleta manualelite.
O coquetel molotov é outro subproduto da escassezroleta manualrecursos.
Em determinado momento durante o conflito, ele era produzidoroleta manual"grandes volumes" na fábrica da estatalroleta manualbebidas Alko na cidaderoleta manualRajämaki, como conta Tuunainen no livro Finnish Military Effectiveness in the Winter War, 1939-1940 ("A eficácia militar finlandesa na Guerraroleta manualInverno",roleta manualtradução livre).
Eles eram usados pelo Exército finlandês para bloquear o avanço dos tanques soviéticos.
"Os soldados tentavam acertar motor", diz Jussi Jalonen, livre docente da Universidaderoleta manualTampere e professorroleta manualHistória Social e Cultural da Guerra.
Além das garrafas, os finlandeses também usavam "bolsasroleta manualexplosivos" improvisadas, os "kasapanos", conhecidosroleta manualinglês como "satchel charges".
À BBC News Brasil, Tuunainen contou que o capitão Eero Kuittinen, do Batalhãoroleta manualEngenharia, desenvolveu o coquetel molotov "em algum momento entre 1937 e 1939".
Ele teria se inspiradoroleta manualepisódios da Segunda Guerra Ítalo-Etíope, quando Mussolini invadiu a então Abissínia (atual Etiópia), e da Guerra Civil Espanhola,roleta manualque as forçasroleta manualdefesa tinham conseguido destruir tanques dos Exércitos invasores jogando um líquido inflamável sobre os veículos e, na sequência, algo semelhante a uma tocha.
"A diferença da 'arma secreta' finlandesa era que ela só precisava ser arremessada uma única vez, já que tinha um fósforo acoplado à garrafa."
O nome era uma provocação, uma referência ao ministro das Relações Exteriores da União Soviética, Vyacheslav Molotov.
Em meio à crítica da comunidade internacional à ofensiva, Molotov chegou a negar que os aviões soviéticos estivessem despejando bombas sobre as cidades finlandesas e afirmou que eles estavam, na verdade, distribuindo ajuda humanitária.
A invasão à Finlândia levou a União Soviética a ser expulsa da Liga das Nações.
A invenção - e o usoroleta manuallarga escala -roleta manualuma arma incendiária caseira pelos finlandeses foi umroleta manualmuitos episódios insólitos do conflito.
Soldados-esquiadores
Geograficamente, a Guerraroleta manualInverno se dividiuroleta manualduas partes.
A guerraroleta manualtrincheiras propriamente dita aconteceu no sul, onde havia maior infraestrutura e um maior númeroroleta manualestradas.
A defesa finlandesa se distribuiu por 140 kmroleta manualuma ponta a outra da península da Carélia, no decorrer da Linha Mannerheim.
O norte, onde predominavam as densas florestasroleta manualconíferas e as temperaturas abaixoroleta manualzero, foi palco da chamada guerraroleta manualmanobra, que tentava evitar o conflito direto.
Enquanto os soviéticos avançavam com seus pesados tanques pelas poucas estradas disponíveis - e ficavam expostosroleta manuallongas colunas - patrulhasroleta manualesquiadores singravam por entre as árvores e, camuflados, sabotavam as linhasroleta manualabastecimento do Exército Vermelho.
Muitas vezes esses boicotes faziam parteroleta manualuma estratégiaroleta manualcerco batizadaroleta manual"motti",roleta manualque soldados soviéticos eram isoladosroleta manualpequenos grupos para que o Exército finlandês, sempreroleta manualmenor número, pudesse atacarroleta manualforma mais efetiva.
Essa foi, aliás, a essência da Batalharoleta manualSuomussalmi - aquela que, segundo Tuunainen, é ensinada aos altos oficiais do Exército brasileiro.
Apesarroleta manualos soviéticos estaremroleta manualtese acostumados a lutar no inverno - e o frio seria um trunfo do Exército Vermelho alguns anos mais tarde, na Batalharoleta manualStalingrado contra os alemães -, eles não estavam preparados para as táticasroleta manualguerrilha das Forçasroleta manualDefesa do vizinho.
Os soviéticos sofriam baixas muitas vezes sem nem ver os soldados finlandeses, que com frequência agiam na escuridão do inverno no extremo norte.
Em muitos camposroleta manualbatalha, o sol brilhavaroleta manualmédia entre 3 e 5 horas por dia. "Na Lapônia, nem isso. Só escuridão 24 horas por dia", diz Tuunainen.
O fator psicológico, para o pesquisador, é fundamental para entender o desempenho das Forçasroleta manualDefesa.
A floresta, que se tornou um ambiente hostil para os soldados soviéticos, era para os finlandeses fonteroleta manualproteção, uma vantagem.
"Eles estavam acostumados à vida ao ar livre e a trabalhar na florestaroleta manualpleno inverno."
Naquela época, 70% da população viviaroleta manualáreas rurais. Muitos caçavam.
"Eles não precisaram aprender técnicasroleta manualsobrevivência."
