Relatório denuncia perseguição a acadêmicos e universidades no mundo, com destaque inédito ao Brasil:betano aposta grátis
Quinn, doutorbetano aposta grátisfilosofia e com uma trajetóriabetano aposta grátisprêmios e passagens por organizações dedicadas à promoção científica e aos direitos humanos, diz que além do relatório, outra atividade do Scholars at Risk é receber pedidosbetano aposta grátisassistência por acadêmicos que denunciam estar sendo vítimasbetano aposta grátisperseguição.
A rede, que está celebrando 20 anosbetano aposta grátisexistência, recebeu embetano aposta grátishistória 34 solicitações desse tipo vindas do Brasil — 30 delas no último ano, o que fez a rede acompanhar maisbetano aposta grátisperto a situação do país e depois incluí-lo no relatório.
"Eu não leria a imagem como dizendo: o Brasil foi o pior país do mundo no ano passado. Isto seria injusto", afirmou, falandobetano aposta grátisNova Yorkbetano aposta grátisentrevista via chamadabetano aposta grátisvídeo. "Mas acho que o que ela está dizendo é: o Brasil está aqui, e isto é novo."
"Há algo acontecendo e precisamos olhar para isso. Não quer dizer que há um grande problema, mas significa que precisamos analisar. E, quando olhamos, uma parte dos incidentes foi muito bem pronunciada por representantes do governo ou políticos no Brasil. Algumas destas falas circularam pelo mundo", diz.
O relatório apresenta, por exemplo, declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e do presidente Jair Bolsonaro. Uma delas foi uma entrevistabetano aposta grátisabrilbetano aposta grátisque Weintraub afirmou que as universidades federais Fluminense (UFF), da Bahia (UFBA) ebetano aposta grátisBrasília (UnB) teriam cortesbetano aposta grátisverba por promover "balbúrdia"betano aposta grátisvezbetano aposta grátisbuscar excelência acadêmica, segundo ele. Outra fala do mesmo mês incluída no documento foi referente às disciplinasbetano aposta grátisfilosofia e sociologia, quebetano aposta grátisacordo com o ministro poderiam ter verbas para seus cursos cortadas por não serem rentáveis.
Esta posição foi endossada por Bolsonaro no Twitter, onde ele escreveu que a medida teria o objetivobetano aposta grátis"focarbetano aposta grátisáreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como veterinária, engenharia e medicina".
A reportagem solicitou posicionamento dos ministérios da Educação e Ciência e Tecnologia na manhãbetano aposta grátissegunda-feira (9), mas não obteve resposta até esta publicação.
Fazendo uma analogia com a medicina, Quinn diz que há casosbetano aposta grátisque a tensão entre as universidades e o poder é crônica, ou seja, se expressabetano aposta grátisuma forma saudável, por meiobetano aposta grátisdebates públicos e protestos, por exemplo.
E há os casos agudos,betano aposta grátisque a tensão é liberadabetano aposta grátisformabetano aposta grátisviolência e perseguição. Para ele, a escaladabetano aposta grátiscasos do Brasil que chegaram à organização indicam que o país pode estar chegando embetano aposta grátisfase aguda.
"Baseado na históriabetano aposta grátisoutros lugares, temos um alarme do que pode acontecer e do que pode piorar. A situação (no Brasil) é preocupante."
"Acho que o maior sintomabetano aposta grátistodos no Brasil, pois é algo que se observa historicamente, voltando literalmente a séculos atrás, é a construção artificial do 'outro' por aqueles que estão no poder. Esta criação não se vale do conhecimento, da racionalidade oubetano aposta grátisevidências, masbetano aposta grátisemoções, energia negativa e uma remissão a um passado imaginário 'puro'".
"No ensino superior, isso se manifesta com governos, partidos ou representantes importantes do poder mirando um acadêmicobetano aposta grátisespecial ou uma disciplina particular como estrangeira, não tradicional".
Ainda que o relatório lembre que os cortes nestas universidades e disciplinas não tenham sido concretizadas, Quinn diz que tais falas contribuem para um cenáriobetano aposta grátiscerceamento à liberdadebetano aposta grátispensamento — que não deve ser orientado apenas pelo critério da rentabilidade, ele destaca.
"No nosso históricobetano aposta grátiscasos, por exemplo, vemos que qualquer disciplina pode se tornar um alvo", aponta o diretor.
"Há alguns anos, tivemos o casobetano aposta grátisum professor na Tunísia que lecionava uma disciplina sobre saúde pública, e trabalhava especificamente com mortalidade infantil. Você pode perguntar: por que isto se tornaria algo político? Porque o governo, e se tratavabetano aposta grátisuma ditadura, estava mentindo sobre a mortalidade infantil — a situação era muito pior do que estava sendo divulgado."
"Se você considera a história da União Soviética, por exemplo, os físicos lideravam a dissidência. Mas nunca pela físicabetano aposta grátissi, pelas fórmulas. Era porque eles queriam conversar com físicosbetano aposta grátisoutros países, mas eram impedidosbetano aposta grátisviajar."
"Hoje, no cenário contemporâneo, há países, como o Irã, que tentam recrutar físicos para participarbetano aposta grátisseus programas nucleares. E, se eles se negarem, vão para a prisão."
É também lembrado no relatório sobre o caso brasileiro um decreto presidencialbetano aposta grátismaio que alterou os procedimentos para nomeaçãobetano aposta grátisórgãos vinculados à administração federal (não apenas instituiçõesbetano aposta grátisensino).
Na visãobetano aposta grátisentidades que se manifestaram sobre o decreto, como o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituiçõesbetano aposta grátisEnsino Superior (Andes-SN) e a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) do Ministério Público Federal, ele poderia afetar diretamente a autonomia das universidades públicas.
Isto porque o texto abre caminho para que o governo, e não mais os reitores, designem nomes para cargosbetano aposta grátisvice-reitor, pró-reitor, diretores e vice-diretoresbetano aposta grátisfaculdades.
Pressão vinda da Justiça ebetano aposta grátisgrupos políticosbetano aposta grátiscampus brasileiros
Alémbetano aposta grátisações do governo federal, o relatório aponta para decisõesbetano aposta grátisjuízes e ações policiaisbetano aposta grátisuniversidades no contexto eleitoral, motivadas por acusaçõesbetano aposta grátisque estudantes e professores estariam se manifestando partidariamentebetano aposta grátisespaços públicos.
Foi o caso do confisco, por decisão judicial,betano aposta grátisuma faixa pendurada na Universidade Federal Fluminense (UFF) com as palavras "Direito UFF Antifascista"; oubetano aposta grátisfolhetosbetano aposta grátisuma associaçãobetano aposta grátisdocentes da Universidade Federalbetano aposta grátisCampina Grande (UFCG) intitulados Manifestobetano aposta grátisdefesa da democracia e das universidades públicas.
O relatório Free to Think lembra que, no finalbetano aposta grátisoutubrobetano aposta grátis2018, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia concedeu medida cautelar suspendendo açõesbetano aposta grátisbusca e apreensão, autorizadas por juízesbetano aposta grátisTribunais Regionais Eleitorais,betano aposta grátisuniversidadesbetano aposta grátistodo o país.
Do período eleitoral, o documento denuncia ainda relatosbetano aposta grátisataques e assédiosbetano aposta grátisgrupos civis com motivações ideológicas contra estudantes da Universidadebetano aposta grátisFortaleza (Unifor); Universidade Federal do Estado do Riobetano aposta grátisJaneiro (Unirio); Universidade Federal do Pará (UFPA); e Universidade Federalbetano aposta grátisPernambuco (UFPE).
Por fim, o relatório apresenta recomendações específicas para o caso brasileiro, como a investigação e eventual puniçãobetano aposta grátisautoresbetano aposta grátisincidentesbetano aposta grátisque membros da comunidade universitária tenham sido colocadosbetano aposta grátisrisco; e o recuobetano aposta grátisdeclarações e políticas que estigmatizem e ataquem o ensino superior do país.
Em relação às 30 solicitaçõesbetano aposta grátisassistência do Brasil recebidas pelo Scholars at Risk (SAR) no último ano, a entidade disse que seis estão sob acompanhamentobetano aposta grátisfato, enquanto as outras não puderam ser atendidas diretamente pela organização, sendo direcionadas a outras formasbetano aposta grátisassistência.
"Em relação às outras 24 aplicações, algumas não atenderam aos critériosbetano aposta grátisbolsa ou risco. Como é possível observarbetano aposta grátisnossas ações, como o Free to Think, o SAR está preocupado com as pressões no setor da educação superior no Brasil que estão impactando todos os acadêmicos e estudantes do país. Devido aos recursos limitados e um crescente volumebetano aposta grátispedidosbetano aposta grátisassistência, nossos serviçosbetano aposta grátisproteção priorizam aqueles que relatam experiênciasbetano aposta grátisataques e ameaças diretos", diz nota enviada à reportagem.
A rede SAR foi fundadabetano aposta grátis1999 e tem seçõesbetano aposta grátisdiferentes partes do mundo, principalmente na América do Norte, Europa e África. Na América Latina, a rede tem colaboradores que participam anonimamente no monitoramento e verificaçãobetano aposta grátisincidentes.
Nos casos mais gravesbetano aposta grátisperseguição a acadêmicos, o Scholars at Risk tem um projeto que organiza asilo para que pesquisadores possam trabalhar e morarbetano aposta grátisoutros lugaresbetano aposta grátisque não estejam sob risco; há também serviçosbetano aposta grátisassistência e campanhas para casosbetano aposta grátisacadêmicos presos.
A organização tem apoio da Universidadebetano aposta grátisNova York, onde é sediada, e recebe doações individuais ebetano aposta grátisoutras entidades, como a Vivian G. Prins Foundation, Open Society e National Endowment for Democracy.