O fazendeiro sniper
Essa era a situação do maior franco-atirador finlandês, que com frequência aparece nos rankings dos maiores snipersroleta manualtodos os tempos, com pouco maisroleta manual500 mortes.
"A históriaroleta manualSimo Häyhä acaba chamando atenção porque ele nem remotamente se assemelhava ao estereótipo do soldado, grande, forte", diz o historiador Olli Siitonen, que está fazendo seu Ph.D. na Universidaderoleta manualHelsinque.
Baixo para os padrões dos países nórdicos, com cercaroleta manual1,60 metroroleta manualaltura, Häyhä era fazendeiro antes da guerra.
Gostavaroleta manualcaçar, alistara-se voluntariamente na Guarda Civil quando tinha 17 anos e estava acostumado a ser premiadoroleta manualcompetiçõesroleta manualtiro na regiãoroleta manualque vivia, Viipuri.
"Descoberto pelos jornalistas" no meio do conflito, enquanto lutava no frontroleta manualKollaa, ganhou fama não apenas pela precisão, mas por seu método.
Sempre vestidoroleta manualbranco, Häyhä mastigava neve antesroleta manualatirar para evitar que a boca soltasse "a fumacinha" que expele quando expiramos no frio e denunciasseroleta manuallocalização.
Também para preservar a camuflagem, abriu mão da mira telescópica do fuzil - algo que, para qualquer soldado, dificultaria muito o trabalhoroleta manualatirar com precisão.
A estrutura um pouco maior do que a velha miraroleta manualferro que ele estava acostumado a usar para caçar o obrigaria a manter a cabeça um pouco mais alta. E ainda podia refletir a (pouca) luz do sol, conta o historiador, que atualmente trabalharoleta manualuma biografia do sniper.
Tudo isso fez com que ele se transformasse, a contragosto,roleta manualuma espécieroleta manualcelebridade durante a guerra.
Para o biógrafo, é emblemática nesse sentido uma ediçãoroleta manualdezembroroleta manual1939roleta manualum dos jornais do paísroleta manualque a morteroleta manual25 soldados soviéticosroleta manualapenas um dia é comemorada como "um presenteroleta manualNatalroleta manualSimo Häyhä para os finlandeses".
"A construçãoroleta manualheróis também é algo que faz parte da guerra", ele comenta.
Ainda assim, o atirador nunca gostou dos holofotes e deu poucas entrevistas durante a vida.
Atingido no rosto no fim da guerra, chegou a ser declarado morto. Ficou desacordado durante uma semana.
Passou por 26 cirurgias para tentar reconstruir parte do queixo, da bochecha e da boca.
Voltou a ser fazendeiro - mas teveroleta manualse mudar, já que a terraroleta manualque morava foi anexada pela União Soviética - e viveu até os 96 anos sozinho.
Não existe consenso sobre o númeroroleta manualsoldados que morreram sob os tiros precisos do sniper, diz Siitonen, e o próprio Häyhä declinou os convites para que se verificasse a acurácia das estimativas.
"Eu fiz o que me mandaram fazer, da melhor forma que podia", disseroleta manualumaroleta manualsuas últimas entrevistas,roleta manual2002.
Uma derrota com saborroleta manualvitória
A Batalharoleta manualSumma selou o destino da Finlândia na Guerraroleta manualInverno.
Emroleta manualprimeira fase,roleta manualdezembro, os finlandeses contrariaram as estatísticas e conseguiram deter o Exército Vermelho na Linharoleta manualMannerheim.
"As fortificaçõesroleta manualcampanha eram bastante precárias e não havia armamento antitanque suficiente (para dar conta da ondaroleta manualtanques soviéticos que avançava pela fronteira), mas as táticas funcionaram", diz Jussi Jalonen, livre docente da Universidaderoleta manualTampere.
Mas os soviéticos "aprenderam com os erros" e fizeram uma nova ofensivaroleta manualfevereiro.
"Foi uma investida massiva, sistemática, organizadaroleta manualtornoroleta manualuma terrível barragem", diz Jalonen, referindo-se à manobra tática que consiste no bombardeamento contínuo do oponente.
Summa é uma das especialidades do historiador, que cresceu olhando para a imagemroleta manualpreto e branco do avô materno fardado na parederoleta manualcasa, morto nessa batalha.
"Minha mãe foi um dos muitos órfãos da guerra."
Autorroleta manualum livro sobre o "espírito da Guerraroleta manualInverno", o professor da Universidaderoleta manualHelsinque Tuomas Tepora, por outro lado, não tinha exatamente interesseroleta manualHistória Militar quando começou a pesquisar sobre o assunto.
"Mas descobri que a Guerraroleta manualInverno é um componente central do nacionalismo finlandês."
O fatoroleta manualo país ter resistido ao que no começo do invernoroleta manual1939 se desenhava como um massacre criou um sentimentoroleta manualunidade até hoje é evocado por políticos e ativistas no país.
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