Preocupação que perdura na Turquia
No período abordado pelo relatório, o Scholars at Risk diz ter coletado relatosbetano aposta grátiscentenasbetano aposta grátisincidentesbetano aposta grátis56 países. No entanto, alguns deles, como o Brasil, ganharam neste ano capítulosbetano aposta grátisparticular: foi o caso da Índia, Turquia, Sudão e China.
A Turquia tem destaque importante por seu quarto ano consecutivo, já que a organização recebeu relatosbetano aposta grátis"ataques extraordinários" no ensino superior do país. Lá, acusadosbetano aposta grátistraição e terrorismo, milharesbetano aposta grátisacadêmicos enfrentam processos judiciais e prisões por terem assinadobetano aposta grátis2016 uma petição crítica às ações repressivas do governo contra os curdos. Alguns são vítimas da chamada "morte civil", ou seja, foram demitidosbetano aposta grátisseus cargos públicos, proibidosbetano aposta grátisassumir novas posições ebetano aposta grátisdeixar o país legalmente. Há ainda no país outros casosbetano aposta grátisperseguição a pessoas e grupos considerados opositores que não necessariamente têm relação com o episódio da petição.
Na China, a histórica perseguição a acadêmicos se intensificou no último ano, com um aumento nas demissões, prisões, restriçõesbetano aposta grátisviagens daqueles considerados divergentes, porbetano aposta grátispostura crítica, origem étnica ou religiosa, das diretrizes do Partido Comunista no país.
No Sudão, que viveu uma ondabetano aposta grátisprotestos que levoubetano aposta grátisabril à queda do então presidente Omar al-Bashir, as universidades foram alvobetano aposta grátisrepressão, com forçabetano aposta grátissegurança se valendobetano aposta grátisprisões e violência, às vezes letal, contra estudantes e professores manifestantes. Mesmo após a quedabetano aposta grátisal-Bashir, foram relatados casosbetano aposta grátisataques perpetrados por grupos paramilitares.
Já denúncias vindas da Índia também não são novidade, mas viram uma piora no último ano, segundo o relatório. Foram registrados conflitos graves entre grupos internosbetano aposta grátisestudantes; ou com grupos externos e milícias, muitas vezes motivados por divergências religiosas, étnicas ou ideológicas; ou ainda com a polícia. O relatório apresenta também casosbetano aposta grátisacadêmicos que foram retaliados profissionalmente pelas próprias instituiçõesbetano aposta grátisensino às quais estavam vinculados, comobetano aposta grátisdemissões motivadas por opiniões por eles expressas.
Na entrevista à BBC News Brasil, Robert Quinn reconheceu que o formato do relatório não é quantitativo, com uma precisão como abetano aposta grátisuma pesquisa demográfica por exemplo.
"Ao mesmo tempo, avaliamos que temos uma amostra representativa razoavelmente boa, pelo menos dos casos mais notáveis que aconteceram no ano passado", diz o diretor da organização. "Nossa metodologia está no nosso relatório ebetano aposta grátisnosso site, para que todos possam explorá-la."
Quinn diz que vê o trabalho do Scholars at Risk como estando no meio do caminho entre o poder e as ideias, onde estão os acadêmicos e as universidades - "o trabalho deles é gerar ideias, fazer perguntas, o que por definição se choca com o poder", aponta.
Mas esse poder é sempre político? Para o entrevistado, a resposta dá destaque justamente à América Latina.
"Sem dúvidas há pressão também do poder econômico, e não surpreenderia se os números apontassem para a América Latina como vivendo um problema maior nesse sentido — mas eu precisaria checar os dados. Acadêmicos que trabalham com direitos fundiários, particularmente dos povos indígenas, ou aqueles que trabalham com meio ambiente muitas vezes entrambetano aposta grátiscontato, e muitas vezesbetano aposta grátisconflito, com interesses corporativos e comerciais."
O embate entre o poder e as ideias, ele diz, acontece há séculos — mas há "algo diferente hoje", fazendo das ameaças aos acadêmicos e ao livre pensamento algo global.
Quinn atribui esta globalização dos riscos a uma combinaçãobetano aposta grátisfatores — alguns que considera positivos: a democratização do ensino superiorbetano aposta grátistodo o mundo e do acesso à internet; e o encurtamentobetano aposta grátisfronteiras, com o transporte e as tecnologias.
"Tudo isso está se combinando para formar um clamor pelo restabelecimento da expertise, da curadoria do conhecimento. No passado, quando a educação não era nem um pouco democrática, muito elitista, a curadoria do conhecimento acontecia pela limitação do acesso"
"Mas parece que hoje estamos tendo muito mais dificuldadebetano aposta grátisfiltrar as informaçõesbetano aposta grátisqualidade do que é ruído."
"A ironia é que, ao meu ver, isso faz das comunidades acadêmicas mais importantes do que nunca. A sociedade civil precisa da contribuiçãobetano aposta grátisuma expertise responsável e com interesse público para orientar o acesso à informação. Então, trata-sebetano aposta grátisum momento verdadeiramente único, mas não sem riscos."
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